PREVISÕES 1980
80-05-17> dcm - dactilografado em folha do ph - diário de um leitor de livros - à margem do livro «os limites do crescimento» - o sistema que vive de ir matando os ecossistemas - a doença como metáfora cultural
A ESCALADA DA DOENÇA - MAIS UM CAPÍTULO DO ÓBVIO ULULANTE
17/5/1980 - Três exemplos bastam para evidenciar a irracionalidade do sistema, o absurdo de uma «lógica» absurda: a do crescimento infinito.
1) Há doenças várias, fabricadas directa ou indirectamente pelo meio ambiente, no sentido mais lato da palavra ambiente.
Lógico seria, portanto, fazer cessar as causas ambientais que provocam as doenças.
O que se faz, entretanto e no entanto, é precisamente o inverso: não só se mantém o ambiente patógeno como fábrica de doenças, como se diz «combater a doença» carregando esse mesmo ambiente de mais factores patogénicos (como são os medicamentos), pelo processo de atacar sintomas que é o processo de o sistema se reproduzir infinitamente a si próprio enquanto vai matando as pessoas que assalariou à monodependência da engrenagem.
Claro: nem a doença se cura (porque as causas ambientais continuam, acrescidas das causas ambientais endógenas) nem o «combate aos sintomas» consegue ser alguma coisa mais do que uma causa produtora de (novas) doenças.
Aliás, a partir do momento em que a medicina química, neste sistema, é uma indústria e um negócio, negar-se-ia se curasse efectivamente o doente, pois estaria a contribuir, a breve prazo, para a sua própria ruína.
Ora não há negócio nenhum que voluntariamente se suicide...
O progresso seria, logicamente, não aumentar hospitais, médicos, enfermeiros e medicamentos - mas sim diminuí-los.
Num sistema e numa economia ao serviço do homem, seria assim. No homem ao serviço da economia, quanto mais hospitais melhor.
2) A energia é outro absurdo que comanda a estranha lógica deste sistema que vive de ir matando os ecossistemas .
Perante a chamada crise do petróleo, seria lógico que um tal aperto obrigasse finalmente a rever, desde os fundamentos, todo o sistema baseado num paranóico, desnecessário, ilógico, irracional e anti-ecológico desperdício energético: o sintoma aparece para nos permitir ter a noção ou consciência profunda da causa que provoca a doença.
Em vez do que seria (eco)lógico, causal, racional, justo, humano, sensato e até (pasme-se!) económico, a resposta à chamada «crise» petrolífera é deixar intocável esse sistema de desperdício, indo então, histericamente, à procura de todas as tecnologias que possam cobrir os buracos que o petróleo começa a criar nos consumos.
Os hábitos consumistas que conduziram à crise - a, digamos, a fabricaram - permanecem tal e qual, e o desperdício aumentará. Até dos mortos se retira cebo para fazer lamparinas, só para que o sistema continue exactamente como dantes a girar sobre as mesmas premissas. Jamais aparece alguém - de tantos que aparecem a indicar soluções para a crise energética - a sugerir que se abrande um pouco o sistema absurdo de absurdos e desnecessários gastos.
3) O mesmo se pode verificar num campo onde esta demagogia e este desperdício atinge o verdadeiro delírio: organismos internacionais dizem-se enternecidamente ao serviço dos povos esfomeados. E, no entanto, nada mais têm feito do que alimentar a fome do 3º mundo.
Ninguém diz como aproveitar melhor os cereais, sem os refinar, como reciclar matéria orgânica, como disseminar o gás metano, como aproveitar toda a energia e dinâmica da natureza para ajudar as culturas e colheitas, como diversificar culturas, como apetrechar tecnica e culturalmente os agricultores e camponeses do 3º Mundo.
O que se faz é invadi-los de adubos químicos e pesticidas, a que pomposamente chamam «campanhas de auxílio à agricultura dos subdesenvolvidos.»
Mas todos insistem que os grandes e privilegiados produtores agrícolas é que sabem: mais pesticidas, mais adubos químicos, são os grandes contributos científicos dos ricos e poderosos aos pobres e subalimentados.
Além do absurdo das indústrias alimentares, todo o absurdo do consumo «à americana» (em que 70% dos alimentos se desperdiça pela refinação, pelo descasque, pelo branqueamento, pela industrialização) é o que se impõe ao Terceiro Mundo como avançado, progressista, último grito da ciência e da técnica, supremas autoridades que de tudo decidem.
IMPOSSÍVEL DE CONTROLAR
No campo do previsionismo , uma coisa «fácil de adivinhar» são as tendências irreversíveis de determinados processos já iniciados e conhecidos (os derrames de petróleo ou o plutónio que não tem onde cair morto), tendências, portanto, inerentes e intrínsecas ao sistema.
Estas são ocorrências que só deixariam de suceder se o sistema mudasse e a curva de crescimento infinito parasse; ora isto é o que todos consideram impensável. É o que todos dizem impossível.
Outra coisa - «impossível de adivinhar» - são as eventualidades possíveis, o que pode ou não suceder, o contingencial, o que ainda depende (pouco ou muito) da vontade humana, da intervenção, da história, do querer.
Estas, de facto, podem ou não ocorrer.
Outra coisa ainda são as ocorrências inesperadas, não previstas mas que são possíveis na medida em que nenhum dos processos ou mecanismos é totalmente conhecido, dominado e controlado.
O que cria o mal estar e, sem dúvida, uma angústia perto da náusea, são estas últimas ocorrências.
Cada vez mais o imperialismo cria processos, mecanismos, escaladas, becos, engrenagens que não controla. Tendências irreversíveis.
A ESCALADA DA DOENÇA - MAIS UM CAPÍTULO DO ÓBVIO ULULANTE
17/5/1980 - Três exemplos bastam para evidenciar a irracionalidade do sistema, o absurdo de uma «lógica» absurda: a do crescimento infinito.
1) Há doenças várias, fabricadas directa ou indirectamente pelo meio ambiente, no sentido mais lato da palavra ambiente.
Lógico seria, portanto, fazer cessar as causas ambientais que provocam as doenças.
O que se faz, entretanto e no entanto, é precisamente o inverso: não só se mantém o ambiente patógeno como fábrica de doenças, como se diz «combater a doença» carregando esse mesmo ambiente de mais factores patogénicos (como são os medicamentos), pelo processo de atacar sintomas que é o processo de o sistema se reproduzir infinitamente a si próprio enquanto vai matando as pessoas que assalariou à monodependência da engrenagem.
Claro: nem a doença se cura (porque as causas ambientais continuam, acrescidas das causas ambientais endógenas) nem o «combate aos sintomas» consegue ser alguma coisa mais do que uma causa produtora de (novas) doenças.
Aliás, a partir do momento em que a medicina química, neste sistema, é uma indústria e um negócio, negar-se-ia se curasse efectivamente o doente, pois estaria a contribuir, a breve prazo, para a sua própria ruína.
Ora não há negócio nenhum que voluntariamente se suicide...
O progresso seria, logicamente, não aumentar hospitais, médicos, enfermeiros e medicamentos - mas sim diminuí-los.
Num sistema e numa economia ao serviço do homem, seria assim. No homem ao serviço da economia, quanto mais hospitais melhor.
2) A energia é outro absurdo que comanda a estranha lógica deste sistema que vive de ir matando os ecossistemas .
Perante a chamada crise do petróleo, seria lógico que um tal aperto obrigasse finalmente a rever, desde os fundamentos, todo o sistema baseado num paranóico, desnecessário, ilógico, irracional e anti-ecológico desperdício energético: o sintoma aparece para nos permitir ter a noção ou consciência profunda da causa que provoca a doença.
Em vez do que seria (eco)lógico, causal, racional, justo, humano, sensato e até (pasme-se!) económico, a resposta à chamada «crise» petrolífera é deixar intocável esse sistema de desperdício, indo então, histericamente, à procura de todas as tecnologias que possam cobrir os buracos que o petróleo começa a criar nos consumos.
Os hábitos consumistas que conduziram à crise - a, digamos, a fabricaram - permanecem tal e qual, e o desperdício aumentará. Até dos mortos se retira cebo para fazer lamparinas, só para que o sistema continue exactamente como dantes a girar sobre as mesmas premissas. Jamais aparece alguém - de tantos que aparecem a indicar soluções para a crise energética - a sugerir que se abrande um pouco o sistema absurdo de absurdos e desnecessários gastos.
3) O mesmo se pode verificar num campo onde esta demagogia e este desperdício atinge o verdadeiro delírio: organismos internacionais dizem-se enternecidamente ao serviço dos povos esfomeados. E, no entanto, nada mais têm feito do que alimentar a fome do 3º mundo.
Ninguém diz como aproveitar melhor os cereais, sem os refinar, como reciclar matéria orgânica, como disseminar o gás metano, como aproveitar toda a energia e dinâmica da natureza para ajudar as culturas e colheitas, como diversificar culturas, como apetrechar tecnica e culturalmente os agricultores e camponeses do 3º Mundo.
O que se faz é invadi-los de adubos químicos e pesticidas, a que pomposamente chamam «campanhas de auxílio à agricultura dos subdesenvolvidos.»
Mas todos insistem que os grandes e privilegiados produtores agrícolas é que sabem: mais pesticidas, mais adubos químicos, são os grandes contributos científicos dos ricos e poderosos aos pobres e subalimentados.
Além do absurdo das indústrias alimentares, todo o absurdo do consumo «à americana» (em que 70% dos alimentos se desperdiça pela refinação, pelo descasque, pelo branqueamento, pela industrialização) é o que se impõe ao Terceiro Mundo como avançado, progressista, último grito da ciência e da técnica, supremas autoridades que de tudo decidem.
IMPOSSÍVEL DE CONTROLAR
No campo do previsionismo , uma coisa «fácil de adivinhar» são as tendências irreversíveis de determinados processos já iniciados e conhecidos (os derrames de petróleo ou o plutónio que não tem onde cair morto), tendências, portanto, inerentes e intrínsecas ao sistema.
Estas são ocorrências que só deixariam de suceder se o sistema mudasse e a curva de crescimento infinito parasse; ora isto é o que todos consideram impensável. É o que todos dizem impossível.
Outra coisa - «impossível de adivinhar» - são as eventualidades possíveis, o que pode ou não suceder, o contingencial, o que ainda depende (pouco ou muito) da vontade humana, da intervenção, da história, do querer.
Estas, de facto, podem ou não ocorrer.
Outra coisa ainda são as ocorrências inesperadas, não previstas mas que são possíveis na medida em que nenhum dos processos ou mecanismos é totalmente conhecido, dominado e controlado.
O que cria o mal estar e, sem dúvida, uma angústia perto da náusea, são estas últimas ocorrências.
Cada vez mais o imperialismo cria processos, mecanismos, escaladas, becos, engrenagens que não controla. Tendências irreversíveis.
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