ORDER BOOK

*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-01-01

HETERÓNIMO 1992

92-01-03-ac-ac=abel campos–complete works–5 estrelas-intuicºs

AC - PERFIL DE UM PENSAMENTO

INTERFACES DA ECOLOGIA HUMANA:
1 -DIVERSIDADE CULTURAL
2 -SAÚDE
3 -ECONOMIA
4 -DIREITOS HUMANOS

INTUIÇÕES AC - 10 ANOS PARA AMADURECER (?)1962-1972
INTUIÇÕES AC EM PUBLICADOS DURANTE OS ANOS 1972-74

[3-1-1992]

1972
Datam de 1972 alguns dos artigos publicados que foram marcantes na «descoberta» de intuições(de Ecologia Humana) ainda hoje, vinte anos depois, por validar ou invalidar. São as chamadas «teses impopulares», que me parece estar condenado a levar por toda a vida como uma cruz e que talvez nunca saiba se valeram ou não a pena. Quer dizer, se efectivamente tinha razão em defendê-las, sozinho, contra tudo e contra todos. É costume dar sentenças fáceis, aconselhando cada um a manter-se fiel às suas próprias convicções, neste caso às suas próprias intuições.
Outro aspecto a sublinhar é que essas intuições vão radicar -- vão encontrar raízes -- numa intuição central, surgida (EM 1962?) após a experiência surrealista e existencialista e a que, para facilitar, tenho chamado «perspectiva de escala». desde a perspectiva do animal à do extraterrestre, do louco ao toxicodependente, do pobre ao hipermilionário, desde a cultura aborígene dos maias ao modus vivendi de uma Europa medieval; cada «behavior» condicionado pelo meio, acho que foi sempre o centro à volta do qual girei, como um pião doido, pois a relatividade das culturas (das «perspectivas de escala») é um redemoínho anti-dogmático, capaz de consumir quem nele aposte ou se meta.
Mas haverá ciências humanas sem esta perspectiva de escala?, pergunto eu ao investigador de ciências humanas Carlos Filipe Marreiros da Luz.

1963
Quando publiquei alguns artigos, em 1972, impulsionado por esta intuição básica, nuclear, chave, deixava para trás muitos inéditos, que, desde 1963, falavam de idênticas obsessões.
É de 1963, o ensaio «A experiência subterrânea - Poesia como Sinónimo de Iniciação», assinalando a influência esmagadora que tivera sobre mim a leitura desse texto imenso de algumas páginas que é «A Voz Subterrânea», de Dostoiewski.
Acho que foi este escritor eslavo o responsável pelas minhas manias ecologistas, apenas explícitas dez anos mais tarde. Também de 1963 (Abril), são vários inéditos sobre surrealismo e, como intuição básica, o ensaio(só muito parcialmente publicado) «Os Equívocos do equívoco neo-realista».

1963
Creio que é também de 1963 (como se o meu ritmo fosse de 10 em 10 anos e não de sete em sete!... ) um outro texto-chave das (minhas) intuições, a que chamei «Definição do Homem Obsceno». Curiosamente, acaba de ser publicado pela editora Hiena, em 1991, o ensaio de Henry Miller, que na altura me bateu forte e me levou a escrever essas 19 páginas A4, rigorosamente inéditas até hoje. É de notar apenas que a palavra «obsceno» tem continuado a servir para tudo, menos para designar aquilo que, filosoficamente, Henry Miller e eu significámos...Nesta linha de Henry Miller, há vários outros textos inéditos e publicados.

Também de 1963 --  ano a que hoje chamaria «compact», pelo concentrado de produção que originou, há um outro longo ensaio, inédito até hoje, inspirado na leitura absorvente (do niilismo) de Samuel Beckett, «Exercício dialéctico -- Entre a política da metafísica e a metafísica da política».
Parcialmente publicado (creio que no «Jornal de Notícias», suplemento literário) é também de 1963 (ano de oiro ?) «A Voz Trágica», escrito, creio eu, sob a influência quase demoníaca de Nietszche, cuj«A Origem da Tragédia» foi para mim também uma tragédia, pela forma como me bateu forte na cabeça. Ou antes, em todo o ser e não só no intelecto. Quando falo de experiência existencial -- ou de «aventura surrealista-abjeccionista», -- é isso que também quero dizer.

VOLTANDO A 1972-73

1972
São de 1972, as 12 pgs A4 sobre «O Dr. José Castro ou a Juventude do Naturismo», «compact » das minhas intuições sobre a interface «Saúde» da Ecologia (expressão que data, se bem me lembro, desse tempo).
Enviado para a «Gazeta do Sul», é de confirmar se terá sido publicado neste semanário do Montijo ou se terá vindo a inserir-se, por iniciativa do Dr. Rocha Barbosa, director desse semanário, no livro «Ecologia e Medicina» por ele produzido e editado.
Dez anos depois destes pontos vitais, creio que me aplicava mais terra a terra ao concreto, deixando na prateleira os escritores e todo o seu veneno letal. Chama-se «Contributo à Revolução Ecológica», um livro publicado em condições bastante curiosas -- impresso e composto em Coimbra, por influência do meu compadre Matos-Cruz --: foi um bico de obra conseguir tirá-lo de lá.
Mais um episódio do calvário , foi este do meu livro «Contributo à Revolução Ecológica», cujo exagero do título está de acordo com os tempos de exagero que então se viviam.
É só para dizer que nesse livro se encontram impressas algumas intuições que me gabo de ter tido e que até hoje não vi ...confirmadas nem desmentidas. Cito, por exemplo, títulos como: «Generalizando Conceitos para compreender certos preconceitos» (10/7/1972), «Melhorar o Mal - Primores do Reformismo» (12/7/1972), «Desprezo pela qualidade da existência» (19/8/1972).
Insólito e nunca visto é, por exemplo, o que aparece dito nesse livro em 19/4/1972, sobre os organismos especializados da ONU, nomeadamente FAO e OMS: acho que muitos dos meus «infortúnios» profissionais posteriores se devem a essas 16 linhas de prosa intempestiva ...
Aparece publicado no «Diário do Alentejo» (o jornal que mais aberto se mostrou às teses esquisitas), um artigo de 5 pgs A4, «Aspectos esquecidos pela Campanha Internacional contra a Poluição». Irá aparecer em livro incluído em «Ecologia e Medicina», um texto carregado de maus presságios (intuições...), « Tristes recordações de um Dia Mundial» (10 pgs A4), escrito no Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho.
Nesse texto, abordava-se o tema ainda hoje tabu da medicina preventiva confundida com «vacinas». Data de alguns dias antes -- 28/5/1973 , o texto sobre vacinas posteriormente aparecido em colecção «Textos de Apoio», que se intitulava «A Cada um o seu sarampo e a vacina para todos». Para o bem e para o mal, continuo a achar que esse texto -- longo de 21 pgs A4 --, essa tese e essa intuição, continua intocável. E que é um ponto-chave da alavanca na subversão do sistema.
Já em 1973, o Dia Mundial do Ambiente ficaria novamente assinalado com um texto de 10 pgs A4, ainda mais radical, «As Cobaias do Barreiro e a Agonia de um Método», em jeito de carta dirigida ao Prof Delgado Domingos, que já então dava troco a alguns ecologistas fanáticos como eu. Mereceu inclusive uma carta dele, que devo guardar, creio, nos lotes (atados) «Cronologia», na respectiva data.
São de 1973, na maioria, os textos que viriam a sair publicados no livro «Ecologia e Medicina», onde me defendi, conforme pude, acolhendo-me sob a autoridade do Dr. Rocha Barbosa e do Alain Bosquet (André Gorz). Tema fulcral entre outros que nunca mais vi abordado nem sequer por ecologistas, é o das «Doenças do Consumo», que consome várias páginas das 33 A4 de tão longo e polémico ensaio.
São também de 1973, textos incluídos no livro «Contributo» e que constituem um «pesado contributo» à subversão que na altura parecia possível efectivar: «Um Problema de Lixo» (22/4/1973), 3 pgs A4 e «Contra a demagogia das Poluições», a noção de ecosfera no centro da unidade dialéctica», 5 pgs A4, em que se inclui uma citação de Barry Commoner, um dos ideólogos do movimento mais esquecidos e que, anos mais tarde, viria a fundar, sem êxito, o Partido dos Cidadãos nos EUA.
A vertente ou interface «económica» da ecologia aparece em força também em 1973, com o ensaio dos ensaios (mais um «compact» ) que é «Depois do Petróleo, o Dilúvio - Ecologia e Dialéctica da Crise», publicado  em pleno Abril de 1974. Depois disso -- receio bem... -- não fiz mais do que me repetir.

1974
São 19 pgs A4, o ensaio «Tribunal Ecológico para delitos Contra o Ambiente: Tarefa de Hoje para os Que vierem amanhã», «compact» da vertente ou interface «direitos humanos» da ecologia, vertente que os ecologistas completamente omitiram, no pensamento e na prática. Uma intuição, publicada in col «Mini-ecologia» nº 4. que caiu também e portanto em cesto roto.
São de 1974, as 18 pgs A4, publicadas no livro «As Feiticeiras», «compact» de uma intuição sobre uma interface da ecologia, a das «culturas arcaicas». Destruí, creio, o último original dactilografado, pelo que resta apenas o texto publicado no livro da editora Afrodite.
São 17 pgs A4 o «Manual Prático de Resistência Passiva & Acção Quotidiana, pacífica, não violenta», escrito em 25 de Janeiro dde 1974 e publicado, posteriormente ao 25 de Abril, em colecção «Mini-Ecologia», nº 2.
Na sequência desta, outras intuições do movimento ecologista (não confirmadas nem desmentidas até hoje...) aparecem em textos, tais como:
-«A Ecologia é uma fase evoluída da marcha histórica» 15/2/1974, (in «Contributo»?), 3 pgs A4
- «O Paraíso dos Gadgets ou Algumas histórias da tecnologia boa - Pedagogia do Consumidor», 15/4/1974, 27 pgs A4
- «Cristóvão Colombo no meio de Chacais - Crítica da Ciência Sofística», 4 pgs A4, in colecção «Mini-ecologia», nº 9
- «A Luta contra o Obscurantismo passa pela imaginação criadora», 7 pgs A4, 12/8/1974, in «Diário de Lisboa», 12/8/1974- «Emancipar o Consumidor, desinstitucionalizar os serviços», 23/11/1974, 9 pgs A4, in colecção «Mini-Ecologia»?

TEXTOS CONJUNTURAIS E CIRCUNSTANCIAIS - 1974-1975
[«Breve Experiência da Liberdade - Intervenção Cívica do Jornalista», 4 publicados de 1974]
- «Em legítima Defesa do Jogo democrático», in «Diário de Lisboa», 31/7/1974, 5 pgs A4
- «Mobilizar Capacidades - Descolonizar o Povo», in «Diário do Alentejo», 12/7/1974
- «Os Arrivistas do Proletariado», in «Diário do Alentejo», 27/7/1974, 2 pgs A4
- «Brigadas de Boa Vontade - Aproveitar já todos os recursos humanos», 10 pgs A4, in «Diário do Alentejo», 3/10/1974- «Organizados em Movimento Unitário - Trabalhadores intelectuais repudiam pluralismo que integre forças contra-revolucionárias e apoiam poder popular» , in «O Século», 7/10/1975, 2 pgs A4
- «Que partido escolher?», in «Diário do Alentejo», 16/9/1974, 1 pg A

1975
- «Com o MFA: Contra os alarmismos apocalípticos de certa imprensa estrangeira (e nem só)» , in «Diário do Alentejo», 13/2/1975, 2 pgs A4
Talvez inédito e com certeza insólito surge um texto de 16/7/1975, 11 pgs A4, «Manifesto Contra a Liberdade -- Eu Anarquista me Confesso admirador da ordem e da disciplina pela ditadura da Natureza»
[ Com este título, de certeza que não o publiquei em parte nenhuma, nem sequer nos cadernos da clandestinidade que foram as edições «Frente ecológica»]
- Na mesma onda, juntam-se mais 5 pgs A4, onde aludo à assembleia do MFA. Penso que posso datar daí -- 25/7/1975 -- os primeiros confrontos com a «censura pós 25 de Abril»
- Há um título de arrumação, aliás, «Os Censurados de Abril--11 impublicados de 1974 e 1975», suficientemente explicativo para necessitar mais comentários
***

BIOCÍDIO 1974

74-01-03-et>=entrevista-testamento-terça-feira, 3 de Dezembro de 2002-scan

CONTRA O BIOCÍDIO E EM DEFESA DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS(ENTRE AS QUAIS O HOMEM)(*)

Respondendo às perguntas formuladas pelo "Diário do Alentejo", a propósito da colecção "Dossiê Zero", lançada na Editora Arcádia em Junho de 1973, o autor afirmou o que parcialmente se transcreve por se supor de interesse para a matéria versada neste livro de ensaios sobre Ecologia Humana em Geral e Política em particular.

[3-1-1974] - Estou tão pouco habituado, que me parece quase uma história fantástica esta possibilidade de realizar editorialmente o que constitui hoje para mim uma obsessão de todas as horas, de todos os dias, de todos os momentos: o Biocídio e a Ecologia.
Acredito de tal maneira na importância destes problemas que vou ao ponto de acreditar que todos compartilharão desta minha ideia e que a colecção terá de ser comercialmente um êxito... É que as editoras normalmente só acreditam nos assuntos novos depois de outras os editarem com resultados satisfatórios. Uma colecção de Ecologia ainda não existia entre nós mas era inevitável.
Uma biblioteca fundamental da próxima década, sobre o que nela será decisivo para a sobrevivência do homem e do globo que habita, uma - digamos - biblioteca do Apocalipse, era fatal que aparecesse. E apareceu.
"Dossier Zero" - colecção para os que estiverem vivos daqui a dez anos - é assim um caso raro, se não mesmo inédito no panorama editorial português: é um desafio e uma aposta que a própria editora está disposta a compartilhar. Identidade absoluta de intenções entre organizador e editora.
"Dossier Zero" não será mais uma colecção, sem engagement polémico, sem programa de trabalho, sem estratégia. Corresponde a uma linha de pensamento - abjeccionista por um lado, neo-utópica por outro - que sem ser restritiva é programática, sem ser ortodoxa é rigorosamente definida e tem um rosto que se expõe às críticas.
Para que se tornasse possível uma colecção de tais características era necessário haver alguém que acreditasse nessa linha de pensamento e com ela tivesse profundas afinidades. Natália Correia foi essa pessoa e, embora a colecção seja de minha inteira responsabilidade, a ela em grande parte se ficará devendo.
Fazendo da Ecologia ponto de partida e de confluência para as mil direcções do realismo fantástico, "Dossier Zero" está efectivamente a pisar terreno virgem na lusa bibliografia. Ninguém acreditava ontem que houvesse público para os temas fundamentais do próximo futuro da humanidade. Mas poucos meses bastaram para que a Imprensa vulgarizasse esses temas até ao lugar-comum. É possível que agora - desbravado o caminho - surjam muitas colecções pretendendo o mesmo.
Há três anos, quando organizei, na colecção Cadernos do Século, o volume sobre O Suicídio da Humanidade, não só recebi vários sorrisos de troça por causa desse título como levei recusas sistemáticas de várias editoras que contactei na vaga esperança de encontrar alguma capaz de se interessar pela Ecologia e pelos temas prospectivos.
Riam-se da Prospectiva, da futurologia só se conhecia Herman Khan e portanto assimilava-se Prospectiva com militarismo norte-americano. Enfim, a confusão habitual da ignorância, que por aqui se jacta de sábia.

De tal modo os acontecimentos se aceleraram que a estratégia editorial do nosso tempo tem fatalmente que ser de antecipação e prospectiva. Há que acreditar nas novas ideias quando elas ainda não são aceites, sob pena de uma irremediável ultrapassagem. Há, acima de tudo, que enfrentar tabus, desmontar sofismas e mitos, atacar dogmas frontalmente. Vivemos um tempo terrível de mitos e sofismas em nome da ciência e da filosofia científica. O terror industrial, científico e tecnológico é todo baseado numa rede de sofismas. Há uma imensa tarefa de lucidez crítica (científica, a única cientifica) e de imaginação criadora na revolução dos conceitos que se transformaram, mesmo nas cabeças das elites, em pré-conceitos e pré-juízos.
Todo esse propósito ambicioso se contém nesta colecção, por isso esta colecção será polémica e um desafio a todos os imobilismos. Acredito, no entanto, que vem na hora precisa e que obterá dos leitores um tão grande entusiasmo como aquele que ponho a realizá-la. Por amor da vida, de todas as formas de vida que esta civilização homicida ameaça a exterminar nos próximos e decisivos e apocalípticos dez anos.

D.A. - Acusam-te de seres pouco pacífico e de andares sempre em rixa com as pessoas ilustres, diplomadas. É verdade?

A.C. - Mais do que verdade, é verdadíssima.
De ha um século a esta parte, também têm acusado o índio americano de pouco "pacífico" frente aos pacificadores ocupantes que lhe querem tratar da saúde. Também se pode ler nos jornais como os negros dos guetos andam sempre a provocar distúrbios e andam sempre à pancada com as pessoas de bem, com a respeitabilidade e a honra, a ordem, a virtude (seja ela à esquerda ou à direita). Também acusam certa juventude minoritária de «delinquência» e malvadez, a "pior” juventude, porque a das motorizadas é considerada boa pelos próprios papás, de boa pinta e futuro. Também acusam os ciganos de indesejáveis.
Enfim, acrescenta agora os exemplos que quiseres. Parece-me que estou em boa companhia com esses desordeiros e marginais, desclassificados e segregados, revoltados e "violentos".
Vou contar-te uma fábula.
As ruas de Lisboa, como se sabe, são apenas destinadas a cães e automóveis. Acontece que, estacionados nesse já de si restrito espaço vital, há sempre alguns homens felizes ocupando com as suas gordas barrigas o espaço que podia servir a três ou quatro pessoas, normais de barriga. Pois vai um magro cidadão passar, a caminho do emprego, sem querer alterar a ordem estabelecida, pede desculpa e licença mas acontece que a tal barriga lhe dá na magreza um encontrão, uma canelada, uma pisadela.
Acontece que o magro leva a pisadela, a canelada, o encontrão e ainda leva uma torrente de impropérios: o agressor é que ainda prega um sermão de moral ao agredido e lhe oferece cadeia.
Esta cena, que se pode repetir em centenas de variantes, faz parte da psicopatologia da vida portuguesa. Faz parte da nossa doença. É semelhante a todas as situações que no mundo ocorrem onde a minoria sofre a prepotência da maioria e é a maioria quem tem razão.
A fábula do gordo e do magro pode aplicar-se com propriedade à vida intelectual portuguesa, onde o magro, além de levar os encontrões todos que o gordo lhe apetece, ainda leva sermões de moral e prédicas de virtude. Faz parte da nossa doença. Constantemente em legitima defesa , é muito possível, pois, que me acusem de andar sempre ao ataque.
A história da independência e concomitante resistência é semelhante em todo o mundo. Tenho o meu Vietname, é disso que me acusam, quantos aqui desempenhara o papel dos que sobre ele jogam as bombas: o editor revisionista, o semanário da Amadora, o escritor neo-realista, o filósofo anti o crítico estruturalista, o profissional da publicidade, o júri dos poluentes, o lírico de Melides, só não me jogam as bombas que não podem. E se me defendo, dizem que ataco. A fábula repete-se, quase diariamente.

D.A.- O primeiro volume da colecção "Dossier Zero" intitula-se "A Conferência do Terror" e refere-se, creio, à conferência sobre Ambiente realizada em Estocolmo por iniciativa da ONU. "Terror" porquê?

A.C. - Porque efectivamente o Mundo em que vamos meter os nossos filhos será o Mundo do Terror generalizado.
Aquilo que foi um surto localizado (e muito explorado posteriormente pela propaganda israelita) na Alemanha hitleriana - a ciência e a técnica ao serviço dos extermínios sistemáticos, maciços e cientificamente organizados - tornou-se um fenómeno mundial. Deixou de haver arame farpado, porque deixou de haver fronteiras para o Ter ror, quer dizer, para a violação sistemática e maciça e organizada (programada) dos direitos humanos, entre os quais direitos temos a sobrevivência como primário.
E já não falo dos que directamente promovem, executam o extermínio. Seria demasiado fácil apontar os executantes.
Falo das superestruturas ideológicas – cientistas, filósofos, economistas, técnicos, especialistas - que servindo o terror tecnológico ou tecnocrático, usam as suas posições privilegiadas para encobrir os abusos que a esse mesmo terror se devem.
E já nem falo dos Panglosses que pretendem encobrir com discursos de laracha optimista a gravidade e extensão do ecocídio. Falo dos que se dizem abertos aos problemas do Ambiente para melhor os escamotear e deles distrair as atenções.
O terror hoje é o mais completo e totalitário porque encoberto por aqueles que o promovem: cientistas e arredores.
De toda a mitologia que nos escraviza, a rede de sofismas arquitectados em nome da ciência é a mais fantástica máquina de mentiras e de fraudes que já houve sobre a terra. Desafiar esses tabus é lavrar a sentença de morte. Resistir neste Vietname é a atitude suicida por excelência. A faina mais urgente e necessária ao humanista contemporâneo é assim a mais difícil e arriscada.
Desordeiro, indesejável, violento, será assim o que resiste, o que estraga esse jogo e denuncia essa conspiração, o que se defende do terror generalizado. A "violência” individual - o suicida, o uxoricida, o homicida, o fratricida, o parricida, o matricida, etc - é sempre resposta às tensões insuportáveis impostas ao indivíduo pelo terror colectivizado: do ecocídio ao biocídio, dos etnocídios aos genocídios, esse terror hoje tem nome, forma, rosto e contornos muito precisos. Por isso a Conferência de Estocolmo foi, rigorosamente, "a conferência do terror", do terror ambiente.
Quando ilustres economistas do nosso mercado, ou ilustres críticos, ou ilustres líricos, ou ilustres políticos - sempre ilustres servidores do terror estabelecido - me acusam de violência, mais do que verdade é verdadíssima. É a verdade de todos os que respondem, pelo suicídio, pelo homicídio, pela revolta às insuportáveis tensões que esses ilustres todos fomentam e alimentam, fomentando e alimentando o mundo do terror que hão-de dar aos filhos deles e, o que é pior, aos nossos.
Só estes serão os definitivos juizes. Só deles espero o juízo que não espero hoje de nada nem de ninguém, neste país, neste mundo, neste universo onde a absoluta solidão é o preço a pagar pelo amor a todas as criaturas vivas do universo.
Por isso "Dossier Zero" é uma colecção para amanhã, para os que amanhã forem os sobreviventes da catástrofe ecológica. Se os houver, a colecção é deles. Não me importo absolutamente nada o que no presente façam para a destruir e me destruir.

Depois de Estocolmo, a contagem do tempo começou a fazer-se de maneira contrária à clássica. Dantes, partia-se de zero e ia-se até ao infinito. Agora, a contagem é para o fim e em vez do Ano 2 000 dos tecnocratas, o número sigla passou a ser 1 ou ano zero.
Daí o titulo da colecção que começa com um volume consagrado à conferência de Estocolmo e daí que a referida conferência se chame de terror.

D.A.-O título dessa colecção faz-me lembrar o de uns cadernos que publicaste em 1957, cadernos Zero, se não estou em erro. Mero acaso ou corresponde essa coincidência de títulos a uma intenção?

A.C. - Foi um acaso mas que me entusiasmou.
De facto, gostaria de acentuar a profunda continuidade de pensamento que existe entre as preocupações desses cadernos, desse tempo d'A Planície e as que hoje se reflectem numa colecção como "Dossier Zero".
Interessa sublinhar essa fidelidade de 15 anos, especialmente para responder aos que me acusam de oportunismo ou de seguir uma moda.
Importa salientar que entre o franciscanismo d' A Planície muito de panteísmo e de ateo-teísmo à Pascoaes, com muito de Walt Whitman, com muito até de Thoreau, e a monomania ecológica que hoje me obceca há apenas uma diferença de grau, apenas uma maior consciencialização dos problemas e uma mais firme, mais inabalável firmeza nos pressupostos.
Abjeccionismo, surrealismo, existencialismo, realismo fantástico, naturismo, prospectiva, ecología, quem conheça um pouquinho a profunda razão de ser de qualquer dessas experiências, saberá que real, intensa, profunda afinidade as une e de como são apenas metamorfoses no tempo da mesma básica luta, da mesma radical incompatibilidade, consequências imediatas de uma mesma causa: o horror a esta civilização do terror que nos é imposta.
A simpatia pelas civilizações extremo-orientais, ou pelas culturas marginais e marginalizadas é apenas mais um passo na marcha de uma radicalização cada vez mais consciente dos problemas que aquele terror impõe.
Posso responder-te, pois, dizendo que entre o "Zero" de 1957 e o "zero" de 1973 apenas houve o amadurecimento de uma intuição - Utopia? Contra-Cultura? - ou as sucessivas metamorfoses de uma mesma conversão.
Aliás, é a firmeza inabalável dessa convicção que explica muitos eventos circunjacentes: a sanha dos ïnimigos (neo-realistas a um lado, estruturalistas e experimentalistas a outro) e a consequente posição de constante defensiva.

D.A. - Qual é a base documental da colecção "Dossier Zero”?

A.C. - Aquela que está mais à mão do jornalista: a informação diária mundial. Seleccionado, hierarquizado e analisado criticamente, o noticiário da actualidade fornecido pela Imprensa pode representar, ao fim de certo tempo, um manancial valioso, que fica perdido no mar sem fim de papel.
O meu trabalho e apenas o de "salvar" essa informação da sua efemeridade, retirando dela o que permanece de essencial (não gosto da palavra, mas não tenho outra). O meu trabalho é apenas o de seleccionar o que se apresenta caótico, inflacionário, indiscriminado na imprensa diária, trabalho portanto de ordenamento crítico, de estruturação, de síntese.
O fenómeno de congestionamento que se verifica em todos os espaços da sociedade de consumo (e que foi um dos que mais violentamente me atiraram para a percepção ecológica) é também extensivo à Informação. Afogam-nos, asfixiam-nos de papel. Somos diariamente bombardeados de notícias e já não distinguimos, no meio de mil, a que verdadeiramente importa e que é "notícia do futuro", quer dizer, que se tornará mais importante à medida que o tempo decorrer (quando o destino da maioria das noticias é perder importância quanto mais tempo decorre sobre a sua emissão).

A importância dos acontecimentos (logo das notícias) é considerada em função dos critérios políticos, diplomáticos de curtíssimo prazo, - esses, sim, oportunísticos no sentido mais rigoroso da palavra - e o que a colecção Zero pretende é avaliar os acontecimentos em função da sua importância potencial, logo em função de um critério prospectivo, a médio e longo prazo.
Quando encarado da perspectiva Ambiente, o futuro pode assumir aspectos que vão do critico ao humorístico.
Quem estiver atento à Imprensa vai sabendo que todas as medidas de "ataque à poluição", na sua quase nula eficácia e no seu confesso reformismo, assumem aspectos ridículos se proporcionalmente comparadas à dimensão gigantesca e catastrófica dos danos e morticínios anunciados pela mesma Imprensa, danos e morticínios causados pela mesma poluição.
Do crítico e do humorístico, pois, terá esta colecção, que pretende ser um espelho do tempo (retrovisor e provisor) e um reflexo da história que - dizem, vê-se - está agonizante.

D.A. - Acusam-te de oportunismo, de teres escrito tanto sobre ambiente para ostensivamente concorrer ao prémio de 10 mil escudos instituído pela Gáslimpo. É verdade?

A.C. - Antes de mais, é verdadíssima. Depois quero agradecer aos amigos que manifestam tão zeloso interesse por mim e que não me perdoam.
Depois ainda, deixemos bem claro que o prémio da Gáslimpo era na importância de 10 contos, e que efectiva, ostensivamente concorri, mas que o júri entendeu dar o dinheiro aos doutores e licenciados, reservando-me a humilhação, o castigo, o ridículo das menções honrosas. Como o júri deliberou mês a mês, mas muitos meses depois do concurso iniciado, fui apanhado na armadilha e caí na esparrela até ao pescoço.
Total, literalmente bandarilhado, uma vez mais vítima cega da minha boa fé e da minha boa vontade em prol da comunidade humana e da sobrevivência dos compatriotas. Bem feito, trinta vezes bem feito. Durante 3 vezes, como se uma não bastasse, tive de suportar essa doce vingança sobre o meu trabalho, a minha boa fé e o meu ingénuo desejo de contribuir, de colaborar na tal "defesa do Ambiente". Tarde me apercebi que não interessava nada o Ambiente, pois outros factores estavam em jogo. Muitos outros, que são também parte do Ambiente e que fazem parte integrante da nossa Doença, do nosso lindo funeral.
Claríssimo, pois, o que sucedeu (clarinho agora, antes a ingenuidade cegou-me): só quem não está comprometido a nenhum nível com o Sistema dos biocídios – enquanto doutor, engenheiro, técnico, advogado, etc – através de qualquer providencial licenciatura pode assumir em relação ao Ambiente (mas só) a única posição possível que é também a mais "perigosa": radical, independente, inconformista, crítica e contestatária.
Só o autodidacta, o maltrapilho, o out-sider, o marginado, o resistente, o franco-atirador, o não licenciado, o poeta, oferece verdadeiro perigo à demagogia e aos demagogos da poluição, que falam de poluentes unicamente para industrializarem os antipoluentes.
Um júri de poluentes está-se a ver que iria premiar artigos sobre poluição do mar costeiro pelos hidrocarbonetos e antipoluentes respectivos. Eu sabia que era assim e oportunisticamente não escrevi nem escreverei sobre poluição do oceano costeiro, sobre hidrocarbonetos, a não serr que me mandem em serviço profissional.

Se ostensivamente me fiz aos 10 mil escudos do concurso, foi porque precisava e preciso do dinheiro para pagar fotocópias dos artigos que, em legítima defesa, nenhuma imprensa publica (depois de atacar) e que tenho de andar distribuindo pelas portas prevenindo as pessoas do que as mata e de quem as mata. Isto não merece prémio. Merece, sim, o castigo de 3 menções honrosas.
Quem divulga o biocídio, merece lindo funeral...
O "prémio" que tive, pois, foi mais uma lição mestra que me ensinou aspectos ainda para mim desconhecidos, do ambiente intelectual luso.
Outra lição (mestra) foi o ataque do camarada e lírico Eduardo Olímpio, como se não bastassem tecnocratas, biocratas, burocratas.
Pilhas de pilhéria tem, pois, acusarem-me de oportunismo aqueles que, dentro do sistema, funcionários obedientes dele, falam de poluição hoje como ontem falavam e defendiam tudo o que exactamente a provoca e lá conduz: o sistema fundamentalmente homicida em que vivem e em que aceitam viver, sem protesto, sem resistência, sem oposição, sem crítica, sem inconformismo.
Procurando através dos tempos o que sempre me identificou com o anarco-pacifista, o poeta, o homem revoltado, o aprendiz, o herege de todas as ortodoxias, o franco-atirador, o panteísta, o naturista, o zoófilo - chego afinal à conclusão de que os júris poluentes não podem gostar nada disso.
Oportunistas, pois, foram, são e serão, os que falam de poluentes para industrializar os antipoluentes e os que falam de conservar a natureza para melhor perpetrarem os biocídios, ecocídios, genocídios, etnocídios, homicídios e etc de que são autores.
E isto que fique dito uma vez por todas.

- - - -
(*) Este texto de AC, sob a forma de entrevista (a José António Moedas) foi publicado no "Diário do Alentejo", 3/Janeiro/1974, graças aos bons ofícios do meu querido e inesquecível amigo José António Moedas. Posteriormente, o texto seria transcrito no livro«Contributo à Revolução Ecológica», edição do autor, 1976, nº 1 de uma colecção intitulada «Ecopolítica»
***

HETERÓNIMO 1998

98-01-03-10622 caracteres-autor-1-12928 bytes

[3-1-1998]

OBRAS PUBLICADAS POR AC - LISTA CRONOLÓGICA


EM VÁRIAS EDITORAS

1974 - «Depois do Petróleo, o Dilúvio (Ecologia e Dialéctica da Crise)» - Estúdios Cor, Lisboa
1975 - «O Alentejo na Reforma Agrária» - Ed. Diabril, Lisboa
1977 - «Ecologia e Luta de Classes em Portugal» - Ed. Socicultur, Lisboa

ANTOLOGIAS (ORGANIZAÇÃO)
1965 - «Poesia Portuguesa do Pós Guerra » - (c/ Serafim Ferrreira) - Ed. Ulisseia, Lisboa
1965 - «A Poesia de Raul de Carvalho» ( c/ Liberto Cruz) - Ed. Ulisseia, Lisboa
1977 - «O Suicídio Nuclear Português» - Ed. Socicultur, Lisboa

1970 - COL. «CADERNOS DO SÉCULO» (ORGANIZAÇÃO)
1 - «O Mundo contra a Fome»
2 - «Etapas para o Ano 2000»
3 - «O Suicídio da Humanidade»
4 - «Educação e Crescimento Económico»
5 - «O Império do Dólar»
6 - «Oito Escritores Frente à Política»
7 - «Liberdade e Alienação no Pensamento Contemporâneo»
8 - «Como Viveremos em 1980»
9 - «Juventude e Relações Humanas»
10 - «A China e o Ocidente»
11 - «As Surpresas da era Pós-Industrial»
12 - « Da informação à Informática»
13 - «Os Desafios do Futuro»

1971 - COL. «A PAR DO TEMPO» (Ed. O Século) :
1 - «Planète e o Realismo Fantástico»
2 - «O Tempo, esse Desconhecido»
3 - «Bertrand Russell: (Con)Tributo a uma Personalidade
4 - «Os Jesuítas na Hora da Contestação»

1972 - COLECÇÃO «BIBLIOTECA DO ANO 2000» (Ed. Estúdios Cor):
1 - «Os Laboratórios do Futuro»
2 - «A Química que Mata»
3 - «Ao Encontro dos Extraterrestres»
4 - «Os Hippies - Nascimento de uma Nação»

1973 - COL. «DOSSIER ZERO» (Ed. Arcádia):
1 - «A Conferência do Terror (Estocolmo 72)»
2 - «Os Útimos Dias da Terra »
3 - «A Indústria do Ruído, o Direito ao Silêncio»

COLABORAÇÃO LITERÁRIA E JORNALÍSTICA EM OBRAS COLECTIVAS
1963 - In «Surreal-Abjeccionismo», antologia organizada por Mário Cesariny de Vasconcelos, Ed. Minotauro, Lisboa
1964 - «Diário de Antonin Artaud no Hospício de Rodez», in Cadernos Alfa, nº 1,
1974 - «Da Natureza Romântica à Natureza Ecológica», in « As Feiticeiras», de Jules Michelet, Ed. Afrodite, Lisboa
1974 - «Efeitos da Poluição- Ecologia Política ou Política do Ambiente?», in «1º Congresso Nacional de Degradação do Ambiente Português(Porto, 4-8/Junho/1974)
1975 - In « 800 Anos de Poesia Portuguesa», antologia organizada por Serafim Ferreira e Orlando Neves, Ed. Círculo de Leitores, Lisboa
1976 - In «Experiência da Liberdade» , antologia organizada por E.M. de Melo e Castro, Ed. Diabril, Lisboa
1977 - «A Chatice de Existir vista à Luz Iniciática» (fragmento) , in «Raiz e Utopia», revista trimestral, Nºs 3/4, Outono/Inverno 1977
1977 - In « Ecologia e Medicina», polémica com Rocha Barbosa, Ed. «Gazeta do Sul»
1982 - In «S. Francisco de Assis - Testemunhos Contemporâneos das Letras Portuguesas»-Biblioteca de Autores Portugueses-Ed. Imprensa Nacional, Lisboa
*
EDIÇÕES LITERÁRIAS DO AUTOR
1958 - COL. «CADERNOS ZERO»:
1 - Convívio , Crítica e Controvérsia
2 - «Líricas Maiores e Menores», polémica, in «Cadernos Zero», nº 2

1960 - «Espaço Mortal» (Diário I - Versos)
1961 - «O Nariz» (Diário II - Versos)
1973 - «O Realejo do Neo-Realismo - Um episódio da Resistência» - Polémica
1976 - «Contributo à Revolução Ecológica» (Ensaio)
1977 - «O Tao e o Zen vistos por um Ecomilitante» (27 pg)
*

EDIÇÕES «FRENTE ECOLÓGICA»(Paço de Arcos)
10 ANOS DE LUTA ECOLOGISTA (1974-1984)
ENSAIOS DE AC - EDIÇÕES DO AUTOR (STENCILADAS) - MINI-TIRAGENS

1975: COL. «CICLO DE ANIMAÇÃO ECOLÓGICA»:
1 - «3 casos de Suicídio : Sines, Alqueva e Galiza»
2 - (?)
3 - «As Causas da Doença Descobrem-se pelos Sintomas» (20 Pag)

1975 - COL. «SINE QUA NON»:
- 1974: «Condições Ecológicas para uma Política de Saúde - Contributo de Afonso Cautela ao debate sobre o Serviço Nacional de Saúde»
- «A Burla Nuclear - I - Condições Ecológicas para uma Política de Energia»
- «A Burla Nuclear - II - Campanhas de um militante por (A)mor da Pátria»

1976 - COL. «MANUAL DO MILITANTE»:
-«A Água não Cai do Céu - Reflexões sobre a Seca de 1976» (25 pg)

1976 - COL «MINI-ECOLOGIA»:
1 - «Posição do Movimento Ecológico Mundial Face às Ideologias do Desenvolvimento Económico»
2 - « A estratégia das eco-tácticas: Greve geral à Sociedade de Consumo
3 - «Do Biocídio à Utopia Ecológica (Crítica da Medicina Alopática)»
4 - «Luta ecológica e Luta de Classes»
5 -«Agro-Comunas: Alternativas para a Sobrevivência»
6 - «Estratégia Ecológica e Tácticas Anti-Poluição: o Caso Português»
7 - «A Consciência Política da Natureza e a «luta de classes» no Reino Animal»
8 - «Movimento Ecológico e Descolonização Cultural»
9 - «A Idade Solar: Ivan Illich e Wilhelm Reich , Dois Profetas da Utopia Ecológica»
10 - «Como os Medicamentos nos Tratam da Saúde»

1975 - COL. «BIONERGIA CURATIVA»
1 - «Os Bio-ritmos na Saúde - Somos Filhos do Sol e da Lua»
2 - «Bio-ritmos, Antologia de Textos»
3 - «A Cura pela Energia, 55 indicações de base sobre Macrobiótica segundo Oshawa»

1978 - COL. «ARTIGOS QUE A CENSURA ME CORTOU EM 1977»
1 - «Viva a Saúde, Abaixo a Medicina»
2 - « O Fascismo Nuclear na URSS»

1976 - COL. «MANIFESTO ECOLÓGICO»
1 -« Manifesto Ecológico contra a Inflação e o Custo de Vida»
2 - «Manifesto Ecológico contra o Desperdício pela Reciclagem»
3 - «Manifesto Ecológico contra Todas as Drogas pela Felicidade Já»

1981 - COL. «100 DIAS» - IDEIAS PARA A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL
1 - «Essa Ecologia de que Somos Cobaia»
2 - «Ecologia Combate Desemprego-A Tese de Michel Bosquet»
3 - «Os Agrónomos da Fome: Dumont, Borlaug, Fao & Cª »
4 - «Ecologia e Informação: Como os Jornalistas nos Lavam o Cérebro»
5 - « Ecologia e descanso: Será o Desemprego uma força revolucionária?»
6 - «Ecologia e Ambientocracia: Quando o Lobo se Veste de Avózinha à Espera do Chapelinho Vermelho»
7 - «Ecologia e Terceiro Mundo - Não Alinhados contra Imperialistas»

1981 - COL. «BREVIÁRIO DO ECOLOGISTA»:
1 - «O Sistema contra os Ecossistemas - Listas A a Z»
2 - «Aforismos de Moral Energética - Realismo Ecologistas»
3 - «Ideias do Realismo Ecológico»
4 - «As 20 Maneiras de Cozinhar o Ecologista»
5 - «Realismo Ecológico - Manifesto 1982»
6 - «Realismo Ecológico e Partidos Políticos»
7 - «Política dos Ecossistemas Contra o Sistema que (n) os Destroi»

1981 - COL. «CARTAS À GERAÇÃO DO APOCALIPSE»
1 - « Ecologia ou Cancro - Ecologia ou Morte»
2 - « A Chatice de Existir Vista à Luz Iniciática»
3 - «Eu Sou Torquemada - Carta Aberta ao Presidente do Meu Sindicato »
4 - «Poluindo e Matando - Grandes Indústrias «Protegem» o Ambiente»

1982 - COL. «ECOLOGIA E PATRIMÓNIO»:
1 - «Contributo à Conservação do Património»

1984 - COL. «YIN-YANG»:
1 - «Universo Yin-Yang-Actividades da Unimave»
2 - «As Medicinas que Curam - Roteiro de pessoas, endereços, telefones, etc»
3 - «A Cura pela Energia segundo G. Oshawa» (2ª edição, corrigida)
*
PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS

1974 - BOLETIM DO MOVIMENTO ECOLÓGICO PORTUGUÊS
- 4 NÚMEROS PUBLICADOS :
Nº 1 - Agosto 1974
Nº 2 - Outubro 1974
Nº 3 - Dezembro 1974

1975-1977 - JORNAL «FRENTE ECOLÓGICA»
- 14 NÚMEROS PUBLICADOS DE MAIO DE 1975 A JULHO DE 1977

1980 - JORNAL «FRENTE ECOLÓGICA» (SÉRIE ESPECIAL)
- 3 NÚMEROS PUBLICADOS:
Nº 1 - Junho 1980
Nº 2 - Julho 1980
Nº 3 - Agosto 1980

1981 - JORNAL «ECOLOGIA EM DIÁLOGO»
1 - «A Natureza não Desperdiça - Biogás em Portugal»

EDIÇÕES «FRENTE ECOLÓGICA» EXTRA-COLECÇÃO (1974 - 1978)
1977:
- «Ecologia e Reforma Agrária» (17 pg)
- «O Tao e o Zen vistos por um Eco-milltante»

1978: - «Centro de Ecologia e Resposta ao Apocalipse»

TEXTOS ESCOLHIDOS DE VÁRIOS AUTORES EM EDIÇÕES «FRENTE ECOLÓGICA»

1975 - COL. «TEXTOS DE APOIO»:
1 - «Indústria Nuclear - Balanço Várias Vezes Negativo»
2 - «Bibliografia Fundamental em Edição Francesa », por France de Nicolay (7 pg)
3 - «1945-1975: 30 Anos de Resistência Ecológica nos Estados Unidos - Episódios e Autores do Movimento Ecológico», por John Maddox ( 9 pg)
4 - «Cancro: Quais os Caminhos do Diagnóstico Precoce?»
5 - « Energia Nuclear: 6.000 Cancros por Ano (A Mais) »
6 - «Carta da Natureza»
7 - « Manifesto para a Defesa da Natureza e da Vida» (OIT, Outubro de 1973)
8 - «Quem Tem Medo da Ecologia?» , por Afonso Cautela Cautela (14 pg)
9 - «Mitos do Nosso tempo: o Computador não é Neutro»
10 - «Plutónio no Ano 2000 - 100 mil Casos de Cancro»
11 - «A Indústria do Cancro - Negócio Rendoso da Química»
12 - «Brice Lalonde a «Libération»: «Um varredor de ruas deverá ser mais bem pago do que um engenheiro» (5 pg)
13 - «Mais de Mil Marginais na Comunidade Rural de Ardèche

1975 - COL. «II ENCONTRO EM PORTUGAL DO MOVIMENTO ECOLÓGICO»:
- «Palavras de Apresentação», por Afonso Cautela (7 pg)
- «Crise Ecológica - Anúncio de Apocalipse?», por António Carvalho
- «Telegrama ao II Encontro em Portugal do Movimento Ecológico»
- «Sociedade de Consumo ou de Desperdício?», por Romeu de Melo
- «Agricultura Biodinâmica», Taciano Zuzarte
- «Os Consumos Anti-Ecológicos - Contributo a uma Lista Negra», por Afonso Cautela (4 pg)
- «Não há Economia sem Ecologia», por Afonso Cautela( 4 pg)
- «Movimento Ecológico: Seis Meses em Portugal»

1975 - COL. «ABC DA SAÚDE»:
1 - «Soja, Cebola, Batata, Cogumelos, Funcho, Castanha»
2 - «Jejum Terapêutico: a Mais Antiga Medicina»

1976 : - «De Tao a Mao - A Via Dialéctica da Revolução» (Um texto de Luís Racionero)

1976 - COL. BIOENERGIA CURATIVA:
1 - «Os Bio- Ritmos na Saúde - Somos Filhos do Sol e da Lua»

COLABORAÇÃO EM REVISTAS ECOLOGISTAS

1976 - «Para o Diagnóstico da Realidade Ecológica Portuguesa, in «Cadernos de Ecologia e Sociedade» , Nº 3, 1976
1978 - «Actualidade e Prática do Budismo Nyingma -Pa», in «Jornal da Via Macrobiótica»
1979 - «Via Macrobiótica: Alternativa à Destruição», in «Jornal da Via Macrobiótica»
1980 - «Terror Atómico e Terremotos», in « A Urtiga» (Porto)
1981 - «Será a Medicina Incurável?», in «Jornal da Via Macrobiótica», Maio/1981
1982 - In revista «Come e Cala» :
- «O Ar Irrespirável que Respiramos»
- «Smal is Beautiful: a lógica absurda do crescimento»
- «Trabalho e Ecologia»
1985 - «Da Higiene Pública à Ecologia» , in «Saúde Actual»
1985 - «OMS reconfirma Apoio à Medicina Natural de Cada Povo», in « Saúde Actual»

TEXTOS DE ECOLOGIA ESCOLHIDOS E TRADUZIDOS POR AC EM OUTROS EDITORES

1977 - «Tecnologias Leves e Vida em Comunidade» - Edição do Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra
1978 - «Vacinas em Tribunal» - Edição do Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra
***

YIN-YANG 1996

96-01-01-yy>=yin-yang– tb-3773 caracteres-eyy-1> espírito yin-yang-já emendado

1-1-1996

O ESPÍRITO DO PRINCÍPIO ÚNICO TAOÍSTA EM 9 PONTOS

1 - Ter fé incondicional na ordem do Universo
Em vez de deixar que sejam as emoções e os órgãos dos sentidos a reger o nosso destino, o princípio único taoísta indica-nos como viver guiados pela intuição natural (o 6º sentido), trabalhando de harmonia com o movimento do universo, entre o microcosmos e o macrocosmos.

2 - Non-credo
Em vez de seguir teorias e opiniões de outros, em vez de escravizar a liberdade natural com ilusões e mistérios, o princípio único taoísta aconselha a manter o espírito de non-credo e a procurar, pela nossa experiência e entendimento, a ver claro o que é real e o que o não é. Em vez de muitas crenças, o princípio único do yin-yang taoísta aconselha a ter algumas certezas.

3 - Ser o mestre de si próprio
Em vez de aceitar a autoridade de um mestre ou guru, por mais elevado espiritualmente que ele seja, o princípio único taoísta aconselha a exercitar o nosso próprio discernimento, a desenvolver os órgãos dos sentidos além dos 5 que se encontram acordados. Receber conselhos e informações, em espírito de gratidão à ordem do universo, não impede que sejamos nós próprios a actuar como donos e senhores do nosso próprio destino.

4 - Saber que nada se sabe
Em vez de alardear acumulação de conhecimentos, o princípio único taoísta aconselha a ser modesto e humilde, sem medo de ser o último e o mais insignificante, pois esse é o caminho mais curto para a liberdade de consciência, relativamente aos egos (emocional, intelectual e volitivo) que a oprimem.

5 - Somos a energia (do) que comemos
Em vez de se deixar escravizar pelos hábitos alimentares e pelos sabores ( grau elementar da sensibilidade física), o princípio único taoísta aconselha a mudar de alimentação para mudar de energia e portanto para mudar de vida: corpo, alma e espírito - através do continuum energético - estão implicados na alquimia alimentar, base da pirâmide energética que somos.
Ser dono e senhor do próprio destino, ser mestre de si próprio, depende, em primeira instância, desta base alquímica. Por isso somos o que comemos.

6 - Gratidão para com as dificuldades
Em vez de recriminarmos constantemente o que nos acontece e em vez de nos desculparmos com a roda kármica, em vez de assumirmos uma posição de fatalismo, o princípio único taoísta lembra que as dificuldades, os stresses, a doença, aquilo a que se chama o «mal» existem para nos permitir evoluir. Se as dificuldades e crises, em vez de sofridas passivamente, forem a ocasião de reflectir sobre nós próprios - transformando os stresses negativos em stresses positivos - elas existem para as enfrentarmos e ultrapassarmos e não para as suprimirmos, tal como a medicina química faz aos sintomas de uma doença.

7 - O nosso inimigo é o nosso amigo
Em vez de considerar o inimigo que nos ataca e acusa um oposto irredutível, o princípio único taoísta indica como aproveitar em nosso proveito os nossos inimigos, aprendendo com eles o que não temos, não somos ou não sabemos.

8 - Os últimos são os primeiros e os primeiros são os últimos
Em vez de nos deixarmos esmagar pela adversidade e em vez de nos empolgarmos com a prosperidade, o princípio único taoísta lembra que o yin está sempre a mudar para yang e yang está sempre a mudar para yin, tal como o tempo que faz e as estações. Por isso, quando estamos no alto devemos ser modestos e quando em baixo devemos manter o espírito de aventura e coragem. O mais possível em harmonia com a mudança sem fim do universo.

9 - Um grão, dez mil grãos
Em vez de aferrolhar bens, objectos, ideias e conhecimentos, o princípio único taoísta lembra que dar é receber e que quanto mais dermos mais recebemos. Gratidão, oxigénio da alma.
***

ENTROPIA 1976

00-01-01-ac-ie> -ideia ecológica – 5 estrelas - a-chave->cac76>=cartas em 1976 -repescagem - chave para as ideias dele - matéria possível de temas e respostas à entrevista-testamento que hei-de dar no dia de s. nunca - não encontro o file ficcªar10.wri> (era folha de rosto e foi parar com certeza ao lixo) onde escrevia, mais tarde, estes antecedentes à dita carta que hoje vou repescar)-cartas ac para ac ficcionar

ECOLOGIA COMO ACTIVIDADE LÚDICA

DE UM MILITANTE ECOLÓGICO EM VIAS DE VENDER A ALMA AO DIABO, AO SR. SMITH CAMPBELL, DIRECTOR DA MULTINACIONAL PETROLÍFERA ANCHOVAS, PEDINDO QUE O ADMITA COMO CONSULTOR

nomes ocorrentes neste inédito ac : josué de castro e herbert marcuse

[a quem é dirigida esta carta tão confessional, tão memorialística, tão sintetizante, tão holística? Quem é francisco simão, para eu entrar em tamanhas confidências?]
[ As cartas, assim filosóficas como esta, são boa matéria-prima para E-T. Basta, muitas vezes, intercalar a pergunta para a resposta que já está dada
[ Verdadeiro crisol , em 1976 (há 22 anos!) de ideias mais tarde confirmadas, este texto assinala, de facto, a mania antecipativa do senhor ]

Paço de Arcos, 14/Julho/1976 - Francisco Simão: Aceito o desafio das suas perguntas: o diálogo com pessoas inteligentes é hoje uma das poucas coisas que se pode fazer sem desgosto nem angústia, uma forma desportiva, higiénica e alegre de passar o tempo.
As dúvidas por si levantadas já têm sido, como calcula, motivo de indagação e explicação da minha parte, em outras conjunturas; nem de outra maneira se explica a inflação de textos que sou mais ou menos compelido a escrever, sempre ou quase sempre pela necessidade de explicação e às vezes de auto-explicação.
É sempre necessário e como se comprova, voltar a coisas que já largamente estão ditas, escritas, repetidas, coisas que alguns, por outro lado, com muito senso e realismo, insinuam ser apenas bocas, mais merda do que outra coisa.
E aqui começa, Francisco, o jogo de ambiguidades, o arame sobre o qual o aprendiz de iniciado se baloiça enquanto existe e para existir.

- Que finalidade, que objectivo terá, afinal, toda esta agitação, toda esta luta, todo este sofrimento, toda esta angústia, toda esta merda?
Mas repare: porque terei eu, ou terá você, mais obrigação de explicar a própria luta, do que os outros, os que se demitem, os que desistem de trabalhar ou trabalham no campo da contra-revolução.
Se nada tem sentido, então o criminoso é igual ao homem honesto, o destruidor da Natureza igual ao seu defensor e tudo está afinal certo porque tudo está afinal errado.
Creio ser mais ou menos isto o que dizia o grande inquisidor do Dostoievski, argumentando a favor da meritória acção que consistia em mandar inocentes para o cepo dos torresmos.
Se deus não existe, nada tem sentido, não há moral, não há bem nem mal.

- Repare, porém, que todos se agarram a qualquer tábua: partido, ideal, religião, lucro, negócio, obra, filho, etc. Na grande noite e no grande caos, todos procuram um casulo de ordem.
Eu procuro-a fazendo o que faço e tal como o faço.

- Esta podia ser a primeira resposta à sua pergunta: «acredita ou não na possível vitória da luta ecológica».

- Não sei se acredito ou não, o que lhe posso dizer é que não faço depender da vitória ou da não vitória, lutar e continuar lutando.
Acredito tanto como os outros acreditam naquilo em que dizem acreditar, enquanto não se suicidam (pelo álcool, pela droga, num acidente de automóvel, de qualquer forma disfarçada ou explícita de autodestruição). Para lhe ser franco, estou pela cabeça sempre muito mais próximo da tentação do suicídio e do niilismo, mas pelo instinto, pelo temperamento, pela intuição e pela imaginação mais próximo da terra, da esperança, portanto, contrabalançando o que a cabeça exige.
Daí que a única coisa real seja esta oscilação (talvez ambiguidade, talvez dialéctica, talvez indefinição) entre os dois contrários, neste caso entre o desespero e a esperança, o niilismo e a crença.

- Mas independentemente desse motivo existencial (luto como todos nós porque não posso deixar de fazer alguma coisa para existir e sentir que existo), existem outros dois motivos que gostaria de lhe dizer; um, é estético; o outro, lúdico.
Quem tenha um mínimo de sensibilidade artística (condição necessária mas nem sempre suficiente para a sensibilidade ecológica) fatalmente que fará pender o maior peso da sua escala de valores para onde a fealdade e a porcaria e o mau gosto não abundem...
De resto, para quem tenha um certo gosto pelo jogo e não goste de xadrez, nem de futebol, nem de hipismo, nem de ténis, nem de marchas pedestres, eis que a luta ecológica começa e acaba por ser também um jogo, como qualquer outro. Faço questão de reivindicar o direito de jogar o jogo que me apetece ...
Estranho muito que isto escandalize muito boa gente, cuja actividade preponderante consiste em condenar nos outros aquilo que, sob outras formas, eles próprios fazem; em condenar nos outros que não sigam o padrão lúdico que eles seguem: em jogar o bacará, a roleta, o andebol de sete, etc. mas não consentirem qe outros joguem ecologia.

- Acreditar nisto ou naquilo, no anjo da ecologia ou nos bandidos da tecnocracia, não é questão teórica, mental, de cabeça, deliberação que a gente tome às tantas horas do dia tal. Construir uma crença ou deixar-se esmagar por uma descrença pode ser obra de uma vida inteira. É questão que nos envolve no total, vai bulir com aquela zona que é, ao mesmo tempo, a mais singular, a mais pessoal e a mais inviolável de nós próprios.
Para quem escreve, está nessa zona o segredo do que ele produzir, criar, escrever. Tocar nessa zona hiper-sensível pode ser destruir alguém ou ressuscitar alguém. Por questões domésticas, estou a curar-me há um mês de uma bolada perto dessa zona de melindre moral hiper-sensível... E nunca mais cicatriza.
Exigir dos outros, mesmo os mais íntimos, que sintonizem a nossa zona mais profunda e mais íntima da nossa intimidade é um dos tais absolutos que este mundo de coisas relativas nunca nos dá. Paciência, que é virtude bastante chinesa.

II
- Quanto ao sistema e seu poder recuperador do militante, o problema continua a ser mais do militante do que do sistema ...
Creio ter sido Marcuse e outros ideólogos subtis de um neo-imperialismo, quem assinalou o carácter fechado, circular e vicioso da sociedade unidimensional. Ninguém pode sair dela, porque ela acaba sempre por comprar e vender o produto, por mais contestatário que seja o produto.
Desconfio dessa tese, aliás aliciante, porque serve à maravilha a contra-revolução. Utopia seria lutar contra o sistema, porque o sistema quando não pode esmagar, recupera.

- É o mesmo que me perguntarem: «se o imperialismo viesse agora oferecer-me um preço, vender-me-ia ao imperialismo?»

- Com toda a franqueza e sem cinismo, devo dizer-lhe: depende do preço.
Até hoje ninguém me fez propostas desonestas. Mas como a ecologia se começa a vender, se alguém mas fizer, num momento em que por amor à arte estou em vias de comer sola ao almoço e corno ao jantar, talvez me vendesse e vendesse a alma ao diabo. Talvez nessa altura, muitos daqueles que até hoje nem um dedo mexeram para me ajudar, me caíssem em cima, com a boca cheia de condenações, de raios e coriscos, condenando a minha feia acção.
Não é caso para pânico, porém: para gáudio desses críticos, ninguém me ofereceu até hoje preço que eu aceite, nem eu me vendo por preço barato.

- Daí que, pela segunda lei da termodinâmica, eu esteja convencido disto: a quantidade de energia positiva que introduzi no ecossistema, através de um esforço que, de facto, hei-de reconhecer com toda a modéstia, tem algo de absurdo e de colossal, num país de madraços, de preguiçosos, de palermas, de imbecis, de oportunistas e de atrasados mentais.
Estou absolutamente certo (a certeza que me dá a lei física, tão inalterável como a lei da gravidade) de que o yang deste yin que tem sido o meu esforço de parir diariamente um superavit de vida onde os outros vão deixando lixo e cadáveres, há-de florescer por algum lado: não por mérito meu, mas por mérito da natureza que desponta sempre e mesmo que a massacrem muito.
Do que duvido, porém, é que seja suficiente, se poucos mais se derem ao mesmo trabalho de introduzir vida no ecossistema, limitando-se à desgastante entropia de consumir, consumir & consumir, acompanhando essa proveitosa actividade autofágica de maciças destruições de oxigénio, água, solos, clima, património vegetal e animal, de homens e recursos humanos.

- Se haverá ou não futuro possível, depende desta corrida entre os dois corredores: quem chegará primeiro, quem destruirá o outro?

- Você quer que eu lhe responda. Mas ninguém lhe poderá responder porque isso equivalia a poder adivinhar o número da lotaria...
Só a Natureza lhe poderá responder, se houvesse o mínimo de silêncio para a poder escutar (o que chamo sensibilidade ecológica).
Não pode você, enfim, é basear a sua opção ecológica numa antecipada e prévia certeza de que o seu partido ecológico será o vitorioso.

III
- Os movimentos pseudo-esotéricos em que fala, parecem-me todos, de facto, do mais acabado pechisbeque, quando não são pura e simplesmente carapuços mal disfarçados de infiltrações contra-revolucionárias e imperialistas. Esses pseudo, aliás, têm também a função de denegrir e pejorar o verdadeiro esoterismo, que é uma poderosa arma anti-imperialista.

- Como toda a sensibilidade ecológica e toda a inteligência que funciona em espiral, como todo o ser cósmico que se descobre como tal, o amigo afinal procura a linha herética desta anti-civilização da Morte, da qual são afluentes autores, correntes, artistas, poetas, filósofos, alguns contra-cientistas, profetas e profecias que eclodem hoje, todos, na convergência chamada contestação ecológica.
É isto que não percebem os que julgam perceber mais de ecologia. Será esta a grande linha de ruptura e de passagem para outra espécie humana que sucederá à espécie humana.
Pela linha da Heresia passa um mundo em gestação.
O surrealismo e o realismo fantástico são, no tempo, alguns antecedentes muito recentes. Digo-lhe que esse trabalho de historiar a heresia (o movimento ecológico através do tempo e do espaço, afinal) é o que há mais tempo me ocupa e me ocupa mais milhares de páginas escritas, inéditas, na gaveta...

IV
- Uma referência à sua última pergunta: a incompatibilidade entre Ecologia e explosão demográfica. Inevitável...

- Não é necessário recorrer a contra-ideólogos para encontrar a tese neo-maltusiana da explosão demográfica desmistificada: a China Popular e o pensador Josué de Castro demonstraram suficientemente esse sofisma do neo-imperialismo, esse neo-maltusianismo , provando o que o militante da ecologia já nem precisa de provar: que se trata de uma gigantesca e bem orquestrada campanha da internacional tecnofascista contra o terceiro e o quarto mundo da Fome e uma vez que a população é, deste 3º e 4º mundo, a última , definitiva e grande arma absoluta.
Creio mais nela, aliás, para fazer explodir o odre podre do imperialismo e do tecnofascismo, do que na modesta , pequeno-burguesa, idealista e angustiada acção de ecomilitantes como nós...
Aliado do 3º mundo, é no lumpen proletariado - excluído até das obras clássicas do marxismo - que o ecomilitante poderá apoiar-se para constituir um verdadeiro partido revolucionário de emancipação ecológica. Revolução tricontinental igual a revolução ecológica - escrevi algures e por diversas vezes.
Aliás, tudo isto escrevi algures e por diversas vezes a pedido de vários amigos e de várias famílias. Não faço outra coisa do que repetir-me. Tudo isto, meu amigo Francisco Simão, que me fez o grande favor de querer trocar umas impressões nesta imensa e cósmica solidão.
Seu, sempre que queira, Abel Campos Artigot
***

SOFÍSTICA 1989

87-01-01-ie>=ideia ecológica

NO REINO DOS SOFISTAS

[3-1-1987,in «A Capital», Crónica do Planeta Terra] - Quando as ligas para a defesa dos direitos do Homem fazem ouvir os seus sonoros protestos a propósito das penas de morte decretadas por governos que decidiram , assim, resolver alguns dos seus problemas internos, penso na folha de vencimentos de qualquer miserável trabalhador deste País democrático e pluralista em que treze por cento é para o Imposto Profissional, onze por cento é para a Caixa de Previdência (???),quatro por cento é para o Fundo do Desemprego, etc
Pergunto eu, afinal, para onde pende a justiça: se para aqueles que os Estados , coerentemente, condenam à morte, se para aqueles que, incoerente e democraticamente, com cuidados maternais e todo o respeito pelos direitos do Homem, os Estados condenam à vida.
Não ouço ninguém implorar clemência para estes condenados à Vida, concluindo assim que desta condenação faz parte, além do legal e autorizado (Impostos, Previdência, Reforma, Desemprego), sermos devidamente manipulados até à morte para nos mantermos convencidos de que estamos vivos.

NAS RUAS DE LISBOA

Com a desculpa de que vai fazer grandes obras de (fachada e) pavimentação nas ruas de Lisboa, a Câmara deixa esburacar até ao inverosímil os passeios, por onde o peão passa a ser terminantemente proibido de passear ou sequer de passar.
Quando as obras impedem que o peão se aventure para o "meio da rua" , que espaço fica afinal para o peão se locomover? Será que para as consecutivas vereações , Lisboa é uma cidade sem peões onde só os "autos" têm direitos?


NADA DE NOVO NA FRENTE

"Novo" tornou-se a palavra de ordem para políticos em particular e publicitários em geral. Desde as "novas tecnologias" até às "novas democracias" e "novas repúblicas" , toda a gente quer o novo. E os "velhos" onde irão metê-los? Porque não encontram, como o Mao Tse Tung, o meio termo dialéctico entre o novo e o velho? Porque se caminha na corrente de maior facilidade que é a de seguir o "novo" como slogan proclamado por todas as modas? As quais modas, como se sabe, são um dos motores que accionam e auto-reproduzem até ao infinito o sistema triunfal e infernal que leva a rica vida de ir matando os ecossistemas.

OS DEFENSORES DE ALQUEVA

Os defensores de Alqueva e outros colossos piramidais não se cansam de provar, com "números", que as "pequenas barragens" eram inviáveis para Portugal e não resolviam nada dos nossos problemas de abastecimento eléctrico.
Acaba de ser anunciada, em Fevereiro de 1986, a construção de "pequenas barragens" no Algarve, ao abrigo, evidentemente, do Plano Agrícola Comum que a C.E.E. impõe e do Banco de Fomento Nacional.
Desde que a problemática da integração mande, eis que os defensores do "small is beautiful”, passam, por magia, a ter razão. Embora ninguém lha dê, evidentemente, e os alucinados defensores de Alqueva continuem apregoando as suas queridas megalomanias.

ARBORICÍDIO

Quando a defesa do património arquitectónico se tornou moda, logo arautos do discurso sofistico saíram a demonstrar, "com números", que recuperar e restaurar velhos edifícios saía mais caro do que construir novos.
Com o advento de uma certa consciência pública alertada para os vandalismos contra árvores seculares e respectivas quão preciosas raízes que Lisboa ainda guardava, os respectivos serviços camarários tinham de inventar o alibi, sofisma ou justificação para o arboricídio.
E vieram então epidemias , mais ou menos inventadas, a justificar, todos os anos, as razias que as árvores de Lisboa sofrem, não havendo ninguém que até hoje explique para onde diabo vai tanta lenha - e se é para o senhor presidente se aquecer na longa invernia que tem feito.

TEREMOS O QUE MERECEMOS?

A teimosia em consentir as margarinas no mercado alimentar é prova de que o Estado, por enquanto e até ver, não tem o mínimo respeito pela saúde do consumidor .
Verdade seja que o consumidor também não vê um palmo adiante do nariz e basta que a publicidade lhe grite, martelando, para ele acreditar.
Teremos os ácidos sulfúricos que merecemos?

CAMIÕES-GIGANTES

Para o discurso oficial da chamada Segurança Rodoviária, a hecatombe das estradas portuguesas tem culpados visíveis.
Antes de mais e como não pode deixar de ser, o automobilista, cheio de vícios e defeitos; depois, o álcool, o que também não deixa de ser verdade; em terceiro lugar o mau estado das estradas ; e finalmente, o parque automóvel, velho e degradado
Ao indicar as causas, no entanto, ignora-se a principal: a presença em estradas inadequadas do chamado "veículo longo", figura de pavor que de repente inundou o trânsito rodoviário e de que nunca se diz que tem culpas no cartório da Mortandade.
As estatísticas encolhem-se: mas se fossem a fazer o inventário, encontrariam, certamente, na origem dos mais graves acidentes, esses gigantescos monstros de morte e destruição, produto acabado de uma certa estrutura chamada "acumulação capitalista".
Os "monstros" da estrada, aliás, incluem-se na linhagem de transportes perigosos e tóxicos, dos camiões-cisternas circulando com tudo quanto é matéria tóxica, venenosa, inflamável, o diabo!
No meio disto, o inocente sofisma é sempre o motorista ou o veículo ligeiro o culpado, mesmo que os "camiões gigantes" e os "veículos longos" tivessem passado de exótica raridade merecedora de notícia para a regra rotineira do que já não é noticiado.
Mesmo quando claramente está na origem de graves e mortíferos desastres.

ANTI-POLUIÇÃO

[6-9-1986, «A Capital», Crónica do Planeta Terra] - Que a luta anti-poluição passa pelo centro da "luta de classes" era a tese de um livro publicado em 1976 com reportagens sobre ambiente em Portugal, tese que ninguém dos progressistas quis compreender, perguntando alguns onde estava a "luta" , visto não se ver greves nem outras manifestações de rua por causa da poluição...
Agora que no rio Alviela, após uma luta popular persistente de mais de 20 anos, o governo decidiu , em 1980, avançar com um projecto despoluidor ( três estações de pré-tratamento, uma de tratamento biológico e a maior rede de drenagem de águas residuais do País) agora que, depois de uma espera se chega ao momento da verdade, a velha tese (implícita) do já referido livro de 1976, volta à actualidade.
Ao sofisma em causa, chama-se “poluidor-pagador", princípio que tem inspirado as políticas europeias (OCDE e CEE ) de combate à poluição e defesa do Meio Ambiente.
Ora como referiu explicitamente o Secretário de Estado do Ambiente, as pequenas unidades industriais poluidoras "não têm condições absolutamente nenhumas de instalar "mecanismos de pré-tratamento dos efluentes.
Resultado à vista, embora não explicitado por ninguém : instalado um sistema de poluição , os mais poderosos vão instalar a parte que lhes compete mas os mais pequenos não podem, sendo eliminados na concorrência.
A concentração capitalista tem, pois, na anti-poluição o seu aliado de vanguarda. Médios e pequenos tendem a desaparecer, para ficar apenas os grandes. É isto que algumas vozes isoladas tem vindo a dizer e a escrever há uns bons 15 anos. É isto que tem posto nos antípodas ecologia política ou ecologismo crítico e poluição ou ambientocracia, como estratégias de sinal contrário.
Sofisma que muitos ainda não querem compreender, mesmo quando ficarem pelo caminho os pequenos industriais de curtumes, devido à luta anti-poluição em que todos parecem estar de acordo.
Anti-poluição desta é, como se vê, o contrário de ecologia e de luta ecologista como alguns poucos tem tentado dizer no meio da geral surdez de alegados ecologistas.

DEIXAR O PEPINO CRESCER

Anos depois de os "acidentes industriais graves" terem entrado na rotina dos noticiários, anos depois de só as "fugas radioactivas de centrais nucleares" fazerem listas negras que ocupam livros inteiros, anos depois de perecerem populações inteiras e zonas extensas ficarem interditas a qualquer forma de vida, anos depois de Seveso e Three Mile Island, a CEE entendeu emitir a directiva 82/501/CEE relativa aos riscos de acidentes industriais graves em certas actividades industriais, directiva à qual Portugal terá de dar cumprimento a partir da data da adesão.
Resultado: quando a Norma chega, já o povo está suficientemente "esclarecido" para aceitar os desastres como preço do progresso, como fatalidade, sem lhe passar pela cabeça que o melhor para evitar os desastres industriais graves é não admitir que os implantem. De raiz. Como diz o povo, de pequenino se torce o pepino.
Quando a norma surge, porém, o sofisma já está instalado e o povo pronto a receber o progresso.

INTOXICAÇÃO MACIÇA

Comunicação social justifica a sua forma de informar pelas exigências de um público também pouco exigente . Mas o público está condicionado pela intoxicação maciça de publicidade e de propaganda que lhe lavam o cérebro. Exige aquilo que o condicionaram para exigir. Em que ficamos? Mais do que um sofisma, bem evidente, temos um "ciclo vicioso".

SINERGIAS

Através dos jornalistas , que não servem afinal para outra coisa, a Empresa Pública das Águas Livres anunciou aos consumidores que vão ter a "melhor água das capitais europeias" .
Nenhuma das reportagens aparecidas sobre a visita às novas instalações da E.P.A.L. , incluindo a minha, referia o pormenor dos "reagentes químicos" que vão ser usados no "fabrico" da tal melhor água da Europa e arredores.
Moral da fábula, em que os animais são os consumidores: além de serem estes a pagar o custo das grandes obras (22 milhões de contos) a qualidade da água que lhes é, ou vai ser, oferecida, segundo os padrões europeus de qualidade, é uma panóplia de produtos químicos em ignorada sinergia.
O sofisma não é fácil de ver: quando se fala em qualidade, pensa-se na água que irá alimentar as indústrias e não na que o consumidor bebe, com mais químicos do que OH2 propriamente dito.
A classe com poder de compra e algum discernimento, deixou de beber água da torneira e paga a de garrafão.
Por quantos carrinhos, pois, paga o consumidor o beneficio de Lisboa se intitular a cidade que tem a melhor água das capitais europeias?
Que saibamos e para já, paga por três. Até ver.
Entre os reagentes químicos, são de reter, para já, alguns nomes: Ozono, Sulfato de Alumínio, Carbonato de Cálcio, Anidrido carbónico, Cloro, Hidróxido de Cálcio.
Com tanto cloro- claro! - quem vai ter boa água é o estômago industrial, para o qual, aliás, descontando o alarido jornalístico, é feito todo o empreendimento.
***