HOLÍSTICA 1994
telmo-0>telmo-1>milenio>cartas> - mein kampf 13/maio/1994
MANIFESTO DE UM RESSAIBIADO
Lisboa, 13/Maio/1994 - Quando, há 15 anos, fiz aparecer pela primeira vez a palavra «holística» na imprensa portuguesa, estava longe de acreditar que, 15 anos depois, em 13 de Maio de 1994, havia de ler, nos jornais, um anúncio do III Congresso Europeu Holístico de Saúde.
Quando, há 20 anos, me atrevia a defender o ambiente, contra 9 milhões, 999 portugueses que eram a favor do progresso, estava longe de imaginar que, em 1994, vinte anos depois, um Presidente da República viesse proclamar a defesa do Ambiente como a primeira prioridade, coadjuvado por um batalhão de universitários e, provavelmente, pelos 9, 999 milhões de portugueses que provavelmente continuam a ser, ao mesmo tempo, a favor do progresso e amigos indefectíveis da Natureza.
Quando, desde há 30 anos, na Sociedade Portuguesa de Naturologia, defendia as terapias holísticas e a profilaxia natural, estava longe de supor que iriam surgir, no mercado, em 1994, suplementos de «Saúde» nos principais jornais diários e, a coroar essa iniciativa, uma revista intitulada «Saúde» em papel couché.
Longe estava também de ver o Círculo de Leitores editar, em 1994, e no mesmo trimestre, uma obra em dez volumes sobre «Tratamento Natural» e uma outra obra que se chama «Farmácia Natural». Meses antes, já a editora Selecções do Reader's Digest publicara uma obra monumental sobre medicinas naturais, isto para não falar das inúmeros livros sobre Plantas Medicinais.
Quando há 30 anos eu entrava clandestinamente em uma Ervanária, não fosse a medicina mandar-me prender, estava longe de pensar que, em 1994, estaria em formação uma Associação Nacional de Ervanárias, para congregar as mais de 3 mil ervanárias disseminadas pelo País.
Quando, há trinta anos, a dietética era apenas o João Santos da Diese e o Júlio Roberto do ITAU, era impensável que o João Santos viesse a ser presidente do Benfica sem abdicar do seu negócio e que Júlio Roberto continuasse à testa das edições ITAU, no meio de uma próspera actividade de «alimentação racional».
Quando, há 5 anos, tive que ser testemunha de Vítor Cunha, o melhor acupunctor português, acusado em tribunal pela Ordem dos Médicos, não poderia acreditar que, meses volvidos, o bastonário da dita e dura Ordem, Machado Macedo, fosse denunciado pelo jornal «Tal & Qual» como frequentador assíduo de um acupuncturista da Linha. Não houve escândalo mas Macedo não voltaria a ser eleito: tiveram que o meter nas arrecadações do São Carlos.
Quando, em 1975, eu me mostrava um dos únicos portugueses que combatiam a barragem de Alqueva - em aliança e cumplicidade com os mortos do cemitério da Aldeia da Luz - estava longe de supor que, em 1994, o cavaquismo mais a CE se viriam aliar à maioria de esquerda que sempre quis Alqueva para consumar o maior desastre a que este país de impávidos poderá assistir no próximo sexténio.
Quando, nos anos 80, num encontro de associações de defesa do Património, apresentei a medo uma comunicação em defesa dos moinhos de maré, sob os olhos furibundos do actual presidente da Câmara do Seixal, quem iria adivinhar que a Câmara do Seixal faria, em 1994, dos seus moinhos de maré um cliché político-turístico de grande impacto ambiental?
Quando, para o jornal «O Século», depois para o «Portugal Hoje», depois para «A Capital» escrevi dezenas de artigos e reportagens sobre energias renováveis - a que na altura eu chamava ecológicas, com risco da própria vida - não previa que, 18 anos volvidos, o LNETI do prof. Veiga Simão, tivesse definitivamente enterrado as referidas Energias Renováveis, provando o departamento respectivo de como eram perigosas, subversivas e indesejáveis as supraditas ecoenergias (solar, ondas, marés, biogás, eólica, etc).
Quando eu editava em 1975 um folheto em papel verde intitulado «A Casa Ecológica» - recebido com risos fungados de todos os progressistas - e quando, em ------, publicava uma manchete em «A Capital» sobre a mesma «casa ecológica», não podia imaginar que, já na década de 80, a Faculdade de Ciências do Porto adoptasse um projecto-piloto a que chamou «casa termicamente optimizada» com o patrocínio dos Vidros da Covina, ali para as bandas de Sacavém.
Quando, desde os anos 60, desafiei as iras de todos os 9, 999 milhões de portugueses progressistas, defendendo o artesanato popular (rural, não urbano), as tecnologias de aldeia, as indústrias tradicionais, a cultura não erudita, jamais imaginei que, trinta anos depois, um órgão do progresso e ao serviço da ordem pública como o semanário «Expresso», se atrevesse a publicar, com honras de cacha, em 24 de Maio de 1994, uma série de cinco fascículos (cinco!), dito «Arte Factos», dossiês de artesanato com as «preciosidades de cada região». Quem diria que o órgão da intelligenzia portuguesa, a frente popular dos intelectuais, poderia descer tão baixo? E ainda faz anúncio prévio, como se fosse uma grande proeza.
Quando andei, nos anos 70, entrevistando para «O Século» tudo o que mexia nas áreas das energias e tecnologias leves em Portugal, nem sonhava que, a 19 de Maio de 1994, uma revista progressista chamada «Visão», desse na secção europeia a notícia verdadeiramente pornográfica de que a União Europeia (agora chama-se assim) «vai conceder ajudas aos Estados-membros que desenvolvam acções a favor da produção de energias renováveis». Pelo que pude saber, só os estados com um grande Membro é que terão direito a que tal cornucópia de benesses. Nós, portugueses, com um Membro pequenino (caixa baixa) vamos ter direito, sim, mas é a receber os resíduos tóxicos dos grandes (membros), os excrementos deles, como aliás eu também preconizava nos idos anos 60, se não me engano em artigos que escrevi para o jornal «Barlavento» (Ver e confirmar com prova escrita).
Quando, nos anos 60 e 70, fui tantas vezes assobiado por ter defendido uma política de reciclagem sistemática - à semelhança do que já então de se fazia com a reciclagem do Plutónio subproduzido das centrais para fabrico de bombas termonucleares - quando a reciclagem era olhada, nestes anos, como um atentado à economia vigente (que prevê, preconiza e necessita o Desperdício), ninguém, e muito menos eu, acreditaria que, 20 anos depois, em 20/5/1994, o jornal «Correio da Manhã» haveria de anunciar um tal Di Berardino (vendedor de digestores anaeróbicos de biogás), um tal INETI que se interessa por, um tal Sistema de Incentivos à Utilização Racional de Energia (SIURE) e uns tais biodigestores em Portugal, em número de meia centena (apenas, referia o «Correio da Manhã»). Juro que já me tinha esquecido do Biogás, na altura considerado um «terceiro mundismo» execrável, ainda por cima condenável pela OMS que atribuía doenças da China ao uso imoderado de excrementos reciclados. Só não fui, nessa altura, apelidado rei dos excrementos, porque não havia coroa que me pusessem. Mas de pró-indiano e pró chinês, isso sim, além de fascista, claro. Fascistas hoje, portanto, são o tal Berardino, o tal INETI, o tal SIURE, o tal «Correio da Manhã».
Quando em 1974, na escola Superior de Medicina Veterinária, um qualquer catedrático me interpelava, perguntando se eu odiava a química, por ter feito publicar na editora Estúdios Cor um livro intitulado «A Química que Mata», não pude profetizar ao veterinário universitário, que o «Expresso» de 14/Maio/1994, havia de incluir uma lista giríssima de substâncias químicas que matam e moem antes de matar, ou viceversa. Nem vale a pena dar-me ao trabalho de reproduzir aqui o meu ódio à química que mata, pois do «expresso» extraio tão eloquente lição cívica. Assim:
«Alguns possíveis efeitos na saúde pública de substâncias tóxicas:
Arsénio - acção cancerígena, alterações gastrointestinais e efeitos ao nível dermatológico
Cádmio - provoca hipertensão e problemas cardio-vasculares. Inibe o crescimento e deforma o esqueleto
Cobre - Afecta o sistema nervoso e os rins. Provoca inflamações gastrointestinais
Chumbo - acumula-se nos tecidos moles, particularmente no cérebro. Alterações do sistema nervoso central e do funcionamento dos rins
Mercúrio - acumula-se no fígado, rins, cérebro, coração, e pulmões. Pode ter efeitos mutagénicos
Níquel - interfere no aparelho respiratório por inalação, podendo provocar cancro nos pulmões
Zinco - alterações de coordenação muscular, balanço electrolítico, podendo provocar dores abdominais, letargias, náuseas, falhas renais
(In «Expresso», 14/Maio/1994)»
Quem disse que a química matava?
Quando, nos anos 80, uma engenheira química de Sacavém escrevia ao director do meu jornal, incitando-o o despedir-me por eu ter escrito algumas dúvidas sobre o poder mortificante das Margarinas, ainda não havia União Europeia e portanto ainda não tinham sido proibidos os venenos químicos na alimentação que durante estes anos todos temos papado, por ordem da União Europeia. Em 19/Maio/1994, eis que a revista «Visão» divulga, ao fundo da página, esta despicienda notícia com efeitos retroactivos interessantíssimos:
«É proibido o emprego conjunto de solventes de extracção, como o hexano e a metiletilcetona, utilizados no fabrico de produtos alimentares e seus ingredientes. Uma directiva-quadro reduz de dez para dois miligramas a quantidade de diclorometanoalicada no café torrado. É igualmente proibida a utilização de acetona na refinação do azeite.
(in «Visão», 19/Maio/1994)
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telmo-2> milenio>
- Anuário Holístico para o Ano 2000, porquê?
- Porque às décadas do Corpo, que foram os anos 80 e 90 vai suceder-se, velozmente, a década do Espírito: e é preciso uma revista - mensário ou anuário - que seja porta-voz dessa ponte, dessa passagem entre duas Eras.
- É necessário dar as notícias do mundo que finda e do mundo que vai nascer: nenhuma publicação ainda o faz, neste momento, existem apenas revistas pontuais que enfatizam um outro aspecto do velho mundo, um ou outro aspecto do Novo Mundo
- Trata-se, efectivamente, de anunciar a felicidade a todos os seres humanos e não humanos: daí que haja uma certa urgência, antes que a Humanidade se suicide por desespero de não encontrar saída para o Mundo Velho
- Ninguém melhor do que a Meribérica para avançar com um projecto destes, pois a felicidade é a melhor oferta que se poderá dar aos filhos dos nossos filhos e aos netos dos nossos netos
- Tem este projecto apoio publicitário?
- Não só tem apoio publicitário como sobra: não existe neste momento nenhuma revista que, cobrindo toda a vastidão da área holística, dê saída a toda a vasta gama de produtos e consumos de um mercado em expansão: todo aquele mercado que diz respeito ao culto e à mística do Corpo, mas também aquele mercado que diz respeito ao Culto e à Mística do Espírito, em franco desenvolvimento e expansão, porque as próprias condições cósmicas e a era zodiacal o impõem: não ganhamos nada em contrariar as tendências que convergem no Ano 2000, temos apenas que entender a Lei Cósmica, aprendê-la e sintonizar com ela. Uma revista - mensário ou Anuário - chamada «Terceiro Milénio» poderá perfeitamente corresponder a essas exigência objectiva
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telmo-3>cartas>milenio>
Lisboa, 24/Maio/1994
Telmo Protásio, Meu Prezado Amigo: Tal como o combinado, vou estar aqui na «Teleculinária» para lhe fazer, durante 12 números (12 meses), o «Guia do Consumidor». Aproveitarei a oportunidade para lhe preparar, também, embora ninguém me tenha pedido, a grelha de partida de uma nova revista (mensário ou anuário) que se intitulará «Terceiro Milénio», com o subtítulo «A Revista do Ano 2000» ou «Notícias da Idade de Ouro». A contagem das datas será decrescente, começando no Ano 6 antes do ano 2000, até ao ano zero que será o fim do 2º e o princípio do 3º Milénio. Acho que é o momento de ir pensando nesta data e preparando as duas décadas da Nova Idade de Ouro que se avizinha a passos largos. Ninguém me pediu nada disto, é certo, e o meu amigo vai com certeza ficar surpreendido deste trabalho que lhe quero oferecer. Eu próprio estou surpreendido com a ideia e pergunto-me porque é que ninguém até agora se lembrou dela. Mercado não falta: pululam as actividades que preparam o Novo Advento - desde as ecológicas e holísticas até às esotéricas e espirituais, por vezes em grande confusão. É necessário e urgente separar o trigo do joio, a Esperança do Desespero, coisa em que me considero perito, talvez porque levei a vida a não fazer outra coisa. Neste momento, os sinais de esperança começam a falar mais alto do que as trombetas do Apocalipse, e no entanto ainda poucos deram por isso. Acho que o Telmo é um dos que já deram por isso. Aproveitando o mercado nascente e em expansão que está aí à espera de uma revista «especializada» onde anunciar, é o momento, creio, de oferecer essa revista a esse mercado, pois é o momento de lançar a grande mensagem da Nova Idade de Ouro. Acho que tinha de ser assim. E o «Guia do Consumidor» foi apenas um bom pretexto para chegar até si com esta carta, com este projecto, que me parece irrecusável. Estou trabalhando nele 48 horas por dia... E acho que vou continuar, mesmo que o meu amigo hesite, por agora, em aceitá-lo. Só tenho receio de surgir por aí alguém a fazer isto primeiro do que nós. Porque:
1º - Isto tem de ser feito
2º - Isto vai ser feito
3º - Isto só pode ser feito por si (eu dou uma ajudinha...)
Escusado será dizer que esta mensagem é ultraconfidencial, porque senão, amanhã, aparece nas bancas uma revista futurista e holística do grupo Berardo.
Este projecto não tem nada a ver, embora pareça, com qualquer seita religiosa dessas que anunciam o apocalipse e a forma de salvar as nossas almas... É um tempo de grande confusão, este nosso, e até por isso uma revista poderá ter um papel pedagógico de extrema importância. A pouco e pouco vou-lhe deixando alguns textos preparatórios (e justificativos) do projecto, nomeadamente o «Know how» necessário e apropriado ao caso. Acho que o próximo ano seria óptimo - é o 5º antes do ano zero -> Nova Idade de Ouro.
Voltarei a dar-lhe notícias do ano 2000.
Um abraço do AC
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MANIFESTO DE UM RESSAIBIADO (CONTINUAÇÃO)
-> No Reino da Cucolândia
-> Tantos Sapos Vivos, Chiça
-> Memorandum retro
-> Afinal tinha Razão, embora antes do Tempo
Quando, em 26/10/1980 me interrogava, no jornal «A Capital», sobre «Os Mistérios do Mar» e sobre «O Mistério dos Afundamentos de Cargueiros» fenómeno então quase diário, podia lá saber que, em 26/Maio/1993, 13 anos mais tarde, o Comissário Mega Ferreira iria enviar-me uma carta a convidar-me para um brain storming sobre os oceanos, porque entrementes os oceanos ficaram na moda, todos os comissários começaram a defendê-los e a ficar preocupados com o suicídio das baleias e outros mamíferos de grande porte que não era costume, antes do petróleo e das radiações, suicidarem-se. Espero que a Expo 98, auge da civilização que deu mundos ao mundo e extinguiu praticamente as espécies, incluindo as de alto mar, venha dar a resposta às perguntas que ficaram sem resposta - sobre a extinção dos oceanos, no meu artigo de 26/10/1980 e de 15/11/1980 de «A Capital». Que até nem tenho a certeza se ficou inédito. Por isso guardo o original, bastante mal dactilografado graças a Deus.
Mais títulos publicados sobre Oceanos:
- Internacional Ecologista, in CPT, 15/11/1980
- Alarmismo, CPT, 15/11/1980
- Fundos Oceânicos, CPT, 15/11/1980
- Sismos no Mar - A Grande Vaga do Natal, CPT, 3/1/1981
- SOS Oceanos, CPT, 28/3/1981
Quando, em -----, me atrevi a imaginar que alguém no futuro, com espírito de negociante, havia de vir a defender a Natureza porque era um bom investimento na indústria Turística, estava longe de acreditar que em 1994 se publicasse (e já vai no número 30) um pasquim chamado «Ambutur», que se subintitula [---]
Quando (em que ano e em que termos medrosos ) defendi eu a agricultura a que chamei (simplesmente) ecológica e que hoje se chama biológica, não antevia tão solene presença, a do Secretário de estado do Ambiente e Defesa do Consumidor, Joaquim Poças Martins, na sessão de encerramento do 8º Encontro Nacional de Agrobiologia ?(Cf. «Consumidor», do INDC)
MANIFESTO DE UM RESSAIBIADO
Lisboa, 13/Maio/1994 - Quando, há 15 anos, fiz aparecer pela primeira vez a palavra «holística» na imprensa portuguesa, estava longe de acreditar que, 15 anos depois, em 13 de Maio de 1994, havia de ler, nos jornais, um anúncio do III Congresso Europeu Holístico de Saúde.
Quando, há 20 anos, me atrevia a defender o ambiente, contra 9 milhões, 999 portugueses que eram a favor do progresso, estava longe de imaginar que, em 1994, vinte anos depois, um Presidente da República viesse proclamar a defesa do Ambiente como a primeira prioridade, coadjuvado por um batalhão de universitários e, provavelmente, pelos 9, 999 milhões de portugueses que provavelmente continuam a ser, ao mesmo tempo, a favor do progresso e amigos indefectíveis da Natureza.
Quando, desde há 30 anos, na Sociedade Portuguesa de Naturologia, defendia as terapias holísticas e a profilaxia natural, estava longe de supor que iriam surgir, no mercado, em 1994, suplementos de «Saúde» nos principais jornais diários e, a coroar essa iniciativa, uma revista intitulada «Saúde» em papel couché.
Longe estava também de ver o Círculo de Leitores editar, em 1994, e no mesmo trimestre, uma obra em dez volumes sobre «Tratamento Natural» e uma outra obra que se chama «Farmácia Natural». Meses antes, já a editora Selecções do Reader's Digest publicara uma obra monumental sobre medicinas naturais, isto para não falar das inúmeros livros sobre Plantas Medicinais.
Quando há 30 anos eu entrava clandestinamente em uma Ervanária, não fosse a medicina mandar-me prender, estava longe de pensar que, em 1994, estaria em formação uma Associação Nacional de Ervanárias, para congregar as mais de 3 mil ervanárias disseminadas pelo País.
Quando, há trinta anos, a dietética era apenas o João Santos da Diese e o Júlio Roberto do ITAU, era impensável que o João Santos viesse a ser presidente do Benfica sem abdicar do seu negócio e que Júlio Roberto continuasse à testa das edições ITAU, no meio de uma próspera actividade de «alimentação racional».
Quando, há 5 anos, tive que ser testemunha de Vítor Cunha, o melhor acupunctor português, acusado em tribunal pela Ordem dos Médicos, não poderia acreditar que, meses volvidos, o bastonário da dita e dura Ordem, Machado Macedo, fosse denunciado pelo jornal «Tal & Qual» como frequentador assíduo de um acupuncturista da Linha. Não houve escândalo mas Macedo não voltaria a ser eleito: tiveram que o meter nas arrecadações do São Carlos.
Quando, em 1975, eu me mostrava um dos únicos portugueses que combatiam a barragem de Alqueva - em aliança e cumplicidade com os mortos do cemitério da Aldeia da Luz - estava longe de supor que, em 1994, o cavaquismo mais a CE se viriam aliar à maioria de esquerda que sempre quis Alqueva para consumar o maior desastre a que este país de impávidos poderá assistir no próximo sexténio.
Quando, nos anos 80, num encontro de associações de defesa do Património, apresentei a medo uma comunicação em defesa dos moinhos de maré, sob os olhos furibundos do actual presidente da Câmara do Seixal, quem iria adivinhar que a Câmara do Seixal faria, em 1994, dos seus moinhos de maré um cliché político-turístico de grande impacto ambiental?
Quando, para o jornal «O Século», depois para o «Portugal Hoje», depois para «A Capital» escrevi dezenas de artigos e reportagens sobre energias renováveis - a que na altura eu chamava ecológicas, com risco da própria vida - não previa que, 18 anos volvidos, o LNETI do prof. Veiga Simão, tivesse definitivamente enterrado as referidas Energias Renováveis, provando o departamento respectivo de como eram perigosas, subversivas e indesejáveis as supraditas ecoenergias (solar, ondas, marés, biogás, eólica, etc).
Quando eu editava em 1975 um folheto em papel verde intitulado «A Casa Ecológica» - recebido com risos fungados de todos os progressistas - e quando, em ------, publicava uma manchete em «A Capital» sobre a mesma «casa ecológica», não podia imaginar que, já na década de 80, a Faculdade de Ciências do Porto adoptasse um projecto-piloto a que chamou «casa termicamente optimizada» com o patrocínio dos Vidros da Covina, ali para as bandas de Sacavém.
Quando, desde os anos 60, desafiei as iras de todos os 9, 999 milhões de portugueses progressistas, defendendo o artesanato popular (rural, não urbano), as tecnologias de aldeia, as indústrias tradicionais, a cultura não erudita, jamais imaginei que, trinta anos depois, um órgão do progresso e ao serviço da ordem pública como o semanário «Expresso», se atrevesse a publicar, com honras de cacha, em 24 de Maio de 1994, uma série de cinco fascículos (cinco!), dito «Arte Factos», dossiês de artesanato com as «preciosidades de cada região». Quem diria que o órgão da intelligenzia portuguesa, a frente popular dos intelectuais, poderia descer tão baixo? E ainda faz anúncio prévio, como se fosse uma grande proeza.
Quando andei, nos anos 70, entrevistando para «O Século» tudo o que mexia nas áreas das energias e tecnologias leves em Portugal, nem sonhava que, a 19 de Maio de 1994, uma revista progressista chamada «Visão», desse na secção europeia a notícia verdadeiramente pornográfica de que a União Europeia (agora chama-se assim) «vai conceder ajudas aos Estados-membros que desenvolvam acções a favor da produção de energias renováveis». Pelo que pude saber, só os estados com um grande Membro é que terão direito a que tal cornucópia de benesses. Nós, portugueses, com um Membro pequenino (caixa baixa) vamos ter direito, sim, mas é a receber os resíduos tóxicos dos grandes (membros), os excrementos deles, como aliás eu também preconizava nos idos anos 60, se não me engano em artigos que escrevi para o jornal «Barlavento» (Ver e confirmar com prova escrita).
Quando, nos anos 60 e 70, fui tantas vezes assobiado por ter defendido uma política de reciclagem sistemática - à semelhança do que já então de se fazia com a reciclagem do Plutónio subproduzido das centrais para fabrico de bombas termonucleares - quando a reciclagem era olhada, nestes anos, como um atentado à economia vigente (que prevê, preconiza e necessita o Desperdício), ninguém, e muito menos eu, acreditaria que, 20 anos depois, em 20/5/1994, o jornal «Correio da Manhã» haveria de anunciar um tal Di Berardino (vendedor de digestores anaeróbicos de biogás), um tal INETI que se interessa por, um tal Sistema de Incentivos à Utilização Racional de Energia (SIURE) e uns tais biodigestores em Portugal, em número de meia centena (apenas, referia o «Correio da Manhã»). Juro que já me tinha esquecido do Biogás, na altura considerado um «terceiro mundismo» execrável, ainda por cima condenável pela OMS que atribuía doenças da China ao uso imoderado de excrementos reciclados. Só não fui, nessa altura, apelidado rei dos excrementos, porque não havia coroa que me pusessem. Mas de pró-indiano e pró chinês, isso sim, além de fascista, claro. Fascistas hoje, portanto, são o tal Berardino, o tal INETI, o tal SIURE, o tal «Correio da Manhã».
Quando em 1974, na escola Superior de Medicina Veterinária, um qualquer catedrático me interpelava, perguntando se eu odiava a química, por ter feito publicar na editora Estúdios Cor um livro intitulado «A Química que Mata», não pude profetizar ao veterinário universitário, que o «Expresso» de 14/Maio/1994, havia de incluir uma lista giríssima de substâncias químicas que matam e moem antes de matar, ou viceversa. Nem vale a pena dar-me ao trabalho de reproduzir aqui o meu ódio à química que mata, pois do «expresso» extraio tão eloquente lição cívica. Assim:
«Alguns possíveis efeitos na saúde pública de substâncias tóxicas:
Arsénio - acção cancerígena, alterações gastrointestinais e efeitos ao nível dermatológico
Cádmio - provoca hipertensão e problemas cardio-vasculares. Inibe o crescimento e deforma o esqueleto
Cobre - Afecta o sistema nervoso e os rins. Provoca inflamações gastrointestinais
Chumbo - acumula-se nos tecidos moles, particularmente no cérebro. Alterações do sistema nervoso central e do funcionamento dos rins
Mercúrio - acumula-se no fígado, rins, cérebro, coração, e pulmões. Pode ter efeitos mutagénicos
Níquel - interfere no aparelho respiratório por inalação, podendo provocar cancro nos pulmões
Zinco - alterações de coordenação muscular, balanço electrolítico, podendo provocar dores abdominais, letargias, náuseas, falhas renais
(In «Expresso», 14/Maio/1994)»
Quem disse que a química matava?
Quando, nos anos 80, uma engenheira química de Sacavém escrevia ao director do meu jornal, incitando-o o despedir-me por eu ter escrito algumas dúvidas sobre o poder mortificante das Margarinas, ainda não havia União Europeia e portanto ainda não tinham sido proibidos os venenos químicos na alimentação que durante estes anos todos temos papado, por ordem da União Europeia. Em 19/Maio/1994, eis que a revista «Visão» divulga, ao fundo da página, esta despicienda notícia com efeitos retroactivos interessantíssimos:
«É proibido o emprego conjunto de solventes de extracção, como o hexano e a metiletilcetona, utilizados no fabrico de produtos alimentares e seus ingredientes. Uma directiva-quadro reduz de dez para dois miligramas a quantidade de diclorometanoalicada no café torrado. É igualmente proibida a utilização de acetona na refinação do azeite.
(in «Visão», 19/Maio/1994)
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- Anuário Holístico para o Ano 2000, porquê?
- Porque às décadas do Corpo, que foram os anos 80 e 90 vai suceder-se, velozmente, a década do Espírito: e é preciso uma revista - mensário ou anuário - que seja porta-voz dessa ponte, dessa passagem entre duas Eras.
- É necessário dar as notícias do mundo que finda e do mundo que vai nascer: nenhuma publicação ainda o faz, neste momento, existem apenas revistas pontuais que enfatizam um outro aspecto do velho mundo, um ou outro aspecto do Novo Mundo
- Trata-se, efectivamente, de anunciar a felicidade a todos os seres humanos e não humanos: daí que haja uma certa urgência, antes que a Humanidade se suicide por desespero de não encontrar saída para o Mundo Velho
- Ninguém melhor do que a Meribérica para avançar com um projecto destes, pois a felicidade é a melhor oferta que se poderá dar aos filhos dos nossos filhos e aos netos dos nossos netos
- Tem este projecto apoio publicitário?
- Não só tem apoio publicitário como sobra: não existe neste momento nenhuma revista que, cobrindo toda a vastidão da área holística, dê saída a toda a vasta gama de produtos e consumos de um mercado em expansão: todo aquele mercado que diz respeito ao culto e à mística do Corpo, mas também aquele mercado que diz respeito ao Culto e à Mística do Espírito, em franco desenvolvimento e expansão, porque as próprias condições cósmicas e a era zodiacal o impõem: não ganhamos nada em contrariar as tendências que convergem no Ano 2000, temos apenas que entender a Lei Cósmica, aprendê-la e sintonizar com ela. Uma revista - mensário ou Anuário - chamada «Terceiro Milénio» poderá perfeitamente corresponder a essas exigência objectiva
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Lisboa, 24/Maio/1994
Telmo Protásio, Meu Prezado Amigo: Tal como o combinado, vou estar aqui na «Teleculinária» para lhe fazer, durante 12 números (12 meses), o «Guia do Consumidor». Aproveitarei a oportunidade para lhe preparar, também, embora ninguém me tenha pedido, a grelha de partida de uma nova revista (mensário ou anuário) que se intitulará «Terceiro Milénio», com o subtítulo «A Revista do Ano 2000» ou «Notícias da Idade de Ouro». A contagem das datas será decrescente, começando no Ano 6 antes do ano 2000, até ao ano zero que será o fim do 2º e o princípio do 3º Milénio. Acho que é o momento de ir pensando nesta data e preparando as duas décadas da Nova Idade de Ouro que se avizinha a passos largos. Ninguém me pediu nada disto, é certo, e o meu amigo vai com certeza ficar surpreendido deste trabalho que lhe quero oferecer. Eu próprio estou surpreendido com a ideia e pergunto-me porque é que ninguém até agora se lembrou dela. Mercado não falta: pululam as actividades que preparam o Novo Advento - desde as ecológicas e holísticas até às esotéricas e espirituais, por vezes em grande confusão. É necessário e urgente separar o trigo do joio, a Esperança do Desespero, coisa em que me considero perito, talvez porque levei a vida a não fazer outra coisa. Neste momento, os sinais de esperança começam a falar mais alto do que as trombetas do Apocalipse, e no entanto ainda poucos deram por isso. Acho que o Telmo é um dos que já deram por isso. Aproveitando o mercado nascente e em expansão que está aí à espera de uma revista «especializada» onde anunciar, é o momento, creio, de oferecer essa revista a esse mercado, pois é o momento de lançar a grande mensagem da Nova Idade de Ouro. Acho que tinha de ser assim. E o «Guia do Consumidor» foi apenas um bom pretexto para chegar até si com esta carta, com este projecto, que me parece irrecusável. Estou trabalhando nele 48 horas por dia... E acho que vou continuar, mesmo que o meu amigo hesite, por agora, em aceitá-lo. Só tenho receio de surgir por aí alguém a fazer isto primeiro do que nós. Porque:
1º - Isto tem de ser feito
2º - Isto vai ser feito
3º - Isto só pode ser feito por si (eu dou uma ajudinha...)
Escusado será dizer que esta mensagem é ultraconfidencial, porque senão, amanhã, aparece nas bancas uma revista futurista e holística do grupo Berardo.
Este projecto não tem nada a ver, embora pareça, com qualquer seita religiosa dessas que anunciam o apocalipse e a forma de salvar as nossas almas... É um tempo de grande confusão, este nosso, e até por isso uma revista poderá ter um papel pedagógico de extrema importância. A pouco e pouco vou-lhe deixando alguns textos preparatórios (e justificativos) do projecto, nomeadamente o «Know how» necessário e apropriado ao caso. Acho que o próximo ano seria óptimo - é o 5º antes do ano zero -> Nova Idade de Ouro.
Voltarei a dar-lhe notícias do ano 2000.
Um abraço do AC
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MANIFESTO DE UM RESSAIBIADO (CONTINUAÇÃO)
-> No Reino da Cucolândia
-> Tantos Sapos Vivos, Chiça
-> Memorandum retro
-> Afinal tinha Razão, embora antes do Tempo
Quando, em 26/10/1980 me interrogava, no jornal «A Capital», sobre «Os Mistérios do Mar» e sobre «O Mistério dos Afundamentos de Cargueiros» fenómeno então quase diário, podia lá saber que, em 26/Maio/1993, 13 anos mais tarde, o Comissário Mega Ferreira iria enviar-me uma carta a convidar-me para um brain storming sobre os oceanos, porque entrementes os oceanos ficaram na moda, todos os comissários começaram a defendê-los e a ficar preocupados com o suicídio das baleias e outros mamíferos de grande porte que não era costume, antes do petróleo e das radiações, suicidarem-se. Espero que a Expo 98, auge da civilização que deu mundos ao mundo e extinguiu praticamente as espécies, incluindo as de alto mar, venha dar a resposta às perguntas que ficaram sem resposta - sobre a extinção dos oceanos, no meu artigo de 26/10/1980 e de 15/11/1980 de «A Capital». Que até nem tenho a certeza se ficou inédito. Por isso guardo o original, bastante mal dactilografado graças a Deus.
Mais títulos publicados sobre Oceanos:
- Internacional Ecologista, in CPT, 15/11/1980
- Alarmismo, CPT, 15/11/1980
- Fundos Oceânicos, CPT, 15/11/1980
- Sismos no Mar - A Grande Vaga do Natal, CPT, 3/1/1981
- SOS Oceanos, CPT, 28/3/1981
Quando, em -----, me atrevi a imaginar que alguém no futuro, com espírito de negociante, havia de vir a defender a Natureza porque era um bom investimento na indústria Turística, estava longe de acreditar que em 1994 se publicasse (e já vai no número 30) um pasquim chamado «Ambutur», que se subintitula [---]
Quando (em que ano e em que termos medrosos ) defendi eu a agricultura a que chamei (simplesmente) ecológica e que hoje se chama biológica, não antevia tão solene presença, a do Secretário de estado do Ambiente e Defesa do Consumidor, Joaquim Poças Martins, na sessão de encerramento do 8º Encontro Nacional de Agrobiologia ?(Cf. «Consumidor», do INDC)