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2006-05-27

CEE 1979

cee-5> os dossiês do silêncio – eco-ecos – publicado ac de 1979

OS CHACAIS QUE NOS ESPREITAM (*)

27/5/1979 - Enquanto o eng. Torres Campos, numa conferência que proferiu, na Associação Portuguesa de Economistas, se refere à entrada portuguesa na CEE como "um mal menor" face à estagnação que, de qualquer maneira, sempre se verificaria no nosso desenvolvimento económico e face à dependência do FMI, ouvem-se da Europa convites da mesma CEE para que os Estados Unidos abrandem o consumo de energia, nomeadamente combustíveis e expressamente gasolina (petróleo).
Afinal esse paraíso energívoro em que nos querem meter, está sendo pela própria CEE drasticamente combatido no que a outras prósperas economias respeita. E a gente não sabe até que ponto vai o cinismo de quererem meter este país a reboque dos outros poderosos comparsas europeus, a gente não sabe até que ponto com os gregos, já metidos no buraco da CEE, não sucederá o mesmo que neste momento, sucede com a gente.
Três em cada quatro portugueses não sabem sequer o que é isso do Mercado Comum. A afirmação é de Vítor Guerra, na já citada reunião de esclarecimento promovida pela Associação Portuguesa de Economistas. "Esclarecimento" é a palavra branda encontrada para dizer "lavagem ao cérebro" no sentido de que aceitemos "voluntariamente" o que nunca aceitaríamos sabendo ao certo e até ao fundo o que nos espera no poço da CEE.
E o que nos espera, além do mais, além de no campo agrícola quererem que o desertifiquemos ainda mais, além de quererem mais mão de obra dócil emigrada para os seus centros industriais, o que eles, fortes comparsas da CEE, querem é meter cá toda a porcaria, poluição e indústria pesada que não querem no território deles, porque saber sabem eles muito bem que a frente agora é a frente ecológica de salvaguardar cada país o que lhe resta de natureza, de água, de rios, de solos, de paisagem, de energias livres, de riquezas naturais.
Isso sabem eles, mas quando se berra da vantagem que há em meter Portugal na Europa, nunca se diz explicitamente que se quer meter a Europa em Portugal. A Europa da poluição mais venenosa, pelo menos.
Quando Mário Soares alega a "Europa dos trabalhadores", é à sangria emigratória de Portugal para as fábricas que se refere, em eco "socialista" do senhor Mitterrand. Nunca esquecerei que, enquanto radical humanista que sou, fui metido no saco em que ele meteu todos os radicais de esquerda, ao qual saco juntou em declarações para um semanário francês, o celebérrimo comentário. "Ils m'emerdent".
Coincidência europeia, o senhor Mário Soares também.
Ao comparar as vozes que se ouvem pela Europa, mesmo as do Mercado Comum onde nos querem atolar, elas traduzem todas a decepção e o "apocalíptico" alarme do fim desta sociedade de desperdício, porcaria, alienação e desprezo do homem pelo homem, essa sociedade que só os ecologistas radicais têm tido a permanente coerência de denunciar, fora dos "complots" entre socialistas, comunistas, sociais-democratas e democratas-cristãos, partidos e governos que rebocados vão nas soluções tecnocráticas herdadas do antigo regime, sempre que essas soluções se adaptem à nossa servil inserção nos modelos, agora podres, agora em ruína, agora em retirada do desenvolvimento económico adoptado até agora na Europa.
O senhor Brunner, comissário para a energia da CEE, avisa os Estados Unidos e ei-lo carpindo-se .
"Chegámos à encruzilhada, a sociedade do desperdício fundada sobre a energia abundante e barata, terminou."
Se se trata de poupar, trata-se acima de tudo de refazer o modelo económico baseado nesse energivorismo absurdo que os próprios Estados Unidos estão a ser obrigados a reduzir, por pressão da CEE.
Como, então, se diz que Portugal terá que ir trilhar um caminho que eles estão todos a abandonar?
Que supremo cinismo é este?
E quem precisa de tau-tau?
Os ecologistas e outros amigos do Maio-68, ou os senhores primeiros-ministros a quem se deve a obra pia da nossa entrega aos bárbaros do Ocidente?
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(*) Publicado no semanário «Edição Especial», 27/5/1979
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