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2006-05-16

UNIMAVE 1984

84-05-16- dcm

HOMENAGEM A KASUO KON

16/5/1984 - A mera circunstância de ser o mais idoso deste curso de jovens técnicos de saúde em terapêuticas orientais que mestre Kasuo Kon acaba de formar, encoraja-me a tomar a palavra no minuto da despedida.
Despedida que, bem o espero, deve ser também um novo ponto de partida para uma viagem mais longa de todos nós.
Outros motivos, no entanto, justificam ainda esta minha petulância de vos deixar uma mensagem de esperança e solidariedade: um desses motivos é o facto de não tencionar aproveitar o curso como carreira, uma vez que já estou velho para mudar de profissão, querendo apenas testemunhar o meu amor platónico mas profundo à sabedoria contida nestas coisas tão simples e tão complexas dos pontos chineses; cinquenta anos de lutas e desilusões dão-me uma certa autoridade moral para dizer que a única verdade sobre a terra é o sistema do princípio único, quer dizer, a dialéctica do yin yang.
Outro motivo que justifica esta mensagem, é o facto de estar aqui, na moxa, no shiatsu, na alimentação curativa e na acupunctura, como prova de infinita gratidão para com o sistema maravilhoso e sublime do yin-yang.
Este é o ponto número 1 da mensagem que vos queria deixar: na desordem do mundo actual, no caos de violência que arrebata pessoas e povos para um redemoinho de alienação, sofrimento, doença e terror, a descoberta dos princípios taoístas que iluminam estas terapêuticas é o grande ponto de referência e apoio, o sólido ponto fixo num tempo e mundo de sistemática frivolidade e vacuidade face ao sagrado, quer dizer, o mistério da vida.
Mas um segundo ponto me parece importante realçar: o facto de este sistema ser a verdade e os outros serem caóticas e problemáticas teorias, impõe-nos, de imediato, algumas obrigações:
a) Uma dessas obrigações consiste em defender a verdade contra os inimigos que a combatem.
Ora, como se sabe, neste momento é a medicina que mata e os doutores em medicina que comandam a grande operação de empalmanço das medicinas orientais, nomeadamente a acupunctura.
Fala-se de um alvará concedido à Faculdade de Medicinas Alternativas, fala-se em destruir a actual Associação Portuguesa de Naturopatia e substituí-la por uma Associação Portuguesa de Medicinas Alternativas, fala-se inclusive em proibir a prática da agulha a não médicos.
b) Decorre desta situação , a urgência e necessidade de concretizar um projecto sugerido, desde logo, por mestre Kasuo Kon, o Clube de (Técnicos em ) Terapêuticas Orientais.
Tal como alguns de nós o vê, trata-se de uma ideia fundamental para os técnicos de saúde em terapêutica oriental: defenderem a independência do seu próprio estatuto profissional, face à anexação que já se desenha feroz e que os doutores da medicina, talvez aliados aos doutores da naturopatia, irão desencadear, com o objectivo já proclamado de submeter, subjugar, dominar e controlar todos os que , não sendo médicos, desejam exercer a terapêutica humanista das práticas orientais, direito que incumbe a qualquer pessoa livre que teime em ser livre e em ser pessoa.
Se para viver e saber viver é preciso ser doutor, então matem-se todos os que não são doutores.
c) Decorre destas duas premissas, uma terceira: é em torno de mestre Kasuo Kon, como símbolo e garante da fidelidade ao sistema cultural e filosófico de onde irradiam todas as práticas e terapêuticas orientais, é em torno dele que nos devemos unir, agradecendo à ordem do universo tê-lo entre nós e podermos ter como aliados , entre o naturopatas, Reinaldo Baptista Wondemberg e Araújo Ferreira;
d) Mas uma outra premissa decorre ainda das anteriores: resulta de toda esta conjuntura que competirá a nós, técnicos de saúde em terapêutica oriental, trabalhar de ora avante em nossa própria defesa, afinando as nossas técnicas mas, acima de tudo, ganhando consciência cultural do sistema que servimos e optando de uma vez por todas por qual dos lados nos decidimos, se pela vida se pela morte.
Se nos decidimos pela civilização da vida, será pela moxa, pela punctoterapia e por todas as especialidades do sistema yin-yang que devemos decididamente optar, sem ilusões de coexistência ou de pluralismo.
Ora se é verdade que podemos, no nosso trabalho em prol da evolução e da libertação humana, contar com o escudo invisível e a protecção amiga de Kasuo Kon ou de Wondemberg, alguma coisa teremos que fazer, por nós próprios, para que a imagem dos técnicos de saúde em terapêuticas orientais, se imponha cada vez mais , saia cada vez mais prestigiada e independente face aos doutores, quer da medicina , quer da naturopatia.
e) Para isso e neste momento, a Cooperativa Unimave , a cuja direcção pertenço neste momento, coloca-se à disposição para acolher as actividades que o clube yin-yang proposto por mestre Kasuo Kon , achar por bem realizar, apoiando-o no que for aconselhável e possível.
Uma vez iniciados nas técnicas que mestre Kasuo Kon ensinou, todos sentimos que teremos de pôr em prática e aplicar, no dia a dia, essas técnicas.
É o desafio que vos deixo: façam sugestões à direcção da Unimave sobre o que entendem ser melhor para o nosso trabalho: o pelouro cultural promete dar andamento às que se mostrarem mais viáveis.
O desafio de um clube yin-yang , neste perspectiva, é o desafio a que tomemos agora mesmo consciência desta nova fase da luta: os técnicos de saúde em terapêutica oriental serão, de agora em diante, um interlocutor válido no conjunto dos agentes que em Portugal trabalham ou dizem trabalhar pela «libertação, saúde e felicidade de todos os seres.»
Obrigado,
Afonso Cautela
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