ORDER BOOK

*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2005-10-13

DOCUMENTOS-1

datas-1 - os dossiês do silêncio

O PROBLEMA NUCLEAR NA HISTÓRIA (*)

(*) Era este o título do desdobrável editado conjuntamente pela Associação de Objectores de Consciência, pela Associação Amigos da terra e pelo Comité Antinuclear de Lisboa, em 5 de Junho de 1983 (?)

1895
Início da história das radiações ionizantes. Descoberta e experimentação de uma nova espécie de raios: o raio x.

1896
Descoberta e estudo do primeiro metal com fortes propriedades ionizantes: o urânio.

1898
Marie Curie cria o termo radioactividade (natural note-se) para definir a propriedade de certas emissões.

1934
Descoberta da radioactividade artificial ou modificação dos núcleos atómicos estáveis.

1939
Fissão do núcleo do urânio.

1942
Libertação controlada de energia nuclear. Primeira reacção em cadeia.

1943
Abertura do Instituto Atómico de Moscovo. Abertura do laboratório de Los Alamos nos EUA.

1945
Conferência de Yalta. Bombas atómicas de Hiroxima e Nagasaki.

1949
Explosão da primeira bomba de urânio soviética.

1952
Primeira bomba atómica britânica.

1954
Einstein e Bertrand Russell alertam a população mundial para o perigo das concentrações insólitas de radioactividade nos organismos vivos. Oliveira Salazar dá posse à Junta de Energia Nuclear, em Portugal.

1955
Conferência Internacional sobre a utilização pacífica da energia nuclear. O bem-estar das populações passa a ser aferido pela quantidade de energia de que elas dispõem. Mesmo que se criem disparidades do tipo: em certas habitações refrigeradas no Verão, por um sistema central de climatização, há alturas em que se gela e é preciso acender aquecedores

1957
Acidente na central nuclear de Windscale (Grã-Bretanha). A URSS e os EUA somam 53 explosões atómicas. Suspeita de grave desastre nuclear na região dos Urais (União Soviética).

1960
Primeira bomba atómica francesa. Protestos contra a energia nuclear dita pacífica. Jean Pignero.

1963
Jean Pignero funda a Associação contra o Perigo Radiológico, mais tarde transformada em Associação de Protecção aos Raios Ionizastes.

1969
Se fizermos o levantamento da produção mundial de energia eléctrica de origem nuclear, durante o ano de 69, concluímos que o peso dos efluentes produzidos durante esse ano foram 83 toneladas. Este número dá apenas uma pálida ideia do problema da contaminação radioactiva dos organismos vivos. Crescem os avisos sobre os perigos decorrentes do aumento da radioactividade

1972
Primeira acção de massas contra uma central nuclear em França. Dez mil pessoas opõem-se, em Fessenheim, à construção da primeira central nuclear francesa (PWR).

1973
O nome de Kaúlza de Arriaga, presidente da Junta de Energia Nuclear, e o de Veiga Simão, ministro da Educação, aparecem ligados à opção nuclear em Portugal.

1974
Afonso Cautela, jornalista, pede pela primeira vez em Portugal uma Moratória Nuclear, alertando para os perigos sociais e ecológicos de uma opção nuclear em Portugal.

1975
Luta em Wnyl, na região de Baden-Wurtenberg, contra a instalação de uma central nuclear. Outras importantes movimentações europeias contra o Nuclear civil e militar. Em Portugal fala-se, pela primeira vez, em construir a curto prazo uma central nuclear. O
sítio escolhido é Peniche.

1976
Primeira movimentação popular em Portugal contra o Nuclear. O povo de Ferrel, em 16 de Março, dirige-se ao local previsto para a construção da primeira central nuclear em Portugal e exige a suspensão imediata dos trabalhos. Os sinos tocam a rebate. O reconhecimento do direito à objecção de consciência ao serviço militar em Portugal.

1978
1º Festival pela Vida e contra o Nuclear. Caldas da Rainha - Peniche, 21 e 22 de Janeiro. Participação popular.


1979
Acidente no reactor de Three Mile Island nos EUA. Balanço trágico ainda
por fazer.

1981
O grupo ecológico do Porto “ Terra Viva” protesta contra a construção da
central nuclear em Sayago a 15 km da cidade portuguesa de Miranda do Douro. Forte participação popular. Encontro Nacional de Objectores/as de Consciência em Lisboa, no CNC.

1982
2º Festival Pela Vida e Contra o Nuclear. Miranda do Douro, 9 a 15 de Agosto. Entrega de cinco mil assinaturas na Assembleia que pedem a divulgação pública dos acordos luso-espanhóis .

1983
Basílio Horta, ministro da Energia, apresenta o Programa Energético Nacional. "Penetração" inevitável do Nuclear em Portugal. Crescem os protestos. A crise da Natureza agrava-se. Importante crise económica.
- - - - -

(*) Era este o título do desdobrável editado conjuntamente pela Associação de Objectores de Consciência, pela Associação Amigos da terra e pelo Comité Antinuclear de Lisboa, em 5 de Junho de 1983 (?)
***
mep-1-ds-ie=os dossiês do silêncio – inédito, obviamente


ENQUANTO O M.E.P. REPOUSA EM PAZ...
CADA JUVENTUDE TERÁ O ELECTROFASCISMO QUE MERECE (*)

(*) Embora tivesse enviado este texto ao dr. Rocha Barbosa, director do semanário «Gazeta do Sul»(Montijo), acho que nunca chegou a ser publicado e ainda bem. Acho também que não saiu no livro sobre o nuclear que publiquei


20/3/1977 - Cómico não é que o governo socialista, eleito por maioria de cidadãos portugueses no livre uso do seu direito à Asneira, se prepare para plantar oito reactores até ao ano 2.000 num território onde nem um reactor cabe.

Cómico não é que decisões como essa estejam a ser tomadas sem consulta à população, quando a consulta já foi feita por várias vezes (eleições) e a população disse que queria este governo que nos vai meter oito centrais atómicas no buxo, este governo que admitiu e consentiu Sines, que ficou encantado com Alqueva, que desenvolverá as indústrias venenosas e pesadas, que, enfim, rendido aos alemães ou aos americanos vendedores de centrais, não tem outra opção que não seja aceitar o que vier em troca.

Cómico não é que um governo eleito pelo povo, faça tudo o que entende dever fazer contra esse povo por força desse mesmo mandato que desse mesmo povo recebeu.

Cómico, bastante cómico ( e sintomático do nosso risonho futuro ) é que a C.A.L.C.A.N., Comissão de Apoio à Luta Anti-Nuclear, tivesse, desde que foi fundada, em 1 de Abril de 1977, observado o mais prudente e atómico silêncio radioactivo.

Cómico é que os partidos estejam todos de acordo em partilhar com as grandes potências atómicas o que resta deste território afonsino para as potências atómicas aqui virem dejectar tudo quanto não querem dejectar nos países delas: plutónio, mercúrio, sulfuretos, seja o que seja, porco, tóxico, venenoso ou radioactivo.

Cómico é que o Movimento Ecológico Português não tivesse conseguido levantar cabeça porque andava tudo muito ocupado com reivindicações urgentes e, afinal, defender o povo da hecatombe nuclear e do crime atómico era para eles - partidos, sindicatos, serviços, etc. - coisa de loucos. Coisa de fascistas, chegaram a dizer-me os fáscio - revisionistas -estalinistas.

Cómico é que os cadernos "Ecologia e Sociedade" tivessem promovido uma reunião em Lisboa, entre os seus 75 assinantes, e tivessem comparecido umas quinze pessoas, das quais umas cinco tinham ido ali por engano e estavam constantemente a olhar para o relógio: era sábado e um fim de semana, além de sagrado, não se pode deitar fora.

Cómico é que 80 dos assinantes do jornal "Frente Ecológica", a quem foi enviado, após dois anos de confiança absoluta, o primeiro titulo de cobrança da assinatura, mais de quarenta (500) tivessem devolvido o recibo com que se procurava liquidar os 10 números já enviados e, portanto, já recebidos por esses mesmo que devolveram o recibo.

Cómico é que "Frente Ecológica", após campanha de fomento e difusão, após artes e artimanhas, após ter-se a gente esfarrapado todos, por aqui, em nome da Pátria e da luta ecológica pela sobrevivência do povo português, conte neste momento pouco mais de 250 assinantes.

Cómico é que, num país com 8 milhões (8 milhões de quê?), a defesa ecológica tenha 250 que levam a sério esta brincadeira de resistir à maciça destruição do que nos resta.

Cómico não é, pois, que o relatório italiano sobre a visita do Ministro Mário Soares, dê como aprovado o projecto da primeira central nuclear, quando, por aqui, do lado de dentro, se diz que o projecto ainda vai "subir" à Assembleia (diz-se) da República.

Cómico não é que o II Encontro Nacional de Política Energética, subsidiado pela Companhia Eléctrica concessionária das centrais, tenha sido preparado pluralisticamente para dar o amen às decisões de cúpula: se o II Encontro foi financiado pelo secretário de Estado da Energia e Minas, chefe do Grupo do Plano Nuclear, (ainda recentemente um dos maiores cérebros da Ex-C.P.E.), e pela própria Ex-C.P.E., agora sob a capa de empresa única nacionalizada dita E.D.P., cómico não é que o II Encontro vá ao encontro dos que o propiciaram financiando.

Cómico não é, tão pouco, que técnicos da Junta de Energia Nuclear andem, em segredo, dizendo que sob todos os pontos de vista a central nuclear será, aqui, a maior catástrofe que pode desabar sobre o Povo Português, sem coragem de o vir dizer alto e por escrito ao País.

Cómico não é que o governo socialista se candidate a um belo suicídio, metendo-se numa aventura que lhe acarretará a maciça oposição do povo português, muito em especial o das zonas directamente afectadas pelas centrais. Tratando-se de oito centrais, será todo o povo português, potencialmente em protesto, incluindo os próprios mortos de todos os cemitérios de Portugal, que se levantarão dos túmulos para saudar a política de cemitério.

Cómico não é que se vá, com o nuclear, aprofundar a brecha cisionista dentro do Partido Socialista.

Cómico não é que um governo se ofereça, em holocausto, ao buraco sem fundo do Nuclear, sem que até agora, os que sabem disso e são seus conselheiros, tenham tido o cuidado de o avisar.

Cómico não é que os responsáveis deste Plano Megalómano de oito Façanhudos Reactores estejam a fazê-lo completamente às cegas prevendo largar os primeiros precisamente sobre a linha de fractura sísmica mais típica e conhecida do território português.

Cómico não é que esses responsáveis nem sequer tenham fingido que iam estudar a segurança.

Cómico é que se esteja, com isto, a dar o empurrão mais espectacular no Movimento Ecológico Português, adormecido desde que nasceu e embalado pelo desinteresse minoritário de um público que tem preferido, graças a Deus, outras alegrias, eleições e greves, de um público que maioritàriamente votou naquele governo que lhe dará oito (oito!) reactores nucleares de bandeja.

Cómico é que o portuguesinho tenha agora que pensar, queira ou não queira, e ainda que isso lhe azede a imperial, de pensar muito a sério no ninho de lacraus que meteu no peito e que está amamentando, e como irá desembaraçar-se dele.
Cómico é que talvez agora, três anos depois de tudo ter feito para liquidar um Movimento Ecológico Português, lhe fizesse muito jeito que houvesse um Movimento Ecológico Português, capaz de (uma vez mais!) decidir por ele.

Cómico é saber corno irá ser este choque entre a politica suicida de um governo decididamente auto-masoquista e o povinho, quando sentir que lhe estão apertando o gasganete aqueles que ele elegeu seus deuses.

Cómico é não que as gerações actualmente a manjar do banquete do erário público, a pôr e a dispor dos dinheiros, a administrar a crise económica e a decretar para os outros medidas de austeridade, estejam literalmente a comprometer a sobrevivência das gerações seguintes, que hoje estão nascendo.

Cómico é que a geração, amanhã literalmente esmagada sob o Nuclear, ou sob as mil manigâncias venenosas, tóxicas e radioactivas do "progresso industrial", não tenha hoje, nem pareça que vá ter, a mínima atitude, o mínimo gesto, a mínima revolta, o mínimo esforço.

Cómico é que o povo todo e, deste povo, a parte ou geração vítima do pró-nuclear, nem sequer chegue a 250 portugueses, tantos são os portugueses assinantes de "Frente Ecológica", angariados de 1975 até hoje Março de 1977.

Cómico é que 8 milhões se deixem matar sem um protesto.
Se cada povo e cada juventude tem o que merece, também esta juventude de hoje, povo de amanhã, parece ter o que lhe vão dar.
- - - -
(*) Embora tivesse enviado este texto ao Rocha Barbosa, director do semanário «Gazeta do Sul», acho que nunca chegou a ser publicado e ainda bem. Acho também que não saiu no livro sobre o nuclear que publiquei
***

ECOS DA PÁTRIA-1

2544 caracteres – goes - diário75 - l.m. i.t.ecos - s/ - 1975+-(*)inventários


***
escalada-3-ds-ie=os dossiês do silêncio – ideia ecológica do afonso

Domingo, 20 de Julho de 2003

CIDADE-CANCRO E «ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO»(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado na revista da Associação de Estudantes da Escola de Belas Artes, «Arte/Opinião», Abril de 1979, por diligência do meu amigo e advogado Francisco Teixeira da Mota


Abril de 1979 - Mais estradas e auto-estradas, mais vias, ferrovias e rodovias, mais viadutos, aquedutos, oleodutos e gasodutos, mais cabos telefónicos, telegráficos, de alta tensão, submarinos e terrestres, mais Marconi, TV e RDP, mais antenas, mais frigoríficos e silos e máquinas congeladoras, tudo isso são apenas alguns progressos que podem dar a ilusão de que vai grande azáfama no sentido da descentralização por esse País e Mundo fora.
Então todo esse panorama de vias, condutas, fios, cabos, etc, é ou não é para fazer chegar a todos - aldeias lugarejos, montes e vales - os grandes benefícios da civilização acumulados, regra geral e até agora, na cidade-centro que os produz?
Eis mais um slogan, dos planeamentos e planeadores que nos têm cantado - a partir de que tais premissas - os encantos e benefícios da Descentralizacão (agora) , a partir da anterior Centralização-sinónimo-de-Civilização.
Mais uma vez o ecologista estraga o jogo a dizer que o Rei vai nu: a partir de tais premissas -- "Civilização é sempre obra de um centro que a produz" - o que se faz, fez e fará é reforçar a teia centralizadora concentracionária.
A cidade cancro aumenta, e por isso é preciso alargar, aumentar, sobrepor em camadas as vias de acesso a ela, vias que hão-de suportar cada vez maior tráfego de camiões carregados com cloreto de vinilo, ácido cianídrico, tomates e beringelas. O grande estômago concentracionário nunca está saciado: o grande estômago nunca deixa de obrar enormes tonelagens de dejectos. Entrar e sair implica vias, condutas, fios.
Quem vai acreditar que defendem efectivamente a descentralização, quantos partem de um modelo económico e de um tipo de concentração industrial que obriga, ele próprio, ao máximo de concentração ou centralização, num processo irreversível?
Típico exemplo desse mundo concentracionário, Sines não tem mãos a medir: mais vias, mais condutas, mais fios, mais cabos. Chega agora a grande notícia: uma firma americana vai construir uma rede de gasodutos única no Mundo.
O projecto de rebocar icebergues desde o pólo até à nossa banheira é apenas o auge . A escalada prossegue, tal como o modelo de crescimento económico, e é por isso que - face ao absurdo, à asneira, ao irracional de tal modelo, de tal crescimento e de tal concentracionário - se lança a isca-slogan da descentralização para 1980.

O SLOGAN DO «ORDENAMENTO»

Idêntico slogan é o «ordenamento do território» .
Descentralizar, no entanto, não tem nada a ver com estas premissas.
Política desconcentracionária, como a realismo ecológico a entende, tem a ver com animação, fomento, diversificação e proliferação de todas as alternativas de autosuficiência local: materiais e matérias-primas da região, alimentos da região, energia captada e explorada na região, reciclagem e reaproveitamento na região, etc.
Política desconcentracionária tem a ver com a fauna e a flora da região, com os ecossistemas e recursos que aí existem.
O realismo ecológico espera que a cidade- cancro se desagregue por si: não vai continuar a alimentá-la.
Muito mais do que as poluições instaladas, os grandes desastres contra o Meio Ambiente têm ficado a dever-se ao transporte, quer de matéria-prima para as fábricas poluidoras, quer de resíduos dessas mesmas fábricas.
Neste contexto, a ênfase posta na poluição local, pode ajudar a desviar as atenções da poluição itinerante.
Liguem alguns factos que a Imprensa dá sempre desligados e logo verão que tudo são apenas sintomas do mesmo cancro concentracionário: uma economia de mercado.
O petroleiro «Amoco Cadiz» que se parte ao meio e derrama 220 mil toneladas de nafta em 80 quilómetros da costa bretã.
O camião-cisterna que explode no acampamento de Los Alfaques carregado de propileno, matando mais de 300 pessoas
O vagão-cisterna com ácido cianídrico que se volta no centro de Tolosa (Guipúzcoa).
O "Alchimist Emden» que encalha próximo de Sesimbra carregado de acetona - matéria altamente inflamável - que deu água pela barba às forças militares, que até... vias de acesso tiveram de abrir, propositadamente.
Com mais ou menos acidentes, a rotina do tráfego normal prossegue. Tráfego que é também o tráfego com a saúde, a segurança e a sobrevivência das populações.
Quando nos rezam a ladainha da descentralização, vem logo em fá menor a cegarrega do «ordenamento do território».
Ora a simples e lapalissiana realidade é que:
a) «Ordenamento do território» significa o grito de guerra lançado pelas indústrias pesadas, quando querem mais e melhor espaço para se implantar, mais água e mais electricidade, e já está tudo mais ou menos tomado por outras indústrias pesadas;
b) Ordenamento do território significa ainda que alguns parques e reservas, meia dúzia de zonas verdes, estreitos corredores ecológicos, são piedosamente preservados pelos pesados, para a malta pôr pé em ramo verde e ter alguma clorofila para não asfixiar de todo com os pesados e seu pesadelo;
c) Pelas duas alíneas anteriores, vê-se como o «ordenamento do território» serve fundamentalmente para "aliviar" a pesada consciência da indústria pesada, permitindo que esta instale com mais garra e arrogância, com maior rentabilidade, com tudo mais à mão, toda a sorte de poluições, venenos, tóxicos, fenis, tilenos e cianetos;
d) «Ordenamento do território» significa - tal como o slogan da descentralização para 1980 - que os polos ou concentracionários industriais vão explorar até ao fim as suas "potencialidades" e tenderão a ser, portanto, cada vez mais a concentração do concentracionário: Ferrel não terá uma mas oito centrais nucleares.

- - - - -

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado na revista da Associação de Estudantes da Escola de Belas Artes, «Arte/Opinião», Abril de 1979, por diligência do meu amigo e advogado Francisco Teixeira da Mota
***
silly-1

«SILY SEASON» UMA OVA

Helena Pereira e Eunice Lourenço, caríssimas colegas:

Lisboa, 4/Agosto/1999 - Descobrir o lado encoberto do mês de Agosto, trabalho que o «Público» realizou no dia 3 de Agosto de 1999, é um acontecimento histórico e inédito no jornalismo (atrevo-me a dizer, no jornalismo mundial) .
Por isso, pela novidade, a notícia é mesmo (duplamente) notícia.
Alguém no «Público» teve a ideia e merece parabéns. Mas também os merece quem a executou, com intuição feminina (o sexto sentido?), as jornalistas Helena Pereira e Eunice Lourenço.
Tanto mais que haverá sempre alguém, dos sensatos e bem pensantes, que classificará de místico/metafísico o vosso trabalho. Se é que não vai surgir um astrólogo da nossa praça a reivindicar, por mediunismo, a inspiração do vosso trabalho de pesquisa e descoberta. Ou metê-lo no saco sem fundo das «coincidências».
Venho dizer-vos que nem eu estou ché-ché, por vos escrever esta carta, nem vocês estão delirando quando chegaram à conclusão de que a «silly season» era uma piedosa fraude.

De facto, o mês de Agosto, segundo os dados cósmicos e os factos físicos do mundo vibratório, é um mês polar na roda dos 365 dias do ano, sendo o outro o mês de Fevereiro (que em culturas com o sexto sentido apurado, como a tibetana, é o último do ano).
Considerar Agosto a «silly season» é, desde logo, a prova demonstrativa da rotina mental que rege o sistema e os lavadores de cérebro profissionais que são os jornais e telejornais. Desta vez, com a excepção excepcional do «Público».
Quem está atento e «ouve» os acontecimentos (a sua ressonância com a rede cósmica), já tinha percebido, pelo menos desde 1990, limite da pesquisa do «Público», embora outros o saibam desde 26 de Agosto de 1983, que no mês de Agosto têm acontecido os eventos decisivos para a viragem.
A pesquisa (quase) exaustiva do «Público» assinala, no entanto, alguns lapsos (em si mesmo também significativos) talvez porque foi realizada (e bem realizada) com base nas primeiras páginas do «Público» quando, na verdade, os acontecimentos cosmica e vibratoriamente decisivos (importantes) surgem, regra geral, em rodapé de página, 3 linhas e ponto final. Ou nem surgem: o que sugere uma nova e fascinante linha de investigação.
Só queria lembrar, no ano de 1977, que a morte de Madre Teresa de Calcutá coincidiu com a de Diana, o que sinergiza os dois acontecimentos, talvez duas faces da mesma moeda cármica...
O que a cosmobiologia nascente consegue saber, até agora, é pouco mas certo. Indiscutível. Nada tem a ver com teorias e muito menos com astrologias cármicas mas com certezas físicas, o facto de o 26 de Agosto de 1983 ter sido o tiro de partida para a viragem de era e do novo paradigma ou imperativo cósmico.
Se a pesquisa do «Público» se estendesse, retroactivamente, até essa data, iria encontrar mais uma série de acontecimentos estatística, cósmica e vibratoriamente significantes (com carga informativa ou relevantes como dizem os advogados).
Espero bem que o faça.
Aliás, foi o «Público» o primeiro a ter a ideia de assinalar, nas suas páginas, com um trabalho de Fernando Dacosta, o «countdown» para o ano 2000, só muito recentemente adoptado também pela SIC (falando, é claro, de grandes meios de Comunicação Social).
A atenção ao mundo subtil de que os factos (maia, na nomenclatura hindu) são apenas indícios, seria um dos eventos que o «Público», nessa pesquisa mais avançada, poderia pôr em prática , com o gáudio de aprendizes como eu.
O equívoco a ultrapassar (e que será também um efeito do novo paradigma cósmico) é de que os eventos mais relevantes são, exactamente, os que não figuram nas primeiras páginas (nas primeiras páginas figura, regra geral, a parte maldita do processo) nem dão aberturas de telejornal.
São, por vezes, fait-divers do banal quotidiano, quase sempre com animais, esses seres misteriosos e «messiânicos»....
Recordo-me, há meses, de uma gatinha que, algures na América do Norte, adoptou um bébé de outra raça animal, ou de um gatinho que, em Portugal, percorreu a pé 150 quilómetros para regressar à casa dos donos...
Já não me lembro se foi em Agosto mas tanto faz: também os outros meses e dias polares de cada ano, serão cada vez mais vistos (lidos) através desses eventos que, por serem o novo mundo nascente, ninguém (e muito menos as primeiras páginas, escravas da chamada «opinião pública») os identifica como significantes, relevantes, com bastantes bytes de informação.
Durante alguns anos, ainda, as primeiras páginas serão de tragédias sangrentas e de Mónicas Lewinsky.
Vibratoriamente falando, a desestruturação ao nível humano, é a Aliança com Elohim, conforme lhe chama o biólogo Etienne Guillé que há vinte anos investiga experimentalmente aquilo que Carl Gustav Jung chamava «sincronicidade».
O trabalho de Helena e Eunice no «Público» é ainda mais notável por ter, através de meios profanos, coincidido em cheio, quase ponto por ponto, com as hipóteses de trabalho da gnose vibratória. Carl Gustav Jung tê-lo-ia inserido no seu ensaio sobre a «sincronicidade», fenómeno que aliás se regista em algumas descobertas científicas feitas ao mesmo tempo em pontos afastados do globo, ignorando-se os cientistas uns aos outros...
Por imperativo cósmico - ou de ressonância vibratória - há uma leitura diferente dos acontecimentos a fazer e o «Público» fê-la, sem ajuda do método em que poderia apoiar-se : a gnose vibratória. Mas uma estatística, mesmo rudimentar, também lá leva.
Só queria sublinhar que nada tem de mística ou de metafísica esta interpretação do vosso trabalho. Obedece às normas mais restritas da física das energias, noologia como lhe chamou Aristóteles e, mais modernamente, Helena Petrovna Blavatsky.
Pelos vistos e como vocês acabam de mostrar, a noologia emerge , no meio de algumas dores de parto, muito mais rapidamente do que os mais optimistas poderiam imaginar.
Por pessimismo, meti no lixo uma série de recortes, quase todos do «Público» (es) colhidos nos dias 13 e 26 dos meses de Fevereiro e Agosto, de alguns anos a esta parte. Já tinha desesperado de que esses recortes fizessem algum sentido e pudessem servir a algum jornalista com gosto pelo «insólito», pelo outro lado do real fantástico. Afinal, precipitei-me em os atirar para o lixo...
A velocidade dos «acontecimentos» neste ano de 1999 (lido de pernas pró ar dá 666, que o Apocalipse ou livro da revelação diz ser o número da Besta...): os 72 dias de bombardeamentos monstruosos sobre a Jugoslávia não foram 666 nem foram em Agosto mas podiam ter sido, já que nunca um crepúsculo dos monstros e aurora dos deuses foi tão informativo.
***

NOTÍCIAS DA FRENTE-2

quotid - fascismo quotidiano – chave ac para linhas temáticas - esboços de ecologia humana – os dossiês do silêncio

A LISTA NEGRA

9/9/1990 - É sempre incompleta a «lista negra» dos «fascismos quotidianos», mas vamos dar uma achega, indicando alguns:
-a publicidade explícita mas principalmente a oculta
-as multas, verdadeiros roubos (assaltos) legais
-as bichas a que nos obrigam com os prazos a que nos obrigam a pagar coisas a que nos obrigam
-o ruído como principal destruidor do sistema nervoso
-o fisco e sua actualização electrónica (cartão do contribuinte)
-a chicana partidária que completamente paralisa a vida do país e narcotiza a consciência individual das pessoas
-os medicamentos e seus efeitos comprovadamente cancerígenos e psicógenos
-os pesticidas e sua escalada de morte, fome, miséria, mas tudo isto em nome da fartura e da produtividade
-os sismos provocados por bombas subterrâneas que as potências nucleares testam constantemente
-os boatos de guerra nuclear que as superpotências lançam para aniquilar e paralisar de terror antecipado as pessoas antes de as aniquilar pelas bombas
-o preço que pagamos pelo nada que temos
-pessoa tornada mercadoria, cidadão reduzido às categorias utilitárias (para o sistema) de contribuinte, eleitor, munícipe, consumidor
-esquerda ignora fascismo quotidiano?

AUTOBIBLIOGRAFIA:
-«Assistência hospitalar às mães grávidas», in PH, 6/8/80-«Respirar chumbo», in «A Capital», 12/2/83
-«Ruído em prédio de Odivelas», in «A Capital», 3/2/83
-«Delitos e delinquentes, laranjas, vacinas e etc.»,in «A Capital», 15/1/83
***

ECOS DO MUNDO-1

1074 caracteres-cargos - ficcoes-leituras morais para as escolas-texto aberto - inventário para ficcionar

UMA NOTÍCIA DO ANO 2009 - O ENIGMA DOS CARGUEIROS DESAPARECIDOS

2/5/1991 - O Grémio Internacional dos Seguradores marítimos «Boy Friends» acaba de anunciar que está quase a ser desvendado o enigma dos cargueiros desaparecidos sem explicação marítima ou meteorológica plausível.
De alguns, sabe-se apenas que foram engolidos pelas águas, serenas ou revoltas do Oceano, quando nem sequer soprava vento forte, e as ondas eram de normal altura e moderada violência. De outros, há notícia vaga de incêndios a bordo, mas quanto às vítimas é de admirar que não venham reclamar o seguro a que têm direito.
Desaparecidos? Em que lista irão figurar? Na da Lloyds que já se encontra praticamente desactivada? Tudo permanece, portanto, obscuro quanto às causas e mesmo quanto às circunstâncias em que se consumam os naufrágios. Por vezes vem ao de cima -- à tona da notícia -- de que o barco transportava cianeto de vinilo, desperdícios químicos de ---- [inventário]
***
1342 caracteres - repeat-1-chave


OCEANOS: UM TEMA A QUE TENHO DE VOLTAR ANTES DA EXPO 98


[18-6-1994] - Quando, em 26/10/1980 me interrogava, no jornal «A Capital», sobre «Os Mistérios do Mar» e sobre «O Mistério dos Afundamentos de Cargueiros» - fenómeno então quase diário - , podia lá saber que, em 26/Maio/1993, 13 anos mais tarde, o Comissário Mega Ferreira iria enviar-me uma carta a convidar-me para um brain storming sobre os oceanos, porque entrementes os oceanos ficaram na moda, todos os comissários começaram a defendê-los e a ficar preocupados com o suicídio das baleias e outros mamíferos de grande porte que não era costume, antes do petróleo e das radiações, suicidarem-se.
Espero que a Expo 98, auge da civilização que deu mundos ao mundo e extinguiu praticamente as espécies, incluindo as de alto mar, venha dar a resposta às perguntas que ficaram sem resposta - sobre a extinção dos oceanos, no meu artigo de 26/10/1980 e de 15/11/1980 de «A Capital». Que até nem tenho a certeza se ficou inédito. Por isso guardo o original, bastante mal dactilografado, graças a Deus.
Mais títulos publicados sobre Oceanos:
- Internacional Ecologista, in CPT, 15/11/1980
- Alarmismo, CPT, 15/11/1980- Fundos Oceânicos, CPT, 15/11/1980
- Sismos no Mar - A Grande Vaga do Natal, CPT, 3/1/1981- SOS Oceanos, CPT, 28/3/1981
***
ses-2- ses = silencios & silenciamentos - ficha de ecologia humana - pistas de epidemiologia

SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS

6/8/1980 - CANADÁ CONTRA O «BANG» DO CONCORDE - Em 6/8/1980, era noticiado de que uma lei canadiana proibia os voos supersónicos por cima do território nacional do Canadá.
Companhias como a Air France e a British Airways seriam obrigadas a alterar as suas rotas de voo, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Nova Escócia e Terra Nova - cujos habitantes, há anos, se queixavam, do «bang» incomodativo do «Concorde» sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos...
Onde está o «Concorde»? Ainda mexe? Ainda incomoda os habitantes de Nova Escócia e da Terra Nova? O ministro canadiano cedeu ou mostrou firmeza? Qual a represália das duas companhias aéreas?

NASCER CADA VEZ MAIS DIFÍCIL - Para o «dossier maldito» das Bactérias-Antibióticos, mais um episódio: O misterioso vírus que em Agosto de 1980 foi detectado nas maternidades de Lisboa e que foi denunciado na imprensa.
Caiu no esquecimento ou no silêncio? Ou foi silenciado?
De facto, torna-se cada vez mais perigoso nascer em Portugal.
Para lá da esterilização voluntária,
da pílula cor-de-rosa,
do planeamento familiar e de todas as campanhas com ar de progressistas e libertadoras da mulher, falta apontar outros dois factores que desencorajam a fertilidade dos casais: não ter onde habitar e o estado tenebroso que as maternidades atingiram, constituindo mesmo este um caso à parte dentro do panorama também tenebroso dos hospitais em geral.
Ver IR, cronologia 1980 (21/8/1980)

VACINAR O TERCEIRO MUNDO QUE NÃO MERECE MAIS - Tema intrinsecamente relacionado com o anterior, o da vacinação em massa já em 1/Dezembro/1980 dava que falar. O director adjunto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) proclamava que os habitantes do Terceiro Mundo devem ter cada vez mais acesso a medicamentos e vacinas.
Quinze anos depois, quem vai relacionar esses «cuidados médicos intensivos» com o Vírus do Ebola no Zaire, por exemplo, ou mesmo com o Vírus da SIDA que se disse, anedoticamente, ter origem no macaco verde do centro africano?
O silêncio sobre as relações entre factos é outro silenciamento em que, jornais e jornalistas, colaboram de boa mente. A falta de memória para o que não interessa lembrar, dá uma grande ajuda.

TEMAS DO SAGRADO - ABORÍGENES CONTRA PROGRESSO - Há episódios exemplares na luta do progresso contra a civilização.
Em 12/Agosto/1980, os aborígenes australianos resolveram opor-se à exploração petrolífera que lhes destruía o território e a fonte alimentar.
Segundo o título do jornal «O Dia» (12/8/1980) «superstição australiana embarga a prospecção de poços de petróleo».
De um lado, a Amax Petroleum Company que perfura tudo o que encontra
Do outro lado, os aborígenes do oeste australiano, os aborígenes da região de Noonkanbach (talvez o povo sobrevivente mais antigo do Planeta, herdeiro directo dos antigos deuses), os lagartos gigantes chamados grandes iguanas (iguais aos que existem na América Central, como lembra James Churchward no livro «O Continente Perdido de Mu»), os australianos brancos que apoiam a luta dos indígenas, os pastores protestantes e, enfim, os sindicalistas que também bloquearam o camião pesado que se preparava para as prospecções.
Para a nossa imprensa progressista, tudo isto eram «superstições» de supersticiosos que consideravam «sagrada» esta inóspita região australiana.
Na Austrália, em 12/8/1980, até os sindicalistas são contra a civilização e o progresso da Amax. São uns supersticiosos que ainda acreditam em «terras sagradas».Têm-nos é negros e no sítio.
Note-se que do ponto de vista estritamente alimentar, os gigantescos iguanas servem de alimento aos que vivem nesse remoto monte de Evian, a 3000 Km de Perth, onde está a sede do sindicato que apoiou e apoia a luta dos indígenas.
Uma história a redescobrir, esta dos aborígenes, contemporênos dos outros aborígenes que fizeram as gravuras do vale do Coa?
***
água-1-ds=os dossiês do silêncio

O CICLO (VICIOSO) DA ÁGUA(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/6/1981

20/6/1981 - Não podemos acusar o sistema de estar desatento. Não têm faltado os alarmes e os simpósios. As recomendações. Os relatórios. Os congressos de aflição. Os organismos. Que a água potável iria faltar foi um dos primeiros sinos a tocar a rebate...
«Falta água potável para 200 milhões de pessoas», anunciava em 1973 (Julho/Agosto, 1973) a revista da OMS, «Saúde no Mundo».
O grito da água é um pouco semelhante ao que foi dado para a proteína e para os mortos à fome no mundo.
Mas que ilações se podem tirar destes avisos alarmistas a que, periodicamente, o sistema se dedica, numa espécie de purga interna ou autopurificação catárctica?
Tomando o exemplo da água, que se concluiu?
Para já, vê-se que:
1 - O sistema reconhece o fenómeno, alerta para a antiguidade dele, assusta-se e assusta-nos com a tendência crescente de cada vez maior escassez;
2 - Para diluir as responsabilidades da sociedade industrial na destruição dos recursos aquíferos, faz uma retrospectiva histórica de há 2000 anos a esta parte, sobre as dificuldades que a humanidade tem tido com faltas de água...
Constata então que sempre houve falta de água, como sempre houve fome e (até) poluição, cancro, etc., constata até que já deve ter havido centrais nucleares...; claramente sofística, esta constatação histórica serve, pelo menos, o objectivo de isentar de culpas os sistemas imperialistas do macro-desenvolvimento actual; por outro lado, convém deixar que os povos se assustem, mas não muito (muito susto, não os deixa trabalhar...), porque, afinal, sempre assim tem sido e sempre assim há-de ser...
3 - Uma vez metida a humanidade entre dois fatalismos, o sistema passa a cultivar com esmero outro sistema: e pinta um quadro negro, horrendo, inóspito da escassez hídrica nos subdesenvolvidos, pois assim se desvia mais uma vez a vista dos desenvolvidos e suas culpas: se a água contaminada por bactérias é um facto e as doenças hídricas um flagelo, o sistema tem aí um óptimo alibi-bode expiatório para diminuir a gravidade do outro facto que é a água contaminada por mercúrio, petróleo, chumbo, radioactividade, detergentes, pesticidas, adubos, etc.
4 - A estratégia internacional adoptada e as medidas recomendadas aos governos são, na prática, ora inexequíveis, ora aleatórias, ora contraproducentes: a estratégia de organismos como a O. M. S., dir-se-ia mesmo que está dirigida para agravar o problema da água e de secular fazê-lo passar a milenar;
5 - Se, por um lado, há organizações apaixonadas pela água, outras há, igualmente internacionais e muito amigas da humanidade, que procedem como se nada tivesse sido por aquelas proclamado em solenes cartas dos direitos da Água: tal como a dos Direitos Humanos, até parece escrita para melhor se cometerem as maiores agressões aos direitos internacionalmente reconhecidos (mas isto é um dos mistérios da Santíssima Trindade que ninguém ainda pôde decifrar...);
Os organismos em questão - um que gosta de água e outro que a odeia - até pode ser que coexistam no mesmo edifício, rua ou cidade...
Há a repartição que estraga e autoriza a estragar, como há a repartição que recomenda e aconselha a não poluir...
E nem se pode dizer que o sistema é irresponsável ou hipócrita: era preciso que ele se assumisse como uma consciência e é isso que jamais ele fará. Sendo uma unidade totalitária, é exactamente como unidade intrínseca que ele se recusa a ser visto.
Tal sistema tem, na história, o nome de concentracionário. E muitos já sabem do que ele foi capaz, por volta dos anos 30, na Europa Central.
6 - Eis, pois, tudo o que define, especificamente, o problema apocalíptico» da água: universo concentracionário, ciclo vicioso, paradoxo explosivo, beco sem saída, círculo fechado, cerco.
A dominante dessa ciclo vicioso é que se trata de um problema milenar de subdesenvolvimento q u e, em 1981, não é resolvido por esse lado ao mesmo tempo que se agrava pelo outro que diz vir resolver este: quer dizer, o lado do desenvolvimento e do subdesenvolvimento.
- - - - -

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/6/1981
***
7040 bytes - ppcp-1=pistas para um conto policial

O MISTÉRIO DOS CARGUEIROS NAUFRAGADOS

Paço de Arcos, 26/10/1980 - Consultando a lista de cargueiros afundados durante os anos de 1978, 1979 e 1980, salta à vista a frequência de desastres, explosões, afundamentos, desaparecimentos «misteriosos» ou naufrágios em condições que testemunhas e entidades responsáveis confessam «estranhas» ou «impossíveis».
O afundamento da plataforma petrolífera «Alexander Kielland» por exemplo, era considerado «impossível» ... antes de acontecer.
Entre as várias hipóteses possíveis para explicar esta frequência, eis que a mais cruel e desabrida imaginação se recusa a colocar aquela que é provavelmente a mais lógica e a mais próxima de ser a causa verdadeira. A causa que «explica» tantos desastres inexplicáveis. E a hipótese entre todas inimaginável - como quase tudo o que hoje sucede no campo dos impactos ecológicos provocados pelo terror tecno-industrial - é que a lógica desse sistema de destruição leva os proprietários de cargueiros à sua destruição.
Dado que os seguros são, muitas vezes, quantias substanciais e atractivas, torna-se mais rentável (a palavra mágica da civilização do holocausto) destruí-los do que mantê-los, especialmente se já se encontram na fase de receber frequentes e caríssimas reparações em estaleiros como os da Lisnave, cada vez mais congestionados.
Mesmo parados, em qualquer porto, o aluguer é, normalmente, tão elevado, que nenhum armador tem interesse em manter paralisados cargueiros em geral e petroleiros em particular.
Melhor solução, porque mais económica: afundá-los, de preferência com cargas de resíduos perigosos e tóxicos, eles também com problemas de arrumação e despejo por todo o Mundo, por causa das campanhas dos perigosos ecologistas.
Junta-se assim o útil ao agradável, ou seja, de uma cajadada (afundamento «acidental») matam-se dois coelhos: cargueiro com o prazo de validade já ultrapassado e resíduos que não tenham onde cair mortos.
Se o afundamento de cargueiros obedece de facto a esta «lógica», é evidente que vamos assistir, ritmadamente, a esse espectáculo, até que as agências noticiosas, quando a coisa se banalizar, deixem de dar a notícia.
Se as duas razões apontadas são causa dos afundamentos, é óbvio que a série não vai parar: o que irá parar, evitando o escândalo e se é que o escândalo ainda é possível quando se tornou rotina, são as notícias dos afundamentos.
Como se sabe, o que hoje em dia não é notícia, especialmente notícia de telejornal, ou não vem na Internet, não existe.
Maremotos, ondas gigantes em mar calmo, e outras estranhas (ou apenas anómalas) ocorrências são hoje frequentes nos noticiários das agências internacionais. Verifica-se também que esses desastres têm o ar de «vir às ondas», quer dizer, de vez em quando regista-se uma «revoada» de desastres idênticos, em vários locais do globo.
Mero e puro acaso, dirá o místico de serviço.
A hipótese de um movimento ecologista internacional que estivesse a tentar sabotar o progresso e o desenvolvimento da magnífica sociedade industrial, é plausível, até porque os ecologistas se têm notabilizado por usar meios terroristas de acção e não se coíbem de colocar bombas onde cheira a progresso.
Outra hipótese, mas esta de rejeitar à partida, porque já todos os sismólogos, antropólogos e outros especialistas em progresso afirmaram que tal hipótese não tem sentido nem faz lógica nenhuma, é de que estas séries de desastres com cargueiros possam ter origem nos famosos rebentamentos subterrâneos de bombas atómicas no atol da Muroroa (França), deserto do Nevada ( USA) e no perímetro de Semipalatinsk (URSS), os tais rebentamentos que também não existem, porque as agências noticiosas internacionais raramente os noticiam.
E os que raramente noticiam, nunca chegam aos Telejornais e à Internet: motivo mais que óbvio para que nunca se tenham realizado os 5.798 rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares que já se realizaram.
Especialmente as bombas francesas, que rebentam no Atol da Muroroa, parecem ter o seu maior impacto sísmico nos mares e oceanos.
No deserto do Nevada (USA) e no Semipalatinsk (URSS) os reflexos sísmicos são principalmente na parte emersa da crosta ou plataforma continental, até porque aquelas duas superpotências, com a experiência de 16 anos que já têm, podem teleguiar os sismos com muito maior rigor e segurança.
Não é preciso falar de guerra sísmico-nuclear, porque ela é um facto. Mas a verdade também é que não existe, porque as agências noticiosas internacionais não falam disso, muito menos os jornais e tele-jornais, e muito menos a Internet-que-sabe-tudo-de-tudo, alguma vez registou essa palavra.
Estamos no domínio da pura ficção científica.

Mais uma hipótese, vulgar mas plausível, para explicar esta série de cargueiros afundados, é que começa a existir um stock de cargas indesejáveis, de lixos e detritos, de substâncias venenosas, tóxicas ou explosivas, que os proprietários têm sérias dificuldades em armazenar, porque os espaços estão cada vez mais congestionados, porque há países com legislações de meio ambiente muito severas e porque, no fim de contas, é muito fácil - a pretexto de naufrágio acidental - deixar no fundo do oceano as cargas que de outra maneira criariam inúmeros e mesmo incalculáveis problemas.
A hipótese da destruição deliberada de navios com cargas poluentes de primeira classe, torna-se tanto mais verosímil quanto mais terríveis forem estes poluentes e maiores dificuldades, por culpa dos ecologistas, haja onde os lançar.
É uma hipótese de ficção científica mas, observando a lista de cargueiros partidos, naufragados, desaparecidos, etc, é caso para a gente exclamar: «Si non e vero, é benne trovato».
***
energia-5-ds=os dossiês do silêncio – cronófagos e energívoros – as esternalidades -

Domingo, 20 de Julho de 2003
ECONOMIA ENERGÍVORA:A QUADRATURA DO CÍRCULO (*)

(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra) , 22/11/1980

22/11/1980 - Enquanto o desperdício for o motor que acciona o lucro na sociedade industrial, podemos estar certos de que nenhuma medida de fundo será tomada para gerir melhor a energia disponível.
Falar de economia neste contexto, portanto, é uma contradição lógica insolúvel. No entanto, é sobre esse contra-senso que assenta toda a lógica do crescimento industrial
Todo o discurso sobre poupança, austeridade e economia energética é, portanto, pura demagogia.
Um dos exemplos mais flagrantes é dado pelas estratégias ou planos energéticos em que os técnicos nos falam.
Fazem eles a estimativa - ou cálculo dos consumos - e vão depois à procura da energia que satisfaça esses consumos.

QUANTO CUSTA EM ENERGIA E EM VIDAS HUMANAS?

É puro folclore revisteiro, porém, tudo o que se disser sobre energia sem colocar, na base, o problema dos custos qualitativos que o crescimento expansionista do imperialismo industrial arrasta.
Sem denunciar as actividades industriais intrinsecamente energívoras, é evidente que se está escamoteando da contabilidade económica, factores decisivos.
Sem apontar (contar, quantificar) o que determinadas indústrias gastam em água, alimentos, solos agrícolas, qualidade do ar, energia humana e saúde do trabalhador, em segurança das populações e higiene pública, é evidente que todos os cálculos
custos/vantagens estão viciados de origem.
«Quanto custa em dinheiro?» perguntava-se ontem, para saber se determinado objecto,, encargo, projecto ou viagem era económico».
«Quanto custa em energia?» - é hoje a primeira e decisiva pergunta a fazer para qualquer um saber se isto ou aquilo será «económico».
A economia que preside hoje a todas as economias é a de energia, em sentido lato.
Quanto custa em recursos vivos e naturais será, de uma maneira geral, a pergunta a fazer por «uma nova ordem económica», à medida que a necessidade de sobrevivência ecológica impuser uma moral económica baseada nos custos qualitativos (quer dizer ecológicos) dos empreendimentos, indústrias e actividades que até agora só têm contabilizado factores materiais a quantitativos.

CRONÓFAGOS E ENERGÍVOROS

Um factor sempre escamoteado pelos economistas clássicos do desperdício e da exploração, é o tempo ocupado e o tempo «livre» dos trabalhadores,
Nunca se cita o tempo que lhes é roubado em bichas, transportes, deslocações, burocracias, etc.
«Matar o tempo» é uma expressão sociologicamente significativa.
Tudo está organizado para matar cientificamente o tempo e, com isso, matar moral ou psiquicamente o trabalhador.
Mas nunca entra na contabilidade dos economistas - sejam eles de direita, sejam eles de esquerda - o tempo que, afinal, não sendo de trabalho é igualmente devorado pelo sistema.
Os cronófagos, tal como os energívoros, merecem figurar nos futuros ensaios e tratados de Economia.
Nesta perspectiva se inclui o peão e os custos qualitativos que este é obrigado a pagar, por exemplo, para que os automóveis circulem à vontade na cidade e estacionem onde lhes apetece, enfim, para que o progresso (automóvel na emergência) continue matando, mas cientificamente, planeadamente, urbanisticamente.
Matando mas, principalmente, estropiando pessoas humanas, visto que já se desenha aí, no horizonte, uma nova classe social, um novo mercado, um novo sector de consumidores que irão accionar várias indústrias.
Estropiando muita gente e incrementando, portanto, os chamados deficientes físicos, muitas são as indústrias que saboreiam já as imensas vantagens abertas por novos consumos e novas necessidades desses deficientes.
Se a medicina por exemplo, abre insuspeitados horizontes ao mercado oftalmológico e ao mercado renal, fabricando com os medicamentos que receita contingentes cada vez mais numerosos de doentes oftálmicos e renais, não será no sector dos deficientes físicos e traumáticos que estas leis inexoráveis do mercado se irão alterar.
Sempre que surge uma nova necessidade e um novo consumidor são algumas indústrias que prosperam.

O PAPEL DO CONSUMIDOR NA TRAGÉDIA MODERNA

Se houver um conflito atómico - do qual «ninguém acordará vivo»- ele talvez se deva a uma qualquer teimosia: do sr. Khomeiny talvez, ou dos senhores economistas que teimam, inclusive, em não estar informados dos avanços da sua própria ciência, ou, inclusive, dos gastadores e grandes consumidores de petróleo que não estão dispostos a abdicar do seu conforto em geral e do seu automóvel em particular. Nem que para isso o mundo se derreta num holocausto nuclear.
Que isto seja ridículo ou inverosímil, inclusive humilhante para a espécie humana - à mercê de uma ou várias teimosias, de um ou vários teimosos - não impede que seja verdadeiro: talvez o fim do planeta se deva a uma casmurrice de um burro demasiado senhor de si e do seu nariz. Talvez o apocalipse venha a dever-se à inércia dos senhores consumidores, mentalizados pela tal «cassete» e peso tal mito burguês do progresso, condicionados para não inventar formas de conforto menos poluentes, menos dependentes do meio natural, menos predatórias dos recursos vivos.
O papel do consumidor, sempre negligenciado na tragédia moderna, é, no entanto, um papel de protagonista. Ele foi condicionado pela publicidade internacional a querer coisas que lhe afirmam ser para seu conforto. Sabe-se que, depois, para garantir (e alargar) esses níveis de conforto é preciso acelerar o ritmo de destruição da biosfera.
Mas já é tarde, porque o consumidor, aí, posto no dilema - vida ou conforto - prefere o conforto e borrifa-se na vida. Prefere, portanto, a «morte confortável»..

O MITO (BURGUÊS) DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

Amory B. Lovins aconselha o capitalismo americano a utilizar as energias renováveis (infinitas) para evitar o seu próprio colapso.
Muito citado e publicado por ecologistas, Amory Lovins é afinal um homem do sistema que percebeu, a tempo, que o «crescimento infinito» e a «expansão, contínua» podiam conduzir ao abismo a sociedade industrial e seus triunfalismos. Os estragos ecológicos, no meio disto, é o menos: no fundo, é a própria estabilidade do negócio que está em risco, é a própria existência do capitalismo e do imperialismo industrial que se encontra ameaçada.
Uma das maiores figuras da ciência económica mundial, o brasileiro Celso Furtado, tem ensinado em Yale, Harvard, Paris (Sorbonne) e Cambridge, as suas teses sobre o «mito do desenvolvimento económico» e a «profecia do colapso».
«Pretende-se - diz ele ao desmontar o mito - que os standarts de consumo da minoria da humanidade, que actualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo.»
E conclui sem dar lugar a dúvidas: «Essa ideia constitui seguramente, um prolongamento do mito do progresso, elemento essencial na ideologia directora da revolução burguesa, dentro da qual se criou a actual sociedade industrial.»
- - - - -
(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra) , 22/11/1980
***

RENÉ DUMONT 1976

76-07-00-ie-nq - dumont-3-ie-nq


RENÉ DUMONT:UMA POLÍTICA REFORMISTA DA NATUREZA (*)


[(*) Este texto deverá ter ficado inédito, para sossego das almas . Vou datá-lo de Julho-1976, número do jornal «Frente Ecológica» onde veio a aludida «Carta à Esquerda Portuguesa», que tenciono scanar ainda hoje, pela tardinha. Vou datá-lo também de Maio-1977, data em que o dito livro foi editado ]

(*) Comenta-se neste artigo o livro « O Crescimento da Fome», de René Dumont, trad.. de Vítor Oliveira, col. «Senso Comum» , Editorial Vega, Maio- 1977



" A monocultura não é forçosamente uma catástrofe, se a cultura foi cuidada e os desperdícios reciclados."
" Na China (...) conhecimentos médicos muito mais precoces e eficazes que no resto do mundo, multiplicam a população."

René Dumont, In " O Crescimento da Fome»

" Convidarei o leitor (...) a reconhecer todos os nossos limites, todos os nossos constrangimentos; e, antes de mais, o da população, de que hesitaremos em
pedir a redução maciça."
Eis a pedra-de-toque em que assenta o pensamento de René Dumont, bem como o inventário da pilhagem capitalista contra o Terceiro Mundo a que procede no seu último livro publicado em português, "O Crescimento da Fome" (1977).
Vedeta dos Franceses em Maio de 1974, quando o Movimento Ecológico o propôs para a Presidência da República, René Dumont volta sempre aos assuntos da sua especialidade e predilecção: a agronomia, a fome, o Terceiro Mundo, a pilhagem capitalista dos recursos planetários, mas, principalmente, a ameaça do crescimento demográfico como perigo número um da humanidade.
No prefácio deste seu livro sobre “O Crescimento da Fome", levanta ele a questão de fundo logo ao abrir:
«Marx não teria previsto uma série de factores e ocorrências que viriam, portanto - diz Dumont - a por as suas teses não totalmente em causa mas, pelo menos, a revê-las e reequacioná-las em termos diferentes».
Resta saber se todos os factores apontados por René Dumont existem realmente, ou se alguns - como a famigerada explosão demográfica - não passam de sofismas bem
engendrados para comprometer e viciar de raiz todos os raciocínios.
Há certas críticas anticapitalistas que servem muito bem o capitalismo e esta é uma delas...
METER MALTHUS E JOSUÉ DE CASTRO NO MESMO SACO

Para dar algum crédito à sua tese, seria preciso, por exemplo, que René Dumont demonstrasse quais são os países do Terceiro Mundo "pilhados" pelo Bloco Socialista.
Se existem, quais são eles?
Não encontramos resposta nas obras de Dumont conhecidas em português, que se limitam a fazer o inventário da pilhagem capitalista, como se dele fosse também responsável o Bloco Socialista.
Meter Malthus e Josué de Castro no mesmo saco maltusiano, eis outra tese que Dumont deveria demonstrar.
Que nos lembre, Josué de Castro foi das vozes mais veementes a denunciar o sofisma "maltusiano" da explosão demográfica e foi ele quem disse que fome era causa da explosão demográfica e não o inverso.
Dumont tem um defeito: deixa os truques e sofismas do seu pensamento demasiado à mostra.
"Arruinámos a Índia e o Sahel, que estão hoje esfomeados" - afirma Dumont.
Mas foi ele próprio quem denunciou os "fabricantes" da catástrofe saheliana em 1973: os latifundiários colonialistas que naquelas áreas da África Central plantaram monoculturas gigantescas de colza e amendoim estariam à cabeça dos responsáveis.
Porque não especifica agora os responsáveis pela catástrofe, englobando-nos a todos num vago e abstracto "nós”?

O FRACASSO DA “REVOLUÇÃO VERDE”

Também não hesita na gritante contradição. Ele, defensor intransigente da Agroquímica, verifica e lamenta o fracasso da “revolução verde” :
"As esperanças postas na Revolução Verde na Índia esboroam-se como castelos de areia, e uma ameaça terrível pesa sobre o futuro da Ásia Meridional, que conhece o início de uma das grandes fomes da História."
Mas não foi ele, Dumont, um dos principais defensores dessa ilusão chamada Revolução Verde e seu obreiro Sicco Mansholt?
Não foi ele a acreditar, como os outros tecnocratas da F.A.O., no mito da produção com base em injecções crescentes de adubo químico, pesticida e energia fóssil sob a forma de mecanização acelerada?
Não foi ele, presidente dos ecologistas, a preconizar uma Agroquímica intensiva que é, em grande parte, responsável pelas enormes quebras de produção actuais?
Porque não se confessam, ao menos, os obreiros desses belos planos da FA.O. para alimentar a fome no Mundo?
Porque se espantam com os fracassos dos próprios métodos que perfilharam?
Porque continuam os prémios Nobeis da leguminosa Seca, tipo Norman Borlaug, da F.A.O., a chamar histéricos aos ecologistas que defendem uma bioagricultura intensiva e porque não deixa Dumont, neste seu livro, como nos anteriores, de fazer o constante panegírico de Borlaug e suas teses?
Mas, acima de tudo, René Dumont insiste em tocar a sineta do apocalipse demográfico. A propósito dos climas e suas alterações, com colheitas cada vez mais catastróficas, se há-de pôr no banco dos réus os principais agentes que contribuem para essa alteração climática - guerra meteorológica, explosões nucleares, produção de CO 2 etc.- lá volta de novo ao "perigo demográfico" :
" Tudo isto merece estudos mais aprofundados, porque a ameaça é terrível."
A guerra meteorológica é um facto e uma ameaça aos pobres e famintos do Terceiro Mundo. A população, pelo contrário, é a arma que o Terceiro Mundo tem para lutar contra essas e outras chantagens do mundo imperialista.

CONTRIBUTOS FRANCAMENTE POSITIVOS

Na obra de René Dumont, porém, abundam os contributos francamente positivos e de indiscutível impacto anti-capitalista:
a crítica à futurologia tecnocrática de Herman Khan e seu balofo optimismo; o elogio ao sistema agrícola praticado na China Popular.
Com o elogio, embora com restrições, à Bioagricultura de Claude Aubert, seu discípulo, ao considerar suicida uma agricultura totalmente apoiada em injecções crescentes de quimismo e energia fóssil, ao acusar os latifundiários e intermediários de travarem as soluções capazes de impedir uma catástrofe à escala mundial, René Dumont redime-se do exagero que o faz considerar o crescimento demográfico um perigo e a maior ameaça contra a humanidade, logo seguida do esgotamento de recursos, dos quais a água e os fosfatos são, em sua opinião, os mais graves.
A crítica de René Dumont à pilhagem capitalista é muito bem feita. Ele inventaria crimes, contradições, absurdos que fazem desse sistema um inato destruidor da Natureza.
Atribuindo a um regime económico, social e político todas as culpas, deixa-nos, no entanto, com a impressão de que a passagem ao socialismo seria a passagem para o paraíso ecológico.
A escolha de René Dumont para encabeçar e dar autoridade "científica" ao movimento ecológico francês é de facto um óptimo serviço prestado ao sistema Ecosuicida e ao tipo de "civilização", entre aspas, que o movimento ecológico contesta e questiona.


"COM O ANTI-CAPITALISMO É AINDA O CAPITALISMO QUEM GANHA..."
REFORMISMO CONTRA REVOLUÇÃO
CRÍTICA ECOLÓGICA OU CRITICA ANTICAPITALISTA?

Atribuindo ao sistema capitalista a culpa quase exclusiva na destruição da Natureza e dos recursos naturais, René Dumont presta um bom serviço à ideologia tecno -cientifista em geral, tal como ela é praticada, a Leste e a Oeste, em sociedades capitalistas e em sociedades anticapitalistas.
Presta um bom serviço à Sofistica do século, aparelho ideológico de apoio ao Biocídio oficial e sistemático.
Presta um bom serviço à metodologia da ciência ordinária, da Tecnologia Pesada e das Indústrias Hiperpoluentes.
Presta um bom serviço ao caos da ciência analítica, incapaz de compreender a ordem cósmica do Universo.
Quer dizer: se a passagem ao socialismo vai minorar ( e vai concerteza) algumas das mais gritantes consequências ecológicas do capitalismo, o risco a que René Dumont nos convida é este: cair na ilusão de ficar muito contentes com um sistema que, eoologicamente, é apenas mais prudente, mais lento na destruição, mais diplomático e mais habilidoso na actuação antinatural, não deixando contudo, basicamente, estruturalmente, de se fundamentar na manipulação, alienação e exploração da Natureza pelo Homem.
Quem lê René Dumont e o seu inventário de malefícios, fica com a ideia (necessária mas não suficiente) de que a Natureza é destruída apenas pelo capitalismo - esse
inato destruidor da natureza - e que basta socializar os meios de produção para
que se viva num paraíso ecológico, onde as leis do equilíbrio ecossistémico serão respeitadas...
Não há dúvida de que o capitalismo é o inato destruidor da Natureza. Com ele não há nada que resista, e por sua culpa a Terra aproxima-se aceleradamente do esgotamento total. .
Mas René Dumont e outros eco-reformistas deixam nos espíritos uma ilusão perigosa: minorados os efeitos da poluição, o socialismo resolverá todos os males e desequilíbrios ecológicos...
Era bom que assim fosse, mas temos de reconhecer que socializar não chega para fazer a Revolução. E muito menos fazer críticas anticapitalistas significa ser socialista.
Por isso é que a crítica ecopolítica ou biopolítica à sociedade vai mais 1onge do que a crítica feita pelo anticapitalismo ao capitalismo; vai até onde esta vai ( estamos todos de acordo com as teses socialistas de René Dumont...) mas vai mais longe e fala da estrutura de todo um sistema caracterizado pela oposição do Homem à Natureza.
Para compreender os remanescentes capitalistas que dão à sociedade anti-capitalista uma fisionomia ainda (muito) pouco ecológica, basta citar o sector-chave dos consumos e dos hábitos; basta lembrar os consumos alimentares de carência por industrialização e os hábitos industriais de refinar, conservar, corar, frigorificar, enlatar, embalar alimentos;
Basta lembrar os consumos supérfluos e a ausência de um princípio revolucionário que indique a hierarquia dos consumos em função de um novo padrão de consumidor, ou seja, em função de um homem não alienado.
Basta lembrar os consumos tóxicos ou venenosos, antibiótico no gado, estrogeno nos frangos, desinfectante no leite, difenil nas laranjas, etc., etc..
Basta lembrar os consumos químicos na vida pessoal e doméstica, na agricultura, na quimioterapêutica.
Basta lembrar o crime das vacinas e dos antibióticos.
Basta lembrar, apenas, o sector dos consumos tóxicos e alimentares para ver em que medida um sistema anticapitalista, embora sem a nota de orgia dada no capitalismo pela publicidade, pilha e destrói a Natureza, contamina o ambiente, compromete a qualidade de vida, ameaça a segurança pessoal, aliena as relações do homem consigo próprio, burocratiza as relações do homem com o alimento, submete a natureza às mesmas violências, enfim, adia a Revolução.
Mas o inventário dos hábitos, comportamentos, serviços, acções, anti-ecológicas deve prosseguir : hábitos de caça e pesca como práticas correntes não desportivas mas industriais, onde está aí o socialismo que mude tais hábitos?
As tecnologias de ponta, principalmente as que alimentam o sonho delirante e paranoico de "melhorar a Natureza" (toda a Biocracia da engenharia genética, da transplantologia, da climatologia, etc) .
A crença supersticiosa e saloia no gigantismo do Tupolev, do superadubo, do superpesticida, do superestádio, da superbomba, do super-regenerador atómico, da super bomba de cobalto, do superantibiótico, etc.
O desenvolvimento sistemático de indústrias pesadas (celulose, cimenteira, refinaría, nuclear, etc.) com desprezo absoluto pelas indústrias médias e tecnologias leves;
As maratonas de prestígio entre potências bélico-imperialistas (espacial, atómica, olímpica, etc. ) são prova, entre outras, de que os mitos capitalistas continuam vigentes dentro de sistemas anticapitalistas: crescimento industrial infinito, agroquímica (a terra é um máquina de produzir), medicina (o homem é uma máquina alimentada a calorias), despovoar os campos e superpovoar as cidades, etc..
Os sintomas de universo concentracionário não deixam de aparecer nas sociedades
anticapitalistas: altas taxas nas doenças do consumo do Ambiente, (cancro, cardiovasculares, reumatismo, tensão arterial., diabetes, desmineralizações, alergias, psicoses, toxicoses, etc. ) provam de que a qualidade de vida não é um mito burguês mas uma realidade estatística mesmo entre os antiburgueses.
Se o concentracionário urbano é muito atenuado pelos hábitos anti-capitalistas, não deixa de vigorar o sistema concentracionário de energia e de indústria, sem que se vislumbre ou seja incrementada a descentralização e a diversificação de unidades produtoras.
O desperdício de materiais, lixos, desperdícios, excrementos, etc. é incrementado, sem que se pratique uma política sistemática de Reciclagem e o fomento das tecnologias alternativas.
Eis apenas alguns aspectos específicos de uma crítica ecológica ao Establishment
mundial, para lá da crítica já feita por René Dumont e demais anticapitalistas ao Establishment capitalista.
Quer dizer: herdadas do capitalismo e refinadas pelo anticapitalismo, temos ainda uma trintena (?) de práticas que, na perspectiva eco-revolucionária, são tão criticáveis como as práticas de pilhagem e chantagem especificamente capitalistas.
Tal como o capitalismo usa estratagemas diversos para prorrogar a sua agonia, eis que o sistema do Desperdício - e seu aparelho ideológico, a Sofística - usa também estratagemas para se manter no poleiro. Um desses estratagemas é o anticapitalismo, que aparece assim como um eco-reformismo para fazer durar mais, (algum) tempo esta morte que (lentamente) nos Nata.

POST SCRIPTUM: Na Carta à Esquerda Portuguesa (Jornal "Frente Ecológica" nº9, Julho, 1976) enumerei mais alguns pontos e aspectos bastante anti-ecológicos.
A essa "Carta Aberta" ninguém até hoje, da Esquerda Portuguesa, respondeu.
Por não me considerarem interlocutor válido - cientificamente válido e ideologicamente de confiança - ou por falta de argumentos?
Tão longo e teimoso silêncio começa a ser suspeito. A operante ausência desta minoria silenciosa começa a ser doença.
Que mais será preciso para os provocar, a eles que mestres são na arte provocatória?
----
(*) Este texto de  deverá ter ficado inédito, para sossego das almas e dos esquerdistas . Vou datá-lo de Julho-1976, número do jornal «Frente Ecológica» onde veio a aludida «Carta à Esquerda Portuguesa», que tenciono scanar ainda hoje, pela tardinha.
***
75-11-00-ie-ed-encontros e desencontros do afonso - dumont-4-ie

UM TECNO-AGRÓNOMO PARA RECICLAR

RENÉ DUMONT ESTEVE EM PORTUGAL(*)


[(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal (por ele dirigido), «Frente Ecológica», Nº 3, Novembro de 1975 ]

A convite do Ministério da Agricultura, René Dumont esteve em Portugal, andou a ver da Reforma Agrária, disse que sim, disse que não, e, no final de contas, falou com personalidades do meio ministerial, botou sentenças, disse que tínhamos de produzir para não passar fome, etc...
Dumont tornou-se de agrónomo oficial em coqueluche de certos meios ecológicos e ecopolíticos franceses, quando, aqui há ano e meio, em Maio de 1974, alguém teve a ideia de o propor para candidato à presidência da República pelo Partido Ecológico.
Resultou daí que não foi eleito para Presidente da República, como está bem de ver e de prever, resultou daí alguns milhares de votos rapinados ao senhor Mitterrand e resultou daí o sorriso auto-suficiente de muita gente que quando ouve falar de Ecologia pensa isso ter alguma coisa a ver com poluição.
«Utopia ou Morte», título de um livro de René Dumont, herdado do Maio de 68, foi um dos slogans da campanha eleitoral, que se saldou, afinal, por uma propaganda intensiva de alguns postulados ecológicos e a denúncia de alguns escândalos mais criminosos ou de alguns crimes mais escandalosos ficando a opinião pública com um contra-veneno eficaz para fazer face aos venenos dos outros partidos não ecológicos nem pouco nem mais ou menos.
Muita gente, desde então, cá e lá, começou a comer Ecologia, embora até aí dissessem que não. Não foi agora o Movimento Ecológico Português havido nem achado para a visita do senhor René Dumont mas também não era preciso.
Ninguém nos convidou para um drink com o senhor René Dumont, mas agricultura com pesticida o Movimento Ecológico também não toma.
Há ano e meio aceitou René Dumont o papel de catalisador, mas cada vez mais se verifica que a sua vocação é de agrónomo pesticida, com muitos adubos químicos, do que propriamente uma vocação ecológica radical.
Quer dizer: agricultura sem adubos químicos nem pesticidas, agricultura de reciclagem e de fertilizantes orgânicos, agricultura de independência nacional, em suma, não se ouviu. O que o senhor René Dumont preconizou era que continuássemos a importar adubos e pesticidas, pois o petróleo vai aumentar outra vez e outra vez teremos que pagar os adubos e pesticidas mais caros do que ouro.
O que René Dumont veio dizer a Portugal, poderia tê-lo dito qualquer outro tecnocrata da F.A.O., da O.C.D.E. ou do Mercado Comum, quer fossem arrependidos ou não do estilo Sicco Mansholt.
Pouco menos mau ou pior do que Sicco Mansholt, o agrónomo Dumont ainda acredita que a fome será vencida pela cada vez mais violenta violentação das leis biológicas, orgânicas e naturais da ecologia dos solos. Quer dizer: ele preconiza a fartura defendendo a esterilidade e o deserto.
Ecologia foi um ar que lhe deu. Mas René Dumont é, apesar disso, autor de livros respeitáveis onde denuncia a podre sociedade de consumo e propõe modelos de Economia verdadeiramente revolucionários, quer dizer, de reciclagem.
Em comparação com os tecnofascistas da F .A.O., Dumont até faz figura de avançado, mas cada vez mais se reconhece nele que a circunstância de ter presidido, em Maio de 1974, à candidatura pelo Partido Ecológico, foi uma circunstância fortuita, efémera. Sujeito de pouca confiança para a Ecologia Radical, bem nos tinha avisado disso o semanário “La Guele Ouverte», quando contestou posições reformistas do
mesmo Dumont.
Recomendamos o seu último livro traduzido em português - Utopia ou Morte - desde que seja lido com cuidado e critério de distanciamento crítico. Um tecnocrata arrependido é quase tão mau como um fanático, mas nem tudo é para desperdiçar nem para deitar no lixo. Reciclemos então...

CONTRA A ECONOMIA DO DESPERDÍCIO PELA ECONOMIA DA ECONOMIA
----
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal( por ele dirigido), «Frente Ecológica», Nº 3, Novembro de 1975
***
7040 bytes -antess-7-ds-ie - notas de leitura - páginas de um diário 1971

ANTECEDENTES DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

LEITURAS EM 1971

Leituras de livros e autores que em 1971 suscitavam o interesse de algumas pessoas em Portugal, dão exemplo das ideias que, lentamente, foram confluindo na constelação ecologista e, portanto, no movimento ecologista do pós 25 de Abril.
Teilhard de Chardin, Arnold Toynbee e Theodore Roszack, este último com a sua polémica expressão de «contra cultura», são três autores a sublinhar e que o diário de um militante registava, em Maio e Setembro de 1971.

I
CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA EM TEILHARD E TOYNBEE

Lisboa, 24/Maio/1971 - Se os mais eruditos e sábios, se os mais sabedores e prudentes revelam, por vezes, em aspectos decisivos, uma mentalidade retrógrada, como não há-de isso acontecer aos pobres de espírito, entre os quais me incluo?
Admiro Teilhard de Chardin e Arnold Toynbee. A formação básica de ambos é a do cientista, é experimental e positiva, nada de românticos delíquios ou desvios poéticos. Quando extrapolam, fazem-no como prudentes filósofos e pode confiar-se na sua lógica sem sofismas. Iria pensar, portanto, que eles não podiam ter pensamentos retrógrados.
No entanto, em matérias-chave - como  a cirurgia das transplantações - a sua atitude aparece ingénua, incrítica, idolátrica mesmo. Sujeita aos preconceitos mais primários. Aos slogans de massas mais vulgares. Aos estereótipos .
Como é isto? Como é possível que individualidades tão libertas dos lugares-comuns onde se movem as massas, as massas governadas pelos mass media e por eles envenenadas, revelem iguais sintomas de igual intoxicação?
Já escrevi a respeito de Teilhard de Chardin. É a vez de citar Arnold Toybee e de me perguntar com insistência como é possível a cérebros tão esclarecidos, tão informados, tão preparados cientificamente, manifestarem, a respeito de certos pontos-teste, de certos problemas decisivos, atitudes tão pouco elaboradas e opiniões tão pouco críticas?
Será que a preparação científica nem sempre significa preparação crítica? Será mesmo que nada ou pouco tem a ver uma com a outra?
Lembro-me que surpresa igual se pode ter lendo, por exemplo, as páginas de Bertrand Russell sobre moral sexual, ou as de Einstein sobre epistemologia. E concluo que a mentalidade é qualquer coisa que funciona independentemente da ciência ou sapiência de cada um. Que a ciência não é (sempre ) inteligência. Que consciência não pode coincidir e raramente coincide com informação, com especialidade, com técnica.
A tonalidade geral de um pensamento - ou tónica da personalidade - funciona então independentemente da base informacional?
Se personalidades como essas revelam tais falhas de mentalidade, tal estreiteza crítica, que será de nós outros, mesquinhas criaturas e pobres mortais que andam sempre aprendendo sem nada saber?
Por outro lado, se a mentalidade é independente da erudição, dá-nos grande satisfação saber que nós outros, pobres de Cristo, analfabetos de todas as grandes ciências, podemos ao menos beneficiar de uma certa agilidade crítica e de uma latitude mental que aos sábios quase sempre está vedada.
Ainda quando a ciência não é muita e a memória não muito tenaz, que o sentido da marcha seja , ao menos, o mais prospectivamente possível. É uma compensação.

II

A CRÍTICA À CULTURA DE THEODORE ROSZACK

No outro texto, de 19 de Setembro de 1971, sublinham-se autores, ideias e correntes que, mais críticas em relação à ciência e ao sistema nela apoiado, incentivavam já uma consciência ecológica da realidade.

Lisboa, 19/9/1971 - A crítica à civilização pode perfeitamente começar por uma crítica à parte mais representativa, típica e crítica dessa civilização:
a) a medicina tal como a temos e se pratica;
b) a indústria alimentar e as agressões químicas ao consumidor.
O caso da Medicina, como instituição inamovível do Sistema, é típico: se algum doente, na qualidade de doente, ousa ter consciência da situação e exercer o espírito crítico tão elogiado pelos que se dizem cientistas, é imediatamente acusado de «bruxaria» e «charlatanismo».
Esta é a acusação de que a Medicina oficial se serve para reprimir, como parte integrante e magnífica do sistema, toda e qualquer resistência, toda e qualquer crítica, toda e qualquer oposição à sua totalitária actuação.
Tem para isso o melhor alibi do mundo: dizer que defende a saúde e a vida das pessoas. Tudo lhe é, então, perdoado...
Ora, além da medicina oficial, há muitas outras medicinas que podiam e deviam conhecer-se.
Se Roszak pretende alguma coisa e nós (hippies ou não) com ele, é isso: que ao totalitarismo se substitua o diferencialismo, ao dogmatismo a problemática e ao tratado o ensaio.
Ora o que os «hippies» fazem de uma assentada, é isso tudo: a frente de contestação  aos sofismas  do Sistema. Nem sequer o querem derrubar, mas apenas que os deixem viver. À margem do sistema, viver.
Ainda no campo da medicina, repare-se como o intelectual dito progressista de esquerda considera uma afronta o reformismo em matéria de Economia (quem aceita hoje a caridade?) mas aceita,  sem protesto nem críticas, o reformismo na medicina que é a alopatia e a medicina sintomática em geral.
Quando se discute, por exemplo, o preço dos medicamentos ou a socialização dos serviços de assistência médica é como se, no campo da economia Política, preconizássemos a socialização da exploração.

Impedir que o doente se trate(e cure ) a si mesmo - sob o pretexto de que não é técnico - é o mesmo que negar a capacidade para se auto-governarem, auto-gerirem e auto-regularem os indivíduos nos campos da política, da economia e da educação.
***