ecopolítica-2> entre partidos QUEM QUER ASSUMIR E SER VOZ,ATÉ 1991, DA VOZ DOS CIDADÃOS?
“FRENTE ECOLÓGICA” DESAFIA O PPM A MUDAR PARA CONTINUAR (*)
12/8/1987 - Perante a conjuntura política nascida das eleições de 19 de Julho de 1987 e a clarificação permitida pela radicalização dos resultados da votação, é o momento também para que a Oposição, a Resistência e mesmo a Clandestinidade repensem a sua estratégia e a reorganização do seu espaço.
Para os que politicamente se colocaram sempre, antes e depois do 25 de Abril, no campo da pedagogia cívica e política, já que não lhes era dado ou não queriam imiscuir-se nas lutas do poder e pelo poder, esta clarificação vem permitir talvez que se dê ouvidos, finalmente, a quantos até agora, abafados pelo alarido das dissidências entre partidos, não tinham conseguido fazer ouvir as suas teses, em favor das seguintes prioridades:
- Defender os direitos individuais do cidadão
- Reforçar a informação e educação do cidadão no sentido da sua auto-defesa contra os despotismos do poder
- Reorganizar a estratégia (de acção) ecologista, enquadrando-a na vaga de fundo dos direitos humanos
- Reorganizar, na sequência disto, a acção ecologista independente como Oposição Radical-Reformista, Resistência ao Biocídio e, se necessário, Clandestinidade na luta pela sobrevivência contra os cavaleiros da Catástrofe
- Dar prioridade, entre os direitos humanos fundamentais, aos direitos de saúde, vida e segurança como áreas "especializadas" dos movimentos ecologistas e eco-alternativos (e de vida alternativa) convergentes.
Tudo isto, enquanto os partidos lutam pelo poder, chupam o poder, abusam do poder.
A estabilidade governativa finalmente conseguida em Portugal pelo resultado eleitoral de
16 de Julho de 1987, ao mesmo tempo que remete para a sua natural insignificância partidos que há muito perderam a sintonia das necessidades reais e fundamentais do cidadão, provoca a natural e normal convergência de partidos e individualidades que até agora mantiveram sempre, através de todas as dificuldades e contratempos, o límpido sentido da verdadeira e importante prioridade: os direitos fundamentais do indivíduo, nas suas diferentes variáveis ou componentes:
Consumidor
Criança
Eleitor
Jovem
Morador
Munícipe
Peão
Terceira Idade
Trabalhador
O risco de despotismos vários e vários abusos do poder sobre toda esta tipologia de cidadãos que o governo de uma esmagadora maioria faz prever, conduz à mesma necessidade: organizar a resistência dos cidadãos aos despotismos do poder, que eventualmente irão pôr em cheque os direitos humanos.
Admitir ou não admitir, fomentar ou não fomentar, encorajar ou desencorajar iniciativas, acções, associações, movimentos, organizações, projectos e até partidos que tenham os direitos humanos e sua defesa na primeira linha das suas prioridades, vai passar a ser a pedra de toque para ajuizar sobre o governo de um partido que se diz social-democrata.
Ele será tanto mais social-democrata quanto mais iniciativas apoiar ou não hostilizar em defesa dos direitos do cidadão .
Ele será tanto menos social-democrata quanto mais iniciativas desapoiar ou hostilizar.
Não é esta, aliás, a menor virtude da actual situação.
Dia a dia, hora a hora, este governo será julgado pelo cidadão eleitor em função do que fizer contra ou do que fizer pró os direitos fundamentais elementares do cidadão.
Na "Frente Ecológica", não só se preconizou sempre esta doutrina que agora se torna imperativa, como se previu que a actuação partidária da chamada Esquerda, obsessivamente preocupada com os lutas de poder e pelo poder, iria inevitavelmente conduzir à actual situação.
Os factos autorizam assim a "Frente Ecológica", no seu gueto de fala-só, a que a surdez mental dominante neste país a remeteu, a propor uma convergência cívica que se poderá concretizar ou não num partido.
É de notar, aliás, como na conjuntura pré-eleitoral vários partidos tatearam, à última hora, uma doutrina similar, onde os movimentos cívicos e sociais, de ideias e culturais, as alternativas de vida e as propostas de tecnologias ecológicas apareciam caricaturadas, no discurso desses partidos e com meros objectivos eleitoralistas.
Mas foi o próprio ar de improviso, claramente detectado pelos eleitores, que condenou à partida esses partidos como pretensos porta-vozes da mensagem alternativa e eco-alternativa.Não por ser alternativa ou ecologista, mas por ser postiça, falsa e claramente oportunista.
A haver algum partido que possa, neste momento, em 3 de Agosto de 1987, reorganizar-se de forma a liderar o grande movimento dos direitos e eco-direitos humanos, a "Frente Ecológica" tem motivos para acreditar que o Partido Popular Monárquico será essa oportunidade, se (condição sine qua non) perder as veleidades de conquista do poder da forma , directa e igual aos outros partidos, como até agora o fez.
Se o PPM quiser hibernar - o tempo tacticamente necessário - como veículo da mensagem monárquica ( para vencimento da qual ainda muita coisa "verde" terá que amadurecer), poderá renascer como veículo de uma mensagem agora mais do que nunca pronta a entrar como dinâmica da opinião pública.
A "Frente Ecológica" espera que o PPM encontre forças e bom senso para renascer em breve como Partido Popular dos Cidadãos, que há muito falta neste País como terceiro Partido além dos dois grandes da alternância.
"Frente Ecológica" espera, sinceramente espera, que finalmente haja uma formação partidária capaz de ouvir as sugestões que durante 15 anos andámos a pregar.
Somos dos poucos que não tivemos de ir ao Anahory, em véspera de eleições, mudar de toucado e guarda-roupa, para ficarmos a par dos tempos e em cima dos acontecimentos.
Por isso somos dos poucos com algum direito e moral para exigir que nos ouçam, quantos se arrogam o direito de dizer que lutam pelos direitos ecológicos do homem e da Natureza.
12 de Agosto de 1987
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(*) Com o título “Projecto Ecologista” – Ser voz dos cidadãos, e sem referências concretas ao PPM e outras, este texto foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra),
13/2/1988 ***