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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-17

SISMOS 1979

sismos-2> temas recorrentes – temas de fundo – os dossiês proibidos – documentos para a história

A RELAÇÃO DE CAUSA/EFEITO ENTRE EXPERIÊNCIAS ATÓMICAS E SISMOS(*)

17/5/1979 - A cada novo sismo em áreas tectónicas contíguas dos perímetros onde as duas superpotências atómicas realizam ensaios subterrâneos com bombas nucleares, impõe-se à consciência mundial e à humanidade inteira, o dever de perguntar se não teria havido, mais uma vez, evidente relação de causa-efeito entre bomba e sismo.
A cada terramoto com a violência do que em 16 de Abril de 1979 atingiu a Jugoslávia (província de Montenegro) e a Albânia, no litoral do mar Adriático, não se pode mais calar a pergunta: houve ou não explosão subterrânea? E a humanidade inteira exige que o segredo tão bem guardado por acordo entre as duas grandes potências atómicas - E.U.A. e U R.S.S.- seja quebrado.
Só no ano de 1978, foram tantos os casos verificados e registados em que a uma explosão se seguiu um terramoto destruidor, que não é mais possível omitir a terrível mas cada vez mais verosímil hipótese de relação directa entre potentes explosões subterrâneas e sismos violentíssimos.
Tão-pouco o desanuviamento internacional e a honra destas potências pode estar à mercê de uma desconfiança como foi o caso, em 1978, em que o cientista Heinz Kaminski do Observatório de Bochum (R.F.A), revelava ter havido uma experiência subterrânea da União Soviética no perímetro de Semipalantinsk, momentos antes do sismo que devastou Tabas e outras cidades do Irão (balanço: 30 mil mortos).
Não era a primeira vez que se denunciava tal relação - bomba causadora de sismo- nem era a primeira vez que as potências atómicas, à falta de poderem provar fosse o que fosse, se limitavam a emitir formais desmentidos de que tivesse havido relação entre bomba e sismo.
Haja ou não haja relação - e tudo indica que há - é hoje uma exigência mínima a que os povos mais atingidos (como os do Adriático e do Mar Negro) fazem e terão de fazer: saber, ao menos, a cada sismo de proporções catastróficas, se houve ou não houve bomba. Ou quando e a que horas vai haver nova explosão, que pode originar mais um sismo.
O regime de segredo totalitário que envolve estas experiências tem que ser quebrado, sob pena de se transformar em escândalo internacional que urgentemente exige um novo tribunal de Nuremberga.
A humanidade, atingida ou não directamente pelos sismos causados por bombas, tem o direito de saber, ao menos, quando e quantas explodem, quer os cientistas (a soldo das potências militares) continuem afirmando que não há relação, quer se remetam ao silêncio cínico que lhes é peculiar.
A humanidade tem o direito de saber que as bombas (não) provocam sismos mas, para isso, a condição sine qua non é saber quando e quantas bombas rebentam, ora no perímetro soviético de Semipalantinsk, ora no deserto do Nevada (E.U.A.)
A honorabilidade das excelsas potências atómicas não pode estar à mercê de um cientista como Heinz Kaminski - o único que eu saiba a denunciar este estupendo crime contra a humanidade - e a humanidade não pode esperar saber as experiências que se vão realizando através de denúncias feitas por cientistas como esse da Alemanha Federal ou mesmo quando o Laboratório de Upsala se lembra de registar os rebentamentos e as agências internacionais de os anunciar ou não ao Mundo.
A humanidade quer ao menos saber em que hora e dia vai morrer nos escombros.
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(*) Publicado no jornal «Correio da Manhã», 17/5/1979
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PROSPECTIVA 1971

1-1 - 71-05-17-di> terça-feira, 10 de Dezembro de 2002-scan

ALTERNATIVAS PARA O CONGESTIONAMENTO(*)

17-5-1971 - O modus vivendi ocidental goza, pelo menos, de uma particularidade curiosa. Gera em si próprio os anti-corpos que irá reabsorver e assimilar. Tudo o que de valioso se tem criado é por oposição ao meio, ao sistema, à ordem estabelecida. Autor ou movimento que permaneça, nasce sempre por oposição.
Chamo crítica a essa permanente oposição do espírito criador, inovador e revolucionário contra o status quo.
Há quem queira hoje limitar todos os problemas ao status quo burguês e, portanto, que a oposiçao anti-burguesa seja a única viável e lícita. Depois de feita a revolução anti-burguesa, todas as outras estão automatica-mente feitas.
Ora é aqui que entro em discordância não só com a crítica de esquerdas mas com certos opositores ditos "tecnocratas" e que se dedicam à Prospectiva ou Futurologia.
Não estou com a Prospectiva quando pretende apenas prolongar, sem mutação, as estruturas da sociedade tecnológica tal como está e fala de um futu-ro super-industrializado em. que capitalismo e comunismo "deixariam de ter sentido." Evidentemente que não compartilho desta ingenuidade política.
Mas estou com a Prospectiva quando se apresenta como alternativa para o "congestionamento" que se verifica na civilização tecnológica e super-industrializada, para criticar esse congestionamento e propor alternativas.
E não estou com a crítica de esquerdas, quando esta se limita a uma análise económica do capitalismo, terminando com essa e nessa análise a sua oposição ao sistema. Penso que o sistema, não só enquanto ordem burguesa e estrutura capitalista, terá ainda muito mais a contestar.
Assim pensaram alguns líders do movimento de Maio 68. Temos de continuar a contestar, mesmo quando alguns param em determinado status quo que se pretende revolucionário e que diz ter substituído o stats quo anteri-or. Será o que se chama contestação permanente?
Sei de cor um dos argumentos usados: tanto o capitalismo como o comunismo fazem-se com a tecnologia e se é contra o teor tecnológico (tecnocrático, dizem alguns) da civilização o que se insurgem hoje muitos críticos, a revolução que pretendem é contra a tecnologia e não já contra um ou outro dos dois sistemas políticos.
A pergunta é: a civilização terá fatalmente que seguir a lógica tecnológica, ou pode inflectir em outros sentidos, em outro sentido? Pode haver alternativas? E podem coexistir vários modus vivendi? O carácter totalitário e absolutista da civilização tecnológica não impedirá exactamente que vivam e sobrevivam minorias out?
Estas minorias out não pretendera impor urbi et orbi o seu modus vivendi. Mas será assim com o modus vivendi tecnológico? A fatalidade tecnológica não será apenas um mito posto a correr pelos funcionários-burocratas do sistema?
Eis o que interessa desvendar e eis o que alguns grupos, algumas minorias juvenis estão tentando desvendar. Na prática. Na Pátria da Utopia.
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(*) Este texto de Afonso Cautela parece ter permanecido inédito
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PREVISÕES 1980

80-05-17> dcm - dactilografado em folha do ph - diário de um leitor de livros - à margem do livro «os limites do crescimento» - o sistema que vive de ir matando os ecossistemas - a doença como metáfora cultural

A ESCALADA DA DOENÇA - MAIS UM CAPÍTULO DO ÓBVIO ULULANTE

17/5/1980 - Três exemplos bastam para evidenciar a irracionalidade do sistema, o absurdo de uma «lógica» absurda: a do crescimento infinito.

1) Há doenças várias, fabricadas directa ou indirectamente pelo meio ambiente, no sentido mais lato da palavra ambiente.
Lógico seria, portanto, fazer cessar as causas ambientais que provocam as doenças.
O que se faz, entretanto e no entanto, é precisamente o inverso: não só se mantém o ambiente patógeno como fábrica de doenças, como se diz «combater a doença» carregando esse mesmo ambiente de mais factores patogénicos (como são os medicamentos), pelo processo de atacar sintomas que é o processo de o sistema se reproduzir infinitamente a si próprio enquanto vai matando as pessoas que assalariou à monodependência da engrenagem.
Claro: nem a doença se cura (porque as causas ambientais continuam, acrescidas das causas ambientais endógenas) nem o «combate aos sintomas» consegue ser alguma coisa mais do que uma causa produtora de (novas) doenças.
Aliás, a partir do momento em que a medicina química, neste sistema, é uma indústria e um negócio, negar-se-ia se curasse efectivamente o doente, pois estaria a contribuir, a breve prazo, para a sua própria ruína.
Ora não há negócio nenhum que voluntariamente se suicide...
O progresso seria, logicamente, não aumentar hospitais, médicos, enfermeiros e medicamentos - mas sim diminuí-los.
Num sistema e numa economia ao serviço do homem, seria assim. No homem ao serviço da economia, quanto mais hospitais melhor.

2) A energia é outro absurdo que comanda a estranha lógica deste sistema que vive de ir matando os ecossistemas .
Perante a chamada crise do petróleo, seria lógico que um tal aperto obrigasse finalmente a rever, desde os fundamentos, todo o sistema baseado num paranóico, desnecessário, ilógico, irracional e anti-ecológico desperdício energético: o sintoma aparece para nos permitir ter a noção ou consciência profunda da causa que provoca a doença.
Em vez do que seria (eco)lógico, causal, racional, justo, humano, sensato e até (pasme-se!) económico, a resposta à chamada «crise» petrolífera é deixar intocável esse sistema de desperdício, indo então, histericamente, à procura de todas as tecnologias que possam cobrir os buracos que o petróleo começa a criar nos consumos.
Os hábitos consumistas que conduziram à crise - a, digamos, a fabricaram - permanecem tal e qual, e o desperdício aumentará. Até dos mortos se retira cebo para fazer lamparinas, só para que o sistema continue exactamente como dantes a girar sobre as mesmas premissas. Jamais aparece alguém - de tantos que aparecem a indicar soluções para a crise energética - a sugerir que se abrande um pouco o sistema absurdo de absurdos e desnecessários gastos.

3) O mesmo se pode verificar num campo onde esta demagogia e este desperdício atinge o verdadeiro delírio: organismos internacionais dizem-se enternecidamente ao serviço dos povos esfomeados. E, no entanto, nada mais têm feito do que alimentar a fome do 3º mundo.
Ninguém diz como aproveitar melhor os cereais, sem os refinar, como reciclar matéria orgânica, como disseminar o gás metano, como aproveitar toda a energia e dinâmica da natureza para ajudar as culturas e colheitas, como diversificar culturas, como apetrechar tecnica e culturalmente os agricultores e camponeses do 3º Mundo.
O que se faz é invadi-los de adubos químicos e pesticidas, a que pomposamente chamam «campanhas de auxílio à agricultura dos subdesenvolvidos.»
Mas todos insistem que os grandes e privilegiados produtores agrícolas é que sabem: mais pesticidas, mais adubos químicos, são os grandes contributos científicos dos ricos e poderosos aos pobres e subalimentados.
Além do absurdo das indústrias alimentares, todo o absurdo do consumo «à americana» (em que 70% dos alimentos se desperdiça pela refinação, pelo descasque, pelo branqueamento, pela industrialização) é o que se impõe ao Terceiro Mundo como avançado, progressista, último grito da ciência e da técnica, supremas autoridades que de tudo decidem.

IMPOSSÍVEL DE CONTROLAR

No campo do previsionismo , uma coisa «fácil de adivinhar» são as tendências irreversíveis de determinados processos já iniciados e conhecidos (os derrames de petróleo ou o plutónio que não tem onde cair morto), tendências, portanto, inerentes e intrínsecas ao sistema.
Estas são ocorrências que só deixariam de suceder se o sistema mudasse e a curva de crescimento infinito parasse; ora isto é o que todos consideram impensável. É o que todos dizem impossível.
Outra coisa - «impossível de adivinhar» - são as eventualidades possíveis, o que pode ou não suceder, o contingencial, o que ainda depende (pouco ou muito) da vontade humana, da intervenção, da história, do querer.
Estas, de facto, podem ou não ocorrer.
Outra coisa ainda são as ocorrências inesperadas, não previstas mas que são possíveis na medida em que nenhum dos processos ou mecanismos é totalmente conhecido, dominado e controlado.
O que cria o mal estar e, sem dúvida, uma angústia perto da náusea, são estas últimas ocorrências.
Cada vez mais o imperialismo cria processos, mecanismos, escaladas, becos, engrenagens que não controla. Tendências irreversíveis.

AMBIENTE 1980

1-3 - 80-05-17-ie-ecc> quinta-feira, 2 de Janeiro de 2003-scan

SERÁ SEMPRE O CONSUMIDOR QUEM PAGA AS DESPESAS POLUIÇÃO(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela deve ter ficado inédito, com a data indicada em que foi produzido

[17-5-1980]

O público será sempre quem paga os custos com os cuidados anti-poluição e a protecção do Meio Ambiente.

Por intermédio de impostos directos ou através dos produtos que compra, o consumidor será sempre a entidade "pagadora" dos custos que a poluição implica.

O célebre "Princípio do Poluidor Pagador" - conhecido pelos três P - é assim um mero slogan, uma ficção verbal, nunca realizada na prática, como largamente foi denunciado durante o colóquio sobre Poluição Industrial, realizado na FIL-80

Produzido pela OCDE e adoptado mais tarde pela CEE, o célebre "ppp", foi ainda proclamado (como se alguma vez tivesse estado vigente) por alguns participantes no colóquio, alheios à realidade ambiente...

Neste sentido, a intervenção do engº Joaquim Viseu, alto dirigente da Siderurgia, teve o mérito de pôr os pontos nos iis, desmistificar muitas afirmações meramente verbais ali feitas e mostrar a crua realidade dos factos. Particularmente elucidativa e não deixando lugar a dúvidas nem ilusões, foi a declaração do engº Joaquim Viseu:

" A nova aciaria do Seixal - disse ele - que vai custar seis milhões de contos
(no âmbito de uma ampliação que custará 40 milhões) terá de gastar meio milhão só em equipamento poluição para captação e despoeiramento."

Gasta-se, assim, com poluição 8% do investimento total da Aciaria:

" Iremos cobrar isso no preço do aço ao consumidor, que é sempre quem paga" concluiu aquele técnico português.

Posteriormente, o eng.º Bouscaren da CITEPA, seria ainda mais claro na sua comunicação sobre "Custos de Produção na Luta Poluição":

" É sempre o cidadão que acaba por pagar, embora não tenha muita consciência disso."

Consciência que os técnicos em poluição também não se esforçam muito por lhe despertar. Antes pelo contrário: o discurso anti-poluição tornou-se num dos mais poderosos narcóticos da opinião pública dos tempos modernos.

Distinguindo entre custos "internos da empresa" e custos "externos", Bouscaren reconheceu que "ninguém até hoje sabe o valor económico do silêncio, do ar, da paisagem, enfim, dos valores vivos e naturais.

"Mas ainda bem, acrescentou, ainda não chegou o tempo em que, ao ver um pôr do sol, as pessoas começam imediatamente a ouvir o tilintar da caixa do dinheiro, traduzindo em cifra monetária esse pôr do sol..."

Mais adiante e sem que houvesse resposta, ficaram no ar perguntas como esta:

"Quantos milhares de escudos serão necessários para melhorar as indústrias de cimento?"

Entre os especialistas da Poluição, há portanto as maiores dúvidas quanto à «rentabilidade da poluição". E na hora da decisão final, o mais provável é que continue a ser a Natureza, o Meio Ambiente e, afinal, o homem, quem continue, como até aqui, a pagar a despesa toda.

Proclamar que a tecnologia limpa tudo quanto a indústria suja, portanto, já não basta e não convence ninguém. Mesmo os técnicos abalizados que neste colóquio debateram o problema.

Como o Dr. F. Brandi, do BIAC não deixou de sublinhar, "é uma utopia acreditar que o homem do século XX possa viver sem a indústria". Ele lá sabe.

Referindo-se a Portugal, disse o técnico alemão:

"Há tarefas para o vosso País mais prioritárias do que a defesa do Meio Ambiente".

Como se falasse a subdesenvolvidos do Terceiro Mundo, afirmou que Portugal não tinha problemas de Meio Ambiente.

"Num País como o vosso é preciso saber se a protecção do Ambiente tem vantagens ou desvantagens para o desenvolvimento económico.''

Classificando "Portugal, pais de turismo", o especialista do BIAC considerou que os "riscos de polarização na política de defesa do Ambiente são enormes" e arregimentou os ambientalistas numa "emocionalização irracional", advertindo-nos contra uma "exagerada política de defesa do Ambiente" que se poderia "tornar utopia".

Tal política de Ambiente jamais poderia vir "restringir as forças do mercado" - disse - e na Alemanha ainda há pouco tempo tivemos oportunidade de reduzir o rigor das leis previstas.

Mas o Dr. Brandi foi ainda mais claro, e sem fumos, ao abordar o dilema "Miséria ou poluição":

"Eu gosto imenso de pescar e caçar, e por isso quero ter florestas e rios limpos. Mas sem dinheiro e, portanto, sem emprego, não se pode ir pescar nem caçar, nem ter o prazer de um bom meio ambiente."

Bem caçado, este Dr. Brandi.

Minutos antes, aliás, ao inaugurar o colóquio, a Dra Margarida Borges de Carvalho, secretária de Estado do Ambiente, membro de um Governo de um País que não é subdesenvolvido mas se prepara para entrar na Comunidade Económica Europeia, tinha assegurado, exactamente, que não admitia contradição entre defesa do Ambiente e crescimento económico.

Enquanto responsável governamental pelo Meio Ambiente, em Portugal, a secretária de Estado repudiou o falso dilema (com cheiro a chantagem) "miséria ou poluição".

Para os que ainda o consideram um antagonismo irredutível, aquele membro do Governo apresentou a tese alternativa conhecida por "ordenamento biofísico do território'', estratégia global de encarar o desenvolvimento.

"Aquela contradição" - disse, referindo-se à falsa antinomia "miséria ou poluição" – “existe apenas e só quando os objectivos do desenvolvimento económico e social se identificam com a simples produção de bens materiais e não com o desenvolvimento harmónico das três componentes essenciais do conceito de qualidade de vida, isto é, o nível de vida, as condições de vida e a qualidade do ambiente .
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(*) Este texto de Afonso Cautela deve ter ficado inédito, com a data indicada em que foi produzido.
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