ORDER BOOK

*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-10

IDEOLOGIA 1992

1-1 - 92-05-10-di> = diário de um idiota - unidª-9>

FÓRMULA MÁGICA PARA DEFINIR UNIDEOLOGIA

10/5/1992

Fórmula mágica para definir, em poucas palavras, a Unideologia, é colocar no plural alguns conceitos (aquilo a que chamei «conceitos alargados») que habitualmente se pretendem, por reducionismo ideológico, datar historicamente em um lugar e sítio determinado.
Exemplo de palavras que podem (e devem) ser postas no plural para encontrar nelas a extensão semântica da Unideologia:
- Não há uma Perestroika mas várias perestroikas
- Não um Estalinismo mas vários estalinismos
- Não há um fascismo mas vários fascismos
- Não há uma Mafia mas várias Mafias
- Não há um Totalitarismos mas vários totalitarismos
- Não há um Capitalismo mas vários capitalismos
Metáfora? Mas não é a Metáfora o princípio de tudo (da linguagem pelo menos) e a explicação da História? Ver «Simulacros e Simulações», de Jean Baudrillard.
***

AMBIENTE 1992

1-1 - 92-05-10-di-cw> = diário de um idiota = complete work - memªs-81> inéditos ac - memórias da «frente ecológica»

COMO PODIA EU,COM TAL VINAGRE, APANHAR MOSCAS?

[10-5-1992]

Na página 20 deste verdadeiro «manifesto» pela radicalidade do realismo ecologista, exemplifica-se o tipo de «linguagem» que me perdeu, que me tornou a lepra de todos os ambientes e meio-ambientes. Especialmente dos meios. E dos partidos (ao meio).
Como podia eu, com tal vinagre, apanhar moscas?
Talvez por isso, é que esse texto, esse manifesto -- totalmente virgem de publicação -- permanece mais actual do que nunca, 10 anos volvidos [ o texto em apreço foi escrito em 20/5/1981 e repescado em 10/11/1990 - e teclado em 10/5/1992].
O inconsciente «deslumbramento» a que me entregava, na raiva explosiva de ter uma verdade na boca - e no coração - sistematicamente censurada -- é hoje motivo do meu próprio auto-compungimento.
Porque me arriscava eu? Porque acreditei eu, alguma vez, que as pessoas queriam verdade em vez do Cancro que, de facto, querem? Não sabia eu já, nessa altura (em 1981) que tudo no Mundo, à excepção das últimas resistências religiosas como o budismo tibetano, está controlado pela rede e pelas subredes da Unideologia?
Que raio de suicídio assumido foi sempre este meu? E não queria eu ter, aos 58 anos [em 10/11/1990] a cara empergaminhada que tenho? O Machado Macedo é capataz das Multinacionais Farmacêuticas e ainda tem mais sulcos na cara do que eu, como queria eu ter cara de gente e de paz?
Penso que este texto de 1981 (20/5) é mesmo um daqueles condenados a ficar póstumo!
Amen.
***

ESCOLA 1982

1-1 - frente-1-GG> os guardas do gulag

METER OS POLÍTICOS NA ESCOLA DA VIDA (QUOTIDIANA)

10 de Maio de 1982 - Volta e meia os políticos promovem realizações para "sensibilizar as massas".
No entender deles, as "massas" é que precisam de ser mentalizadas, educadas, "alertadas", como eles dizem - e outras coisas em idas.
Jamais alguém diz ou se lembra de que é preciso sensibilizar, educar, mentalizar os políticos. Que precisam todos de ir para a Escola. Que estão mesmo a necessitar reciclagem e tratamento de choque. Que se encontram em total carência de palmatória e jardim de infância.
Quem diz políticos, diz técnicos seus consultores.
Uma "biblioteca dos tempos difíceis" teria a seu cargo essa função didáctica.
Entre outras coisas que importa ensinar aos especialistas, o quotidiano da vida é (devia ser) a matéria-prima de toda a política: os factos, a realidade, o quotidiano, o dia a dia dos cidadãos - como "vivem" mal e morrem (pior) as pessoas deste País.
Porque os políticos não sabem, são totalmente analfabetos de factos, remexem-se num aquário de ideologia e fantasmagorias, de mitos e sofismas, de textos e pretextos, de intelectualismo e teoria, aquário de águas podres e estagnadas.
Ignoram no fundo o "tecido" social, a "rede" viva que constitui a trama da política.
Por isso a política é esta casa de fantasmas e correntes arrastando-se pelos sinistros corredores dos ministérios e nem só.
Por isso a crise.
Por isso a miséria de estar.
O que os senhores políticos precisam é um duche de realidade.
E a Biblioteca dos Tempos Difíceis pode dar-lhes esse duche de realidade, preparando numa primeira fase uma listagem de factos que os senhores políticos acham sem importância e, numa segunda fase, a análise, interpretação e leitura inteligente dessa listagem.
Na Biblioteca dos Tempos Difíceis existe já reunido um acervo de recortes de Imprensa, material que pode ser um bom princípio de formação básica para todo e qualquer político que se preze.
Até porque desse quadro pouco edificante de factos que é a psicopatologia do quotidiano em Portugal, os primeiros grandes responsáveis são, em globo, os senhores das classes dirigentes, que bem podiam, graças a Deus, ser menos estúpidos e matricular-se a tempo numa Escola de Instrução Primária .
É o que sugerimos.
***

Etiquetas:

ARQUEOLOGIA AC 1992

1-2 - 92-05-10-di-cw> = 5 estrelas diário de um idiota – complete works
4332 caracteres - unidª-8>


ACHADOS ARQUEOLÓGICOS EM UMA CAIXA DE BANANAS

Lisboa, 10/5/1992 - J.C.M.: vê tu o que me arranjaste com o teu desafio europeu para escrever uma síntese didáctica sobre Unideologia.
Vou desencantar recantos desta casa que já condenara ao silêncio e, ao abrir uma caixa de bananas da marca Turbana (Colômbia), eis que me salta lá de dentro um insólito conjunto de atados submetidos ao tema «macrosistema contra ecossistemas».
Quem guarda, acha. E eu achei, pensando que esse tema já era, ou antes, já tinha sido impopular, nos tempos em que eu me especializei em temas impopulares (malditos & tabus). Vejo agora, com satisfação, as várias rubricas em que o material da dita caixa de bananas - Inéditos AC + Publicados AC + recortes de Imprensa - se distribui:
- As contradições do sistema que vive de ir matando os ecossistemas
- Notícias do Mar (1968-1972): um mistério contemporâneo [experiência vivida em 4 anos a traduzir telegramas da France Presse, na redacção da dita em Lisboa]
- Precipitação provocada (chuva artificial): uma tecnologia que não chegou a vingar [ verificação a posteriori ]
- O discurso dos Eurocratas (a fonte mais pura da Unideologia)
- A ideologia (desenvolvimentista) do (sistema do) crescimento «económico» : a lógica irreversível da Asneira
- Balanços do Século (inventários da Abjecção)
Atado com especial carinho, vou encontrar um conjunto muito desconjuntado de textos bárbaros submetidos ao tema sempre aliciante e policiesco : «Fontes e efeitos biológicos das Radiações» (tema onde particularmente se sente a tua marca e a marca de iniciativas como aquela que nos levou de visita a Vila Nova de Mil Fontes.
O tema desdobra-se em alguns outros e eis que desta caixinha de Pandora se libertam vapores melífluos que dão pelo nome de «protecção civil contra radiações», «defesa contra guerra nuclear», «radioactividade: uma actividade diária», «Chernobyl continua» (sabes que uma tese por mim inventada refere que Chernobyl foi o princípio do Fim, quer dizer, o incidente/acidente que, como reacção em cadeia, levou à inevitabilidade da Perestroika e sequelas? Para mim, o acidente continua e o reactor não foi neutralizado: mas se vou pensar muito nisto, acabo por acordar mijado de medo...).
Outros títulos, igualmente apocalípticos, posso notar neste atado de inéditos e publicados, muito ao jeito do bombástico tom que me criou a bonita fama de sensacionalista e demagogo:
- O mistério do fascínio pelos romances policiais (lendo agora o Jean Baudrillard, numa obra altamente excitante traduzida em português - «Simulacros e Simulações» - convenço-me de que algumas teses heréticas s/ Ecologia Humana não eram afinal tão obnóxias como me faziam crer os neopositivistas meus amigos)
- Calão técnico - arma de opressão
- Os adoradores do Progresso
- Para uma Antologia do Sofisma - Exemplo: estratégia ecológica e tácticas antipoluentes - O argumento da antiguidade tem dois gumes - A sofística ambientocrata [ outro nome para a Unideologia]
- A escalada da tecnoestrutura - Exemplo: o sofisma da «luta biológica» em agricultura
Mas onde esta caixa de bananas da Colômbia me fez dar pulos de contentamento foi ao descobrir nela um discreto molhinho de inéditos, dactilografados a limpo e com ar de trabalho sistemático organizado (coisa nunca vista nesta casa), imagina tu sobre quê: sobre a Unideologia. Estava afinal a papinha já feita e eu aqui em palpos de aranha para corresponder ao teu desafio europeu. Pois bem: segundo a folha de rosto deste pequeno dossiê, o sumário de itens desdobra-se assim:
Lógica da destruição e alarmismos apocalípticos - Quem é pessimista e quem é optimista? - Ciclos viciosos, escaladas, processos descontrolados, rupturas e desequilíbrios - Consciência ou ignorância: informar ou calar? - Quem fomenta o desespero?
And so on, and so on... É muita fruta, muita banana, mas em estado de amadurecimento que propincua já a tal síntese para uso das escolas e criancinhas afectas que me pediste. Haja esperança, porque ainda hei-de chegar -- definitivamente -- às quatro páginas por ti pedidas. Pelo processo das destilaria sucessivas, que é o que alquimica e hermeticamente mais me agrada.
Sem a tua providencial instigação, não teria feito esta descoberta arqueológica em uma caixa de bananas colombianas: reparo que, no final do dossiê, existem umas dez páginas sob a rubrica « A Crise Planetária: síntese das sínteses». A papa já feita e eu aqui às aranhas a tentar fazer o que já estava + ou - feito.
Como se diz nos Evangelhos, «TUDO ESTÁ (JÁ) ESCRITO».
Teu irmão AC
***

NINHARIAS 1980

80-05-10-pa> = projectos de ac – inédito ac de 1980

RESPONDER AO CIDADÃO UM SERVIÇO NACIONAL DE RECLAMAÇÕES

10/5/1980 - Um Serviço Nacional de Reclamações era um Serviço que já podia estar instalado, se houvesse dos poderes públicos alguma vontade de servir os cidadãos nas suas reais necessidades.
Se a Democracia não fosse só verbal, um número de telefone que atendesse, dia e noite, as vozes mais diversas, seria, pelo menos, uma válvula de escape para o desespero, a solidão e a angústia de muito cidadão.
Esse Serviço teria por função remeter o requerente para as pistas e vias mais adequadas a cada caso.
Ouviria com atenção os problemas e tomaria nota dos endereços para eventuais respostas e esclarecimentos.
Democracia não é só exigir tudo, a toda a hora, dos cidadãos.
É também, e ao menos, ouvir o que ele tem para pedir ou sugerir.
A secção "Cartas do Leitor" de alguns jornais é um dos poucos canais onde o cidadão pode veicular directamente o seu protesto, opinião, apelo ou desabafo.
De resto, a chamada "opinião pública" é uma ficção, uma blague, uma figura de retórica, enfim, uma abstracção que faz muita falta à falta de assunto dos jornalistas e para arredondar a frase.
Contra o ruído, os impostos e a poluição, contra as árvores arrancadas e as bichas anacrónicas, contra a burocracia do Estado e o Estado da Burocracia, contra o aumento dos combustíveis, da comida e das rendas de casa, contra injustiças, abusos e atropelos do poder, contra firmas que vendem produtos deteriorados, contra falcatruas de misérias e uísques falsificados, lá vai havendo eco, difuso e confuso, de algumas vozes das que por sistema não têm voz.
O trabalho dos que sustentam a Democracia Parlamentar (e dela se sustentam) pretende, sim, fazer crer que desde que exista constituição e canais constitucionais, o cidadão está totalmente a salvo dos atropelos. E verá respeitados os seus direitos.
Mas a democracia parlamentar tem tanto a ver com democracia (directa ) como um ovo com um espeto...
Claro que o cidadão não vê respeitados direitos nenhuns, vê-se é cada vez mais obrigado a cumprir cada vez mais deveres.
As situações verdadeiramente kafkianas em que burocracias, serviços públicos, repartições, mangas de alpaca, etc., colocam o cidadão, mal podem chegar ao canto que os jornais dedicam às cartas do leitor.
O cidadão está, de facto, entregue à bicharada. Ainda que tenha todos os direitos e mais um consignados na Constituição, a verdade é que na prática e na realidade dura do dia a dia, da rua, do emprego, dos vagos e abstractos sistemas da tecno estrutura, não há lei, nem tribunais, nem Constituição que lhe valha.
Quem defende, por exemplo, os que não têm vínculo profissional ou laboral? Quem defende as donas de casa?
Quem defende, inclusive, os reformados, as crianças, os jovens, as mulheres?
Quem defende o peão, o munícipe, o utente, o consumidor, o pagador de impostos na condição de pagador?
Vamos esperar que haja tempo e deputado que se ocupe de tais "ninharias"?
Um "Movimento dos Cidadãos" para promover a nossa defesa enquanto seres concretos contra as instituições abstractas, cínicas, brutalmente legais no seu anonimato e distanciamento?
Uma "Carta ao Director" de vez em quando, não chega. Até porque há milhões que não sabem escrever...
Os próprios desempregados enquanto desempregados - e por muito estranho que isso possa parecer - não têm quem os defenda enquanto tal, enquanto força potencialmente subversiva ... Eles servem, unicamente, de estandarte demagógico (para os políticos continuarem a fazer-lhes promessas de emprego) ou de reserva de ameaça para os que, agora empregados, têm no desemprego o aviso duplo: de um lado, para suportarem melhor a opressão dos patrões; e do outro lado, para reivindicarem menos.
***

TECNOESTRUTURA

unidª-8>

ACHADOS ARQUEOLÓGICOS EM UMA CAIXA DE BANANAS

Lisboa, 10/5/1992 - José Carlos: vê tu o que me arranjaste com o teu desafio europeu para escrever uma síntese didáctica sobre Unideologia. Vou desencantar recantos desta casa que já condenara ao silêncio e, ao abrir uma caixa de bananas da marca Turbana (Colômbia), eis que me salta lá de dentro um insólito conjunto de atados submetidos ao tema «macrosistema contra ecossistemas». Quem guarda, acha. E eu achei, pensando que esse tema já era, ou antes, já tinha sido impopular, nos tempos em que eu me especializei em temas impopulares (malditos & tabus). Vejo agora, com satisfação, as várias rubricas em que o material da dita caixa de bananas - Inéditos AC + Publicados AC + recortes de Imprensa - se distribui:
- As contradições do sistema que vive de ir matando os ecossistemas
- Notícias do Mar (1968-1972): um mistério contemporâneo [experiência vivida em 4 anos a traduzir telegramas da France Presse, na redacção da dita em Lisboa]
- Precipitação provocada (chuva artificial): uma tecnologia que não chegou a vingar verificação a posteriori ]
- O discurso dos Eurocratas (a fonte mais pura da Unideologia)
- A ideologia (desenvolvimentista) do (sistema do) crescimento «económico» : a lógica irreversível da Asneira
- Balanços do Século (inventários da Abjecção)
Atado com especial carinho, vou encontrar um conjunto muito desconjuntado de textos bárbaros submetidos ao tema sempre aliciante e policiesco : «Fontes e efeitos biológicos das Radiações» (tema onde particularmente se sente a tua marca e a marca de iniciativas como aquela que nos levou de visita a Vila Nova de Mil Fontes. O tema desdobra-se em alguns outros e eis que desta caixinha de Pandora se libertam vapores melífluos que dão pelo nome de «protecção civil contra radiações», «defesa contra guerra nuclear», «radioactividade: uma actividade diária», «Chernobyl continua» (sabes que uma tese por mim inventada refere que Chernobyl foi o princípio do Fim, quer dizer, o incidente/acidente que, como reacção em cadeia, levou à inevitabilidade da Perestroika e sequelas? Para mim, o acidente continua e o reactor não foi neutralizado: mas se vou pensar muito nisto, acabo por acordar mijado de medo...).
Outros títulos, igualmente apocalípticos, posso notar neste atado de inéditos e publicados, muito ao jeito do bombástico tom que me criou a bonita fama de sensacionalista e demagogo:
- O mistério do fascínio pelos romances policiais (lendo agora o Jean Baudrillard, numa obra altamente excitante traduzida em português - «Simulacros e Simulações» - convenço-me de que algumas teses heréticas s/ Ecologia Humana não eram afinal tão obnóxias como me faziam crer os neopositivistas meus amigos)
- Calão técnico - arma de opressão
- Os adoradores do Progresso
- Para uma Antologia do Sofisma - Exemplo: estratégia ecológica e tácticas antipoluentes - O argumento da antiguidade tem dois gumes - A sofística ambientocrata [ outro nome para a Unideologia]
- A escalada da tecnoestrutura - Exemplo: o sofisma da «luta biológica» em agricultura
Mas onde esta caixa de bananas da Colômbia me fez dar pulos de contentamento foi ao descobrir nela um discreto molhinho de inéditos, dactilografados a limpo e com ar de trabalho sistemático organizado (coisa nunca vista nesta casa), imagina tu sobre quê: sobre a Unideologia. Estava afinal a papinha já feita e eu aqui em palpos de aranha para corresponder ao teu desafio europeu. Pois bem: segundo a folha de rosto deste pequeno dossier, o sumário de itens desdobra-se assim:
Lógica da destruição e alarmismos apocalípticos - Quem é pessimista e quem é optimista? - Ciclos viciosos, escaladas, processos descontrolados, rupturas e desequilíbrios - Consciência ou ignorância: informar ou calar? - Quem fomenta o desespero?
And so on, and so on... É muita fruta, muita banana, mas em estado de amadurecimento que propincua já a tal síntese para uso das escolas e criancinhas afectas que me pediste. Haja esperança, porque ainda hei-de chegar -- definitivamente -- às quatro páginas por ti pedidas. Pelo processo das destilaria sucessivas, que é o que alquimica e hermeticamente mais me agrada.
Sem a tua providencial instigação, não teria feito esta descoberta arqueológica em uma caixa de bananas colombianas: reparo que, no final do dossiê, existem umas dez páginas sob a rubrica «A Crise Planetária: síntese das sínteses». A papa já feita e eu aqui às aranhas a tentar fazer o que já estava + ou - feito. Como se diz nos Evangelhos, «TUDO ESTÁ (JÁ) ESCRITO».
Teu irmão Afonso
***

NUCLEAR 1986

1-4 - domingo, 19 de Janeiro de 2003 - chernobyl-2> os dossiês do silêncio

TECNO-TERROR NUCLEAR EM CENA O DIABO NÃO DORME (*)

«Não houve reacção em cadeia em Chernobyl.» (Mas se tivesse havido? E quando houver?)
«Sacos de areia, chumbo e boro foram atirados de helicóptero.» (Quem seria o humano, mesmo da melhor defesa civil do mundo, capaz de se chegar às radiações?)


10/5/1986 - Chernobyl agora é que paga as favas todas. Não é justo.
Radioactividade que se detecte a mil ou cem mil quilómetros, é logo atribuída ao desastre ocorrido em 26 de Abril de 1986, na União Soviética, a 120 quilómetros de Kiev.
Não é justo mas compreende-se. Dado o alarme e todo o mundo se põe a farejar os roentgens a mais por minuto, de contador Geiger em punho.
Resultado: como andam à procura, encontram. Aliás, fala-se das percentagens registadas relativas ao nível «normal», mas não se diz que «nível normal» é esse: há muito que se sabe que em matéria de radiações, não são os níveis ou doses menores só por isso e por si, menos graves.
Em muitos locais, não encontram agora mais do que encontrariam antes de Chernobyl. Só que, agora, dado o alarme, é que se lembram de ir cheirar, de ir medir...
Esta história faz lembrar a outra: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?

E ALMARAZ?

De singular e inédito, em mais este acidente com reactores nucleares, apenas o facto de a notícia ter transpirado para a opinião pública mundial e de a agência noticiosa soviética Tass ter confirmado o acidente, embora sem adiantar pormenores.
De resto, os acidentes em centrais nucleares entraram há muito na rotina (e, portanto, no silêncio das agências de informação). A comprovar a «banalização» do fenómeno está o silêncio que, na península Ibérica, tem rodeado e continua a rodear o caso da central nuclear de Almaraz, debruçada sobre o rio Tejo, onde despeja resíduos radioactivos, a 200 quilómetros da fronteira portuguesa.
A Associação Amigos da Terra, em comunicado de há poucos dias, chamava a atenção para a «falha no sistema de refrigeração da Central Nuclear de Almaraz», o que pode dar um acidente semelhante ao que acaba de acontecer na UniãoSoviética, ou ao que deu brado, em 1979, nos Estados Unidos, com a Central Nuclear de Three Mile Island (Pensilvânia).
Como não podia deixar de ser e porque o diabo não dorme (Deus é que sim e a sono solto), o «terror nuclear» volta à cena informativa nacional e internacional, por mais que os ,,lobbies,, do Plutónio quisessem fazer correr uma cortina de silêncio sobre o assunto.
E o assunto é que, nos EUA e na União Soviética, primeiros países no mundo a construir centrais nucleares, os reactores estão, na sua maior parte, a entrar no período final de «vida» e, tal como se previa, acusam fugas e falhas por tudo o que é sítio. Se o caso, na União Soviética, pode ser por «velhice», não significa que centrais «jovens», como a de Almaraz, em Espanha, não tenham logo na infância e ao nascer, problemas tão ou mais graves do que as da primeira geração, agora moribundas.
A maior cortina de silêncio sobre o nuclear acaba de ser rompida, na União Soviética, com o reconhecimento do acidente: estamos, de facto, perante um facto histórico (a notícia), significando esta «quebra do segredo» uma viragem na política desinformativa em vigor desde há muitos anos em todo o mundo.

POR CÁ TUDO BEM

Em Portugal, felizmente, e como sempre, estamos livres de perigo. As autoridades tranquilizaram logo todo o País, de Leste a Oeste e de Norte a Sul.
Não sabíamos que Portugal estava tão bem apetrechado de ,,monitoring,, radioactivo. Vi na televisão os aparelhos que detectam tudo quanto é radioso e rabioso. Também não sabia que essa sofisticadíssma aparelhagem consegue, desde o LNETI, onde está instalada, ali, no Império do Paço do Lumiar, rastrear o País todo de lés-a-lés, de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Deve ser como as sondagens, é por amostragem...
As coisas que Chernobyl e por causa de Chernobyl fomos saber!
O Dr. António Manuel Baptista, por exemplo, com o exemplo que deu do cigarro, disse que, afinal, as irradiações à distância e a longo prazo pouca diferença fazem de um cigarro já que, como dizia o outro, «a longo prazo estamos todos mortos».
Quanto aos indícios de cancro que inevitavelmente irão subir, na área de Chernobyl, os Drs.. Baptistas são mais discretos e nada dizem.
Aliás, não estamos nós «irradiados» sempre e desde toda a eternidade... de radiação natural?
Mas este sofisma que veio de novo à tona por causa de Chernobyl, é já habitual e clássico no discurso dos nucleocratas.
Verdadeiramente novo para as novas gerações foi saberem que existe uma última e subtil poluição (radioactiva), além daquelas todas que o sr. professor lá na escola já teve ocasião de lhes descrever. Poluições, ópios do povo e da juventude!
Mas esta radioactiva, foi novidade para muitos. Os manuais escolares são parcos em denunciá-la. Preferem encher os ouvidos da juventude com fumos e esgotos.
Qualquer esperança que houvesse de um desastre como o de Chernoby1 servir para alguma coisa - servir para fazer recuar o terror nuclear, por exemplo e os vendedores de reactores - perdeu-se com a Cimeira de Tóquio, onde apenas se reforçaram medidas de segurança (!!!) radioactiva.
Os sete grandes industriais não vão desistir do terror nuclear, vão é arranjar (dizem) máscaras antigás, contadores Geiger para o menino e para a menina e pílulas de iodo para distribuir defensivamente à população civil.
O que poderia ter sido um dissuasor da provável guerra nuclear e um atenuador da «escalada», acaba por ser uma «boa experiência» (com a Humanidade por cobaia), capaz de encorajar o programa de novos reactores, logo de mais resíduos, logo de mais plutónio, logo de mais bombas e logo de mais probabilidades de guerra atómica.
«Arrumada» a radioactividade de Chernoby1 (quando? como?), com mais ou menos esforço e sacos atirados de helicóptero, a palavra de ordem será cada vez mais segurança (?) para cada vez mais centrais nucleares e já que ainda não foi desta que aconteceu a tão esperada «reacção em cadeia» que os teóricos atómicos desde o princípio dizem poder acontecer.
Segurança nas centrais nucleares não falta, isso já nós sabíamos de tanto nos gritarem tão gritante mentira. Mas, como o Miguel Calado Lopes escreveu neste jornal: «Uma central é absolutamente segura até ao momento em que o acidente acontece.»

HIPÓTESES LOUCAS

Alguns cronistas do planeta Terra puseram, a propósito de Chernobyl, hipóteses loucas de pasmar.
Imagine-se que, com os três falhanços do programa espacial norte-americano, desde o princípio do ano, já falam de «sabotagem» antiamericana, havendo logo quem fale de sabotagem anti-soviética em Chernobyl.
Mais: desastres industriais como o de Chernobyl, em indústrias de morte como é, do princípio ao fim do circuito, a indústria nuclear, podiam muito bem ser atribuídas a sabotadores «verdes» que querem, cada vez mais, ver desacreditada a desastrosa e desastrada sociedade industrial.
Perspectiva animadora, mesmo para optimistas incuráveis como nós em matéria de progresso, é que Chernoby1 comprova, mais uma vez, o que já se suspeitava: nada mais vulnerável do que uma central nuclear.
Se a luta contra o terrorismo internacional, tão badalada na sua acepção estrita e unilateralmente apontada só contra Kadhafi, transformado em bode expiatório, não descobre essa vulnerabilidade, deixando-a presa do terrorismo, em sentido estrito, já pensaram como vai ser divertido?
Que serviços secretos, aliás, serão capazes de distinguir entre «acidente planeado» e «acidente ocasional»?
Pergunta aterrorizadora: onde está o terrorismo e contra qual deles as populações civis têm, acima de tudo, que se precaver?
Qual dos terrorismos preferir? Em sentido estrito ou em sentido lato?

ACIDENTE MÁXIMO E MÁXIMA SEGURANÇA

Mais coisas ficámos a saber com o acidente «máximo» da Ucrânia: só as radiações que matam logo, são perigosas, quer dizer, só as grandes doses prejudicam o ser vivo.
Ora, há muito que os maiores radiobiologistas demonstraram o sofisma: as baixas radiações trazem sequelas, a curto e médio prazos, que, nem por serem fulminantes e mortais no imediato instante, são menos prejudiciais à célula viva, animal ou vegetal.
Chernobyl veio pôr na ordem do dia esta realidade: teremos que nos habituar a viver entre radiações e suas consequências, pois os quatrocentos reactores que existem hoje no mundo, por muito seguros que estejam, debitam sempre alguma radioactividade para o ambiente e, se há coisas que se sabem há muito, é que a radioactividade tem efeitos cumulativos, uma vez que o ambiente não a digere.
Sem falar dos resíduos atirados para a fossa dos Açores e outras fossas, ou para minas de sal-gema ou para... não admira que, postos os contadores Geiger a farejar o ambiente, o «bip-bip» cresça por tudo quanto é sítio.
Se o «acidente máximo» aconteceu no país que todos concordam ser o mais apetrechado em segurança nuclear, é bom que todos reflictam nas próximas consequências deste elogio. Nas menos apetrechadas como a Espanha, por exemplo, como será?

FUGAS DE INFORMAÇÃO, SOLIDARIEDADE RADIOACTIVA

Não é justo que se atire com o odioso para Chernobyl, quando todos os grandes e médios, a Leste e a Oeste, têm tantas ou mais culpas (e acidentes) no cartório do que a URSS.
A diferença é só de informação. O silêncio de Estado, neste país, torna qualquer fuga (de informação), muito mais sensacional do que a táctica-técnica adoptada pelos Estados-papagaios das liberais democracias que, ao fim e ao resto, como temos vindo a dizer nesta crónica, «banalizaram o terror nuclear», figurando os acidentes nucleares em breves três linhas de uma página de anúncios...
Se é verdade que a informação sobre Chernobyl veio tarde e filtrada (e filtrada continuará), será que temos mais a congratular-nos com os «barretes» como os que, aqui em Portugal, nos enfiam, dizendo que está tudo normal e as radiações todas medidas, uma semana depois de a central de Almaraz estar avariada pela onésima vez?
Entre o silêncio imposto por uma superpotência fechada e este insulto feito à população pela tecnocracia radioactiva que temos em Portugal, que mais censura prévia admirar?
As novidades mais excitantes do processo Chernobyl, com efeito, verificaram-se no campo informativo, ou seja, no refinamento radioactivo da intoxicação desinformativa, tão habitual sempre que se trate de noticiar desastres da desastrosa e abjecta sociedade industrial.
Célebre ficou o desfasamento entre os dois mortos da versão oficial e os dois mil das fontes não oficiais.
Mas as colorações diferentes dadas à notícia, conforme a cor partidária dos informadores, foram até ao requinte: enquanto um diário matutino falava do auxílio pedido à AIE (Agência de Energia Atómica), pela URSS, outro matutino frisava que Moscovo pedira auxílio... a Pretória.
Uma das novidades que se evidenciaram com o caso Chernobyl, foi a implícita solidariedade internacional subitamente expressa entre irmãos do peito: para lá da ideologia aparente (e como sempre sublinhámos nestas crónicas) com que nos divertem e distraem, há uma ideologia profunda, o imperialismo industrial, que une todos, no mesmo lugar comum radioactivo, o Leste e o Ocidente.
- - - - -
(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra),10/5/1986
***