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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-08-05

COMPUTADOR 1969

69-08-07-di> quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002-scan

OS COMPUTADORES AO ALCANCE DO CRÍTICO(*)

7/Agosto/1969

1.
Quando os computadores estiverem ao alcance do crítico, temos esperança de que a localização de um poeta se tornará prática e eficiente. O número de palavras predominantes dará dele um retrato preciso. E ao crítico resta o que já devia ser hoje a sua missão exclusiva: inter-relacionar tendências e descobrir constantes ao longo de uma produção heterogénea mas, sem consciência disso, colectiva: no mesmo tempo e no mesmo espaço.
2.
Já para o poeta os computadores não se afiguram de tanto préstimo Contra o que os experimentalistas doutrinaram, o poeta como sujeito continua a ser mais importante do que a poesia como objecto (embora as correntes experimentalistas e formalistas digam que não).
E mais importante ainda quando a tendência da tecnologia for para substituir o homem pelo computador.. Nessa altura, torna-se indispensável o poeta, único agente capaz de dar às palavras o específico da espécie humana: emoções, sensibilidade, imaginação.
Preconiza-se mesmo, face à invasão tecnológica, um novo romantismo (Henri Lefèbvre tem-no teorizado) de que já se avistam sinais interessantes.
3.
Enquanto não for inventado o "competentómetro", a crítica é a actividade mais amadorística e ingrata que há. Pressupõe garantias que não tem e instrumentos de análise que não existem. Por isso a crítica à crítica se torna um expediente fácil, dolorosamente fácil.
O que por enquanto existe - os testes de inteligência, por exemplo - não é um instrumento de análise e de juízo mas um insulto
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(*) Este texto de Afonso Cautela, que deverá ter ficado inédito, pertence à série manuscrita dos anos 1969, 70 e 71, que deve ter sido contemporânea da aventura chamada «Jornal da Crítica», no jornal «República»
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H. THOREAU 1982

1-3 - thoreau-1-ls- quarta-feira, 1 de Janeiro de 2003-scan

A CRISE ECOLÓGICA:
UM CASO DE VIDA OU DE MORTE (*)

[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 7-8-1982]

A crise ecológica, pondo em risco de sobrevivência todos os ecossistemas, subverte o critério de prioridades até hoje dominante. Por maiores e mais complicados que fossem os problemas, tudo se podia remeter para um futuro infinito.
A grande mudança que a crise ecológica veio impor à escala das prioridades é que transformou esse futuro infinito num futuro limitado, finito e a muito curto prazo. A hipótese de fim surgiu com uma nitidez e um grau de probabilidade que nunca tivera, por mais que se diga ser cíclico na história o «síndroma do apocalipse».
Face à iminência de uma destruição global do planeta Terra - que só os néscios ainda se atrevem a pôr em dúvida - todas as questões se tornam académicas, soam a oco. Falar em filosofia, em cultura, em estética, em desporto, em economia, em política a um condenado à morte é, no mínimo, de mau gosto.
É esta situação-limite ou situação polar que obriga a inverter todas as prioridades, tornando a questão ecológica a primeira prioridade. O facto de uma boa parte dos políticos, economistas, intelectuais não o terem ainda percebido ou não sentirem coragem para manifestar que já o perceberam, não altera um milímetro à situação de facto, à situação objectiva.
Ainda que por medo, vergonha ou pudor não queiram reconhecer a «síndroma do apocalipse» como um facto - talvez com receio que os rotulem de alarmistas... - nada impede que eles, como nós todos, já tenham a casa a arder e a água pelos joelhos...
A crise ecológica não deixa de existir - dando à humanidade um prazo de poucas horas para tomar juízo e "inverter a marcha" -, a Terra não deixa de se encontrar à beira do abismo só porque as elites intelectuais, narcotizadas de ideologia, ainda não deram por nada.
Aliás, a mesma alegre indiferença se verifica entre os que já conseguiram neutralizar o «alarme ecológico» e fazer dele uma questão meramente académica: ecólogos, ambientalistas e engenheiros da poluição conseguiram, de facto, transformar um caso de vida ou de morte numa ciência mais, em mais uma disciplina, numa outra tarefa da sua rotina de funcionários do sistema.

O «SIMPLES» E O «PEQUENO» JÁ VENCERAM

O apelo de Henry Thoreau, no princípio do século XIX - «Simplifiquem, simplifiquem»!, conjugado com um outro de E.F. Schumacher, já na década de 1970 - «Small is beautiful» - traduz o que constitui e maior heresia criadora do ecologismo em Junho de 1982
Quando o sistema atinge o auge do gigantismo e da complicabilidade , lançar o pequeno e o simples como palavra de ordem é, de facto, o grande desafio para a mudança radical e para a subversão.
Desmantelar o sistema é impossível. Mas é possível, por métodos não violentos, constituir unidades de produção que se orientem pelo simples e pelo pequeno. É possível, lado a lado com os sistemas gigantescos, agir e resolver problemas com «tecnologias intermédias» apropriadas.
O caso das tecnologias alimentares e terapêuticas pode ser dado como exemplar.
De facto, o sistema médico-farmacêutico cerca-nos por todos os lados, ataca em todas as frentes. Com tentáculos poderosos no aparelho de Estado, ele determina a obrigatoriedade das vacinas. Fazendo depender totalmente o doente da engrenagem hospitalar, deixa-o completamente entregue à vontade deste.

No entanto, foi possível criar um sector alternativo. E frente aos milhões de livros, aos milhares de especialistas, às centenas de universidades e escolas que proclamam o exckusivo da ciência médica, eis que o simples e o pequeno das práticas terapêuticas de autocura, nomeadamente através da medicina yin-yang, é hoje um facto.
Ninguém já poderá esmagar este movimento alternativo que advoga o simples e o pequeno para curar a gente. E que cura mesmo.
Aliás, o mesmo sucede ao movimento cooperativo, criando um sector alternativo, guiado pelo simples e pelo pequeno, ao lado do gigantismo e da complicação que a macroeconomia pretende apresentar como única solução possível.

O DESENVOLVIMENTO DO SUBDESENVOLVIMENTO

O que foi durante séculos a a situação à escala planetária - o desenvolvimento do Norte feito à custa do subdesenvolvimento do Sul - verifica-se, a pouco e pouco, a todos os níveis - nacional, regional e local - onde quer que o mesmo modelo de desenvolvimento foi chegando.
Josué de Castro foi dos primeiros a  lembrar que o subdesenvolvimento é apenas a outra face do desenvolvimento.
A pouco e pouco foi-se vendo isso, mesmo que muitos ainda neguem a evidência, continuando a entoar o miserabilismo.
E hoje é possível traçar um quadro ou balanço dos resultados obtidos com o chamado desenvolvimento. Em toda a parte se repete o esquema ou pecado original: o desenvolvimento do subdesenvolvimento.
Exemplo flagrante é o das tensões e pretensões mundiais no campo das pescas, embora se pretenda desviar para motivos colaterais a verdadeira essência ecológica do problema dos «recursos pesqueiros»
A sobrepesca das potências com frotas mais poderosas é um facto, mas é também um desses factores colaterais. Facto fundamental - e não colateral - é que a diminuição dos «stocks» desce vertiginosamente devido ao biocídio praticado nos oceanos, lagos e rios pelas actividades do desenvolvimento industrial.
Que a outra face do crescimento industrial é a fome e não a prosperidade, prova-o o défice cada vez maior de produtos pescados nos oceanos, em geral, e nas costas portuguesas, em particular, como os vários incidentes com pesqueiros constantemente têm provado nos últimos anos.
Todos os dias, entretanto, nas lotas dos portos mais fartos de pesca, Matosinhos, Peniche, Olhão, camiões frigoríficos recebem toneladas de peixe fresco que transportam rumo à Europa, nomeadamente à Itália, que consegue assim  o peixe que já não consegue tirar das águas  do seu Adriático.
«Não há falta de peixe» - continuam a dizer os entendidos. «O peixe está cada vez mais caro» - dizem os desentendidos, sem ligar o efeito à causa. Ignorando que esta sociedade aumenta constantemente os preços sem dizer nunca que é o produto que cada vez mais rareia.

MISÉRIA OU POLUIÇÃO: «SLOGAN»  SÓ PARA USO DOS POBRES

Os mais graves problemas ecológicos são os do subdesenvolvimento. Mas não é um desenvolvimento à maneira ocidental que irá solucioná-los.
É o Terceiro Mundo que está à beira da catástrofe e não os países industrializados como a R. F. A. Mas à beira da catástrofe ecológica, sem ter passado pela industrialização.
Assim, com este facto, se inverte o «slogan» mais falso e mais propagado desde 1972 nos meios da política ambiental.
Dez anos após a Conferência de Estocolmo, a tese lançada por esta primeira grande reunião da O.N.U. sobre meio ambiente virou do avesso - sofreu uma total reviravolta.
Não é o crescimento industrial que produz os mais graves desequilíbrios ecológicos - mas o subdesenvolvimento crónico, a colonização e neocolonização dos povos, a dependência energética, a explosão demográfica originada pela fome e miséria endémicas. A Conferência de Estocolmo, no fundo, quis lançar o crescimento industrial como panaceia para o subdesenvolvimento, mas estabelecendo uma irredutível oposição: poluição ou miséria.
Países, como a R.F.A., compreenderam, entretanto, que nem a poluição nem a miséria eram inevitáveis e que havia um terceiro termo, o da sociedade pós-industrial.
Em menos de 10 anos, pois, uma sociedade anteriormente poluída consegue controlar e condicionar essa poluição.
E conclui que não é esse o problema básico: básico é o fenómeno de exploração que os países ricos exercem sobre os pobres e é dessa exploração que, em países como Portugal, derivam os mais graves problemas que atacam o Ambiente Humano, a chamada «qualidade de vida».
Na entrevista que nos concedeu - publicada no jornal «Portugal Hoje» (17 - 2 -1982), René Dumont confirmou que, será no «Terceiro Mundo que o futuro ecológico do planeta se decidirá.»
Não se trata, pois, de repetir no Terceiro Mundo o mesmo modelo de desenvolvimento, mas de encontrar as soluções ecológicas para as  economias destes países que os ricos levaram séculos a explorar.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com este título, na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 7-8-1982.
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PARAPSI 1996

1-2 - 96-08-07-ah> = ac dos projectos - 5120 bytes - psia-1> psicologia alargada NOVO PARADIGMA - PSICOLOGIA ALARGADA: AQUÉM E ALÉM CÉREBRO

[7-8-1996]

«A ciência chama-lhe Parapsicologia. As grandes culturas do sagrado conhecem-na, desde as origens, por Magia. Podemos simplesmente designá-la por «Psicologia Alargada».

Conhecer a energia até agora desconhecida pela ciência é o que pretendem alguns métodos actualmente propostos por pensadores que trabalham, em perfeita equidistância, no domínio da ciência e no domínio da Tradição, ou antes: no domínio da ciência profana e no domínio das ciências sagradas.
Esse é o salto para um novo paradigma. Esse é o salto que um curso de ciências parapsicológicas terá hoje que efectuar. Esse é o salto realizado por Etienne Guillé. Com ousadia e coragem, com prudência e cautela.
A investigação experimental realizada, nos últimos 50 anos, em países como os Estados Unidos, a ex-Alemanha Federal e a ex-União Soviética, deu à Parapsicologia um novo fôlego mas também contribuiu para a rodear de novas limitações.
Os fenómenos do infra e do supra consciente ganharam o estatuto «científico» mas confinaram-se (reduziram-se), supersticiosamente, àquilo que a tecnologia material pode detectar e analisar em laboratório.
Ora o ser humano é o teledetector por excelência, o único aparelho, o único medianeiro - médium - capaz de medir, analisar e detectar o espectro total das energias vibratórias, entre macro e microcosmos, como aliás o disseram as grandes tradições e culturas, como aliás o fizeram as ciências sagradas de todos os tempos: alquimia, magia, astrosofia, aritmosofia, kaballah. O ser humano - dizem alguns mais radicais - foi mesmo unica e exclusivamente criado para medianeiro entre macro e microcosmos. «O que está em cima é igual ao que está em baixo» (Hermes Trismegisto).
A ciência, utilizando a tecnologia material mais sofisticada, não consegue detectar mais nenhumas frequências vibratórias além (e aquém) do espectro electromagnético.
Os métodos iniciáticos fazem do ser humano o aparelho de medida de todas as energias, sem discriminação de cor, sexo, idade ou raça... Por isso se diz, desde chamãs da Sibéria a hierofantes egípcios, que a iniciação é vi(d)a árdua e difícil. E nada tem de místico nem de extático (com x).
No Ocidente, a única corrente que colocou o ser humano como «aparelho» mediador entre o micro e o macrocosmos foi o espiritismo de Allan Kardec. Mas a experiência mediúnica do espiritismo nunca pretendeu ser científica e contentou-se com um empirismo vulgar(izante).
Limitado ao corpo astral - um dos 6 corpos subtis, segundo Rudolfo Steiner - as energias de mais alta frequência continuaram a ser-lhe estranhas. Como continuam a ser estranhas para todas as escolas energéticas hoje no mercado.
A Parapsicologia ensina-se já em universidades mas perdeu o halo de maravilhoso e transcendente que lhe é inerente e que a tradição místico-iniciática lhe dera.
Enquanto o estudo das energias se limitar ao espectro electromagnético - único detectável pelos aparelhos de medida experimental - a parapsicologia não vai além de uma psicologia do consciente, do mental, do racional. Pouco mais do que faz a Psicologia já admitida nos manuais escolares e nas clínicas médicas.
É evidente que o psiquismo humano não se reduz ao consciente: mas também não se limita ao inconsciente que os psicanalistas e surrealistas assinalaram, mesmo o oceânico inconsciente colectivo de Carl Jung.
A psicanálise redutora de Freud vai até às memórias de infância, quando, como assinala Etienne Guillé, há memórias marcantes no ADN da célula, de pelo menos 7 civilizações, incluindo a Pátria delas todas, a Lemúria.
São as memórias ou energias negativas que causam a doença. E a verdadeira parapsicologia deverá mediatizar - mediunizar - essas informações, essas memórias, essas energias, se quiser, verdadeiramente, curar. Foi assim que o ensinaram e fizeram as medicinas sagradas, os métodos iniciáticos das grandes culturas.
O homem ocidental inventou mil aparelhos na área do espectro electromagnético: mas aquém e além do electromagnetismo, só o ser humano é o aparelho possível, o medianeiro holístico entre céu e terra.
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ECO-ECOS 1981

1-1- 81-08-06-ie-ac> - 2560 bytes - eco-81>

O FATALISMO DE CHEGAR ANTES DO TEMPO - UM INÉDITO DE 1981

Lisboa, 6/8/1981 - Que o ecologista seja precursor e o tecnocrata lhe pilhe, sistematicamente, as teses e as ideias, começa a fazer parte da nossa rotineira delinquência diária.
Que o tecnocrata não diga onde pilhou as ideias e se proclame pioneiro, começa a tornar-se hábito.
Quando amanhã o filho do tecnocrata vociferar também contra o Nuclear, porque o pai lhe arranjou um cancro radioactivo per capita, será que o ecologista ainda será imolado por andar a dizer isso há 36 anos (fazem agora, a 6 de Agosto)?
Sabendo como os ecologistas só querem minar a civilização e os altos valores da Cristandade, como se compreende que a civilização tecnológica mais avançada esteja a plagiar tudo o que os ecologistas defendiam? Tudo o que era, ainda há meses, motivo de escárnio, pelourinho ou inquisição?
Se o solar vem «made in Germany» ou «made in USA», abrem-se as portas, venha ele, é progressista, produz megavátios e o Eurico da Fonseca dá, com certeza, mais um dos seus colóquios sobre apertos energético-combustíveis .
Mas se o solar é dos ecologistas - pequenas unidades geradoras de energia conforme as circunstâncias, as necessidades e a realidade concreta de cada local - uf!, a pressurosa imprensa progressista arranja todos os fumos e bufos para meter a ridículo ou submeter aos Pina Manique da ordem esses rapazes que cada vez mais (mesmo com a desajuda dos «mass media») mobilizam pessoas.
Há dois anos, ou ainda menos, era preso todo o que sugerisse uma disseminação de unidades geradoras de energia solar: hoje os alemães dizem que vão implantar no Alentejo (*) uma central solar e vai preso todo o português que não quiser.
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(*) Afinal, a central alemã parece que era só fumaça. Em 26 de Julho de 1997, não consta que essa central alemã tivesse sido construída ou qualquer outra
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POVO 1980

1-2- 80-08-06-ie-ecc-gg> = ecos da capoeira = guardas do gulag quinta-feira, 2 de Janeiro de 2003-scan

A INGERÊNCIA DOS TÉCNICOS NOS NEGÓCIOS DO POVO(*)

[6-8-1980]

Ao invocar uma lei canadiana que proíbe os voos supersónicos por cima do território nacional, o ministro canadiano dos transportes acaba de praticar (6.8.1980) uma grave ingerência nos negócios internos de dois poderosos países, a França e a Grã Bretanha,
já que são, respectivamente, a "Air France'' e a "British Airways" que o ministro canadiano desafia ao exigir que estas companhias modifiquem as suas rotas aéreas, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Escócia e Terra Nova - cujos habitantes se queixam, há anos, do "bang" incomodativo do "Concorde" sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos.

Enfim, a comissão de inquérito foi criada, devido às pressões dos habitantes destas remotas províncias do civilizado Canadá, e o ministro canadiano não teve mais remédio que agir.

Agiu, mas interferiu nos negócios internos da França e da Grã Bretanha, o que vai com certeza dar um "affaire" diplomático de envergadura. De gritos supersónicos.

Nada disto teria acontecido e tudo teria ficado na melhor ordem internacional, se o ministro canadiano dos transportes tivesse seguido à risca a advertência solene já por várias vezes feita, em Portugal, sobre a grave ingerência nos negócios internos da vizinha Espanha que representaria, representou ou representa toda e qualquer manifestação dos habitantes portugueses relativamente ao incómodo "bang" de três centrais nucleares na fronteira com a Espanha.

Desde a Comissão Nacional do Ambiente, à Secretaria de Estado do mesmo ambiente, passando pelo deputado Sousa Marques, do PCP, na Assembleia da República, (Janeiro de 1980 ) por um edital de "O Diário" (5 de Setembro de 1979) e por vários artigos de engenheiros e doutores, como o Dr. Fernandes Forte e eng. Frederico de Carvalho (ou vice-versa) tem sido esta a cantiga com que se pretende embalar o povo português e calar os protestos contra a prepotência de três centrais nucleares despejando água quente para o Tejo, o Douro e o Guadiana, fora o resto, radioactividade incluída.

Para estes beneméritos, peritos e técnicos, - que abrangem todas as cores do leque político, graças a Deus, a Marx e a Nossa Senhora de Fátima, - as manifestações de protesto quer das autarquias, quer da União dos Sindicatos de Beja, quer da COLBA (União das Cooperativas Livres do Baixo Alentejo), ocorridas em Agosto/Setembro do ano passado, estariam a concorrer, perigosamente, para um grave conflito diplomático com os queridos "hermanos".
Comer (radioactivo) e calar, foi por todos eles, nuclearistas, advogado. A lei é sempre invocada quando a moca da violência (neste caso a violência nuclear) está apontada ao coração do povo. A serenidade é sempre badalada por estes santos engenheiros da paz atómica, todos progressistas graças a Deus, todos democratas, todos cumpridores da moral e respeitadores dos direitos do homem.

Lá pela Nova Escócia e pela Terra Nova, não há só bacalhau.
Há gente tesa que resolveu queixar-se, quer o seu protesto venha ou não a ser considerado pelos guardiões da ordem atómico-podre, ingerência nos negócios dos outros.

E quando se atira com um "bang" supersónico sobre uma população, não há ingerência?

E quando se colocam três centrais nucleares ao pé das populações, para as matar, será ingerência nos negócios de quem?

Porque não se demitem estes senhores defensores do povo e não vão caçar gambuzinos?

Porque teimam ingerir-se fatidicamente nos negócios do povo que só ao povo incumbe tratar? E à sua maneira. Prouvera a Deus que à Mocada, Minha Nossa Senhora da Não Violência Pacifica!
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas da série «guardas do gulag», deve ter ficado inédito mas valeu a pena ser escrito
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SILÊNCIOS 1980

ses-2> ses = silencios & silenciamentos - ficha de ecologia humana - pistas de epidemiologia

SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS

6/8/1980 - CANADÁ CONTRA O «BAMG» DO CONCORDE - Em 6/8/1980, era noticiado de que uma lei canadiana proibia os voos supersónicos por cima do território nacional do Canadá.
Companhias como a Air France e a British Airways seriam obrigadas a alterar as suas rotas de voo, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Nova Escócia e Terra Nova - cujos habitantes, há anos, se queixavam, do «bang» incomodativo do «Concorde» sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos...
Onde está o «Concorde»? Ainda mexe? Ainda incomoda os habitantes de Nova Escócia e da Terra Nova? O ministro canadiano cedeu ou mostrou firmeza? Qual a represália das duas companhias aéreas?

NASCER CADA VEZ MAIS DIFÍCIL - Para o «dossier maldito» das Bactérias-Antibióticos, mais um episódio: O misterioso vírus que em Agosto de 1980 foi detectado nas maternidades de Lisboa e que foi denunciado na imprensa.
Caiu no esquecimento ou no silêncio? Ou foi silenciado?
De facto, torna-se cada vez mais perigoso nascer em Portugal.
Para lá da esterilização voluntária,
da pílula cor-de-rosa,
do planeamento familiar e de todas as campanhas com ar de progressistas e libertadoras da mulher, falta apontar outros dois factores que desencorajam a fertilidade dos casais: não ter onde habitar e o estado tenebroso que as maternidades atingiram, constituindo mesmo este um caso à parte dentro do panorama também tenebroso dos hospitais em geral.
Ver IR, cronologia 1980 (21/8/1980)
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VACINAR O TERCEIRO MUNDO QUE NÃO MERECE MAIS - Tema intrinsecamente relacionado com o anterior, o da vacinação em massa já em1/Dezembro/1980 dava que falar. O director adjunto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) proclamava que os habitantes do Terceiro Mundo devem ter cada vez mais acesso a medicamentos e vacinas.
Quinze anos depois, quem vai relacionar esses «cuidados médicos intensivos» com o Vírus do Ebola no Zaire, por exemplo, ou mesmo com o Vírus da SIDA que se disse, anedoticamente, ter origem no macaco verde do centro africano?
O silêncio sobre as relações entre factos é outro silenciamento em que, jornais e jornalistas, colaboram de boa mente. A falta de memória para o que não interessa lembrar, dá uma grande ajuda.
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TEMAS DO SAGRADO ABORÍGENES CONTRA PROGRESSO - Há episódios exemplares na luta do progresso contra a civilização.
Em 12/Agosto/1980, os aborígenes australianos resolveram opor-se à exploração petrolífera que lhes destruía o território e a fonte alimentar.
Segundo o título do jornal «O Dia» (12/8/1980) «superstição australiana embarga a prospecção de poços de petróleo».
De um lado, a Amax Petroleum Company que perfura tudo o que encontra
Do outro lado, os aborígenes do oeste australiano, os aborígenes da região de Noonkanbach (talvez o povo sobrevivente mais antigo do Planeta, herdeiro directo dos antigos deuses), os lagartos gigantes chamados grandes iguanas (iguais aos que existem na América Central, como lembra James Churchward no livro «O Continente Perdido de Mu»), os australianos brancos que apoiam a luta dos indígenas, os pastores protestantes e, enfim, os sindicalistas que também bloquearam o camião pesado que se preparava para as prospecções.
Para a nossa imprensa progressista, tudo isto eram «superstições» de supersticiosos que consideravam «sagrada» esta inóspita região australiana.
Na Austrália, em 12/8/1980, até os sindicalistas são contra a civilização e o progresso da Amax. São uns supersticiosos que ainda acreditam em «terras sagradas».Têm-nos é negros e no sítio.
Note-se que do ponto de vista estritamente alimentar, os gigantescos iguanas servem de alimento aos que vivem nesse remoto monte de Evian, a 3000 Km de Perth, onde está a sede do sindicato que apoiou e apoia a luta dos indígenas.
Uma história a redescobrir, esta dos aborígenes, contemporâneos dos outros aborígenes que fizeram as gravuras do vale do Coa?
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HOLÍSTICA 1996

1-1 - 96-08-06-hv > = hipótese vibratória - apdp-1> psi> a procura da palavra que falta

À PROCURA DA PALAVRA QUE FALTA

6-8-1996

«Mesmo os investigadores que se dizem ocupados com uma visão holística da vida, na primeira altura esquecem essa preocupação e sectorizam, sectarizam. A tentação do especialismo e da especialização é uma fatalidade, provavelmente inscrita no nosso código genético. Só mudando de código se conseguirá ver o todo nas suas partes componentes e não apenas uma parte desse todo.»

Se levarmos à letra a sua etimologia, a palavra «psicologia» não exprime também e nem sequer a matéria que pretende significar.
Mas generalizou-se e agora é mais uma que temos de usar, porque o uso a tornou insubstituível. Se, como diz a etimologia, «psique» significa «alma», e se ««psicologia» quer dizer «ciência da alma», ela exprime um conteúdo estrito relativamente ao que fica subentendido. Nesse caso, a palavra «ultrasensorial» que alguns autores usam - e mesmo «sobrenatural» - serviria melhor para explicar o que fica para lá do corpo, ou seja a alma e o espírito. A composição trinitária do ser humano (corpo, alma, espírito) é um dado assente, indiscutível e inamovível, como o demonstrou, em 1551 páginas, Etienne Guillé.
A própria divisão, tão artificial, entre espírito» e «matéria», é didacticamente aceitável, na medida e que traduz e assume claramente um artifício didáctico.
O que existe, de facto, sempre existiu e sempre existirá, é um continuum espírito-matéria mas é o estudo desse continuum, no seu todo holístico, que continua à espera de um nome próprio.
Holístico, enquanto não aparece melhor, até serve: o que se pretende estudar, não o esqueçamos, é o «universo humano» dentro do universo cósmico.
A questão, pois, continua em aberto:
Como iremos chamar à ciência que estuda o todo?
Como iremos chamar à ciência que estuda a energia e os vários níveis, qualitativos e quantitativos, da energia, sem as divisões artificiais e arcaicas que se têm usado?
(As mais genéricas - Termodinâmica e Análise Energética - ficaram-se pelas energias físicas).
Como iremos chamar à ciência que trabalha simultaneamente em três áreas separadas mas sobreponíveis: Informação = Energia = (Para) Psiquismo?
Um curso de Parapsicologia deverá cunhar essa palavra e promover o seu uso. Temos alguns anos à nossa frente para esse trabalho.
Enquanto a palavra não é «inventada», servirão as mais próximas:
Gnose
Holística
Metapsicologia
Metapsíquica
Parapsicologia
Psicologia transpessoal
E por agora chega.
Lisboa, 6/8/1996
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LUMPEN 1975

lumpen-3> - os dossiês do silêncio (de morte)

PARA UM MANIFESTO DO (LUMPEN) PROLETARIADO

+ 6 PONTOS

6/8/1975 - Zonas negras existem, na sociedade portuguesa, marginais à sociedade portuguesa fascista e pós-fascista, que colocam problemas de indiscutível premência e gravidade mas que os mecanismos partidários em vigor, continuam sistematica e deliberadamente a ignorar porque saem do âmbito do seu jogo.
Essas enormes "manchas" humanas continuam, como sempre estiveram, no desconhecimento total do resto dos portugueses. Antes do 25 de Abril, os "intocáveis" do gueto, os marginais deste subproletariado eram tabu para a Imprensa, o fotógrafo estava proibido de bater chapa nos bairros da lata e ninguém, dos escribas, podia ou ousava falar dessa espécie de sífilis e lepra social.
Depois do 25 de Abril, a catadupa de comunicados, discursos, notícias, protestos, reivindicações, conferências de Imprensa, associações de amizade com os colonizados de outros mundos (excepto uma Associação de Amizade com os Colonizados de Portugal), as personalidades estrangeiras importantes, os governos meio-provisórios e que vão caindo em ritmo regular, etc, eclipsaram de novo como por magia, o que eclipsado e na sombra já estava há muito e há muito era ferreamente mantido, marginaram o que marginal já era, tornaram mais tabu o que tabu já vinha sendo.
Ciganos, velhos sem reforma ou reforma de 25$00 mensais, profissões sem dimensão económica (barbeiro, engraxador, vendedor ambulante, ferreiro, feirante, pedinte, carpinteiro, etc,) internados em asilos psiquiátricos ou não psiquiátricos, crianças sem família, são apenas alguns exemplos dessa "zona proibida" que, como um esgoto inesgotável, recebe todos aqueles que a sociedade vomita e que nem sequer, como os ratos, têm direito a raticida.
Não surgem à luz do dia, o sol não é para eles e ninguém jamais se ocupa em falar deles, em falar em nome deles, em formar com eles um partido: o partido do esgoto. Nem partidos da classe operária, nem partidos da burguesia, nem partidos da direita, nem sindicatos e comissões, nem leis e serviços, nada nem ninguém, incluindo a Imprensa, incluindo a Literatura, se ocupa disso,
Essas camadas subproletárias não têm qualquer estatuto humano ou social, profissional ou político. Estão fora do quadro , do jogo, do plano e dos planos. Nem estatuto de morador, nem estatuto de trabalhador, consumidor, sócio de clube recreativo ou desportivo, nem militante sindical. Não têm sequer cartão de identidade. Por i isso não podam ter sequer cartão de "vagabundo”.
São verdadeiramente homens, mulheres e crianças à procura da sua identidade. Talvez como o negro do gueto norte-americano. Talvez como o africano da floresta virgem. Talvez como o porto-riquenho e o chinês dos bairros de Nova Iorque. Formam todos, ao fim e ao cabo, uma família que se ignora e que ignoramos. Que, confortavelmente, ignoramos.
São aqueles de que ninguém fala e de que ninguém quer ouvir falar. Por isso , em rigor, nem sequer se pode dizer que são seja o que for...
Muito menos contam na caça ao voto do garrido eleitoralista. Muito menos tem essa maralha estatuto de "cidadão eleitor". Ninguém daí lê jornais. Jamais alguém daí viu televisão. Ninguém daí sabe, sequer, que houve eleições e que houve um 25 de Abril.
Mortos-vivos, apodrecendo nos próprios dejectos, como os excrementos vivos do hospital Júlio de Matos , já quase não respiram (embora o seu alimento , de há muito tempo, seja o oxigénio), apenas vegetam e têm primários tropismos motores, apenas se locomovem vagamente entre uma e outra parede dos "muros do asilo".
Esse tipo de "animal", portanto, pode habitar em bairros de lata, mas pode também subsistir na grande cidade, no desvão, na escada, na cave subterrânea, no que resta do espaço disputado aos ratos e às baratas. Esse tipo de "selvagem", de bicho exótico pode ser visto a beber, na pastelaria do Bairro Alto, a beber o seu café com leite com um bolo de arroz, um dos que ele costuma ingerir de dois em dois dias (lauto jantar).
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Por tudo isto, fica claro que estas "partes vergonhosas" da ordem social são espinho cravado na consciência pequeno-burguesa. São o remorso e a má consciência dos chamados partidos da classe operária. São a nódoa de azeite que democratas e sociais-democratas, doutores e engenheiros, quadros e técnicos, mandam limpar na lavandaria , ao lado das nódoas de esperma. Nem sequer a CIA se interessa por essa degradada classe de desclassificados.
Toda essa "gente" é aquela gente que nunca veio nem virá no semanário "Gente". É aquele substrato de subgente e de subproletariado que nem sequer o romancista neo-realista tocou ou quer tocar, com um dedinho ligeiramente dobrado de pastelaria Benard. Nem com pinças desinfectadas, o escriba lhe pega.
É malta que não discute com o patrão - porque nunca teve patrão.
Que não reivindica salário - porque não sabe o que isso é.
Que tem efectivamente maneiras de subir na escala social, maneiras que podem ser:
- atestado de indigente na Misericórdia do Largo;
- assalto de ourivesaria ou loja de electrodomésticos à mão armada;
- chulo da varina da Ribeira ou da "girl" do Máxime;
- "arrebenta" que ronda o Parque Eduardo Sétimo para extorquir ao pederasta o relógio e o anel.
Estes são os que sobem na vida e regra geral nem a polícia lhes põe a gadanha em cima. No meio dos outros, estes são, afinal, reis, têm classificação e, se vão dormir uma noite aos calabouços do Governo Civil, ganham a medalha de honra, no dia seguinte, porque logo qualquer jornal lhe chama energúmeno. Passa a ter o estatuto de energúmeno, o que é, meus senhores, uma promoção.
A sociedade fecha as retretes e os urinóis, ou oculta-os sob biombos de pudor. A ordem social gosta de tudo limpo.
No entanto, a vida quotidiana das cidades e subcidades, é uma latrina a céu descoberto.
Se a vida quotidiana portuguesa - para além de ser um manicómio colectivo - é um esgoto fedorento, a essa fauna dos esgotos se deve em grande parte. Mas ninguém os responsabiliza por esse "mau ambiente, porque seria denunciar-lhes a existência' conferir-lhe estatuto.
Não podendo ver-se livre desses chagados, desses sifilíticos sociais, dessa lepra moral e política, a ordem social confecciona mecanismos de auto-ilusão que descartem do campo visual, do campo da consciência e do campo afectivo esse mar de merda.
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Pergunta: já viram alguma notícia em que os carpinteiros reivindiquem férias e abono de família?
E das costureiras: já algum partido, já o Movimento Feminista se ocupou das costureiras (eu disse "costureiras", nada de confusões)?
E dos sapateiros? Quem falou jamais dos sapateiros deste País?
E do pastor de cabras?
E , à excepção da vedeta Rosa Ramalho - na qual se exorciza a nossa raiva sadomasoquista contra o trabalho não industrial - quem fala do artesanato pobre, do cesteiro? Quem os leva ao Mercado do Povo, que SNI de ontem ou INATEL de hoje lhes dá apoio?
A propósito de ócios e tempos livres, em vez de campo de férias, de camping ou caravaning, esses out-siders têm as suas reservas ou campos de concentração onde permanentemente se encontram em estância de férias.
E a mãe de família? A mãe que, apenas doméstica , não tem nem teve jamais profissão de fabrica, balcão ou escritório? Quem se ocupa dessas cabeças de casal?
Quem já analisou, de uma perspectiva marxista-leninista, essas mães de portugueses dados de bandeja ao fascismo? Ou essas mães não têm enquadramento marxista-leninista?
Eis, para um marxista, a terrível suspeita. É que esses vermes dos esgotos , não tendo classe, não podem dar "luta de classes". No entanto, há extensas camadas de população (numericamente importantes) que, suportando todo o peso e pesadelo do fascismo como alicerces dele, não têm agora chance de entrar no quadro da Revolução.
Já viram, a subir o elevador da Glória, onde conta os cinco tostões do bilhete, tostão a tostão, um estropiado atado em trapos? Acham que a Misericórdia se ocupa dele? Acham que ele terá cumprido, ao menos, as suas obrigações sociais e terá atestado de indigente, estatuto de pobre?
O melhor da fita é que a maior parte desses energúmenos, nem sabendo que existe, nem estatuto de pobre pode ter porque não sabe sequer que o pode ter.
As ligas de libertação sexual consideram o homossexual um marginado , um segregado, um perseguido, um colonizado. Vamos ser lúcidos e vamos verificar que o homossexual, apesar de tudo, talvez tenha emprego, família, grupo, tertúlia, sindicato, etc. Talvez seja artista ou modista, cabeleireira ou bailarino.
Ladrão, pedinte, vagabundo, "clochard" são ainda, no contexto dos abomináveis, seres, por antítese, (anti-)sociais. Sendo anti-sociais são, por isso, dialecticamente sociais. Mas os outros que nem nem anti são? Que estão antes da sociedade? Que estão debaixo da sociedade?
5
Uma operante, pujante sociedade de consumo, pensa acima de tudo na produção e na batalha da produção, no sindicalismo e na luta de classes, no patrão e no operário.
A ordem social, a democracia, o governo, o comício, o jornal de partido, pensam, sempre, - remanescentes que são da exploração capitalista e da cultura burguesa-capitalista - na produção e nos que produzem. Só este, produtor, trabalhador, operário, tem direitos e direito à vida e à comunicação, à luta, à Revolução.
Ora o improdutivo por condição, as idades ou condições improdutivas como a criança, o velho, o inepto , o incapaz ou deficiente (motor, visual, físico ou psíquico) , o definitivamente irradiado da produção, o desintegrado, o segregado é que é o diabo.
Nenhuma teoria marxista-leninista-maoista o integra. É um osso atravessado na garganta do progressista.
6
Pasolini meteu alguns deles, devidamente poetizados e liofilizados, nos livros. Mas nos filmes, acabou por desistir. Dava fita repugnante, desistiu e dedicou-se para fins de exportação ao género adaptação de clássicos.
Jean Genet foi santificado por Sartre e não sei o que lhe aconteceu para além de páginas douradas adoçando a pílula da abjecção.
Artaud traçou o manifesto da Crueldade e da Crueza, Albertine Sarrazin e Violette Leduc ficaram de pedra, imóveis, nos seus livros de pedra, Danilo Dolci teima, no meio da mafia sicíliana, em interrogar a subgente e os desertados de Palermo. E houve entre nós um escritor, João Carreira Bom, que escreveu um livro intitulado "Subgente."
A pergunta é: estará esgotada, para o papel e a esferográfica, esta mancha escura do mapa humano português? Que esperam os candidatos a escritores e a sócios da dita Associação? Afinal, que estamos aqui a fazer?
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PRECURSOR 1981

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O FATALISMO DE CHEGAR ANTES DO TEMPO - UM INÉDITO DE 1981

Lisboa, 6/8/1981 - Que o ecologista seja precursor e o tecnocrata lhe pilhe, sistematicamente, as teses e as ideias, começa a fazer parte da nossa rotineira delinquência diária.
Que o tecnocrata não diga onde pilhou as ideias e se proclame pioneiro, começa a tornar-se hábito.
Quando amanhã o filho do tecnocrata vociferar também contra o Nuclear, porque o pai lhe arranjou um cancro radioactivo per capita, será que o ecologista ainda será imolado por andar a dizer isso há 36 anos (fazem agora, a 6 de Agosto)?
Sabendo como os ecologistas só querem minar a civilização e os altos valores da Cristandade, como se compreende que a civilização tecnológica mais avançada esteja a plagiar tudo o que os ecologistas defendiam? Tudo o que era, ainda há meses, motivo de escárnio, pelourinho ou inquisição?
Se o solar vem «made in Germany» ou«made in USA», abrem-se as portas, venha ele, é progressista, produz megavátios e o Eurico da Fonseca dá, com certeza, mais um dos seus colóquios sobre apertos energético-combustíveis .
Mas se o solar é dos ecologistas - pequenas unidades geradoras de energia conforme as circunstâncias, as necessidades e a realidade concreta de cada local - uf!, a pressurosa imprensa progressista arranja todos os fumos e bufos para meter a ridículo ou submeter aos Pina Manique da ordem esses rapazes que cada vez mais (mesmo com a desajuda dos «mass media») mobilizam pessoas.
Há dois anos, ou ainda menos, era preso todo o que sugerisse uma disseminação de unidades geradoras de energia solar: hoje os alemães dizem que vão implantar no Alentejo (*) uma central solar e vai preso todo o português que não quiser.
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(*) Afinal, a central alemã parece que era só fumaça. Em 26 de Julho de 1997, não consta que essa central alemã tivesse sido construída ou qualquer outra
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