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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-03-29

TECNOCRACIA 1991

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30-3-1991

AFINAL QUEM É UTOPISTA?

O tecnocrata chama realismo aos seus delírios de grandeza e à cegueira dos seus planos megalómanos, classificando de utopia tudo o que procura furtar-se a essa megalomania, optando por soluções de bom senso que são todas as tecnologias leves, alternativas e apropriadas.
O tecnocrata (tecnofascista) recomenda então «bom senso» quanto à política energética, afirmando que não podemos ser muito puritanos quanto à qualidade de ambiente e qualidade de vida, se é a riqueza do país (a riqueza das classes exploradoras, leia-se e subentenda-se) que está em jogo.
«Cuidado, não vamos cair em exageros ambientalistas» - diz cinicamente o cínico profissional que é o tecnofascista (perdão, tecnocrata). «Entre ficarmos com um ambiente bom e andarmos de tanga, há que escolher» faz ele questão de acentuar.
Especialista na chantagem, no dilema sofístico, eis que o tecnofascista não hesita em jogar a cartada. E faz a chantagem em que é perito: a acreditar no tecnofascista, o povo consumidor de energia só terá então que escolher entre um cancro por pessoa e um nível de vida e de emprego razoável, aquele que o tecnocrata se dignará dizer que nos dá, a troco da porcaria generalizada, da poluição generalizada, da doença generalizada.
Mas basta olhar a curva de crescimento exponencial, tão querida do tecnofascista, para termos a imagem mais evidente da megalomania utopista.
Quando um tecnocrata, com o maior dos desplantes, classifica de utopista, irrealista, sonhador, romântico, etc. o defensor das tecnologias apropriadas e da imediata abertura de um sector ecoalternativa no sistema -- um sector convivial --, é necessário acentuar quem caminha afinal para dimensões megalómanas e alvos utópicos, quem preconiza curvas infinitas de crescimento infinito (que são fisica e logicamente impossíveis), quem julga poder continuar violentando as leis da naturaza que a ciência estabeleceu, quem à viva força quer imitar os fortes, os grandes, os poderosos, os industrializados, os desenvolvidos e os exploradores.
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ULTRA-VIOLETAS 1987

1-1 - 87-03-30-fi = ficções - sida-87

HISTÓRIA DE UM BOATO - RAIOS ULTRAVIOLETAS (QUE PROVOCAM IMUNODEFICIÊNCIA)
«CURAM»  (SEGUNDO CIENTISTA JAPONÊS)

30/Março/1987 - Que nome dar ao mecanismo que leva o sistema a contar histórias , pensando que de facto somos todos , conforma inicialmente o sistema desejaria?
Que nome dar a este vício do sistema que o leva não só a mentir  mas ainda a gozar-nos com um discurso feito de  contradições e absurdos?
Uma ciência que já teve o arrojo de indicar radiações para curar o cancro, que entre outras causas pode ser provocado por radiações ionizantes, vem agora dizer que os raios ultra-violetas destroem vírus da sida, quando já se sabia, embora todos calassem, que a imundodeficiência endémica hoje verificada no mundo com aquele rótulo , podia ser provocada, entre outras múltiplas causas, pelo aumento de radiações ultravioletas, causada, por sua vez, pela destruição do ozono da alta atmosfera.
Fixe-se mais um nome: o do cientista Namiko Yoshiwara.(Recorte junto em anexo)
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CANCRO 1979

79-03-30> cancro-11> - 1 só página - saude> - notícias da esperança - fichas de medicina orto-molecular

PROFILAXIA ALIMENTAR DO CANCRO - AGENTES NATURAIS INIBIDORES DO CANCRO

30/3/1979 - Existem agentes inibidores do cancro, ou que bloqueiam os efeitos cancerígenos de outros produtos, em certos géneros alimentícios naturais (legumes, frutas), nas Vitaminas C e E e em certos compostos da Vitamina A.
Investigadores norte-americanos puseram em evidência esta acção inibidora, prosseguem o estudo destas substâncias e esforçam-se em particular por determinar o nível em que agem sobre o desenvolvimento de diversas espécies de cancros.
Segundo estudos recentes, a couve, a couve de Bruxelas e a couve-flor, permitem evitar o desenvolvimento do cancro do cólon. Outros constituintes descobertos em legumes e frutas bloqueariam a acção de agentes conhecidos como cancerígenos.
Segundo a professora Elizabeth Miller, da Universidade de Wisconsin, a maioria dos produtos considerados hoje em dia cancerígenos só o são em certas circunstâncias e se se encontram já no interior do corpo. Agem então ao nível genético e transmitem à célula informações tais que a levam a encaminhar-se para o desenvolvimento anárquico que caracteriza o Cancro.
A descoberta destas substâncias inibidoras do desenvolvimento do Cancro deve permitir agir sobre os produtos cancerígenos antes que eles desencadeim estes processos anárquicos. O ácido ascórbico (Vitamina C) e um composto livre da Vitamina E (Alpha Tocoferol) inibiram nos animais de laboratório a formação de nitrosaminas - agente cancerígeno resultante da interacção dos nitritos e das aminas - causa de cancros do estômago e do intestino.
Diversos outros agentes inibidores poderiam ser igualmente utilizados a título preventivo, como um derivado da Vitamina A, o Fenobarbitol - ainda que, no caso deste medicamento, se haja verificado que ele age no sentido desejado se ainda não houver exposição a agentes cancerígenos, mas facilita o desenvolvimento da doença no caso contrário.
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UTOPIA 1991

1-1 - 91-03-30-ie> = ideia ecológica

30-3-1991

AFINAL QUEM É UTOPISTA?

O tecnocrata chama realismo aos seus delírios de grandeza e à cegueira dos seus planos megalómanos, classificando de utopia tudo o que procura furtar-se a essa megalomania, optando por soluções de bom senso que são todas as tecnologias leves, alternativas e apropriadas.
O tecnocrata (tecnofascista) recomenda então «bom senso» quanto à política energética, afirmando que não podemos ser muito puritanos quanto à qualidade de ambiente e qualidade de vida, se é a riqueza do país (a riqueza das classes exploradoras, leia-se e subentenda-se) que está em jogo.
«Cuidado, não vamos cair em exageros ambientalistas» - diz cinicamente o cínico profissional que é o tecnofascista (perdão, tecnocrata). «Entre ficarmos com um ambiente bom e andarmos de tanga, há que escolher» faz ele questão de acentuar.
Especialista na chantagem, no dilema sofístico, eis que o tecnofascista não hesita em jogar a cartada. E faz a chantagem em que é perito: a acreditar no tecnofascista, o povo consumidor de energia só terá então que escolher entre um cancro por pessoa e um nível de vida e de emprego razoável, aquele que o tecnocrata se dignará dizer que nos dá, a troco da porcaria generalizada, da poluição generalizada, da doença generalizada.
Mas basta olhar a curva de crescimento exponencial, tão querida do tecnofascista, para termos a imagem mais evidente da megalomania utopista.
Quando um tecnocrata, com o maior dos desplantes, classifica de utopista, irrealista, sonhador, romântico, etc. o defensor das tecnologias apropriadas e da imediata abertura de um sector ecoalternativa no sistema -- um sector convivial --, é necessário acentuar quem caminha afinal para dimensões megalómanas e alvos utópicos, quem preconiza curvas infinitas de crescimento infinito (que são fisica e logicamente impossíveis), quem julga poder continuar violentando as leis da natureza que a ciência estabeleceu, quem à viva força quer imitar os fortes, os grandes, os poderosos, os industrializados, os desenvolvidos e os exploradores.
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EPIDEMIOLOGIA 1987

dcm87-3>Revisão:quarta-feira, 29 de Março de 2006 09:54:16

29-3-1987

DOENÇAS DO AMBIENTE - FICHA DE ECOLOGIA HUMANA Nº[___]- PISTAS DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA - CAUSAS APARENTES E CAUSAS DETERMINANTES

Quando manifestações patológicas dos indivíduos em sociedade atingem índices endémicos, é inevitável e óbvio que se procure no ambiente a causa dessas manifestações.
Mas procurar no ambiente a causa de surtos endémicos é o mesmo que procurar agulha em palheiro, já que ambiente é tudo.
É natural, assim, que a atenção dos epidemiologistas se vire para causas só na aparência determinantes, esquecendo as que são determinantes de fundo mas menos aparentes.
É natural que perante a incidência de enfartes do miocárdio, por exemplo, se responsabilizem factores aparentes como «hábitos de sedentarismo», «hábitos tabágicos», «água pública de beber», etc.
Quando em 1973 um relatório australiano atribui todos os males da sociedade australiana à falta de «exercícios físicos», está a apontar o que se pode considerar a causa segunda ou terceira de um surto patológico mas não a causa determinante.
Este relatório visava desenvolver uma política de recreio e desporto para a população, pelo que deveria enfatizar suficientemente o sedentarismo como causa primeira e determinante das doenças cardiovasculares.
Com efeito, nessa data, a Austrália detinha uma das mais altas percentagens mundiais de mortes devidas a doenças cardiovasculares.
Uma análise menos ingénua ou mais cínica desta «distorção» no diagnóstico de uma doença social, poderia levar a pensar que os industriais de artigos desportivos estavam nos bastidores de uma campanha governamental para fomento de higiénicos hábitos de educação física.
Ao reduzir as taxas na venda desses artigos, o governo australiano de 1973 encorajava tão cínicas suposições.
A verdade é que a investigação epidemiológica tem estas duas faces que resultam do seu carácter de «ciência subversiva».
As suas conclusões, quando fidedignas, são sempre incómodas para o status quo. Por isso há a natural tendência de a levar a conclusões não fidedignas mas que promovem mudanças de superfície na fachada social.
É muito mais cómodo e popular propor um programa para intensificação do desporto, do que propor, por exemplo, a mudança da dieta alimentar.
A investigação epidemiológica tropeça assim, constantemente, nos escolhos da sua própria imaturidade.
Raramente se fazem estudos epidemiológicos e, quando se fazem, ficam sempre ou quase sempre na gaveta, bem fechados.
Obviamente porque põem em causa todo o sistema que vive de ir matando os ecossistemas.
Têm algo de grotesco, pela ingenuidade, as conclusões a que são levados alguns epidemiologistas, quando observam povos fora da sociedade industrial e pretendem relacionar um ou outro factor isolado do «complexo cultural» como sendo a causa dos efeitos verificados.
Ao contar o que viu entre os povos da Nova Guiné, o professor Peter Sinett terá tirado conclusões que são, o mínimo, incompletas, já que se isola um factor como causa, quando a verdade é que mil factores podem ter convergido nos efeitos verificados.
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MEDICINAS 1993

saude-1>saude> - mein kampf 93 - autoterapia – princípio dos princípios etapas da auto-cura código deontológico, cura de humildade - autocrítica, primeiro passo - gratidão à ordem do universo

A ETAPA DA GRATIDÃO

Madrid, 30/3/1993 – Congresso de Medicinas Naturais (FENAMAN) - O objectivo tantas vezes explicitado pelos adeptos da medicina natural - curar e servir o doente - nem sempre obtém confirmação na prática que se vai verificando entre profissionais de saúde nas áreas de naturoterapia, acupunctura, homeopatia, osteopatia, fitoterapia e outras biomedicinas. Seria, pelo menos, a conclusão que se vê obrigado a tirar o observador imparcial, que não estando nem de um lado nem de outro mas à mercê de ambos, verifica que os vícios da ordem antiga parece terem já contagiado a nova ordem de coisas. Mesmo antes que um código deontológico venha moralizar e disciplinar as hostes, valia a pena realizar um grande esforço de auto-crítica e auto-exigência para defesa interna contra o inimigo externo e comum. Valia a pena apostar na qualidade, antes que se faça tarde.
A autocrítica surge como a primeira necessidade de uma profunda cura de humildade e tolerância a que todos teremos de nos submeter. Todos, pelo menos, quantos defendem a não violência em geral e na medicina em particular. Se afinal andamos a pregar a boa causa apenas para repetir doenças, erros, vícios, maldades, violências, crueldades, abusos da medicina estabelecida, talvez nem sequer valha a pena travar a batalha da transição para uma medicina e uma humanidade melhor.
O negócio que invadiu o mercado de produtos ditos naturais, a exploração frenética que se vê por todo o lado sem que o consumidor (de frascos ou consultórios) seja consultado ou chamado a depor, o abuso do comércio que reduz a vida a uma mera transação em dólares ou pesetas, são terríveis obstruções ao caminho da libertação cármica. Proliferam as tentações. Ninguém quer dar mas todos querem receber. A facilidade de tudo conseguir com o carregar num botão, leva à ingratidão. Mas a gratidão à ordem do Universo é o oxigénio da alma. Como poderemos respirar sem ela? As técnicas - sejam agulhas, laser, biofeedback, etc - não podem abafar o espírito mas servi-lo, sempre. Não se pode falar de amor como quem assina um cheque sem cobertura. Todos temos de saber, sem hipocrisia, que um acto de amor é a mais difícil démarche num mundo assolado e atolado por vagas e vagas de ódio. Amor será - se for - o resultado final de uma longa, difícil, tormentosa aprendizagem, um esforço de neutralização de tudo (e é tanto) que dentro de nós se choca com os objectivos alegadamente fraternos do Espírito. Na zona chamada «parapsicológica», iniciática ou mística, estamos todos, aqui no Ocidente positivista, em fase de investigação mais ou menos tateante. [ Por isso nos parece também a proposta do atelier yin-yang adequada à conjuntura geral e portuguesa nesse importante sector - o sagrado - do nosso reentendimento com o Cosmos.]

Estava previsto que Michio Kushi abrisse o Congresso de Madrid com uma comunicação sobre «Diagnóstico fisiognómico e exame iridológico». Foi pena que Kushi não pudesse comparecer, tendo enviado à última hora uma mensagem justificando a ausência. Talvez o tivéssemos ouvido discorrer, como é seu hábito, sobre o vício ou doença da arrogância que, tão ligada à teimosia e à opacidade de Espírito, compõem os três pecados mortais contra o Espírito, contra a Alegria, contra a Liberdade.
São o apogeu patológico do ego egoista, no seu máximo e desgarrador poder de destruição. Conforme se pode verificar nas mangedouras ditas macrobióticas em Portugal, é a própria disciplina ou terapêutica ensinada por Michio Kushi que mais parece ter concorrido para expandir, entre os compatriotas, a praga da arrogância, do egoísmo, da ferocidade pessoal, do carreirismo, do materialismo sem freio, condições necessárias e suficientes para criar afinal um terreno (orgânico) propício a todas as doenças, nomeadamente as mais terríveis. O gosto de recriminar o próximo, a falta de compreensão e subtileza pelas posições dos outros, a intolerância e o interminável monólogo em que se transformou o «diálogo» entre oficiais do mesmo ofício são mais alguns sintomas da doença «arrogância» que continua a espalhar-se e continua por tratar.
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PETRÓLEO 1980

1-1- 80-03-30-ie> =ideia ecológica - quinta-feira, 2 de Janeiro de 2003-scan

NÃO GANHAM PRÓ PETRÓLEO(*)

[30-3-1980]

Em declarações ao “Tele-Jornal" (Canal 1, 30-3-1980), o sobrevivente português da tragédia no Mar do Norte, que trabalhava na plataforma "Alexander Kielland” (1) como cozinheiro, declarou que o seu contrato com a "Philips Petroleum" estava a terminar, pois esta firma se preparava para despedir todos os trabalhadores migrantes. Creio que o entrevistado disse mesmo "trabalhadores latinos".

É um elemento importante para compreender o clima de boa paz social que se vive nestas plataformas, para onde, aliás, o cozinheiro sobrevivente disse que voltaria, logo que de novo surgisse essa oportunidade. Não tinha, no entanto, a certeza de que lhe fossem pagar o que deviam, devido ao desastre. Os que ficaram no fundo do oceano gelado, de certeza que não vão ser pagos nem vão precisar. A menos que as famílias...

Se a moda das indemnizações pega, a sociedade industrial não vai ganhar pró petróleo.

Há dias, eram os queixosos do Nevada, que pediram uma soma astronómica pelos cancros e leucemias que os rebentamentos de bombas lhes provocaram. ("A Capital", 29-3-80).

Dias depois, eram as vítimas de Seveso que iam fazendo falir a poderosa "Givaudan", multinacional suíça que colocou os seus venenos em Itália mas que agora tem de pagar, aos italianos, os prejuízos causados com a evaporação de gases tóxicos, da sua fábrica "Icmesa". Para já, seis milhões de contos ao Estado italiano e à região da Lombardia.

Agora, levanta-se de novo a questão do "agente laranja", mescla muito activa de dois herbicidas com intenso poder homicida, e que não só debulhou milhares de vietnamianos, deixando na Indochina sequelas por muitas gerações que irão sofrer de anomalias várias, mas atingiu também os soldados e oficiais que os lançavam sobre o povo.

Se tivesse sido só o Vietname, nunca mais se teria falado do agente laranja : mas como está em jogo uma gorda indemnização (de que os advogados intermediários vão receber, com certeza, choruda parte), de certeza que o "agente laranja" vai ser muito badalado outra vez e o governo australiano já ordenou um estudo desenvolvido, que custará dois milhões de dólares australianos e que levará dois anos, sobre os efeitos do dito "agente -laranja", que alguns países desenvolvidos proibiram de deitar na sopa.

O Ministro australiano dos Antigos Combatentes, Evan Adermann, indicou que 60 mil antigos combatentes do Vietname, cujas famílias compreendem cerca de 100 mil crianças, serão chamados a depor.
O "agente laranja”, (do nome dos contentores nos quais era fornecido) é uma mistura em partes iguais dos herbicidas "2,4,5-T" e "2,4,-D", utilizados ainda em grande escala por numerosos países pouco desenvolvidos como Portugal, para onde o exportam aqueles países que, desenvolvidos, já não querem para o povo deles tamanho veneno (perdão, tamanho progresso).
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(1) Afundada em 27 de Março de 1980, por se ter partido um pilar, facto que até hoje ainda nenhum perito conseguiu explicar
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito, embora fosse enviado para o jornal «Barlavento» onde então o autor colaborava
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A. TOFFLER 1985

1-3 -toffler-1-ls> =leituras selectas - quarta-feira, 1 de Janeiro de 2003-scan
O TRUQUE DA «TERCEIRA VAGA» - À VELOCIDADE DA LUZ

[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 30-3-1985]

Os poucos que em Portugal se atrevem , contra burocratas e tecnocratas , a trabalhar pelo advento da sociedade pós-industrial, têm motivos para ficar cheios de inveja com a recepção oficial prestada ao autor norte-americano Alvin Toffler, que sob a designação de "terceira vaga" procura fazer esquecer os horrores da Segunda.

Com os 4.000 contos por dia pagos ao famoso autor de «O Choque do Futuro», já os "alternativos" portugueses tinham a esta hora lançado os alicerces da sociedade em que muitos vão falando, por mimetismo, mas poucos construindo.

Ideias não nos faltam, o que nos falta é computadores para escrever, à velocidade da luz, os livros do senhor Toffler. O que nos falta a nós, os defensores da sociedade pós-industrial, é ser convidados para vir a Portugal fazer conferências...

O MUNDO DA LIBERDADE

O "sistema industrial" afunda-se, mete água por todos os lados e a ciência médica dá-lhe poucos anos de vida. Fala-se mesmo em Apocalipse.

Quando tantos ainda refocilam para tentar "segurar" esse barco, que mete água por todos os lados, é de notar que muitos outros, entretanto, já tomaram o partido do futuro, e já viram que não vale a pena continuar dando corda a um moribundo incurável, optando pelo "salto em frente" a que chamam estratégia pós-industrial.

É o que hoje, na realidade, fundamentalmente separa e divide as opiniões: a principal clivagem é entre os que defendem um mundo em putrefacção e os que já estão a trabalhar para um mundo vivo.

As três vagas de que fala Alvin Toffler seriam, segundo o autor, o Mundo Agrícola, o mundo do industrialismo e agora, já visível, o mundo da liberdade.

Evidencia ele de que maneira os nossos pensamentos, mesmo os que se consideram mais progressistas e voltados para o futuro, se encontram irremediavelmente ligados ao passado e são hoje anacrónicos.

Esse anacronismo sente-se - segundo Toffler - com particular acuidade nas ideologias marxistas, esclerosadas e cristalizadas em dogmas que degeneram em cancros mentais

A cavalgada dos factos aparece então como essa poderosa "terceira vaga" que vai deixando as ideologias, o blá-blá das ideologias, como detritos e restos de um mundo ultrapassado, à velocidade da luz.

O MODELO FABRIL

Algumas constantes sistematizadas e sintetizadas por Alvin Toffler têm vindo, nos últimos vinte anos, a ser matéria de análises parciais.

Os chamados "investigadores paralelos", já tinham intuído algumas das ideias-chave expostas por Alvin Toffler.

A sociedade industrial reproduz, a vários níveis e à maneira de um sistema de caixas chinesas, o modelo "fábrica" : muitos dos conflitos que se atribuem à "maldade humana" são produtos directos do sistema industrial, do modelo "fábrica", são a "luta de classes" levada a todos os campos da actividade humana.

Alvin Toffler chama-lhe a "Segunda Vaga" mas autores do realismo ecológico já lhe haviam chamado o "sistema que destroi os ecossistemas" , sistema comprovadamente totalitário na essência.

Toffler acredita que a "segunda vaga" está moribunda, e que só lhe resta estrebuchar nos últimos minutos da sua vigência, optimismo que muitos, vítimas de monopólios e totalitarismos da tal segunda vaga, dificilmente lhe perdoarão.

A marca concentracionária do industrialismo é descrita por Toffler em termos de bastante vigor, como a "época dos grandes encarceramentos" - o tempo em que os criminosos "eram" (?) apanhados e concentrados em prisões, os doentes mentais em manicómios e as crianças em escolas, exactamente como os "trabalhadores em fábricas".

MÃOZINHA DE COMPUTADOR

Outra confirmação feita neste livro é a famosa "divisão do trabalho" que as análises marxistas atribuíram ao capitalismo.

Aliás, muitas das análises marxistas aplicaram ao capitalismo juízos que mais cientificamente deviam ser aplicados ao industrialismo. Ainda hoje, quando está suficientemente claro que é o desenvolvimento que gera o subdesenvolvimento, ainda há quem queira atribuir ao capitalismo, stritu senso, as culpas exclusivas no fabrico da miséria, culpas que inteiramente cabem ao modelo industrial de sociedades, criando o mundo "concentracionário" das cidades e gerando aí, necessariamente, os anéis do "lumpen-proletariado", resultado das crises cíclicas do mercado e das economias de mercado.

Ao pretender salvar o industrialismo culpando o capitalismo, a análise marxista aparece hoje, nomeadamente com o livro de Toffler, em todo o seu anacronismo, conivente num estado de coisas que estruturalmente o marxismo também não pretende mudar.

Mas que hoje , no mundo, há milhões de pessoas a quererem mudar.

Aparece claro que a estandartização e a taylorização são um produto do industrialismo, assim como a alienação do trabalhador à cadeia de montagem, a divisão do trabalho e até a divisão chamada "luta de classes" , cujo único desfecho lógico, como já tivemos ocasião de referir nesta crónica ( 9 de Julho de 1983) é o holocausto nuclear.

A virtude de Toffler sobre os outros críticos do industrialismo como Ivan Illich, é não só a carga histórica exaustiva que compila para ilustrar a tese (e onde deve andar mãozinha de computador) , como a clareza da exposição e a pouca ou nenhuma interferência filosófica na descrição, aparentemente neutra e objectiva, dos factos.

Esta última característica, que transforma alguns textos de Illich em charadas só acessíveis a raros, está logicamente ausente do livro de Toffler, que tem a vantagem de vulgarizar e popularizar, em linguagem jornalística, acessível a todos, as críticas ao industrialismo já feitas por outros autores, mas ainda não "ouvidas" pelo grande publico.

E NÒS, TERCEIRO MUNDO?

Na sua ultrapassagem do industrialismo à velocidade da luz, Alvin Toffler diz cobras e lagartos dessa fase infeliz que a Humanidade teve que atravessar.

No gozo da ultrapassagem, quase se esquece de fazer o costumado e solene elogio às qualidades que o industrialismo , afinal, e bem vistas as coisas, até tem...

Comparado às pestes terríveis da Idade Media, as chamadas "maravilhas da Técnica" , as "pestes modernas" e as "doenças da civilização" não deixam de constituir argumento sempre pronto a impressionar as massas e a servir de escudo quando o sistema industrial do Biocídio se encontra, sem apelo nem agravo, no banco dos réus, a responder por crime de alto genocídio contra a Humanidade e o Planeta Terra.

Aliás, se tem assim tantas virtudes, porque está aí a terceira vaga a querer entrar e a ver-se livre da segunda, senhor Toffler?

Aliás, o autor também não explica onde vai a sociedade industrial despejar os remanescentes, poluições, armas, venenos, produtos, porcarias, consumos cancerígenos e etc, quando chegarem as bem-aventuranças da terceira vaga pós-industrial.

É uma dúvida lícita que os do Terceiro Mundo como Portugal devem fazer, inquietos por saberem já como os produtos deterioriados costumam marchar, em directo, para os mercados subdesenvolvidos que os papam, consomem e anunciam, pingue-pingue nas televisões. Para onde irão, por exemplo, as centrais nucleares que os E.U. do senhor Toffler já não querem?
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 30-3-1985
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YIN-YANG 1993

93-03-30-yy = yin-yang - 4181 caracteres- saude-1-saude

ETAPAS DA AUTO-CURA - A ETAPA DA GRATIDÃO - CÓDIGO DEONTOLÓGICO, CURA DE HUMILDADE
AUTOCRÍTICA, PRIMEIRO PASSO - GRATIDÃO À ORDEM DO UNIVERSO

30-3-1993

O objectivo tantas vezes explicitado pelos adeptos da medicina natural - curar e servir o doente - nem sempre obtém confirmação na prática que se vai verificando entre profissionais de saúde nas áreas de naturoterapia, acupunctura, homeopatia, osteopatia, fitoterapia e outras biomedicinas.
Seria, pelo menos, a conclusão que se vê obrigado a tirar o observador imparcial, que não estando nem de um lado nem de outro mas à mercê de ambos, verifica que os vícios da ordem antiga parece terem já contagiado a nova ordem de coisas. Mesmo antes que um código deontológico venha moralizar e disciplinar as hostes, valia a pena realizar um grande esforço de auto-crítica e auto-exigência para defesa interna contra o inimigo externo e comum. Valia a pena apostar na qualidade, antes que se faça tarde.
A autocrítica surge como a primeira necessidade de uma profunda cura de humildade e tolerância a que todos teremos de nos submeter. Todos, pelo menos, quantos defendem a não violência em geral e na medicina em particular. Se afinal andamos a pregar a boa causa apenas para repetir doenças, erros, vícios, maldades, violências, crueldades, abusos da Medicina estabelecida, talvez nem sequer valha a pena travar a batalha da transição para uma medicina e uma humanidade melhor.
O negócio que invadiu o mercado de produtos ditos naturais, a exploração frenética que se vê por todo o lado sem que o consumidor (de frascos ou consultórios) seja consultado ou chamado a depor, o abuso do comércio que reduz a vida a uma mera transação em dólares ou pesetas, são terríveis obstruções ao caminho da libertação kármica. Proliferam as tentações. Ninguém quer dar mas todos querem receber. A facilidade de tudo conseguir com o carregar num botão, leva à ingratidão.
Mas a gratidão à ordem do Universo é o oxigénio da alma. Como poderemos respirar sem ela? As técnicas - sejam agulhas, laser, biofeedback, etc - não podem abafar o espírito mas servi-lo, sempre. Não se pode falar de amor como quem assina um cheque sem cobertura.
Todos temos de saber, sem hipocrisia, que um acto de amor é a mais difícil démarche num mundo assolado e atolado por vagas e vagas de ódio. Amor será - se for - o resultado final de uma longa, difícil, tormentosa aprendizagem, um esforço de neutralização de tudo (e é tanto) que dentro de nós se choca com os objectivos alegadamente fraternos do Espírito.
Na zona chamada «parapsicológica», iniciática ou mística, estamos todos, aqui no Ocidente positivista, em fase de investigação mais ou menos tacteante. [ Por isso nos parece também a proposta do atelier yin-yang adequada à conjuntura geral e portuguesa nesse importante sector - o sagrado - do nosso reentendimento com o Cosmos.]
[Estava previsto que Michio Kushi abrisse o Congresso de Madrid com uma comunicação sobre «Diagnóstico fisiognómico e exame iridológico». Foi pena que Kushi não pudesse comparecer, tendo enviado à última hora uma mensagem justificando a ausência. Talvez o tivéssemos ouvido discorrer, como é seu hábito, sobre o vício ou doença da Arrogância que, tão ligada à Teimosia e à Opacidade de Espírito, compõem os três pecados mortais contra o Espírito, contra a Alegria, contra a Liberdade.]
São o apogeu patológico do ego egoísta, no seu máximo e desgarrador poder de destruição. Conforme se pode verificar nas manjedouras ditas macrobióticas em Portugal, é a própria disciplina ou terapêutica ensinada por Michio Kushi que mais parece ter concorrido para expandir, entre os compatriotas, a praga da Arrogância, do Egoísmo, da ferocidade pessoal, do carreirismo, do materialismo sem freio, condições necessárias e suficientes para criar afinal um terreno (orgânico) propício a todas as doenças, nomeadamente as mais terríveis. O gosto de recriminar o próximo, a falta de compreensão e subtileza pelas posições dos outros, a intolerância e o interminável monólogo em que se transformou o «diálogo» entre oficiais do mesmo ofício são mais alguns sintomas da doença «arrogância» que continua a espalhar-se e continua por tratar.
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DEEP ECOLOGY 1991

inimigo> - fichas de ecologia humana - ideias-força do realismo ecológico

ONDE ESTÁ AFINAL A CAUSA DAS CAUSAS, O INIMIGO PRINCIPAL? - Pontos-chave

29/3/1991 - Ninguém liga o efeito à causa que o provoca. A grande vitória deste sistema foi separar e sectorizar de tal modo os fenómenos, que ninguém percebe (o que se diz compreender) nada de nada.
E enquanto se verificar esta percepção separada de coisas que estão interligadas e em interdependência - como ensina a ecologia, tudo na natureza é interdependente - bem podem encher as crianças das escolas com manuais e discursos ecológicos.

Surge a grande seca
surge uma epidemia
surge um desastre climático
surge o «sindroma de Oeiras» [??]
surge a morte dos rios
etc
enquanto não se ligar o efeito à causa que o provoca, nada se compreendeu de nada
Mas qual é a causa?
Quando um rio morre, por exemplo, a causa será:
a fábrica poluidora?
será a indústria, como sector da economia ou confederação de industriais?
Será o capitalismo privado?
Será o capitalismo de Estado?
Será o monopolismo?
Será a estrutura ou a conjuntura?
Será o «homem» entidade abstracta de tantos discursos académicos?
Será o bacilo, o vírus?
Será o mercúrio, o chumbo, o crómio?
Será o Governo? Será a Oposição?
Será a AD? Será o Bloco central? Será o PCP?
Será a maldade humana?
Será a luta de classes?
Será o tecnocrata como instituição?
Será tudo isso e nada disso?
Será o imperialismo industrial?
Será a lógica do desperdício?
Será o modelo de crescimento exponencial ou logarítmico?
Será o sistema que vive de ir matando os ecossistemas?
Será a abjecção contemporânea?
Será a democracia? Será a ditadura? Será a monarquia?
Será a Tecnocracia?
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Á PROCURA DO INIMIGO PRINCIPAL:HIERARQUIZAR OS ALVOS

[29-3-1991]

Uma oposição radical-humanista - reformista e não violenta - terá de saber quem aliena mais do que ninguém:
-O capitalismo?
-O socialismo de Estado?
-A instituição burocrática e hierárquica (Estado, Exército, Igreja, Publiciadde, Televisão)?
-A tecnoestrutura?
-A ideologia?
-A superestrutura?

É definindo o inimigo principal que uma oposição radical dá o primeiro passo na via correcta:
-Será a vida, afinal, que não tem emenda?
-Será a Natureza?
-Será o sistema de cultura e civilização?
-Será a história, a ciência, a técnica, a tecnocracia, a burocracia, a tecnoburocracia?
Um destes inimigos terá que ser o principal e a uma oposição esclarecida cabe conhecê-lo a tempo.
[Não adianta perder munições com alvos secundários, são munições que bastante falta fazem para a luta decisiva, para a decisiva resistência na decisiva frente. A frente ecológica.]
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SILÊNCIOS 1991

ecos79-ecos - 2646 caracteres = ecos da capoeira – os dossiês do silêncio

OS SILÊNCIOS E SILENCIAMENTOS
1
29/3/1991 - Desculpando-se com a fornecedora de material eléctrico, que não teria atendido a tempo o pedido de lâmpadas, a EDP deixou aos seus trabalhadores o cuidado de explicar ao público as razões porque tantas freguesias ficaram às escuras no ano de 1979.
Soubemos o que se passou no distrito de Beja, pelo «Diário do Alentejo», mas notícias de muitas outras localidades às escuras referiam o caso de «lâmpadas fundidas» sem que a EDP as substituísse.
Para uma empresa que jorra electricidade por todas as barragens, que promete uma curva ascensional de consumos, que assegura electricidade de origem nuclear antes do ano 2.000, não deixa de ser estranho que tivesse falhado uma simples encomenda de lâmpadas à fornecedora. Será a raia habitual nos triunfalismos energéticos, ou haverá outras razões as explicar a «manobra das lâmpadas fundidas»?
Se fosse para anunciar o Grande Plano Energético do Ano 2000, a EDP teria chamado Imprensa, fotógrafos e TV para registar o momento histórico. Mas para explicar às populações o motivo que as deixou às escuras, nem uma palavra,
Em casos como o de Beja, foi preciso que os próprios trabalhadores tomassem o encargo de prestar ao público essa informação.

2 [Saber data da CPT sobre os mortos de valência, onde há seguras alusões ao artigo de Mário Ventura também referido neste eco]
A opinião pública só sabe que as fissuras em certas barragens como a de Paradela e a do Roxo são alarmantes quando aparece a Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos ou a EDP a dizer que as fissuras não são alarmantes e que já foi tudo tratado pelos técnicos.
Neste como em outros casos de silenciamento, os argumentos implícitos são de cassete: não alarmar a opinião pública; não causar danos morais à população; a nossa débil economia que não pode com uma gata pelo rabo; e, claro, as tremendas incorrecções em que incorrem sempre os jornalistas quando se metem a informar sobre assuntos tão técnicos e tão tabus como são os fiascos da EDP.
A segurança física das populações, em Portugal, é pura e simplesmente insegurança permanente, com a conivência dos órgãos de comunicação social e a desistência resignada dos jornalistas.
Em Espanha, o Mário Ventura foi ver o que tinha havido em Valência e soube que as autoridades - para evitar o pânico e não causar prejuízos morais - não avisaram ninguém de que a barragem estava em risco de rebentar. Rebentou e contaram-se, pelo menos, 100 mortos, fora os prejuízos.
Os silêncios em Espanha não são como os silêncios em Portugal. Porque daqueles ainda a gente pode falar!
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IONIZANTES 1993

ehh-1> - fichas de pesquisa e discussão – ecologia humana – tpc – temas de interface

RADIAÇÕES IONIZANTES:FONTES DE IRRADIAÇÃO E FORMAS DE PROTECÇÃO
1
29/3/1993 - Entre outras fontes artificiais de radiações penetrantes, podem lembrar-se as seguintes:
- ecrãs catódicos de televisores e monitores
- instalações de raios X
- equipamentos de medicina nuclear
- navios de propulsão nuclear
- satélites espaciais
- contentores com resíduos radioactivos (por terra, mar e ar)
- radiografia industrial: refinarias, centrais térmicas, etc.
- indústrias metalomecânicas e de soldadura
- precipitações radioactivas de testes nucleares na atmosfera
- escapes radioactivos de testes nucleares subterrâneos
- minas de urânio
- centrais nucleares
- números luminosos em mostradores de relógios (rádio mais sulfureto de zinco)

2 - ALGUNS DOS ORGANISMOS QUE EM PORTUGAL SUPERINTENDEM NA DEFESA CONTRA RADIAÇÕES PENETRANTES
- Serviço Nacional de Protecção Civil
- Direcção Geral dos Cuidados de Saúde Primários
- Direcção Geral de Higiene e Segurança no Trabalho
- Comissão de Protecção Contra Radiações Ionizantes (CPRI)
- Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial
- Departamento de Protecção e Segurança Radiológica
- Gabinete de Protecção e Segurança Nuclear

3 - A Direcção Geral de Higiene e Segurança no Trabalho edita o Decreto-Regulamentar nº 78/84, de 9 de Outubro, sobre protecção e segurança radiológica nas minas e anexos de tratamento de minério e de recuperação de urânio.

4 - Em 16-20 de Junho de 1980, o Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, realiza um curso básico de protecção contra radiações, com o objectivo de formação especializada, teórica e prática, de protecção e segurança radiológica para utilizadores de fontes de radiações ionizantes e de materiais radioactivos.

5 - Radiações ionizantes significa radiações que podem atirar electrões às camadas periféricas dos átomos. Um átomo ionizado pode dar origem a uma transformação química da molécula da qual faz parte e pode igualmente criar nos tecidos radicais livres muito activos que propagam a acção de irradiação a outras moléculas. Nos dois casos, estas acções podem conduzir a modificações da vida celular.
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DEEP ECOLOGY 1975

demagogi>diario75?>manifest> - mein kampf 91 - dicionário de ecologia humana ideias-força do realismo ecológico - dicionário pessoal

A DEMAGOGIA NO DISCURSO SOBRE QUALIDADE DE VIDA

29/3/1991 - Demagogia são os anúncios do Sanatogen -- Fracasso não é comigo -- que ocultam ou ignoram o terror dos exames e os métodos anticulturais das escolas com um optimismo bacoco que, à laia de isca, só pertence aos que tiverem a graça de comprarem o produto.
Demagogia são os alegados feitos da cirurgia cardíaca, que oculta ou ignora o que se tem feito para incrementar e agravar as doenças cardiovasculares, enquanto se contrariam e combatem os verdadeiros métodos de cura.
Demagogia é sempre o que apresenta uma solução parcial e de emergência (um remendo!) para um problema geral que não consente soluções posteriores e sempre tardias mas prevenção, previsão, planificação, organização, prospectivismo.
Demagogia é o «enlevo» (hipócrita) posto no elogio da procriação e, portanto, da vida, quando se consente em tudo o que avilta, liquida, esmaga, tritura, depaupera, deteriora a vida e os valores da vida que são também os da saúde.
Demagogia é tudo o que insulta a vida, é tudo o que, pela estupidez, pela violência, pela covardia, fazemos ou deixamos que se faça contra a vida, e é depois o casamento, os filhos, a procriação, a continuação da vida que insultámos, insultamos, insultaremos.
Demagogia é dar como sentimental um problema que é económico e social - ou apresentar como desastre, desgraça, destino, o que é apenas incúria ou crime de governo.
Demagogia é, por exemplo, o melodrama e tudo o que é veiculado pelo melodrama no romanesco de consumo.
Demagogia é apontar o efeito fingindo ignorar a causa, como se o efeito não fosse provocado por essa causa mas tivesse caído do céu.
Demagogia rima com hipocrisia.
Nunca se separam. Em matéria política ou moral, onde grassem as contradições, a demagogia faz carreira, pois consiste em aparentar o que não há quando as circunstâncias forçam a isso.
Exemplo: numa sociedade dominada por qualquer oligarquia, é evidente que os exploradores não promovem o interesse dos explorados, o que seria contraditório. Mas quando os acontecimentos forçam a denúncia do facto, a casta dirigente é obrigada a assumir atitudes e a tomar resoluções para se aguentar no poder. Então o reformismo. Então a hipocrisia. Então a demagogia, ou promessas que se não cumprem. Forçada por erupções de violência, a corrupção tem que falar nos interesses do trabalho e na reforma das estruturas: contratos colectivos de trabalho, bairros económicos, obras públicas, assistência, obras sociais, etc.
Há sempre um pequeno «bem» (benefício) que se hipertrofia e propagandeia para ocultar os grandes males e os crimes de base que se cometem.
Quanto mais reformismo, mais hipocrisia. E quanto mais hipocrisia mais demagogia.

EXEMPLOS DE DISCURSO DEMAGÓGICO

Alguns títulos de jornais portugueses são verdadeiros paradigmas de hipocrisia-demagogia-reformismo. Como por exemplo:
Arma imoral e desumana
Nova técnica estudada por cientistas americanos
Vacina revolucionária contra a gripe
Complicado processo com aparelho delicadíssimo
Acrescentou o eminente sábio
Graças à energia nuclear

LUGARES-COMUNS REFORMISTAS PARA IDEOLOGIA REFORMISTA:
Não será este discurso que torna inevitável e imprescindível o radicalismo?
Dinamizar a burocracia
Humanizar a forca
Humanizar a pena de morte
Melhorar a polícia
Melhorar a guerra
Melhorar a cadeira eléctrica
Melhorar a pena de morte
Melhorar a tortura
Melhorar a corrupção
Melhorar a hipocrisia social
Melhorar o arrivismo
Melhorar o caciquismo
Melhorar a prisão
Melhorar a prostituição
Melhorar a cegueira
Melhorar a censura
Melhorar o bairro da lata
Melhorar a alienação do trabalho
Melhorar o trabalho
Melhorar a doença
Melhorar o terror industrial
A terminologia denuncia a ideologia. Sempre. E no caso dos lugares-comuns reformistas, com abundância de provas. A terminologia dos telegramas oriundos de agências é muito adequada.
Vejamos exemplos:
«Bombardeamentos criminosos nos diques do Vietname»
Pergunta: Mas haverá bombardeamentos que não são criminosos?

«Desumanas sevícias infligidas às vítimas»
Pergunta: Mas haverá sevícias que não sejam desumanas?

«Pavorosos incêndios no Vale do Vouga»
Pergunta: Mas haverá incêndios que não sejam pavorosos? Haverá incêndios agradáveis?

«Senhorio desumano»
Mas haverá senhorios humanos?

«Morte súbita de motorista»
Pergunta: Mas haverá morte que não seja súbita? Haverá morte a prazo? (por acaso até há: as mortes por enxerto-transplantação são a prazo: logo o adjectivo «súbita» começa a ser adequado quando aplicado à morte de rotina, de que há cada vez mais e mais lentas).
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TRABALHO 1979

79-03-29> - notícias do futuro - silêncios que falam

DATAS DE UMA CONSCIÊNCIA

29/3/1979 [«Diário de Notícias»] - Em Março de 1979, o primeiro-ministro interino belga, Paul ven den Boelynants, propôs a redução da semana de trabalho, no país, para 36 horas, medida que deveria manter-se até 1982 (!!!!) para reduzir o desemprego.

6/8/1980 [«Diário Popular»] - Em Agosto de 1980, a semana de 35 horas, seis semanas de férias anuais e a reforma aos 60 anos eram objecto de um estudo que o Instituto Sindical Europeu, organismo ligado à Confederação Europeia de Sindicatos, publicou sobre a receptividade com que essas reivindicações laborais foram recebidas nos países membros daquela confederação. Segundo esse relatório, a semana de 35 horas era já nessa altura uma realidade para numerosos trabalhadores europeus, como por exemplo em alguns países escandinavos e os trabalhadores do sector público em Itália. Na Bélgica, onde a meta de 35 horas foi fixada para 1981, esse horário já era praticado nos grandes armazéns e entre os trabalhadores nocturnos de alguns sectores, e na Grã Bretanha, onde os trabalhadores não manuais já a praticavam igualmente.

16/3/1981 [ «O Primeiro de Janeiro»] - Em 1981, a OIT (Bureau International du Travail), anunciava no seu Anuário das Estatísticas do Trabalho, que a semana média de trabalho se situava próximo das 35 horas num grande número de países ocidentais, depois de ter diminuído no último decénio abaixo desses valores. Porém - acrescentava a OIT - para a maioria dos trabalhadores do mundo, a semana de 40 horas é ainda uma miragem. As estatísticas da OIT referentes à década de setenta - desde 1970 a 1979 - mostravam que os trabalhadores americanos beneficiaram, na década, de constantes reduções de trabalho - 37,1 horas em 1970 e 35,6 em 1979 - a despeito da crise energética e da recessão económica. A Suécia vem em segundo lugar, com uma redução de 38,2 para 35,7, seguida da Bélgica que reduziu o trabalho semanal de 40,2 para 35,8 horas. Israel reduziu duas horas de trabalho por semana, ficando nas 36,6 horas, enquanto a Nova Zelândia não trabalha mais do que 37,6 horas por semana, quando começou o decénio por 38,3 horas.

14/3/1983 [«Diário Popular»] - A ideia de que é possível trabalhar menos, vivendo melhor, começa a abrir caminho» - afirmou um representante da OIT, durante um congresso sindical, em Lisboa, em 14 de Maio de 1983, onde as chamadas «minorias» - Base FUT e UEDS - deram que falar, porque foram as únicas a propor a redução do horário de trabalho, na perspectiva da diminuição do desemprego.

14/1/1982[«A Capital»] - Em Janeiro de 1982, era anunciado que a duração legal do trabalho semanal em França fora diminuída de 40 para 39 horas (!!!). Esta proeza, só possível num país com uma democracia tão apurada como a França, foi a primeira redução de trabalho em França desde a conquista, 45 anos atrás (!!!) da semana de 40 horas pela Frente Popular(!!!). Um outro mérito teve esta redução: não se disse que era para combater o desemprego.
16/6/1982 [«A Capital»] - Produzir mais com menos pessoal era a palavra de ordem lançada em Junho de 1982 pelo «Pravda», órgão do partido Comunista da União Soviética e que evoca os slogans dos sindicatos em países capitalistas para a redução de horários laborais.

17/1/1983 [«Diário Popular»] - Em Janeiro de 1983, ecologistas alemães querem reduzir a jornada laboral de 40 para 35 horas semanais - mas também desprivatizar a terra, os meios de produção e a banca - «para lutar contra o desemprego». O Congresso do Partido Ecologista, GAL, realizado em Sindelfingen, adoptou um programa económico «contra o desemprego e a anulação dos benefícios sociais» para dar uma «resposta ecológica à crise económica». Acontece que, na mesma altura, também a União Sindical pretendia uma redução horária, obviamente sem diminuição dos níveis salariais, no que se encontravam de acordo com os ecologistas.

25/8/1983 [« Diário Popular»] - 1983 é o ano em que o Partido Socialista italiano, de Bettino Craxi, teve o gesto heróico que definitivamente o imortalizaria, ao propor ainda mais tardiamente a idade de reforma, fixada então nos 60 anos. De facto, nunca o socialismo se viu tão bem representado e foi motor de tão progressivo retrocesso.

Em 28/8/1985 era anunciado um relatório do Governo português, elaborado por uma missão da OIT, em que se recomendava a generalização a todos os trabalhadores portugueses do horário de trabalho máximo de 45 horas.
O relatório considerava que tal medida devia ser a primeira etapa de um processo de redução progressiva, por via legislativa, da jornada de trabalho, que na perspectiva da missão da OIT o Governo português deveria encarar.
O documento assinalava que a redução do horário semanal para 45 horas viria na direcção preconizada na recomendação adoptada em 1975 pelo conselho de ministros da Comunidade Económica Europeia sobre a redução da duração de trabalho.
A missão multidisciplinar da OIT, de seis membros, visitou Portugal por solicitação do Governo no âmbito do programa internacional para a melhoria das condições e meios de trabalho.
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MEDICINAS 1989

89-03-29-cm> = dcm89-5> = diário de um consumidor de medicinas 1989

DISFARÇAR A FARSA - MEDICINA, MEU AMOR

29/Março/1989 - A medicina é formidável.
Tem artes exímias de reduzir o doente aos esquemas que previamente montou para o enquadrar (aquilo a que chama o diagnóstico), os rótulos que inventou para o rotular.
Tem artes de convencer um homem de que vale a pena viver a vida.
Mas serei eu um homem que me deixe convencer pela medicina?

Queixava-me eu à drª M.J.R.F.M., uma excelente médica de crianças, dos sintomas que ultimamente, nos últimos três séculos, se me têm agravado mas que resultam de um núcleo depressivo inicial que me é estruturalmente inato.
Não pedi à doutora reformas estruturais, já que me contentava em cortar o mal pela raiz e que ela me dissesse como o havia de fazer, com menos dor possível.
Falei de insónias (quando sempre consegui dormir bem, até de pé e nas bichas de autocarro) falei de falhas cada vez maiores e mais frequentes de memória, falei da cabeça ocupada com as obsessões que agora se me tornaram rotina, desde a acção de despejo que me vai comendo aos bocadinhos, desde 8 de Julho de 1989, dia em que recebi a notificação, até à mais recente notificação-mistério para comparecer no tribunal criminal de Oeiras, sem saber do que se trata , de que me acusam e quem me acusa.
Enfim, falei à médica do que me «doía», embora, como sempre a alma me doesse muito mais do que a própria pontada nas costas, no flanco contrário ao que é habitual ser atacado pelas periódicas crises do meu artritismo crónico.
Falei da «angústia», que não distingo bem da «ansiedade» - e a doutora explicou que a angústia é mais vago do que a ansiedade.
Resumindo: nada de grave . Ao fim e ao cabo não parti perna nenhuma, graças a deus, nem tenho que transplantar nenhum fígado. Estou, além disso, suficientemente lúcido para ter consciência do meu caso, e isso só prova de que não estou doido: posso estar à beira de um esgotamento (agora diz-se em termos de Almodólar , «ataque de nervos») mas nos dias mais próximos não estou ainda à beira da loucura.
Suicídio, também é muito improvável que me consiga safar por aí. E porquê? Porque a minha depressão não é endógena, diz-me a doutora. Aí está a magia da palavra «endógena» a delimitar , com fronteiras de betão, o meu problema.
É seguro, para a medicina, que não tenho uma depressão endógena, pois se a tivesse, a doutora, que é de clínica geral, me remeteria, de imediato, para um especialista, ou seja, um psiquiatra: ela, de clínica geral, só se sente autorizada a tratar neuroses ligeiras. No melhor dos casos, eu tenho uma neurose ligeira. Quer dizer: ainda não sou um caso de psiquiatria. Nem sequer nisto tenho o melhor, vou-me ficando pelo mediano e pelo medíocre.
Mas tentando ver agora as coisas post mortem, o que se verifica, em casos extremos, quando há homicídio e/ou suicídio, é que a medicina encontra sempre desculpas.
Ao Vítor Jorge e ao Cabo Antunes - os dois casos classificados de esquizofrenia , à posteriori, pelas sumidades e autoridades psiquiátricas (depois de os dois terem cometido os homicídios) os médicos também não diagnosticaram uma «depressão endógena». Até darem o resultado que deram - duas chacinas - eram casos de rotina, ligeiros, sem gravidade, pois depressões há por aí aos montes, todos somos ou estamos deprimidos e mal seria se, com esta sociedade que temos, assim não acontecesse.
Classificado o eu caso de menos grave ou sem gravidade, bem poderá ele, portanto, agravar-se até aos desenlaces fatais, porque - depois - foi apenas, na perspectiva médica, mais um erro de diagnóstico e errar é próprio do homem e, portanto, do médico, um ser humano como outro qualquer (quando isso lhe convém) à parte a arrogância que especialmente e habitualmente o caracteriza.
Com o argumento de que há sempre um caso mais grave do que o nosso, é evidente que tudo pode acontecer e que tudo se justifica,
Talvez haja um objectivo humanitário neste procedimento que ultimamente verifico em médicos e advogados. Eles procuram, afinal, consolar-nos das nossas desgraças com as desgraças maiores dos outros.
É a terapia humanitária.
Fazendo-nos crer que o nosso caso não é pior, nem é dos piores, deixa-nos mais tranquilos com a comparação, até o momento em que essa minimização de gravidade contribua efectiva e realmente para o agravar, definitivamente, irreversivelmente.
Nesse caso e a posteriori, post mortem, paciência. Coitado, que se lhe há-de fazer? É a vida. Lá se foi desta. Descansou, finalmente, o pobre.
Para isto serve a medicina tanto como um ramo de flores murchas sobre a cova.

Depende também do que eu ia pedir nesta consulta médica à drª M.J.R.F.M.. A consulta surgiu de maneira um tanto forçada para mim - que não ando propriamente a visitar médicos todos os dias e cá me vou aguentando. A consulta estava marcada para a A.C.M.P.C., mas ela faltou e eu não queria cometer a indelicadeza de, à última hora, deixar vazio aquele espaço na agenda da doutora. Fui eu o doente, portanto, nesta emergência médica.
A partir daí só me competia falar à médica das minhas queixas. mas no fundo não estava, como não estou há muito tempo, disposto a aceitar medicações, quer dizer, a mascarar a angústia com tratamentos de suavização.
Acho que em matéria psíquica não é disso que se trata, para o doente, mas de o ajudar a encontrar a melhor forma de sair da vida (eutanásia).
Eu sei que, para lá da minha estrutura psicótica, os factores desencadeantes e condicionantes são muitos, porque muitas são as chatices diárias. E muitas, muitas, muitas têm sido as chatices que há não sei quantos anos não têm cessado de me cair em cima (desde que nasci, em boa verdade).
Mas é preciso ser objectivo, positivo, neutral - como quer a ciência médica. E objectivo, positivo, neutral, é reconhecer que os factores condicionantes ou desencadeantes desempenham um papel bastante secundário em relação ao que chamo estrutura depressiva e a doutora chama depressão endógena.
Os factores condicionantes, as chatices, o chicote diário, o ambiente, podem funcionar como agravantes mas podem também funcionar como terapia, na medida em que provocam revolta e, em caso de neurose depressiva, a revolta, ao produzir níveis mais elevados de adrenalina, é de facto uma terapia, capaz de empurrar mais alguns passos para a arena p nado morto, o morto vivo, o zombie que eu sou.
Daqui resulta sem grande significado que a doutora me conte casos piores do que o meu, inclusive o seu. Foi um gesto de extrema delicadeza e cordialidade, sem dúvida, mas para uma nossa amizade futura (e o que eu queria, acima de tudo, era ter pouco ou nenhum futuro). Para o caso em apreço - o doente de um lado e o médico do outro - considero apenas uma manobra de distracção essas confissões pessoais que a doutora me fez da génese da sua própria neurose.
No fundo, o médico (tal como o advogado) quer cumprir o seu dever. O dever do advogado é ganhar causas - como me diz o Dr. F.T.da M. -e o dever do médico é tratar o doente - neste caso, impedir que ele se suicide, como me diz a doutora.
Mas, doutora, o que eu queria mesmo é que me encaminhasse na via do suicídio mais prático e sem dor.
«Dessa pode você estar bem livre» - responde-me ela.
Insisto: «Como ei-de fazer para me livrar disto, com o menor estrilho possível? E da maneira menos dolorosa, para mim e para os meus próximos mais imediatos?
Isto - repito eu - era o que eu queria de si, doutora, na qualidade que manifesta de ser minha amiga.
Não consegui. O suicídio, como todas as poucas coisas que valem verdadeiramente a pena na vida, é para se fazer a sós. A regra de ouro confirma-se (e toda a minha desfilosofia também): estaremos sempre sós, infinitamente sós, quando precisarmos verdadeiramente de ajuda.
Trouxe, portanto, em troca, uma medicação estupenda para me pôr fino num m~es.
Quer dizer: se seguir à risca este tratamento sem dúvida eficaz, dentro de um mês terei conseguido encobrir, mascarar a minha neurose depressiva básica e enganado, com mil e um alibis, com mil e uma desculpas, com mil e um celofanes cor de rosa, a certeza básica, profunda, estrutural, irrecusável, endógena, da chatice sem nome, da burla que é esta farsa, da farsa que é esta burla de viver.
Exacto:a medicina, no seu melhor, ajuda a disfarçar a farsa.
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