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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-09

ECO-TECNOLOGIA 1991

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ELOGIO DA TECNOLOGIA APROPRIADA - «SMALL IS BEAUTIFULL»

Lisboa, 9/Maio/1991, às 9,30 - Quando poderei eu fazer o elogio apaixonado da pequena tecnologia apropriada?
Como vou dizer o que há de invenção, de assombro, de maravilha secular, na «simples diferença» entra a tesoura vulgar e o cortador de erva/relva? Entre o ancinho e a vassoura? E, dentro do ancinho, entre o de dentes finos e o de dentes menos finos? E a importância metafísica que tem ou não a ponta recurvada desses dentes?
O (meu) amor à vida depende muito das tecnologias que temos. Maravilhosas e humildes tecnologias artesanais.
E a lição político-moral, sócio-militar que se retira da pequena tecnologia artesanal?
Durante meses, o vizinho jardineiro que prometera ir-me cortar a erva do quintal, abusou da sua posição de técnico, de engenheiro dos quintais. Viu que eu precisava dele -- porque não tinha as ferramentas necessárias -- e chantageou até que lhe apeteceu. Todos os dias ia e nunca ia. Resolvi desistir desta vizinhodependência e meti-me ao trabalho: eu também seria capaz de cortar a erva, porque não? Bastava munir-me das «ferramentas» necessárias indispensáveis: e aí vou eu.
Desde essas fundamentais luvas de borracha, verdadeiro «axi mundi», sem as quais nada é possível na vida, que permitem fazer tanta coisa mas principalmente arrancar ervas sem magoar as mãos, até à tesoura de relva e ao ancinho, e ao sacho, investi a comprá-los o que iria pagar, por duas vezes, ao vizinho que prometia mas não ia.
Se os países do Terceiro Mundo retirassem esta lição... A diferença é que eu disponho de capital para comprar a tesoura, as luvas, o ancinho, (...), enfim, a minha independência. Eles não.
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KARMAS 1993

93-05-09-ac> -datas-1>diario94>chave> - chave para (+-) inéditos do ano 1985

REVER PAPÉIS:A INUTILIDADE DA MEMÓRIA

9/5/1993 - Repescar papéis de 21.8.1985, evoca a minha estadia na revista «Saúde Actual» e as contingências várias da vida que na vida temos de gramar. Questão de carma, ou questão de «destino», vejo uma só vantagem em rever estes papéis, alguns dos quais vou definitivamente rasgar. Esta minha «queixa» contra a D. F. H., por exemplo, e suas tropelias. À distância, lembro-me vagamente de que a F.H. estava ligada a uma seita cristã dessas que hoje proliferam. Seita que, ao que me lembro, publicou livros de divulgação vegetariana encadernados a percalina vermelha. Pagava-me a M.L. 20 mil escudos por cada número da «Saúde Actual» e eu achava muito. Mas essa pagava, o que não posso dizer da Meribérica, se me vai pagar ou não, depois de andar dois meses a trabalhar para ela quatro números do suplemento «Guia do Consumidor». Em 1985, eu escrevia regularmente ao dr. Rocha Barbosa, que entretanto trabalhava também para a Natiris. Muitas das «queixas» que deixei escritas, eram sob a forma de carta a Rocha Barbosa, tão inocente como eu nas malhas de uma teia de que nunca compreendemos bem os meandros e alçapões.

É de 22 de Setembro de 1985, a transferência da minha biblioteca para o J.C.A., Quinta dos Pombais, no tempo em que ainda havia entre nós um «gentleman agreement»... e o pagamento, em três prestações, de 150 mil escudos por mais de 10 mil livros.
Entre as mudanças intestinais verificadas no meu modo de ver a vida, conta-se esta das memórias: arquivei toneladas de papel com o pretexto de virem a servir de apoio para «memoriar». E já que memória foi coisa que, feliz ou infelizmente, nunca tive. Mas o trabalho da radiestesia sobre o inconsciente e a alquimia da memória, relativizou de tal maneira as minhas maneiras de ser e de pensar que, neste momento, estou colocando em causa muita desta papelada. Afinal, a verdadeira alquimia não passa por estas memórias - a letra de máquina, o preto no branco do papel - já que, a haver alguma mudança e trabalho, ele se processou e continua processando ao nível inconsciente.

10 de Março de 1985 é a data de um papel, estilo documento(*), com o projecto, vindo do encontro de Troia, para um partido ecologista. Vinha o documento assinado por Rui Valada, Afonso Cautela, Fernando Pessoa, João Reis Gomes e Carlos Frescata. Impossível, mesmo a título de memória, encontrar algum interesse nisso. Porquê - meu Deus - tanto tempo perdido. Tanta letra escrita. Tanta página dactilografada. Não consigo compreender o que me movia. Só de facto o desespero pode explicar tanto empenhamento em tão falsas esperanças. Aos 61 anos, ganho ao menos em perceber que foi tudo tempo perdido. 61 anos para nada! Estou a dizer isto e estou - juro - a ser sincero. Pura inutilidade a minha vida de 61 anos. Deve ser já o ar da eternidade que relativiza o tempo.
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(*) «O Ecologismo para os Ecologistas», mensagem aos que quiserem subscrever a requisição de um partido.
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PÂNTANO 1991

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POLÉMICAS NO PÂNTANO COM QUE NOS VÃO DISTRAINDO DO ESSENCIAL

9/5/1991

Quando uma polémica estala no pântano português, são de supor vários pressupostos: que ideologia, em última instância, serve essas polémicas, independentemente das questões de pormenor e circunstância que dividem os contendores da dita polémica: os que são pró, por exemplo, e os que são contra o empréstimo dos painéis; os que são pró e os que são contra, outro exemplo, o acordo ortográfico; os que são, ainda outro exemplo, pró e os que são contra o monstro de Belém designado Centro Cultural.
Tudo isto evoca algumas outras polémicas muito queridas do pântano português: os que foram pró e os que foram contra a barragem de Alqueva; os que foram pró e os que foram contra a Central Nuclear.
O que está em causa, no fundo de tudo isto, é uma coisa muito simples e muito primária: de um lado a mentalidade imperialista, uniformizante, colonizadora, frenética, histérica dos que, não tendo mais nada, vivem de alimentar mitos e metas de merda. Do outro lado, os que são anti-imperialistas, anticolonialistas, antihisterismo consumista, mitos e metas de merda.
A ideologia imperial consumista é a que inspira a cupidez de Washington em relação aos painéis portugueses; a cupidez do Brasil em relação a uma unificação ortográfica realisticamente impossível; a cupidez da indústria relativamente a duas aventuras utópicas que são as megalomanias de Alqueva ou de uma central nuclear.
Enquanto se grita pró ou contra Alqueva, pró ou contra o centro de Belém, pró ou contra esta e aquela utopia, as mais elementares necessidades dos portugueses não são resolvidas.
Enquanto se enchem os jornais de expo 92, de expo 93, de expo 94, de expo 95, o mais simples golpe de vento avaria as catenárias da linha do Estoril ou da linha de Sintra, pára os comboios e imobiliza centenas de pessoas dentro das carruagens.
Enquanto se fala dos milhões que o monstro de Belém irá absorver, os jornalistas não podem adoecer porque a empresa lhes corta imediatamente o vencimento à mínima situação de baixa.
As pequenas coisas do quotidiano, do pantanoso quotidiano, nunca mereceram dos aldrabões dos jornais a atenção que as polemiqueirices merecem.
Os jornais de maior sucesso comercial e de maior influência, são os que, directa e indirectamente promovem a ideologia consumista, porque é na ideologia consumista que a nova geração se revê e que reside sempre o busílis de tudo quanto se diga pró e contra este ou aquele caso sectorial, em si mesmo irrelevante por mais importante que os jornais o considerem.
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FUTURÍVEIS 1970

1-2 - 70-05-09-S&S> = surrealismo & surrealistas

CRÍTICA DA SCIENCE FICTION(*)

[(*) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no semanário «O Século Ilustrado» (Lisboa), coluna «Futuro», 24-10-1970]

9-5-1970

A procurar a mais correcta imagem de um mundo futuro, sabre o qual se possa apoiar uma acção prospectiva inteligente, parecia evidente que fosse a ficção científica uma das principais fontes onde ir procurar essa imagem.
No entanto, na literatura de ficção científica muito pouco se pode aprender, pois a maioria dos autores, em vez de imaginarem livremente um futuro possível, ou vários futuros possíveis, limitam-se a prolongar e a levar às últimas consequências o limitado, caseiro e burguês presente que conhecem.
E quanto mais limitado é esse presente - no tempo e no espaço - mais desinteressante se apresenta o futuro imaginado. Quanto mais truncada e chauvinista é a visão da actualidade, menos imaginação revelam as ficções de amanhã.
Quer se trate de novela, quer se trate de ensaios, um escritor que não ousa imaginar o mundo em mutação, pouco ou nada contribui para esclarecer e alargar o horizonte da Prospectiva, dentro e fora da literatura.
É também bastante errado e releva de uma observação superficial, a crença de que a literatura do futuro será a ficção científica. Que, portanto, a mais avançada vanguarda literária de hoje, e o género prospectivo, moderno ou revolucionário por excelência seria esse.
Não há dúvida de que os escritores do futuro terão de entrar em linha de conta com a revolução tecnológica - mas, tal como hoje, serão os aspectos sociais e psicológicos (em suma, humanos) os que lhe irão interessar, a existência dos indivíduos e suas relações, o seu grau de liberdade e de alienação, enfim, a Ética do progresso (e não a técnica), a alma do Fundo.
Frisar a paisagem técnica e científica como faz quase toda a ficção científica, é ainda uma espécie de novo riquismo cultural que a mentalidade desses escritores não soube, na maioria, evitar.
No fundo, o problema continuará a ser o da imaginação e, ligado com este, o da experiência ou experiências humanas que a imaginação traduz. No fundo, o que caracteriza a maior parte da ficção científica é a mesma falta de imaginação que caracteriza a má literatura - qualquer género que ela cultive.
O mais importante, neste como em outros capítulos da literatura dita fantástica (aquela onde a imaginação dos seus criadores, mais livre mas onde, por isso, è posta à prova com mais exigência e insistência) é que um novo posto de observação, uma
nova óptica, um novo ângulo de análise, de observar e recriar a realidade se apresente.
Na raiz da literatura prospectiva está a descoberta das vozes que até aqui tinham permanecida sem voz e que a imaginação do escritor (do poeta) reproduz como se sua fosse. Ou, se for ele a viver essas experiências, não precisa de as imaginar, basta relatá-las, basta entrar na corrente confessional do autobiográfico.
Não é por acaso que muitos livros de confissões têm muito mais interesse como obras de imaginação, do que muitas das delirantes visões fantasistas (fantásticas?) de mundos marciano-cósmicos.
Por isso, também, se conclui que a literatura pode e deve ser feita por todos (e assim será no futuro, quando a imaginação estiver finalmente assimilada a experiência humana).
Por isso a Ray Bradbury há quem continue a preferir os diários de Franz Kafka, inegavelmente mais abertos ao futuro e mais revolucionários. Porque imagina formas de humano até então ignoradas. Por isso se apresenta a literatura, também, como uma espécie de arqueologia, como uma peculiar arqueologia: desenterrar o que nunca fora visto, começa a ser objecto de fascinante busca.
A fascinante literatura do futuro está aí: nas mil e uma formas que o "homem, esse infinito" pode assumir, ou já assumiu, embora no limbo do silêncio e do esquecimento. A literatura do futuro se encarregará de "dar à luz" o que no limbo e nas trevas permanecera.
Quando se fala de prospectiva na literatura ou de literatura prospectiva, o que se pretende é falar de imaginação. Aí está a palavra, ainda e sempre: imaginação.
Porque o "homem, esse infinito" não é tão limitado, nem tão pequeno como a literatura de costumes o fez, porque a ficção científica também não deixa de enveredar pelos meamos preconceitos.
Ao eleger os grandes escritores prospectivos, o que iremos citar é os grandes escritores da imaginação, alguns deles catalogados na filosofia, outros na religião, outros na literatura em sentido estrito.
Numa antologia da imaginação ( de escritores da imaginação) incluiria em primeiro lugar aqueles que me parecem ser os grandes visionários da humanidade, ou seja, de humanidades possíveis, de futuríveis, aqueles que me dão experiências humanas para mim inéditas.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no semanário «O Século Ilustrado» (Lisboa), coluna «Futuro», 24-10-1970
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PUBLICIDADE 1987

1-2 - 87-05-09-ie> = ideia ecológica - sexta-feira, 22 de Novembro de 2002 – scan

DEFESA DO CONSUMIDOR:MERCADO ALTERNATIVO COM PRODUTOS SAUDÁVEIS (*)

[9-5-1987] - O cancro do crescimento industrial ramificou-se em milhares de tentáculos que, são, ao nível das populações, os chamados "consumos" mais ou menos "provocantes".
A 1º característica dessa realidade é a disseminação.
De facto, os consumos são de tal maneira numerosos - propositadamente numerosos? - que se furtam, desde logo, a qualquer inventário prévio que se quisesse fazer em defesa dos consumidores por associações que os representem.
Mesmo tecnicamente é impossível fazer o balanço ou inventário do número de consumos que rodeiam, como um oceano agitado, cada consumidor.
Resulta daqui que a crítica aos consumos quando surge já está viciada e restringida pelo critério que terá então de eleger o Consumo A, B ou C mas esquece o X,Y ou Z, ou mesmo o X-1, o Y-5 ou o Z-19.
Acresce que toda a informação sobre os mil e um consumos chega à opinião pública já viciada, pois todo o discurso veiculado através dos mass media é, regra geral, publicidade redigida, directa ou indirectamente.
Por exemplo: Laboratórios trabalhando em colaboração com revistas científicas, regra geral médicas, apresentam-se com um pressuposto prestígio - que dá às suas opiniões, divulgadas depois nos órgãos de Comunicação Social, uma "autoridade" indiscutível.
Esta publicidade "indirecta", aliás, é muito mais eficaz em termos de subconsciente colectivo e de lavagem ao cérebro do que os anúncios directos, cuja falta de gosto contribui, em boa parte, para os tornar risíveis, e portanto inoperantes enquanto "intoxicação", junto da opinião pública mais avisada.
Isso não impede, contudo, que certos produtos não consigam mesmo convencer pelo martelamento intensivo do anúncios e de cancerígenos eles passem a "dar mais vida" ou mesmo "quilómetros de prazer", ou salvam a vinha do míldio e da filoxera se for essa a vontade do anunciante.
A publicidade, nomeadamente televisiva, assume uma tal responsabilidade – cumplicidade - na disseminação das mais graves patologias colectivas e nas mais atrozes doenças, que o bombardeamento de anúncios sofrido, por cérebros adultos ou infantis, é desde logo (ou devia ser) a prioridade número 1 que devia solicitar a preocupação do Estado, do Governo ou das autoridades sanitárias de um país.
De qualquer maneira, se houver ainda alguém preocupado com o mínimo respeito que a pessoa humana deveria merecer-nos, se houver ainda alguém que, in extremis, nesta sociedade totalmente canibalesca e canibalizada, possa assumir a defesa da vida contra os criminosos institucionalizados que se entricheiram nos grandes aparelhos de intoxicação - caber-lhe-á levantar uma das questões de fundo numa pedagogia de emancipação como vacinar o homem-consumidor contra o massacre organizado que se chama publicidade.

LEVES DISFARCES

Um dos disfarces mais atrozes é o "artigo" bem educado ou até assinado na revista ou no magazine, sobre as vantagens de certos consumos: e então os gelados fazem bem à asma ou na fase pós-operatória das crianças, o eucalipto além de conduzir o país ao deserto é formidável porque serve "para curar constipações", a marijuana evita o cancro, etc
Mais: quando surgem, por acaso, denúncias frontais da criminalidade de certos produtos, tais campanhas são conduzidas e pagas por produtos concorrentes que se viram ultrapassados nas vendas por companhias rivais.
No caso das "margarinas" - várias vezes ventilado e outras tantas vezes abafado - as críticas aparecem "inspiradas" pelos produtores de óleos, por exemplo.
O peso esmagador desta máquina trituradora faz desistir, à partida, qualquer resistência.
Isso explica, em parte, que os ecologistas mais radicais debandassem quase sempre desta frente de luta dos consumos tóxicos, provocantes, venenosos, perigosos e cancerígenos.
Os movimentos que existem "em defesa do consumidor" - reformistas mesmo quando aparentam ser mais radicais - mais consolidam do que abalam o sistema infernal dos consumos criminosos e cancerígenos.
Difícil ou não, utópica ou não, a única saída para este inferno dos mil e um consumos de morte é um Mercado Alternativo com produtos de Vida.
Mercados de Vida que, curiosamente, alguns liders do “consumerismo” (como se auto-intitulam) ferozmente combatem, estribando-se na ciência que é, afinal, quem dá cobertura mais frequente a toda a espécie de consumos criminosos, nomeadamente medicamentos.
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(*) Certamente com outro título, este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», Crónica do Planeta Terra, em 9-5-1987
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ECO-DIREITOS 1987

1-5 - dcm87-eh- Guião de estudo, leitura e pesquisa - Pista de investigação em Ecologia Humana - Perguntas à ciência médica

POLÍMEROS DOS PLÁSTICOS CONTAMINAM ALIMENTOS

9/5/1987 - Quando se trata de introduzir no mercado e, portanto, no organismo do consumidor, produtos químicos nocivos à saúde, as empresas andam lestas e nem lhes pesa o traseiro.
Corantes e conservantes químicos, por exemplo, inundam o mercado dos produtos comestíveis há umas boas duas décadas, sem que ninguém, além dos habituais maluquinhos da «frente ecológica», dissesse basta aos empresários diligentes que consciente e voluntariamente nos envenenam, adoecem e matam em nome da nossa qualidade de vida.
Era bom, por exemplo e em consequência, que o Instituto da Qualidade Alimentar, entre outras atribuições da sua real competência, estabelecesse o número de anos (décadas) em que temos sido envenenados sem que ninguém perguntasse porquê. E quais foram, entretanto, as novas doenças e as doenças desconhecidas e os novos vírus que, entretanto, a ciência médica diz estar investigando desde que se conhece...
Agora que os escândalos contra a saúde pública, assim chamada, se acumulam, fazendo uma montanha mais alta do que a montanha de manteiga da CEE, forçando as altas instâncias comunitárias a fazer qualquer coisa (nem que seja continuar a deitar poeira para os olhos do consumidor, prometendo-lhe mundos e fundos), começam as demoras, as delongas, os atrasos, as hesitações, as reticências, os «mas», os «talvez».
À conta do período de transição na entrada para a CEE, as coisas no Portugal dos cidadãos vão ser ainda mais lenta e bem podem ir folgando as comissões que religiosamente presidem a estas coisas, mas principalmente os empresários gulosos que se aproveitam da transição para continuaram envenenando, com corantes e conservantes, o respeitável público.
As declarações oficiais do Instituto da Qualidade Alimentar a esse respeito ( « O Semanário», 28/3/1987), são bem significativas da «calma» que abunda nestes meios muito modernos, muito eurocráticos e muitos ocupados com a nossa adesão.
Sobre invólucros - os plásticos cujos polímeros podem infiltrar-se nos alimentos, por exemplo - estão é claro a ser estudados por uma «comissão especializada de técnicos».
Enquanto estudam e não estudam, uma coisa ficamos a saber: é finalmente público que os polímeros contaminam os alimentos, embora os fabricantes escrevam cartas ameaçadoras quando o jornalista se limita a informar o públic sobre um facto que já tem barbas.
Não se sabe, entretanto, quantos e quais polímeros contaminam os alimentos, mas é dado oficial europeu, finalmente, que eles existem, tanto que até vão necessitar regulamentação.
Até que enfim. O consumidor pode ter esperança de que saberá em breve o nível de polímeros que poderá ingerir por dia sem danos especiais para a saúde além dos que são correntes.
In «A Capital», 9/5/1987
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AS IGNORÂNCIAS DELIBERADAS DA CIÊNCIA MÉDICA

Os argumentos da química alopática em defesa da indústria atingem as raias do sofisma e da pouca vergonha - que pode ser ignorância acrescida de arrogância.
Amputar da história das ideias aqueles autores que convergem na Biotipologia e na fisiologia do terreno, ignorar que, até hoje, 1987, mais de 15 teorias além da microbiana, foram elaboradas para explicar a dialéctica doença-saúde, ignorar que não efeito sem causa, ignorar que doenças da civilização não podem ser tratadas com bisturi ou antibióticos, não será ignorância a mais?
A assunção do sofisma por quem dele faz religião, não é só uma sacralização da mentira mas um atestado vergonhoso de auto-aviltamento. É o auge do auto-aviltamento que a gente os vê e ouve a reinar sobre milhares de cadáveres, os consumidores que recorrem à sua (deles) podre ciência!
Mais do que sofismas de uma instituição, são um insulto à espécie humana.
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Ideias para a Nova Idade de Ouro - Ecologia alimentar

A QUALIDADE ALIMENTAR QUE MERECEMOS - O «BLUFF» DA INFORMAÇÃO AO CONSUMIDOR -4 VARIAÇÕES À VOLTA DA QUALIDADE DE VIDA

PALAVRAS-CHAVE:

Discurso no Forum Picoas (30/3/1987)
Qualidade biológica dos alimentos
Direitos ecológicos do cidadão
Informação fundamental ao consumidor
Ecologia Alimentar
Responsáveis não respondem

16/3/1987 - Que a burguesia cite, no seu discurso, a «qualidade de vida», é evidente que se trata de um abuso (mais um) só possível pela passividade assumida da massa que come e cala, leva e embucha.
Quem tem o direito de reivindicar o direito á saúde, à segurança, à vida e à qualidade de vida são os eternos explorados, somos nós, sem dr. nem lugar no banquete da classe dirigente.
Quando se questiona o poder médico e seus abusos, é em nome, evidentemente, dos consumidores que são as suas vítimas.
A questão não é, pois, de gostar ou não gostar, de mais ou menos insultos, entre negociantes de medicamentos químicos e negociantes de terapêuticas leves.
O facto de haver negociantes de um lado e outro não retira conteúdo de classe à dicotomia terapêuticas ecológicas» contra «sistema alopático oficial», aquelas porque são objectivamente, enquanto tecnologias apropriadas de saúde, a única alternativa à opressão química, estas porque estão sempre do lado do opressor.
Tal como acontece com o crime radioactivo, a Leste e a Oeste, o crime químico não tem apelo nem agravo.
Que a máquina, a poderosa máquina de propaganda, a Leste e a Oeste, não dê tréguas um minuto, na missão de intoxicar ideologicamente para depois intoxicar quimicamente, e intoxicar quimicamente para depois intoxicar ideologicamente, é próprio da máquina e dos que tomaram, como opção de vida, deixar-se comprar por ela.
Outros, porém, que se dizem com pruridos de esquerda, é que é de admirar como hesitam em tomar partido, sem ambiguidades, pelos que neste momento são as vítimas e os explorados, contra os eternos exploradores, sejam os dos empórios químicos, sejam os dos empórios radioactivos.
As multinacionais têm sete fôlegos e conseguem pular por cima da dicotomia «capitalismo» versus « socialismo», pondo um e outro a reboque de um único imperialismo, o imperialismo industrial-
Como espertos esquerdistas não conseguem ver o que é tão claro - as três cabeças do imperialismo industrial - radioactiva, química e informática - e o que tão claro se deduz do discurso vendido, obviamente vendido àquelas três cabeças da hidra, eis o mistério, para mim, acima de todos indecifrável.
Bramar contra o capitalismo é talvez mais fácil do que bramar contra a hidra de 3 cabeças: o imperialismo industrial, acima de Estados, regimes, blocos e ideologias.
Acima do Bem e do Mal.
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Quando um organismo dito responsável não quer ser responsável, quer dizer, responder aos cidadãos que pagam para ele e outros organismos se manterem, pode inventar um truque, sem parecer que se meteu em copas: põe ma fila de números de telefone na lista dos ditos, a fingir importância (tudo pago por nós) e depois, depois nenhum dos telefones funciona, nenhum responsável responde, todos estão impedidos ou encontram-se em reunião ou foram o fim de semana a Bruxelas, quando algum cidadão se lembra de telefonar à dita e dura entidade responsável.
Na realidade , os ditos e importantes organismos gozam de boa saúde pública, condição logo reveladora da sua intrínseca vocação para não prestar contas à comunicação social, quer dizer, ao público.
O que escondem estes respeitáveis e responsáveis organismos relacionados com higiene, é uma higiénica dúvida para a qual ninguém ainda encontrou resposta.
O silêncio guarda a vinha, é certo, mas que raio de vinha terão estes imponentes organismos a guardar?
Se pensarmos que a qualidade alimentar dos portugueses, por exemplo, destes incomunicáveis e intocáveis institutos, vemos em que mãos continuam entregues.
Até quando?
O silêncio dos outros organismos relativamente à imprensa pode ser, segundo conseguimos apurar, imposto de cima. No caso do Instituto de Qualidade Alimentar, a resposta que os seus técnicos e especialistas nos dão é que o «ministro não deixa de dar informações à imprensa».
Não deixa de ser, portanto, europeu à brava que o Ministro da Agricultura mantenha em vigor uma antiga norma ministerial que proíbe todo e qualquer técnico da casa de prestar informações aos jornais.
Se é esta a qualidade alimentar que temos, pelo andar da carruagem se vê logo quem vai lá dentro.
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30/3/1987 - A saúde do consumidor é um território disputadíssimo pelos governantes e não faltam ministérios a tutelar a nossa qualidade de vida, mesmo depois que acabaram com o propriamente dito, deixando só uma secretaria de estado do Ambiente, demasiado pequena para tamanha e tão ciclópica empresa.
Se se trata, por exemplo, se alimentos e queremos saber o que há ou vai haver em matéria de leis que «protegem» o consumidor, é de crer que a tutela seja a do Ambiente, já que o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor se encontra subordinado ao Secretário de Estado do Ambiente e não fui eu, juro, que assim distribuí competências.
Só que a lógica é, neste caso alimentar, adequadamente uma batata, não sendo o ambiente que tutela a qualidade alimentar e consequentemente a saúde dos consumidores; tão pouco é o Ministério da Saúde, como logo pareceria lógico, que preside à qualidade alimentar dos portugueses.
Quando menos se esperava, a lógica da batata impõe-se: não é o Ambiente do engenheiro Carlos Pimenta, não é a Saúde da Ministra Leonor Beleza mas é a Agricultura do sempiterno ministro Álvaro Barreto quem tutela e tem na mão a nossa política da qualidade alimentar, através do homónimo Instituto da Qualidade Alimentar.
É caso para ir mastigando esta conclusão: temos ou não temos a qualidade alimentar que merecemos.
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No dia em que a Ecologia Humana sair das catacumbas para a luz do dia, constituindo-se na ciência-chave de todas as ciências humanas, no dia em que a qualidade de vida deixar de ser um slogan barato de políticos para eles nos ficarem cada vez mais caros, no dia em que os direitos ecológicos do cidadão estiverem inscritos na Constituição da República Portuguesa como direitos fundamentais, no dia em que a qualidade biológica dos alimentos seja a primeira prioridade de um estado que se diz moderno e não canibal, no dia em que os direitos do cidadão forem prioridade absoluta dos governos e não um apêndice quase sempre esquecido das outras políticas, nesse dia a ecologia humana terá entrado na prática quotidiana da vida.
Entretanto, a Agricultura não se entende com o Ambiente, a saúde não se entende com a Agricultura, o Ambiente não se entende com a Agricultura e a saúde.
Reinará este caos, enquanto o ministério dos cidadãos não for a primeira prioridade, acima da qual nem o PR terá voz ou autoridade.
Isto poderá ser lá para o Ano 2000, mas nunca depois. de contrário, a Organização Mundial de Saúde, em corrida de fundo com a F.A.O. e a CEE agrícola, cada qual a dizer que legisla o que nos metem no buxo, não ganhará a sua proclamada aposta , tornada horizonte planetário para a humanidade: «Saúde para todos no Ano 2000».
A testa a ciência ideológica entre os diversos ministérios que mais directamente contendem com a saúde das populações, há para já um ponto em que as três tutelas apontadas - Ambiente, Saúde e Agricultura - podiam já começar a testar as respectivas convicções ecológicas: e nenhum terá a coragem de vir dizer em público, no Ano Europeu do Ambiente, que não é ecologista de alma e coração.
Claro que são todos os ecologistas de corpo inteiro, mas então podiam começar por cooperar no interesse supremo dos direitos ecológicos do cidadão, criando rapidamente um banco de dados de resposta pronta, um posto de informação ( à semelhança do centro anti-venenos) que verdadeiramente informasse, produto a produto, alimento a alimento, veneno a veneno, medicamento a medicamento, fábrica a fábrica, poluição a poluição, pontapé a pontapé, tudo quanto lesa e lesiona aqueles direitos ecológicos do cidadão.
Com tantos computadores às moscas no parque informático do estado (segundo notícias recentes, porque não destacam um para essa obra de caridade que seria a informação ecológica fundamental do consumidor?
Entre outras vantagens, isto poria fim ao tartufismo indecente de tantos departamentos e políticos que, na altura crítica do discurso público, se queixam da falta de informação que o consumidor tem, como se a culpa fosse do consumidor e não de quem tudo faz para escamotear a informação, nomeadamente as fontes oficiais quando o jornalista as contacta.

Há, no campo da produção alimentar, certos produtos que só pode classificar-se de criminosos e que, no entanto, a pretexto de interesses económicos em jogo, continuam em vigor, adoecendo gente e, às vezes, matando.
Essa lista de crimes tem que estar continuamente actualizada, alfabetada, fichada e deveria sistematicamente ser difundida por todos os canais.
Mesmo assim não chegaria porque é preciso mais.
O cidadão tem o direito de exigir mais, já que é a sua saúde o que está em jogo e a sua legítima defesa em relação a crimes diariamente praticados contra a sua bolsa e a sua vida.
Tal como está e ameaça continuar a estar, a informação ao consumidor é um «bluff», mesmo quando chega, regra geral chega atrasada, dispersa e desconexa.
Para que efectivamente se torne eficaz e não sirva apenas de pretexto a que certas vedetas falem ao povo na televisão, a informação ao consumidor tem que ser informatizada, sistematizada e de resposta pronta á questão formulada.
Enquanto o consumidor, através de organizações locais, não tiver acesso imediato a um terminal de computador que de imediato responde à pergunta posta no momento, toda a política dita de informação em defesa do consumidor é apenas fachada.
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Qualidade biológica dos alimentos
Discurso no Forum Picoas em 30/3/1987 (Greve da Lusa)
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