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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-08-04

A.COMTE 1992

anacron>manifest> - mein kampf92 - 1 só página

PROGRESSO MÉDICO OU ANACRONISMO MENTAL?

20/9/1992 - A análise do discurso médico põe em evidência que a mudança a fazer é também ao nível profundo da metodologia.
Conceitos anacrónicos na metodologia seguida, ou filosofias pretensamente progressistas, situam-se afinal, na melhor das hipóteses, antes de há 100 anos.
Se é verdade que o «Discurso Sobre o Espírito Positivo», de Augusto Comte, data de 1842, também é um facto que as noções de higiene, profilaxia ambiental, globalidade holística, influência do meio na patologia, higiene e segurança do trabalho, há já mais de um século se começavam a consciencializar.
Os que se reclamam do progresso com insistência, porque todos os dias adoptam as novidades fabricadas pelos laboratórios químico-farmacêuticos, estão ideologica, filosofica, metodologica e culturalmente situados há um século atrás, onde ficaram, pelos vistos, imobilizados para sempre.
Este anacronismo e este atraso mental não é, evidentemente, exclusivo da investigação médica. Até nos meios ditos naturoterapêuticos, verificam-se casos de gente que idolatra, sem o saber, a lei dos três estados.
A lei do atraso mental, portanto.
A confusão mental não é, portanto, apanágio do discurso médico. Um certo canibalismo latente continua enraizado nos melhores subprodutos da ordem estabelecida.
Até que as pessoas decidam desintoxicar-se do discurso estabelecido, pensar pela sua cabeça, libertar-se de mitos, tratar-se, curar-se, tomar em sua próprias mãos a sua vida e a sua saúde. Até que.
A desmontagem e análise dos sofismas habituais no discurso médico é particularmente elucidativo para se compreender até que ponto as pessoas estão muito mais intoxicadas mental e ideologicamente do que fisicamente.
Embora fisicamente o possam estar também e não pouco.
Nos medicamentos, por exemplo, os conceitos de dose ou de limites para uso e abuso são conceitos habilidosamente arquitectados para criar uma carapaça de resistência às críticas que necessariamente os medicamentos químicos acabam por provocar, tantos são eles e os efeitos colaterais deles.
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BEHAVIOR 1993

area-4> areatema>holi> conselho fichas de pesquisa

CONVERGÊNCIA HOLÍSTICA - O PROJECTO QUE FALTA - REVISTAS FEMININAS SÃO PRETEXTO

4/8/1993 - Revistas que publicam mais frequentemente temas de «behavior»:
-«Marie Claire»
-«Elle»
-«Madame Figaro»
-«Cláudia»

Temas afins do tema «behavior»:

-Alimento determina comportamento
-Alternativas de sobrevivência à catástrofe industrial
-Beleza física (esteticismo)
-Direitos humanos da personalidade
-Ecodireitos individuais
-Ecologia humana
-Epidemiologia
-Estilismo e moda
-Grupos de luta ambientalista
-Higiene pública
-Movimentos cívicos e sociais de autodefesa cidadã
-Profilaxia natural das doenças
-Saúde individual
-Tecnologias apropriadas de saúde
-Vida afectiva
-Vida sexual

QUANTOS SÃO?
QUANTOS SOMOS?

Se se quisesse avaliar em números e quanto a público o raio de acção que uma revista de saúde, segurança e «behavior» pode ter, bastava juntar os produtores e consumidores de todas as áreas que convergem no tema.
Começando pelos produtores e só no que respeita aos técnicos que em Portugal desenvolvem actividades relacionadas com novas técnicas terapêuticas, um primeiro recenseamento pode ser feito com base em números estimados para as várias associações de classe.
Somando os sócios das quatro associações de classe que existem, teremos.
78 - Associação Portuguesa de Medicina Acupunctural
50 - Associação Portuguesa de Homeopatia
80 - Associação Nacional de Osteopatas
220 -Associação Portuguesa de Naturopatia
No que respeita a consumidores, pode ser estabelecida uma primeira estimativa com as principais associações existentes:
-400 sócios inscritos ( 200 sócios no activo) - Associação
Portuguesa Vegetariana
-3.442 sócios inscritos (1.250 no activo) – Sociedade Portuguesa de Naturologia
6.500 sócios inscritos (1000 sócios no activo) - Cooperativa
Unimave

BOLETIM DE IMPRENSA: UM PROJECTO QUE FICOU

«Boletim noticioso dos Naturoterapeutas para a Imprensa» era uma das iniciativas propostas, em 1985, pelo «Atelier yin- Yang», projecto que chegou a ser anunciado na Imprensa e que tinha em agenda mais as seguintes actividades a realizar:
-Recensão noticiosa regular do movimento editorial na área da saúde, segurança e ecologia humana
-Guia de endereços úteis ao consumidor de saúde – reedição corrigida e aumentada do folheto que chegou a ser publicado, na «Frente Ecológica», em 1985, com o título «As Medicinas que Curam» e que pretendia ser uma réplica às páginas amarelas na área unificada da holística...
-Quadro de qualidade com a ronda dos restaurantes vegetarianos e outras actividades do «mercado natural», avaliadas de zero a 5, uma espécie de «dom Pipas» (secção gastronómica do jornal «A Capital») para vegetarianos ou de «bolsa da praça» para consumidores de produtos naturais
-Telefone SOS com gravador - primeiras informações de socorro aos que procuram tratamentos naturais para os seus problemas

MINIAGÊNCIA DE INFORMAÇÃO ECOALTERNATIVA:PROJECTO QUE FICOU

Material informativo de âmbito internacional para reconverter em notícias de primeira mão com interesse para o público português, é o que não falta na área que tem vindo a definir- se, neste relatório, e a que André Gorz, jornalista do «Le Nouvel Observateur» (onde escreveu com o pseudónimo de Michel Bosquet), chamou «arquipélago convivial», em homenagem à ideologia ou ideário da «convivilidade» proposta pelo filósofo Ivan Illich.
O problema não é, portanto, a falta mas a abundância de fontes de âmbito internacional e o número de itens com interesse público que delas se podem recolher.
Perante a abundância (quantidade) trata-se de privilegiar a notícia pela qualidade do seu conteúdo.
Perante a enorme quantidade de fontes que se apresenta, trata-se de privilegiar algumas que se tornaram, com o tempo, prestigiadas pela sua independência (e o critério de independência, nesta matéria, de contornos tão sensíveis e marginando tantas vezes o assunto-tabu, é preponderante e decisivo da qualidade informativa).
É o caso do Centro Intercultural de Documentação (CIDOC), com sede em Cuernavaca (México), fundado em 1966 por Ivan Illich e Valentina Borremans e extinto, por falta de verbas, em 1977.
Por iniciativa de Valentina Borremans, continua a publicar-se (no data em que este relatório está a ser escrito) a colecção de textos «Tecno-Política», onde aparecem testemunhos fundamentais de ensaístas contemporâneos que fazem a análise crítica do sistema que destroi ecossistemas e propõem ecoalternativas realistas à destruição.
No âmbito das «ideias que também são notícia», esta colecção «Tecno-Política» ocupa um lugar de relevo, a considerar como fonte importante de uma mini-agência de informação ecoalternativa.
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DESRAZÕES 1992

4828 caracteres -romeu-5>ficionar> a transpor - os irracionais da razão – memórias sem memória

ERRÂNCIAS DA RAZÃO

8/3/1992 - [Esta carta traduz fundamentalmente o meu mal-estar, o meu nervosismo, face à tese predilecta do Romeu de Melo sobre os «grandes homens», tese ou teoria que o dominou completamente e que ele sentia aplicada a si próprio, dada a Alta estima em que se tinha: sentindo eu por mim próprio exactamente o contrário - uma pouca ou nenhuma estima, os meus confrontos com o Romeu de Melo tinham sempre rasgos e dramatismo existenciais

[Esta carta, eventualmente a transpor em ficção, é um tanto híbrida quanto a tais potencialidades ficcionáveis, com linhas muito concretas de diário-ele-mesmo e outras perfeitamente integráveis em uma grelha de ficção; como carta a Romeu de Melo, a ironia é por vezes um tanto pesada e só pode compreender-se pelo à vontade que existia entre nós dois, herança do tempo em que fomos colegas de carteira na escola]

Porto, 4/8/1959 - Regista: sou socrático e não aristotélico. Aristóteles produziu abortos. Sócrates provocou partos. Entre um aborto e a Maiêutica vai um espaço que não consinto [??] seja omitido.

Continuo polémico e tu peripatético, continuo heurístico e tu analítico. Dedicaste 5 folhas (10 páginas!) a uma meia página minha. Ai a fecundidade das hipóteses, da polémica! Sempre fui um provocador. Não consta isso de Aristóteles. Pelo princípio da identidade também não morro de amores (ao contrário do que afirmas mas logo a seguir infirmas, surpreendendo várias contradições no meu curto texto - e tu, sim, neste ponto, em aristotélica contradiçãozinha...).
Eu jogo às palavras, tu jogas às ideias.

Tu, o estatístico, segues a Análise - porque cais assim tão facilmente na contradição? [ era o tempo em que eu, sob a influência de Chestov, defendia encarniçadamente o direito à contradição como um direito fundamental do Homem] Gosto, com efeito, de marchar em declive - «no talvegue de sombra», diz algures uma página de um diário esquecido.
Mas, embora a conhecesse, desconhecia a fórmula, pelo que se prova que a existência precede a essência - claro! meu mefistofélico-metafísico- essencialista! O Parténon continua a empurrar com eles para a tumba, a embalsamar criaturas vivas (que podiam viver), a enterrar a imaginação.[ este ódio ao panhelenismo era mesmo a sério e tinha carradas de «razão» nele] O Parténon - panteão dos célebres mortos-vivos, deuses e subdeuses do Olimpo contemporâneo, da hedionda mitologia contemporânea.
Não demonstro nada, não quero demonstrar nada - ou achas-me com cara de demonstração?

Psicanalise-se o Einstein: vê-lo-eis aflitíssimo, nas noites altas, com alguma crise ou desvio de hormonas... Os grandes nadas dos grandes homens, meu Caro Grande Homem. Por baixo, igualam-se todos. E daí é que é vê-los.

Lá os verei a todos. Antes destilarás tu e os teus manos de leite o ódiozinho ao «Mórbus», que por sinal já se não chama «Mórbus». Só para desnortear os menininhos de calção à maruja, já se não chama «Sânscrito». Chama-se agora «Prova de Fogo», até nova ordem...
Sem ordem nenhuma, abandonei o encargo de ler os jovens prodígios e de falar deles. E talvez poucas vezes mais me voltarão a ver escrever em jornais. [???]

Agora a escrita far-se-á por livro. Aí o terás, antes de Outubro. Anota os títulos dos seguintes: «História, Futuro, Modernidade» (ensaio); «Greve geral» - diário ( 1955-1959).

«Impingir tiradas» - isso também é literalmente contigo. [ até que enfim tenho razão] Meia folha (minha) contra 10 páginas (tuas) - acho que não é impingir, é ser impingido.
Centenas de folhas (do «AK» aos «Quatro ventos»), que eu li com largo prazer, aliás, contra a meia dúzia que leste minhas - será impingir-te tiradas? Ou não haverá aí uma outra, leve, contradiçãozinha? Sobre isso de felicidade, hás-de informar-me se é bicho que morda, se é flor que se cheire, se é fruto que se coma ou ... Não conheço animal, nada nem ninguém com esse nome.
Deixa as folhas da estatística em férias (ou envia-as ao crítico, que deve necessitar delas quando for submetido à «Prova de Fogo»).
Até sempre, até nunca, até pouco mais ou menos anteontem,
Afonso Cautela.
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SKYLAB 1979

1-3 - 79-08-04-ie> = ideia ecológica -espaço-2> os dossiês do silêncio

O QUE PENSA DAS LUAS,UM AMIGO DA TERRA(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 4/8/1979


4/8/1979 - A propósito do aniversário que recentemente se festejou - há 10 anos a Apolo 11 chegava à Lua -, com o fracasso Skylab poucos dias antes, escreve-nos um leitor, apresentando razões críticas sobre a mania (das grandezas) espacial dos dois blocos hegemónicos, que só em correrias e solturas destas, gastam energia que daria para resolver todas as «crises» do mundo rico e transformar em países habitáveis todos os pobres do mundo pobre.
Sem mais comentários, eis o que escreve o leitor:

Serei retrógrado e muito conservador, mas continua a espantar-me e a comover-me muito mais ver grelar e crescer, na janela da minha cozinha, um grão-de-bico, do que assistir na televisão à pisadela do primeiro homem na Lua.
Só vejo, portanto, qualquer vantagem em participar nesta polémica, no papel de cardeal-diabo. Para falar de vantagens, benefícios, glórias e grandezas da maratona espacial, haverá certamente quem, pelo saber e pelo entusiasmo, se avantaje à minha deliberada Ignorância de pormenor sobre o assunto. Sobre qualquer assunto técnico e desde que técnico.
A corrida espacial não me move nem comove mais do que qualquer outra tecnologia, pesada ou de precisão, electrónica ou cibernética. Se nunca nutri grande simpatia pelos progressos da técnica, a perspectiva mais moderna de tecnocratizar a biosfera, transformando-a em tecnosfera, antes de desalienar e humanizar o homem, parece-me uma manobra de substituição pouco honesta.
Daí resulta que a única tecnologia a interessar um partidário da ecologia radical é, pelos seus aspectos negativos, aquela que directamente pretende bulir com a vida, com a biosfera do planeta: ou seja, a tecnologia biocrática, a dos transplantes, congelamentos, pesticidas, medicamentos, tóxicos, revolução verde, robôs, bebés-proveta, célula viva feita em laboratório, etc., etc.
Em que medida - pergunto- afecta a tecnologia espacial a biosfera? Em que medida se pode traçar, ensaiar, esboçar uma ecologia da competição espacial?
Em que medida concorre esta tecnologia especial, peculiar, para o biocídio sistemático perpetrado pela tecnologia em geral?
Tentarei resumir em que pontos a monomania espacial toca tangencialmente a biosfera:

1 - Manobra de coexistência pacífica, os foguetões servem, à maravilha, para pôr os povos de nariz no ar, enquanto na Terra os mesmos povos são convidados a digladiar-se até ao extermínio. O que é, desde logo, um trabalhinho sujo, de que alegremente se incumbe a indústria espacial.

2 - Não é tanto o dinheiro que se gasta numa tecnologia de luxo e de supérfluos como a espacial o que, quanto a mim, está em cheque: que esse dinheiro dava de imediato para matar a fome a três humanidades iguais a esta, parece estar demonstrado e não me ocuparei de evidenciar a evidência.
De acentuar, creio eu, é o que normalmente passa despercebido: a questão de método e de princípio que preside à estratégia hoje coexistente das conquistas lunares.
O complexo de recursos mobilizados para manter os programas espaciais é, como princípio, imoral e execrável: porque vai tornar irreversível uma data de outros complexos tecnológicos que, por sua vez, se dirão justificados pelo apoio à conquista espacial, etc.
Entrámos no círculo infernal das dependências em cadeia, na engrenagem dos gigantismos que pretendem justificar-se uns aos outros. Chegaremos, sem dúvida, à necessidade de continuar mantendo um armamento pesado de toda a ordem.
Assim, uma indústria aparentemente pacífica, serve e motiva a bélica.
No momento em que, muito à pressa, Europa e Japão se deram conta de estarem a ser codilhados pelas multinacionais do petróleo, o que em combustível se gasta num foguetão e respectiva nave, não deixa de ser argumento que um partidário da ecologia evite colocar no balanço de razões que é urgente apresentar contra a incoerência que a ambição do espaço representa em relação ao próprio sistema do desperdício e suas jeremiadas à poupança de combustível.
Convidam-nos a poupar no banho, mas gastam-no todo na estratosfera?
Ora bolas para a «moralidade»destas coisas.

3 - Outro aspecto de choque entre crise do ambiente e desatino espacial é a maneira como o ser vivo tem mostrado que reage aos ambientes exógenos que lhe são biológica e ecologicamente estranhos, ou aberrantes: por um lado, o ambiente fechado das cápsulas onde os astronautas permanecem como aleijadinhos do século XXI (mas isso é o menos, pois nem todos somos astronautas e eles escolheram a profissão); por outro, os efeitos da imponderabilidade prolongada no psicossomático das cobaias (o próprio facto de já se aceitarem sem discussão homens para cobaias de experiência!) ;por outro lado ainda, espaços e radiações astrais a que a máquina humana tem mostrado reagir da pior maneira.
Contam as crónicas que nem um só dos heróis astronautas é mentalmente sadio. Para quem tenha umas noções básicas de ecologia humana, porém, não precisavam as crónicas de o dizer. Era mais que óbvio..

4 - Não vale a pena referir (pois outros o farão com maior conhecimento de causa) em que medida a proeza espacial é um condicionante político de propaganda entre blocos de hegemonia.
Importante, nela, é a mitologia das grandezas que se pretende insinuar no subconsciente colectivo ao relatar maravilhas e milagres da técnica. A técnica pode tudo. Tudo, incluindo esbater as desigualdades económicas e a exploração do homem pelo homem, será resolvido pela técnica. Ela é tão todo-poderosa, podia lá deixar de...

5 - Na vasta literatura inerente às angústias espaciais, é vulgar ler-se que os cientistas estão multo interessados em obter provas de vida em outros planetas...
Sabendo um partidário da ecologia melhor do que ninguém de que maneira a vida e a saúde são tratados neste planeta-escola, a que lindo biocídio de espécies (incluindo o homem) por aqui se está, se vai, se irá praticando, precisamente pela invasão das tecnologias hiperpoluentes e anti-humanas, biocráticas e de manipulação do homem pelo homem quando calha - aquele zelo de encontrar vida extraterreste em Marte ou Júpiter não deixa de parecer suspeito e, de certo, sadomasoquista.
Será que, além de implantar um colonialismo na Lua, se pretende já desenvolver ali o processo biocida que aqui tão exemplarmente vem sendo praticado?

6 - Esta pergunta não é tão fantasiosa como pode parecer aos optimistas do «gadget» interplanetário.
Ficaram célebres as experiências sísmicas que, logo na chegada à Lua, foram efectuadas pelos endiabrados exploradores do Espaço.
A Lua tremeu durante não sei quantos minutos... e os sábios cá da Terra a gozar que nem uns perdidos.

7 - Sabendo como a indústria turística é hoje ponto forte da reciclagem do sistema -pretendendo-se com os últimos «paraísos da Terra» só para ricos, fazer esquecer aos pobres que a transformámos num inferno - a ideia de aproveitar a Lua e arredores para estância balnear de veraneio não é fantasia minha de crítico irritado, mas foi proposta honesta e a sério de um senhor norte-americano, que propunha essa saída para o actual «cul de sac» de saturação e esgotamento planetário.
E lá ia a gente com a família para a Galáxia... Tudo tão fácil, não é?

Uma coisa é certa e honra lhes seja feita: aos futurólogos da N. A. S. A. e quejandos nunca falta espírito de humor para gozarem e nos gozarem.
Numa tentativa de balanço e resumo, direi que tudo quanto foge à escala hurnana será humorístico mas enfadonho.
Quer se trate de monstruosas aquisições em peso, de recordes, gigantismos, de tempos astronómicos só medíveis em anos-luz, é de suspeitar.
Encontrou-se um meteorito com 4000 milhões de anos! A minha pergunta é: como é que descobriu isso o senhor físico Kerald Wasserburg e, ainda que assim fosse, o que me interessará a mim tantos milhares de anos, eu que na melhor das hipóteses serei meio centenário se a poluição e a estupidez me deixarem?...

O MITO DO ESPAÇO

O meu ponto de vista pretende ser o do homem comum. No entanto, um homem comum que não aceita os ídolos impostos e tornados regra.
Na nossa época, os mass media são poderosos fabricantes de ídolos, mitos, ideias feitas, transformados em ícones religiosos...
É preciso, de vez em quando, um banho lustral (ou brutal) de senso comum e de bom senso, para não encarreirar na forte corrente de opinião uniformizada, estandardizada que nos arrasta.
A conquista espacial (exploração ou descoberta) é um dos mitos propostos ao consumo internacional por dois países que pretendem dar cartas (e obter sempre trunfos) a todos os povos do planeta.
Digamos que é um negócio, um «affaire» doméstico lá entre eles. Mas a verdade é que, no caso americano os gastos com o programa interplanetário são obtidos da exploração feita a povos do Terceiro Mundo, e no caso soviético são de verbas roubadas ao benefício nacional nas matérias-primas e energia que se gastam sem sentido e sem reciclagem.
Pretendo ver a exploração espacial não como proeza (assim nos é relatada e imposta pela propaganda), mas como mito, como idolatria, como questão de princípio.
É isso: ainda que a indústria espacial não fosse um luxo de supérfluos, ainda que ficasse barata em recursos humanos, materiais e energéticos, ainda que daí resultassem os benefícios e utensílios que a propaganda diz resultarem, era como questão de princípio, de método, como ideologia implícita de coexistência - no que esta palavra pode ter de mais odioso- que a rejeitaria e detestaria.

UM LEITOR DEVIDAMENTE IDENTIFICADO
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 4/8/1979
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