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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-15

TRABALHO 1992

emprego> manifest> - para um manifesto político em defesa da ecologia humana

QUANTO MENOS HORAS DE TRABALHO MENOS DESEMPREGO

15/5/1992 - Semana de trabalho de trinta horas e reforma antecipada não só como direito fundamental do homem mas até e principalmente como forma de combater o (famigerado) desemprego, é uma medida tecnicamente possível, desde já, e que pode ser «implementada» (e que deveria ser implementada), concorrendo para neutralizar a exaltada demagogia dos partidos que falam em desemprego e em «dar oportunidade aos jovens». A melhor forma de dar lugar aos jovens, é dar a reforma, o mais cedo possível, aos velhos e não retardá-la até aos limites do inverosímil e do ridículo. Acabando com o canibalismo dos actuais horários - ainda em vigor em países de vocação canibalesca como Portugal - acabar-se-ia com a demagogia do desemprego, e particularmente do desemprego juvenil. que o poder tem interesse em manter, evidentemente, mas que tecnicamente se pode resolver e de uma penada[: trata-se muito simplesmente de reduzir a «pena maior» do trabalho forçado por penas menores e mais aliviada]
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O desemprego - tal como a poluição, a guerra, a fome, o cancro, a inflação, o bairro da lata, a desabitação - não é um acidente de percurso mas uma componente estrutural do sistema que vive matando os ecossistemas. Tendo visto isto, o realismo ecológico preconiza, desde o princípio dos anos 70, que o número de horas de trabalho diminua para que possa também diminuir o desemprego. Nos anos 70 e 80, os sindicatos de alguns países europeus adoptaram essa palavra de ordem ecologista, mas foram logo recebidos à pedrada pelos representantes do patronato, que defendiam, como continuam defendendo, que o desemprego alastre. Invocando embora razões de concorrência, para negar a redução das horas de trabalho, o que estava latente na vontade do patronato era a intenção política de não acabar com o desemprego: é muito mais fácil dominar e explorar os trabalhadores se o espectro do desemprego e consequente clima de instabilidade, estiver sempre pendente, como um cutelo, sobre a cabeça das populações.
Esta é a verdadeira razão(política) que tem levado os representantes do patronato a negar a redução das horas de trabalho.
A redução de horas de trabalho, que esteve na ordem do dia em alguns países da Europa, em certos anos da década de 80, foi assim um dos temas que passaram para a zona de silêncio e silenciamento a que se viram votados tantos outros que se relacionavam com uma libertação e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Foi mais uma batalha perdida dos ecologistas, porque era mais uma medida que podia ter feito esconjurar a crise agora desembocada numa guerra. O que não se fez pela autosuficiência e pelas alternativas ecológicas, somou-se à lista de factores responsáveis pela presente crise deflagrada em guerra.
A reforma antecipada, conforme se pratica na Alemanha Federal, com o objectivo de fazer reintegrar no processo produtivo os trabalhadores no desemprego, é uma medida demasiado inteligente para que tenhamos esperança de alguma vez a ver adoptada em Portugal, onde não vemos ninguém - nem sindicatos, nem governos, nem representantes do patronato - inclinados para as medidas políticas verdadeiramente civilizadas. A Europa só serve de padrão naquilo em que não significa qualquer progresso. A demagogia europeia funciona unilateralmente, para os tecnocratas portugueses, só naquilo em que se revela atrasada e provinciana. Sendo a reforma antecipada uma medida de verdadeiro progresso, é de esperar que nunca a veremos aplicada por aqui. Nem sequer, talvez, como promessa demagógica de socialistas que querem ser governo.
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emprego1>trabalho>manifest> - os silêncios

PARA UM MANIFESTO POLÍTICO EM DEFESA DA ECOLOGIA HUMANA

15/5/1992 - Para romper, no futuro, o ciclo vicioso Desemprego-Inflação-Custo de vida, é preciso ouvir o aviso que o realismo ecológico faz há quase duas décadas, quando em 1973/74 tudo se tornou mais claro com o chamado «primeiro choque petrolífero»: o desemprego, foi dito desde então mas ignorado pela economia oficial, é um mecanismo indispensável ao sistema industrial para continuar a funcionar como sistema opressor dos indivíduos, povos e ecossistemas.
[Também O Sindicato dos Desempregados como força alternativa que recoloque, em funções criativas, o trabalhador desocupado das cadeias de montagem, é outro ponto prospectivo de uma visão ecológica do trabalho.]
Redução de horários e antecipação da reforma já são reivindicações pré-históricas dos ecologistas que o sistema teima em ignorar, porque não lhe convém admitir e pôr em prática.
Todas as «tecnologias apropriadas» - reivindicação número 1 do realismo ecologista - multiplicam empregos. Uma sociedade ecológica é sinónimo de pleno emprego e de pleno aproveitamento dos recursos não só humanos mas de todos os recursos autóctones naturais. É sinónimo de não desperdício em todos os azimutes e sectores. Afinal e como a ciência afirma, «a Natureza não desperdiça nunca - recicla, reaproveita, reincorpora.»
Nessa perspectiva, o desemprego é o mais grave de todos os desperdícios, o de energia humana. De facto e dito de outra maneira: o desperdício maior, na engrenagem tecnoburocrática e industrial, é o de recursos humanos, em que o desprezo pela pessoa humana atinge máximo requinte.
Ao desemprego endémico inerente[estrutural] ao imperialismo industrial, a Leste e a Oeste, sindicatos e trabalhadores vão com certeza dizer, repetindo os ecologistas do antinuclear: «Não, Obrigado».
A Natureza, além de não desperdiçar, cria empregos.
De acordo com este postulado, é lógico que o futuro irá estimular as profissões mais ligadas à defesa dos recursos naturais e criar - em profissões alheias à Natureza - uma espécie de dupla actividade optativa, um «biscate» agradável
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empreg-2> trabalho -manifest>-1269 caracteres – os dossiês do silêncio

CURSOS PARA DESEMPREGADOS

15/5/1992 - [Um estudo de 1976, sobre despesas com medidas de protecção ao ambiente, verificadas pelo Instituto Battelle, em Frankfurt, conclui que estas despesas asseguraram ou criaram no ano em questão cerca de 370 mil postos de trabalho
De um inquérito realizado pelo Instituto Battelle, em 1977, sobre as repercussões da política do ambiente no domínio do emprego, depreende-se que os investimentos efectuados em 1975 em medidas de protecção do ambiente criaram ou conservaram 150 mil postos de trabalho, cabendo à indústria de construções 73.500, à construção de máquinas 28.200 postos de trabalho.
Em uma análise de 1977, chegou-se à conclusão de que anualmente se poderia assegurar trabalho a 23 mil indivíduos na indústria de construção, edificando as instalações de tratamento de águas.]

Um projecto-piloto para integrar desempregados foi iniciado na República Federal da Alemanha, em Maio de 1983, no Estado de Schleswig-Holtstein, financiado conjuntamente pelo Governo Federal, pelo Departamento Federal do Trabalho e pela Academia de Economia. O projecto-piloto - cursos intensivos por correspondência - destina-se a professores desempregados, procurando prepará-los para uma «actividade dirigente de escalão médio na empresa».
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emprego2> trabalho> manifest> - os silêncios

PARA UM MANIFESTO POLÍTICO EM DEFESA DA ECOLOGIA HUMANA-II

15/5/1992 - Em 1986, uma alegada Fundação europeia para o melhoramento das condições de vida e de trabalho (organismo dependente da CEE), apresentou um relatório sobre «Actividades destinadas aos desempregados». No relatório, examinava-se o êxito obtido pelos programas que vinham preparando desempregados para um emprego a tempo inteiro ou para estágios de formação profissional.
Segundo esse relatório, os beneficiários dos referidos programas não eram apenas os desempregados. Os idosos, os deficientes e a colectividade no seu conjunto, tinham também oportunidade de utilizar serviços que dantes não existiam.
Um exemplo citado no relatório mostrava como jovens desempregados holandeses adquiriram experiência no mundo do trabalho reorganizando ficheiros médicos. Um centro de tarefas de utilidade colectiva no Norte de Inglaterra organizava actividades para ajudar pessoas idosas e cegos, fornecer infraestruturas à colectiviadde e melhorar o ambiente. Em França, diplomados por institutos e universidades ajudavam jovens a adaptar-se à evolução da novas tecnologias informáticas. Na Dinamarca, estudantes sem trabalho criaram um grupo de teatro e dança, ao mesmo tempo que recebiam uma formação profissional. No Reino Unido, incentivaram-se as mulheres sem trabalho a participar nas actividades de centros de trabalho e a escrever sobre a experiência assim adquirida.
Deste relatório ressaltam duas coisas: a iniciativa e a imaginação é indispensável a uma política ecológica ( humanista) de pleno emprego; mas o apoio do Estado aos cidadãos, também, na linha do velho provérbio chinês «se vires alguém com fome, dá-lhe de comer mas ensina-o a pescar». Se vires alguém desempregado, dá-lhe emprego mas as possibilidades de conquistar a sua autosuficiência em caso de desemprego.
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empreg-1> trabalho - manifest>1440 caracteres – os dossiês do silêncio

[DIMINUIR HORAS DE ALIENAÇÃO E AUMENTAR AS DE TRABALHO CRIADOR]

15/5/1992 - Do artesanato às tarefas de carpintaria e culinária doméstica, é preciso reafirmar o maior empenho em recriar as mais profundas tradições de raiz popular que se liguem à criatividade de artes e ofícios, de jardinagem e pequena exploração agro-pecuária, artesanato, culinária, medicina caseira, etc., na certeza de que a «revolução cultural» passa pela recriação e retoma da tradição científica e tecnológica popular, da qual o trabalhador foi violentamente desapossado e desapropriado ao ser proletarizado. Poder e cultura popular serão, nesta perspectiva, a mesma coisa.
Considerando que o problema do ambiente de trabalho e das condições de segurança do trabalhador tem sido mais ou menos escamoteado em todos os programas políticos, mesmo os que se dizem de esquerda, é preciso evidenciar a profunda contradição que esse condicionalismo implica e, para lá das medidas reformistas que a Medicina do Trabalho ou os gabinetes de segurança preconizem, reconhecer que há uma alienação intrínseca à maior parte do trabalho mecanizado e em cadeia, alienação que só pode ser minorada por uma diminuição de horas a que o trabalhador ficar submetido e à sua ocupação do tempo restante em tarefas efectivamente criadoras, de livre escolha e carácter produtivo directo, no sentido de aplicação e empenho da personalidade, temperamento e carácter pessoal.
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