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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-03-01

NATUREZA 1969

eu-fic> diario> - ideias ac para ficcionar - texto aberto - inventários ac

DEFESA INSTINTIVA CONTRA O INEVITÁVEL

1/3/1969 - Uma defesa «psicológica» quase instintiva contra o fenómeno inevitável dos sismos: culpar as experiências atómicas subterrâneas, porque são obra humana. Ou os senhorios das habitações; ou o governo que não cria as condições de segurança das populações, ou a Imprensa que não educa o público sobre a maneira como se há-de defender das derrocadas...

[19/2/1992 - De facto, os fatalismos da Natureza assustam-nos mais do que quaisquer obras humanas. E temos que atribuir a causas humanas os cataclismos naturais para encontrarmos uma estrutura emocional e intelectual de apoio; temos que racionalizar o irracional; temos que encontrar um alvo responsável para descarregar a crítica, o ódio, o pavor, a nossa covardia, enfim, face ao desconhecido. [Mas o contrário também é verdadeiro.] Ao que não se rege por nenhuma norma plausível e previsível de ritmo ou retorno ou sazonalidade.
Se um dia o sol nascesse a Ocidente, ou dançasse no céu, ou a temperatura começasse a subir sem controle, ou os anos passassem a ter 100 dias, ou [----------] isso faria enlouquecer multidões. É a relativa ordem do universo que mantém uma relativa ordem na mente humana e no seu equilíbrio psico-físico.
Mas abre-se um infinito à ficção se eu conceber cenários que quebram exactamente essas regras inamovíveis. Se um sismo tiver hora marcada, por exemplo; ou se as aves passarem a rastejar; ou se um burro voa; ou se a homossexualidade se torna a norma e a heterosexualidade a excepção perseguida por lei; ou se na rua andarmos de cabeça pra baixo; ou se um cão nascer com cabeça de gato ou um gato nascer com cabeça de cão; ou se um rio correr da foz para a nascente; ou se eu passar a escrever da direita para a esquerda; ou se um divórcio se processa antes de um casamento; ou se um casal divorciado se torna a casar; [ como se costuma dizer do que é e não uma notícia interessante: se um cão morde um homem, é banal e sem interesse; mas se um homem morde um cão, é notícia].
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TERAPIAS 1987

2048 bytes dadm-1> = diário de um aprendiz de medicinas

NEM DOENÇA CRÓNICA NEM SAÚDE ETERNA

Lisboa, 1/3/1987 - À inevitabilidade da doença crónica, proclamada, unilateralmente, por uma medicina que não resolve as crises agudas, contrapõe-se um outro dogmatismo, de sinal contrário, mas não menos preocupante: é o dogmatismo da saúde eterna, proclamada por correntes ditas naturistas e /ou vegetarianas.
Qualquer dos dogmatismos vai contra todas as leis naturais e noológicas.
Acreditar que a saúde é um estado eterno e imutável , ou que imutável e eterna é a doença, contraria fundamentalmente o postulado noológico que afirma: Vida é Movimento.

2 DOGMATISMOS

Lisboa, 1/3/1987 - Uma psicoterapia vinda do Brasil, chamada Trilogia Analítica e que se diz herdeira da psicanálise de Freud, indica como raiz da neurose a teomania ou mania de ser Deus, o que outros chamam «egolatrismo» ou «patologias do Ego».
Curiosamente, a Trilogia Analítica critica as filosofias «pessimistas» como o catolicismo, o budismo e o próprio Freud, do qual a mesma Trilogia Analítica diz aproveitar o método - diálogo e divã - rejeitando, entretanto, a teoria freudiana, «negativa» e «pessimista», dos instintos Eros e Tanatos.
Mas ao postular o «optimismo», a bondade natural do homem e outros intransigentes imobilismos, parece também alinhar num dogmatismo de sinal contrário.
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2560 bytes diario de um aprendiz de medicinas

ELAS EXISTEM

Lisboa, 8/3/1989 - Quando menos se espera , as técnicas holísticas de saúde ou tecnologias terapêuticas apropriadas, base da saúde e herdeiras das verdadeiras e antigas artes de curar, aparecem noticiadas em reputadas revistas do consumismo policolorido.
A «Elle» inglesa de Março de 1989 publica três páginas a cores recheadas de receitas macrobióticas.
Em 8 de Março de 1989, o diário «Correio da Manhã» insere um artigo intitulado «Novo Fôlego para a Homeopatia».
O Boletim da Associação Portuguesa de Farmácias insere um anúncio a cores sobre o produto «X», que diz só «se vender em farmácias», embora seja ...um produto natural. E explica os motivos desse raro privilégio.
O semanário «Tal & Qual» , em finais de 1989, entrevistou um vegetariano com ar de tontinho e, mais uma vez, referia a famigerada farmacêutica de Gondarém que vende ervas para curar o cancro.

MODELOS ALIMENTARES

Lisboa, Dezembro/ 1988 - Quando, em voos de certas companhias de aviação, a gentil hospedeira de bordo pergunta ao passageiro se quer uma «refeição macrobiótica», já não é surpresa.
O regime alimentar com esse nome entrou nos hábitos «civilizados» do Ocidente e, por outro lado, já ninguém estranha ver alguém comendo com pauzinhos.
Antes pelo contrário - o gosto pelo exótico faz parte da cartilha de todo o bom «snob» que se preza.
A cozinha dita chinesa, por outro lado, criou adeptos e invadiu a cidade. Mas tem tanto a ver com Macrobiótica, como um ovo com um espeto.
O modelo dietético tal como o ensinaram no Ocidente três mestres oriundos do Japão - Jorge Oshawa, Michio Kushi e Tomio Kikushi - encontra-se hoje bem definido e, regra geral, tem restaurantes próprios, mais conhecidos por «vegetarianos» (o que pode ser e não ser a mesma coisa).
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NOTÍCIAS DA FRENTE 1975

fe-1-ac-ie> = ideia ecológica do ac - subsídios para a história do movimento ecológico em Portugal

«FRENTE ECOLÓGICA» 1976:UM ANO CRUCIAL DO MOVIMENTO ECOLÓGICO

[01-03-1975] Com noticiário do movimento ecológico em Portugal e o anúncio do I Congresso, a realizar em Lisboa, no mês de Setembro, apareceu em Março de 1975, o primeiro número do jornal «Frente Ecológica», que se subintitulava "boletim mensal do Movimento Ecológico Português".
Tendo na capa uma alusão fotográfica ao ano 2000 dos Tecnocratas, inclui artigos sobre «Alternativas ecológicas», «As Políticas do Ambiente e o M.E.P», «Uma harmonia dialéctica com o Universo" (artigo assinado por Michio Kushi, o maior mestre vivo da Macrobiótica Zen), «Indústrias contra Qualidade de Vida», etc.
Insere também este primeiro número de "Frente Ecológica", informações sobre actividades do Movimento e o regulamento e temas do próximo Congresso, a realizar em Lisboa em 26, 27 e 28 de Setembro e subordinado ao tema geral «A Função do Movimento Ecológico na Revolução Cultural Portuguesa.»
Dedicado à investigação dialéctica fundamental -- as relações entre Homem e Natureza .-- à denúncia crítica e radical das agressões e crimes cometidos sobre a Natureza por uma sociedade (capitalista) assente no lucro e na exploração do homem pelo homem, «Frente Ecológica» pretende ser o órgão de todos os movimentos que tenham por objectivo prioritário a Revolução Cultural e as alternativas ecológicas para todos os sistemas antihumanos, empórios e monopólios, quer no campo da medicina, quer no dos regimes alimentares, quer no das energias, quer no da agricultura e das tecnologias.
Além deste seu órgão de imprensa, o movimento ecológico em Portugal anuncia ainda intervenções radiofónicas semanais através de vários emissores: Emissora Nacional (20 minutos às quartas--feiras), Rádio Clube Português (10 minutos às quintas-feiras, com repetição em FM e emissores do Porto), Rádio Renascença (dois períodos semanais de 10 minutos cada um) e Rádio Peninsular (5 minutos às quartas-feiras).
Em 1976 assinalam-se algumas iniciativas que traduziam a resistência de grupos e mesmo das populações à campanha maciça de intoxicação que a EDP estava a desencadear para impor o electro-nuclear em Portugal.
Citam-se, nesse ano, a Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear (CALCAN), criada em Maio desse ano, o festival pela Vida contra o Nuclear (Ferrel, 15 de Março de 1976) e sessões de convívio com a população de Ferrel, efectuadas pelo Grupo Coordenador do Movimento Ecológico, em 27 e 28 de Março, tendo como técnico convidado o Prof. Delgado Domingos, do Instituto Superior Técnico.
É ainda desse ano um "abaixo-assinado nacional para uma Moratória Nuclear", iniciativa do jornal "Frente Ecológica", que escrevia, sob o título "Campanha Intox Pró-Nuclear ou Quando o Pepino deve ser torcido", o seguinte:

«Os negociadores de centrais nucleares contavam até agora com a completa passividade das massas em assuntos ecológicos e a intoxicação prévia a longo prazo, através de agências internacionais e noticiários regulares, evitava o trabalho e a despesa da intoxicação planeada.
O 15 de Março de 1976 veio provar de que, em Portugal, as massas não estavam ainda totalmente intoxicadas de propaganda pró-nuclear e de que a Companhia Portuguesa de Electricidade teria, portanto, de promover uma campanha suplementar, um esforço extra de domesticação colectiva através de uma re-intoxicação para tapar a brecha verificada.
Daí que esteja planeada uma campanha intox - dita campanha de informação - a realizar pela Junta de Energia Nuclear, utilizando diversos técnicos que irão sistematicamente usar e abusar do truque "neutralidade científica", ao mesmo tempo que irão reavivar e pôr de novo em acção todos os tecnosofismas típicos do discurso tecnocrático e respectivo terror, pretensamente adoçado por um aceitabilismo voluntário, criado nas massas após novas campanhas intensivas de intoxicação.
A desmontagem desse tecno-discurso, a denúncia desses tecno-sofismas, a desmistificação desses tecno-mitos torna-se assim mais do que nunca urgente e necessária.»
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AUTOTERAPIA 1991

talassot> - fichas de autoterapia - prontuário de ecologia humana

AR DO MAR É TERAPÊUTICO

1/3/1991 - Se a talassoterapia existe como terapia do mar, devemos saber as razões profundas porque isso acontece.
O famoso iodo, que o sol ajudaria a fixar e que seria o alimento de uma das principais glândulas endócrinas, dá o lamiré sobre a importância terapêutica reconhecida ao mar. Mas o iodo é apenas um dos múltiplos oligoelementos que se encontram no mar (como se encontram no simples sal marinho...desde que integral) e dos quais o ambiente saturado de produtos químicos despojou o organismo humano.
Neste caso concreto, a causa primordial das doenças não é só o stress, o trabalho, o caos urbano, é pura e simplesmente a carga de produtos químicos existentes no Ambiente (ar, água e solos), na comida, nos cosméticos e desodorizantes pessoais, nos vaporizadores e desinfectantes ou desinfestantes domésticos, nos medicamentos, nos conservantes alimentares, etc. - produtos químicos estes que, entrando no organismo, o despojam dos subtis elementos-traço a que chamam oligoelementos ou bioelementos.
Sem essa defesa invisível, o organismo fica exposto a todas as agressões, sem força para fazer frente a doenças infecciosas ou alérgicas, agudas ou crónicas.
O mar tornou-se uma fonte terapêutica importante, na medida em que a terra-planeta se transformou em uma enorme cloaca química, em que pesticidas, herbicidas, adubos fosfatados e potássicos, medicamentos, aditivos, conservantes e corantes alimentares, margarinas, medicamentos, aditivos, conservantes e corantes alimentares, margarinas, cosméticos, refrescos, etc.. têm todos em comum essa particularidade: varrem do organismo os oligoelementos essenciais, sem os quais não é possível à célula manter as reacções químicas necessárias ao metabolismo.
Os primeiros a sofrer, dentro do organismo humano, porque vivem fundamentalmente dessa energia subtil dos oligoelementos, são o sistema nervoso e endócrino. Atrás desses, adoecem os outros.
Para isto e curiosamente, a quimioterapia receita outro poluente químico - o medicamento - que vai igualmente varrer os poucos oligoelementos que o organismo, por acaso e sorte, ainda possa manter.
Face a esta invasão química, o Mar desempenha o papel de cura total, pela razão simples de que tem, às toneladas, o que o organismo necessita em miligramas.
Não poucos laboratórios têm aproveitado esta «mina» para comercializar, em frascos, a riqueza infinita do mar. Meter o oceano no armário do doente é uma ambição legítima. A indústria das algas é exemplo frisante. E se o sal integral ou não refinado, se tornou igualmente um produto raro, foi porque as autoridades que regem a saúde pública, teimam em proibir a sua venda ao público, que deve contentar-se com «apenas» um dos 63 sais (há quem diga 80 e mesmo 90) contidos no sal - o cloreto de sódio - naquilo que comprar e que se chama «sal refinado».
Mas o mar pouco mais seria do que uma distracção para snobs ricos, se de facto a terra, enquanto planeta, não tivesse sido transformada em uma cloaca química. O mar surge como a única e grande porta de saída para o Planeta Terra.
Todos os adicionais terapêuticos que a publicidade anuncia para tornar mais atraentes as «estâncias de cura marinha» são, à face desta realidade - os oligoelementos - pouco mais do que uma «atracção turística». Balneoterapia, exercícios físicos, ginásticas aplicadas, são meios adjuvantes, sem dúvida, e como tal têm a sua relativa importância. Mas o segredo terapêutico está nos oligoelementos.
As preocupações «estéticas» de senhoras e cavalheiros, que desejam entre si agradar-se, têm no mar e seus produtos um «oceano» de respostas. Mas a resposta é só uma e simples como o mar: se os oligoelementos correctos actuam principalmente no sistema nervoso e endócrino, actuam exactamente nos sistemas que mais contribuem para os atributos típicos ou característicos quer da masculinidade quer da feminilidade. Se a beleza corporal tem a ver com a fadiga, o envelhecimento, a flacidez da pele, a celulite, as unhas, as rugas, etc. e se tudo isto tem a ver com oligoelementos, é elementar que a cura marinha é uma cura de beleza porque é uma oligoterapia. Assim a moda criminosa do bronzeamento deixasse. Por enquanto, e por estranho que pareça, em vez de cura de saúde, as pessoas vão à praia, enquanto a moda dos bronzeamentos durar, encontrar a morte e ainda mais doenças.
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UTOPIAS 1974

utopia-1> - mein kampf 1974 – diário de um anarquista acidental - circular de um escritor pobrezinho a pedir emprego - chave AC

A UTOPIA PERSONALISTA CONTRA A UTOPIA TECNOCRÁTICA

1/3/1974 - Meu caro amigo e senhor: Farto de meias palavras e meias tintas, de censuras e auto-censuras, de inibições, complexos de culpa e timidez, farto de estar farto, venho submeter à atenção de V.Exª algumas considerações que reputo oportunas e susceptíveis de merecer indignada repulsa de V.Exª , que também deve estar farto daquilo que eu estou.
Antes de mais, o senhor deve estar farto de lhe entrarem em casa cartas como esta, copiografada, tipo circular, pedindo-lhe a esmola de uma assinatura, convidando-o a comprar um livro que se lhe manda pelo correio, violentando-o na sua intimidade e na sua contabilidade.
Deve o senhor, também, estar farto de aceder a pedidos tais, ou não aceder. E deve igualmente estar farto de livros que não lhe interessam, que são só para vaidade do autor, oportunismo do editor, ou.
Mas como, pela minha parte e agora na pele do autor, também estou farto de muita coisa, desculpará V.Exª mas vou fazer de V.Exª mais uma vítima de uma circular que vem pedir uma nota sua de 50$ para livro que mandei imprimir à minha custa, na tipografia Gazeta do Sul e de que desejo enviar-lhe um exemplar.
Título: Manifesto contra o Meio Ambiente - II
Subtítulo: A Utopia Personalista
Páginas: Duzentas e tal
O livrinho em questão será impresso com todas as licenças, não é pornográfico e tão pouco conhece palavrões além daqueles que o seu filho de 5 anos já conhece. O livrinho em questão terá 1000 exemplares de tiragem e não vai ser best seller de livraria; o livro que lhe prometo à cobrança lá para Junho (Dia Mundial do Ambiente) é bem intencionado, puro, angélico, platónico, pacifista quanto baste, radical mas convivente, constestatário mas implacável com a mentira, a demagogia, amigo do pobre, do viúvo e da criancinha diminuída.
Palavra de honra que amo as criancinhas e por isso escrevi este livrinho que ninguém quis editar - no desejo de que não destruam e corrompam mais o mundo onde elas (criancinhas) hão-de querer viver, ainda que diminuídas; o livrinho pelo qual troco 50$ dos seus, é manifesto a favor de tudo o que V.Exª encontrar, no Universo, amável e digno de ser amado; é um livro incurável, mas útil aos incuráveis; não é ficção, poesia, narrativa, já não há tempo a perder com frioleiras, e o livro quer dizer-lhe que não, que o grito Utopia ou Morte é já e já a decisão; um livro urgente e que (lhe prometo) continuará a ser escrito à medida que a humanidade está procedendo ao extermínio de si própria.
Isso lhe juro e garanto sobre o meu cadáver...
É que - saiba V.Exª também - estou farto de escrever para a gaveta; de pregar aos peixinhos, de dar pérolas a porcos, de pensar dentro da tumba.
Farto de truques: o amigo que telefona a dizer que os tecnocratas se vão rir; outro que me chama lunático por vir defender eu o que toda a gente ataca, mata, corrompe; outro que acusa o meu idealismo e o meu amor à Natureza; outro que admira a campanha ecológica mas acha mais utilitário o seu Fiat; outro que disfarça o despeito e a raiva; outro que não responde; outro que responde para elogiar a qualidade do papel do livro que lhe enviei; outro que diz não ter percebido.
Farto de críticos portugueses e da sua nulidade balofa lantejoulada de fantasias circenses; farto dos intelectuais irremediavelmente obedientes ao umbigo dos mito e das conveniências do grupo, do partido, do quintal; farto de me dizerem que não sirvo para darem o trabalho a outro que ainda serve menos graças a Deus; farto de humildade e de modéstia; farto de me dizerem que não sou doutor e que falo por despeito contra os doutores; farto de esperar como o Fernando Pessoa que seja a posteridade a desenterrar os manuscritos da arca.
Daí esta carta a prometer que não desistirei e que, silêncio e hostilidade, nada me afectará.
De facto, não me importa o silêncio e a hostilidade com que recebam este livro ou os que tenciono publicar a seguir na mesma linha de utopia personalista. Nesses ensaios de ecologia humana, ocupo-me de apresentar hipóteses de trabalho que abram horizontes ao desespero da humanidade actual. Pensar é ensaiar, errar, caminhar. Prefiro errar, a pisar caminhos já trilhados.
Se escolhi no I capítulo o petróleo para ensaiar uma dialéctica e ecologia da crise, não foi por oportunismo editorial, mas porque essa matéria (prima) se presta, como ponto de encruzilhada, a levantar questões de método que considero importantes para quem não ande neste tempo e mundo só por ver andar.
Com o relatório do M.I.T. , a polémica dos recursos planetários entrou na fase aguda da controvérsia. Mais uma vez, o sistema recuperou a seu favor as críticas que lhe são feitas como sistema depredatório, ecocida e homicida. Denotando maior ou menor capacidade contra-ofensiva, usou desta vez um estratagema claro já usado em outras ocasiões: se os computadores afirmam que os recursos em matérias-primas e bens de base (água, oxigénio respirável, solos, segurança, silêncio) se encontram à beira do esgotamento devido ao modelo de crescimento utilizado, eis que o «sistema do desperdício» só podia ter uma resposta: encarecer esse bens cada vez mais raros (caros) , em vez de mudar radicalmente o modelo de crescimento que à delapidação sistemática e ao apocalipse ecológico nos tem conduzido.
«Depois de nós, o dilúvio» tornou-se o lema dos que não se importam com quem vier depois, contanto que nada se altere dos costumes mentais vigentes.
É para os que vierem depois que escrevo e continuarei escrevendo, para os que, ao abrirem os olhos, irão encontrar um Mundo queimado e destruído onde será impossível sobreviver. O que hoje parecem teses utópicas tornar-se-ão, em breve, por força dessa inadiável sobrevivência, o pão nosso de cada dia. Saberei esperar o dia (próximo) em que os factos me darão razão, ainda que hoje esteja em esmagadora minoria.
Se cito Ivan Illich, é não só porque encontro no seu radicalismo um aliado do Terceiro Mundo mas porque me agrada o tipo de discurso caquético que os seus livros desafiantes provocam nos adeptos da actual «ideologia do desenvolvimento» (Konrad Lorenz). E tenho a pretensão de me considerar muito mais radical do que Illich, vejam lá...
Mas os meus grandes aliados não são escritores e pensadores, por muito de vanguarda que os considere: são as gerações que vão agora nos 15 e 20 anos, serão dialecticamente o desespero, o congestionamento, a maciça intoxicação, as endemias, o nilismo que eles irão encontrar, que já estão encontrando num mundo onde não é possível nem amável viver. Queiram ou não os que estão teimando nesse modelo e acreditam que o futuro será de centrais nucleares (sic), a ideologia do desenvolvimento terá em cada mês mais noventa mil Sicco Mansholt a contestá-la.
À Sofística do século XX, aparentemente triunfante, irão opor-se os que defendem com alma um modelo de utopia personalista (humanista), de que me preocupa ir desde já descobrindo algumas linhas gerais e alguns pormenores.

NATUROLOGIA 1999

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MANIFESTO CONTRA A CIÊNCIA ORDINÁRIA EM GERAL E AS CIÊNCIAS DA VIDA EM PARTICULAR (CONTINUAÇÃO)

HISTÓRIA DAS IDEIAS NATUROLÓGICAS

1/3/1999 - A ideia (mais pré-conceito do que ideia) de que a ciência é como os automóveis e de que o último modelo é sempre o melhor, destronando e mandando para a sucata os anteriores, não tem ponta por onde se lhe pegue.
No entanto, é a ideia (o pré-conceito) que preside à ilustre ciência médica (e anexos) que todos os dias deita fora descobertas do dia anterior.
Compete à naturologia introduzir um pouco de bom senso, de lógica, de economia nesta paranóia, que, além do mais, é um desperdício ecologicamente condenável como todos os desperdícios.
Compete à Naturologia não ter medo dos papões, visitando os bons exemplos do passado, reencontrando e revalorizando autores, livros, correntes e ideias que, postas de lado pelo progressismo linear, bacoco e beato da ciência médica, tenham dado algum contributo interessante ou importante para o verdadeiro progresso humano que nunca se identificou e cada vez menos se identifica com as modas, com os novos modelos de automóveis, com as novas aquisições laboratoriais de uma ciência esquizofrénica, autista e completamente alheada do ambiente, de tudo e de todos.
À luz da Naturologia e do novo paradigma cósmico que a exige, há que refazer a história das ideias, reabilitando autores, livros, correntes, teses, conceitos que ficaram relegados e renegados pelas vagas de sucessivos modernismos e modismos em que a ciência ordinária se compraz.
No fundo, com as modas e os modernismos, trata-se pura e simplesmente de fazer com que a máquina infernal do consumo e do consumismo continue a girar a uma velocidade perfeitamente psicótica.
Na pequena biblioteca do Grupo de Estudos Herméticos, guardam-se alguns títulos que podem contribuir para o acervo necessário à história das ideias naturológicas. E diga-se que já não são muitos títulos.
Porque os fundamentos do novo paradigma terão que ver também com essa economia selectiva de informação, como diremos a seguir, a propósito da Internet.

BASTA DE ABUSOS

A ciência tem que tomar, definitivamente, juízo.
Não adianta esconder-se atrás da famosa neutralidade, não adianta usar da sofística que sistematicamente utiliza para se auto-ilibar de culpas e responsabilidades, não adianta vir argumentar, pela milésia vez, de que nada tem a ver com a crise ecológica, com o tecnoterror, com o sindroma sísmico nuclear, com o buraco na camada de ozono, com o derretimento dos gelos polares e as sucessivas catástrofes ambientais que se abatem sobre o Planeta Terra.
Não serve de nada à ciência ordinária apresentar desculpas de mau pagador, dizer que a culpa é sempre dos políticos, dos técnicos, dos economistas, dos financeiros, dos industriais, do governo, do Estado, do capitalismo, do socialismo, porque, de facto, a culpa é desses todos mas é também e principalmente da santa instância dita científica a quem esses todos recorrem e vão sempre pedir justificação e argumentos para as suas atrocidades.
O que ciência e cientistas têm que ter bem presente é que, tarde ou cedo, um tribunal de Nuremberga os há-de julgar por crimes contra a Humanidade.
Neste contexto, a chamada ciência médica não é excepção à regra. Nem melhor nem pior do que as outras (ciências) que contribuíram para o moderno holocausto, a ciência médica apenas tem refinado (n) a sua natureza psicótica e criminogénica, talvez porque trata directamente com o coração da vida e com o coração do universo - a célula.
A bem ou a mal, a ciência médica terá de aprender que, com a célula, é preciso ter cuidado e que não é com métodos cruentos e bombásticos (do diagnóstico à terapia), não é com pesquisa laboratorial em ratos e cobaias, não é com métodos de análise hediondos, não é com modas todos os dias fóra de moda (porque o consumismo exige), não é com violência atrás de violência (sobre a célula), virulência atrás de virulência, vacina atrás de vacina, antibiótico atrás de antibiótico, corticoide atrás de corticóide, que se estuda a vida, que se compreende a vida, que se respeita a vida.
Como não é, obviamente, a vida que vai morrer, quem terá de morrer é a ciência médica tal e qual tem vindo a ser institucionalizada, como um dos poderes mais despóticos, abjectos e horrendos da era moderna.
Chega de abusos.
Basta de arrogância e pesporrência.
Façam autocrítica.
Não usem e abusem da nossa paciência.
Tratem-se primeiro e vão depois tratar dos outros.
Deixem de se esconder como o avestruz.
Não pensem que podem com uma bioética arranjada à pressa, fazer esquecer uma história de calamidades, horrores e terrores.

UM BALANÇO DAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Acusada, no tribunal das consciências, pelas atrocidades do terror e do tecno-terror contemporâneo, a ciência ordinária passa à contra-ofensiva e finge que faz autocrítica. É a face mais odiosa de um já suficiente odioso.
A epistemologia foi um dos estratagemas inventados para fingir que faz autocrítica e é, como tal, uma das mais solenes mistificações a que assistimos.
O facto, já assinalado por mim, em outra página desta tese, de haver, numa vasta bibliografia de epistemologia, um único livro onde as ciências biológicas são abordadas, é só por si suficientemente elucidativo do sofisma que a epistemologia se reduz.
Para lá de umas punhetas bem batidas ao Karl Popper, ao Bachelard e a outras inócuas figuras, que nada aquentam nem arrefentam ao destino de nós todos e ao destino da Naturologia, a ditadura da chamada ciência continua intocável e as alternativas (que já existem) são escamoteadas.
É preciso dizer aos epistemólogos que existe uma epistemologia de rutura (pós moderna?) e que só essa interessa no balanço e processo das ciências biológicas a que a Naturologia terá que proceder.

O AUTISMO DOGMÁTICO DA INTERNET

1/3/1999 - A ciência esconde-se, hoje, principalmente, atrás de um fenómeno tecnológico multiusos, a que, simplificando, podemos chamar «sindroma da Internet».
A crença religiosa hoje em expansão é que está lá toda a informação. E é esse dilúvio de informação, a que melhor se chamaria contra-informação, que acaba por bloquear todo e qualquer movimento de ideias, mesmo que fossem favoráveis ao sistema, já que ideias críticas é evidente que estão completamente ausentes do sistema engendrado pelo sistema e que fundamentalmente serve o sistema de abjecção.
Este vazio serve à ciência em geral e médica em particular para prosseguir, mais alguns anos, o seu autismo dogmático (para empregar uma metáfora psiquiátrica) , a sua ditadura (para empregar uma metáfora política-ideológica).
A estratégia da Naturologia deverá ser, portanto, a de denunciar essa nova sofística a que se chama ciência, discutir criticamente essa dogmática e reduzir o mito ou sindroma da Internet às suas dimensões de pequeno chafurdo de várias pornografias, incluindo a da ciência.
Instrumento de consulta, apenas, tal como uma enciclopédia ou um dicionário, deverá ser usada, em naturologia, tal como é usado um dicionário: eventualmente e para tirar dúvidas de pormenor.
A gama de informações da Internet justifica, não uma rendição total ao caos do actual reino do virtual mas uma exigência cada vez mais exigente de crítica, escolha e selecção de informações.
É nesse sentido - selectivar a informação disponível - que realizamos este trabalho, que apresentamos esta tese.
Se a ditadura da ciência médica se serve (usa e abusa) da ditadura Internet, a resposta da Naturologia e da medicina naturológica deverá ser muito simplesmente: selectivar e escolher para optar.

O SILÊNCIO IATROGÉNICO

1/3/1999 - Sistematicamente silencida por cientistas e seus acólitos, a iatrogenia irá ser, tarde ou cedo, matéria do processo que o utente deverá colocar à instância médica e científica.
Em 1953, Indíveri Colucci, no livro «A Cura da Sífilis» (Lisboa, 1953, Editorial Natura) denunciou o crime do mercúrio, arsénico e bismuto utilizados pela medicina no tratamento da sífilis.
Mais uma vez, foi pioneiro e caso único no panorama das ideias naturológicas em Portugal.
O livro tem prefácio de José Castro e não foi ainda devidamente valorizado na sua importância histórica.
A história das ideias naturológicas deverá incluí-lo em lugar de destaque, se quisermos que a Naturologia ocupe o lugar a que tem direito.
Os naturólogos deverão, no mínimo, ter hoje metade da coragem que teve Colucci ao enfrentar o despotismo médico. Despotismo que, evidentemente, tem silenciado todos os escândalos de que a medicina tem vivido (matando) este século XX.
Reduzir ao silêncio o episódio da sífilis e seu tratamento químico, é demasiado fácil, abusivamente fácil. Há processos que têm de ser reabertos. Urgentemente. Nem que seja para encetar uma história das omissões na história das ideias naturológicas.

O QUADRO (OBSCENO) DAS ITES

O discurso médico sobre infecções ilustra como se pode com meias verdades esconder mentiras inteiras.
Como se pode ver no livro de um dr. António Carvalho ( Sífilis de Pais, Sífilis de Filhos-Editora Fernandes, Lisboa, 1934), o que se diz sobre a evolução de uma infecção sifilítica será verdade (admitamos) no que se refere à responsabilidade do agente patogénico.
Mas é apenas metade da verdade , porque a outra metade é o terreno orgânico e dele nunca o discurso médico sobre infecções (sifilíticas e outras) se ocupa.
A Naturologia deverá alargar esta imunologia restrita e restritiva em que a ciência médica continua a basear-se.
O discurso do livro citado é de 1933 mas, 66 anos volvidos, o discurso continua a ser substancialmente o mesmo, apenas mais sofisticado na nomenclatura. Como se sabe, aquilo que a ciência médica considera um grande progresso é aumentar inflacionariamente o vocabulário técnico.
Falando em infecção sifilítica, estamos a falar do célebre quadro de ites a que a ciência médica rende culto.
A complicabilidade de que vive o negócio médico-farmacêutico nasce e alimenta-se dessas ites.
Logo a partir do 1º ano de idade (Ver o chamado Boletim Oficial de Saúde, conhecido nos centros de saúde como boletim das vacinações).
Logo no princípio as ites começam a ser religiosamente cultivadas.
A Patologia que se ensinar em Naturologia deverá ser, obviamente e totalmente, revista à luz dos dados naturológicos e ecológicos.

ECOLOGIA DO CANCRO - POLUIÇÕES MAGNÉTICAS & ELECTROMAGNÉTICAS

A explicação ambiental do cancro não esgota a etiologia desta doença mas é, apesar de tudo, a linha avançada da investigação sobre a doença e que aponta para a lógica ortomolecular , à luz da qual toda a patologia terá que ser revista.
Aliás, à medida que os poluentes (químicos e electromagnéticos) aumentam em flecha (tudo neste sistema aumenta, logaritmicamente, menos a inteligência...) a própria leitura ecológica do cancro (e de todas as doenças) terá que ser constantemente revista.
Já de si complicado, o problema da profilaxia e terapia do cancro complica-se ainda mais.
Segundo a linha mais avançada da investigação vibratória, o factor determinante deverá ser procurado no ambiente electromagnético e nas poluições magnéticas (tanto como as químicas) que alteram a circulação ortomolecular.
Se, como dizem alguns autores, o cérebro emite ininterruptamente ondas electromagnéticas, estamos perante um tema crucial da Naturologia e da Noologia médicas.
Se é poluição magnética e electromagnética que principalmente afecta o cérebro e se a poluição magnética hoje mais próxima do cérebro são as baixas e baixíssimas frequências vibratórias dos telemóveis, poderemos ter uma primeira amostra do que significa a avassaladora invasão desses emissores/receptores junto ao cérebro.
As poluições electromagnéticas à distância (ecrãs de televisão, écrãs de computador) passam a segundo plano, apesar da gravidade que também representam para a saúde pública .
A ciência oficial nunca irá indagar mais este «dossiê maldito» de ecologia humana, mais este episódio do actual condicionamento ambiental dos corpos e (no caso dos telemóveis) dos cérebros.
No mínimo, as entidades que tanto falam de saúde, que tanto dizem preocupar-se com a nossa saúde , deveriam estudar o problema, em vez de meter a cabeça debaixa da areia, como sempre fazem quando se trata de averiguar de mais um factor nefasto à chamada saúde pública mas que pode afectar um dos intocáveis do grande negócio, seja Belmiro, seja a Telece ou seja a Portugal Telecom. Saúde pública de que existe, segundo nos dizem, um Instituto Ricardo Jorge...
Os autodidactas e franco-atiradores estão definitivamente fartos de assumir, à borla, o trabalho que as altas instituições (pagas pelos impostos dos 50% dos que em Portugal pagam impostos) , incluídas as altas instituições com o nome de saúde publica) não assumem nem querem assumir.
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SOFÍSTICA 1974

74-03-01-et> = entrevista-testamento - merge um bocado tonto, repetindo o que já ficou nos respectivos files individuais – funciona como cópia - 19200 bytes chave para entrevista-testamento (em que eu possa explicar-me das minhas aberrantes teses)

1-3-1974

CONTRA A CIÊNCIA ORDINÁRIA (O TEMA TABU POR EXCELÊNCIA)

[Em itálico os neologismos AC?]

1989

I - Gritam pelos bombeiros mas, enquanto gritam, vão ateando o fogo ou não fazem nada para o apagar.
Assim se pode definir em expressão jocosa, a situação criada pela ciência oficial estabelecida relativamente ao estado de guerra perpétuo que é o estado normal e crónico da sociedade industrial.
Fizeram o mal e agora fazem a caramunha.
De facto, o mito da neutralidade, com o qual se mistificaram várias gerações, serviu plenamente o objectivo pretendido.
De fora do processo, sempre neutros e independentes (como diz o da pasta dentífrica), os cientistas assopram as chamas e agora, armando ao inocente, armando mesmo em vítimas (da incompreensão geral e da geral ignorância das massas e dos leigos) gritam por socorro.
São então chamados amigos da paz e da humanidade.

II - Como tenho verificado pela reacções aos textos onde analiso os mitos da ciência oficial, a surdez é completa; eles já perceberam que lhes toco onde mais lhes dói e censuram: há uma supercensura em tudo o que critique e ponha em causa a religião da ciência;
- Penso que a religião da ciência, hoje vigente a Leste e a Oeste, é o tema principal do ecologista no que evidentemente não sou seguido, nem entendido, nem percebido por nenhum dos que se dizem ecologistas;
- Por mais que os idólatras do progresso manifestem a sua tecnodelinquência através de todo os seus tecnofascismos, a malta não compreende que os desastres e catástrofes e crimes desta desastrosa sociedade industrial têm todos origem na ideologia ou religião do cientismo (que ainda por cima é anticientífico, na medida em que é sintomatológico e não causal);
- Os canibais da civilização: até quando abusareis da nossa paciência?
- Temas de um texto que permanece (obviamente) inédito: porque são os cientistas culpados da destruição ambiental? Porque são eles os cúmplices do genocídio em particular e do ecocídio em geral? Que raio de ciência é esta que mata, adoece, esfola e aliena?
- Mais temas do ensaio que permanece (obviamente) inédito: os dogmas da fé científica, a religião da ciência, os cientistas no banco dos réus, os chacais da sofística, os burocratas da ciência, os mega-palermas das megatoneladas, os engenheiros do ambiente...

1989
DIÁRIO DE UM LEITOR DE JORNAIS - DIÁRIO DE UM ANARQUISTA ACIDENTAL - TÍTULOS & ANÚNCIOS

11/3/1989/27/5/89/ 19/8/1989 - Foi uma semana e peras nos títulos dos jornais : «Cacem a bruxa do Murtal», «Linchem o Negro da Bobadela», «Metam o louco no manicómio», «Prendam os naturoterapeutas que curam», «Investiguem o caso de corrupção das alfândegas», «Processem uns senhores que andam praí a dar notícias», «Analisem as urinas por causa do doping», «Internem os gafados da sida», «Detenham para averiguações o cigano que vende carpetes».
Com tantos bodes expiatórios, meticulosamente metidos em tribunal ou denunciados à polícia, as prioridades, portanto, totalmente invertidas, é então o momento azado de, neste Estado de Direito às avessas, tranquilamente
instituições
serviços
ministérios
multinacionais
polícias
lobbies
partidos
academias
universidades
trusts
clubes
viverem a bela vida da total impunidade.
E ainda dizem que a vítima não serve para nada?
Que seria do Poder sem tanta vítima e sem tanto bode expiatório? Que seria do poder, se não tivesse, quando fica de aflitos, uma classe profissional submissa, mal paga, sorridente, humilhada de manhã à noite, escorraçada quando não precisam dela e aliciada quando dela precisam?
E que anúncios maravilhosos a classe dos privilegiados tem à disposição: «Rio, meu cetim líquido», «Apartamentos excepcionais, com lareira, garagem e arrecadação», «Deslumbrante vista de mar sobre a praia», «Óptimas vistas sobre o pinhal e o mar».
Em registo menos idílico mas igualmente sedutor: «Apartamentos de luxo-lugar de estacionamento», «Materiais e acabamentos de grande qualidade», «Oportunidade única hoje, grande valor amanhã», «Moradias e andares para alugar a estrangeiros», «Zonas verdes, clube privativo, piscinas, ténis e todos os equipamentos», «Habitação e comércio de qualidade».
Alguém falou de crise de habitação?
Mas crise onde?
Crise para quem?
Se o Estado tem que fazer alguma coisa, de certeza que não são «casas para pobres», isso foi chão que deu uvas. O Estado deve proteger os desprotegidos construtores que continuam dando o melhor do seu esforço para haver em Portugal habitações condignas para estrangeiro morar, para haver, enfim, qualidade de vida.
Ou há moralidade ou comem só alguns.
(Ver CPT, «Especiarias por missangas - O preço a Pagar»)

1987

25/7/1987 - Modernizar a ciência - Limites da tecnocracia - Para o investigador livre, não sujeito a obediência de escola ou empresa ou academia, os maiores desafios da ciência apresentam-se hoje nas zonas de fronteira - ou interfaces - entre as várias disciplinas constituídas e que, por imperativo metodológico, se foram separando de uma matriz ou unidade original.
O grande desafio, hoje, é também um convite à reunificação do conhecimento, à re-globalização do que foi pulverizado e que, por essa razão, deixou de ser científico (isto é, não sectário nem sectorial) na medida em que deixou de ser universal.
Há um limite lógico para as tendências de um método: e passar os limites em que ele foi eficiente pode conduzir a um limiar em que ele começa a ser ineficiente e, em última instância, destrutivo do meio ambiental.
A crítica feita hoje à análise científica e seus exageros, surgiu de forma indirecta: pode ser a consciência ecológica, por exemplo, a mostrar, pelos resultados ou efeitos, até que ponto a ciência passou a linha de segurança e a linha da sua própria coerência, para se tornar uma amálgama caótica que ninguém já é capaz de controlar.
A crítica do conhecimento científico (Epistemologia) não se tem mostrado suficientemente «corajosa» para acompanhar os desafios da realidade e de algumas vozes (de filósofos) independentes, sem obediência nem subserviência a escolas, universidades, empresas e academias.
Automaticamente, verifica-se uma certa marginalização dessas vozes, talvez porque são incómodas ao lembrar os limites e os abusos da ciência, muito mais controlada hoje pelas tecnologias de ponta da sociedade industrial do que pelo objectivo humanista de ser, saber e conhecer.
Objectivo humanista é algo, aliás, que hoje parece não competir já ao cientista, sempre a lavar as mãos como Pilatos das consequências que o seu trabalho pode ocasionar no homem e no ambiente humano.
Sob a capa de «novas tecnologias», ou mesmo de uma alegada «avant garde» e de uma new age, mais influenciada por tropismos da moda comercial do que por motivações profundas em sintonia com a essência dos direitos humanos, a ciência torna-se assim pouco aliciante para o jovem que, apesar de tudo, ainda mantenha uma certa linha ética de conduta, ainda acredite em alguma fé e não perfilhe o social-niilismo a que ciências, filosofias e artes das últimas décadas o empurram com particular violência.
Tolhido pela autoridade dos mestres, agora travestidos de modernistas para encobrir a sua essência de académicos e escolastas, o jovem não se atreve a reconhecer um novo academismo que vem com rótulos insistentes do «novo», do «vanguardista», do «moderno».
Mas é um facto que esta vanguarda, assumida ou disfarçadamente tecnocrática, oculta um academismo, uma mentalidade conservadora, uma falta de iniciativa e de imaginação, uma moral de conveniência obediente aos ditames puramente comerciais do oportunismo e da moda .
Há talvez que voltar ao esquema claro e clássico das principais etapas que o investigador propunha para o avanço das ciências, entre as quais (etapas) a hipótese de trabalho (ou imaginação criadora) era fundamental.
Ninguém hoje, nos meios da chamada «pesquisa científica», põe hipóteses de trabalho criadoras: e só a imaginação pode ser, no campo do conhecimento, revolucionária. Pelo que parece abusiva e oportunista a ideia tornada corrente de que é revolucionária qualquer mudança tecnológica dentro da lógica tecnocrática.
No discurso dos tecnoapologetas, com efeito, usa-se e abusa-se da palavra revolução, indo ao ponto, caricato, de chamar «revolução industrial» ao começo histórico da reacção.
Afinal, face à consciência crítica da ecologia, o que será hoje mais revolucionário:
- O que teima em prorrogar a utopia tecnocrática, em todos os campos das tecnologias de ponta alienantes
- Ou os pequenos grandes contributos da tecnologia intermédia ou eco-tecnologias, criadoras de uma sociedade alternativa à engrenagem sem futuro do macro-sistema?
A linha de demarcação entre o que é e o que não é revolucionário, passa, de qualquer modo, pela ecologia, pelo pensamento ecologista, desde que radicalize suficientemente os postulados, até agora inamovíveis, de uma comunidade científica (assim autodesignada) tornada igreja universal, repetidora de dogmas imutáveis.
O campo fascinante que hoje se abre ao investigador livre e jovem é o das interrogações fundamentais, aquelas que põem em causa ou em questão os dogmas da tal igreja ou ciência estabelecida.
Muitos são os livros, as obras, os autores, os relatórios, os temas onde esses desafios podem ser claramente ouvidos pelas novas gerações de investigadores.
Ciências malditas, ciências paralelas, anticiência, ciências do maravilhoso, ciências diferentes, ciências sagradas ou ciências do sagrado - seja qual for a designação que o macrosistema já deu a este campo holístico da investigação aberta ao futuro, o que importa reter , com firmeza, é que nesse campo está o melhor e o pior, o trigo e o joio, da ciência futura.
Há, portanto, que separar o trigo do joio, sem dúvida, e essa é a primeira grande demarche para o jovem investigador livre.
Separar o válido do inválido é, neste caso e neste campo, um trabalho de intuição ou percepção crítica, fase tão importante na carreira de um cientista como a já citada e fóra de moda «hipótese de trabalho».
Há coisas aparentemente antiquadas que voltarão a ser modernas, há coisas aparentemente de vanguarda que terão de ser enterradas quanto antes.
Acima de tudo, o investigador livre não poderá encarreirar nos falsos caminhos propostos que são apenas os caminhos das multinacionais da química, da petroquímica, da farmácia, do electro-nuclear, ansiosas de que seja o Estado e as instituições do Estado (quer dizer, os cidadãos contribuintes) a pagar a pesquisa «científica» que elas aproveitarão para seus interesses e lucros corporativos ou privados.

1974

1/3/1974 - CIRCULAR DE UM ESCRITOR POBREZINHO A PEDIR EMPREGO - Meu caro amigo e senhor: Farto de meias palavras e meias tintas, de censuras e auto-censuras, de inibições, complexos de culpa e timidez, farto de estar farto, venho submeter à atenção de V.Exª algumas considerações que reputo oportunas e susceptíveis de merecer indignada repulsa de V.Exª , que também deve estar farto daquilo que eu estou.
Antes de mais, o senhor deve estar farto de lhe entrarem em casa cartas como esta, copiografada, tipo circular, pedindo-lhe a esmola de uma assinatura, convidando-o a comprar um livro que se lhe manda pelo correio, violentando-o na sua intimidade e na sua contabilidade.
Deve o senhor, também, estar farto de aceder a pedidos tais, ou não aceder. E deve igualmente estar farto de livros que não lhe interessam, que são só para vaidade do autor, oportunismo do editor, ou.
Mas como, pela minha parte e agora na pele do autor, também estou farto de muita coisa, desculpará V.Exª mas vou fazer de V.Exª mais uma vítima de uma circular que vem pedir uma nota sua de 50$ para livro que mandei imprimir à minha custa, na tipografia Gazeta do Sul e de que desejo enviar-lhe um exemplar.
Título: Manifesto contra o Meio Ambiente - II
Subtítulo: A Utopia Personalista
Páginas: Duzentas e tal
O livrinho em questão será impresso com todas as licenças, não é pornográfico e tão pouco conhece palavrões além daqueles que o seu filho de 5 anos já conhece. O livrinho em questão terá 1000 exemplares de tiragem e não vai ser best seller de livraria; o livro que lhe prometo à cobrança lá para Junho (Dia Mundial do Ambiente) é bem intencionado, puro, angélico, platónico, pacifista quanto baste, radical mas convivente, constestatário mas implacável com a mentira, a demagogia, amigo do pobre, do viúvo e da criancinha diminuída.
Palavra de honra que amo as criancinhas e por isso escrevi este livrinho que ninguém quis editar - no desejo de que não destruam e corrompam mais o mundo onde elas (criancinhas) hão-de querer viver, ainda que diminuídas; o livrinho pelo qual troco 50$ dos seus, é manifesto a favor de tudo o que V.Exª encontrar, no Universo, amável e digno de ser amado; é um livro incurável, mas útil aos incuráveis; não é ficção, poesia, narrativa, já não há tempo a perder com frioleiras, e o livro quer dizer-lhe que não, que o grito Utopia ou Morte é já e já a decisão; um livro urgente e que (lhe prometo) continuará a ser escrito à medida que a humanidade está procedendo ao extermínio de si própria.
Isso lhe juro e garanto sobre o meu cadáver...
É que - saiba V.Exª também - estou farto de escrever para a gaveta; de prégar aos peixinhos, de dar pérolas a porcos, de pensar dentro da tumba.
Farto de truques: o amigo que telefona a dizer que os tecnocratas se vão rir; outro que me chama lunático por vir defender eu o que toda a gente ataca, mata, corrompe; outro que acusa o meu idealismo e o meu amor à Natureza; outro que admira a campanha ecológica mas acha mais utilitário o seu Fiat; outro que disfarça o despeito e a raiva; outro que não responde; outro que responde para elogiar a qualidade do papel do livro que lhe enviei; outro que diz não ter percebido.
Farto de críticos portugueses e da sua nulidade balofa lantejoulada de fantasias circenses; farto dos intelectuais irremediavelmente obedientes ao umbigo dos mito e das conveniências do grupo, do partido, do quintal; farto de me dizerem que não sirvo para darem o trabalho a outro que ainda serve menos graças a Deus; farto de humildade e de modéstia; farto de me dizerem que não sou doutor e que falo por despeito contra os doutores; farto de esperar como o Fernando Pessoa que seja a posteridade a desenterrar os manuscritos da arca.
Daí esta carta a prometer que não desistirei e que, silêncio e hostilidade, nada me afectará.
De facto, não me importa o silêncio e a hostilidade com que recebam este livro ou os que tenciono publicar a seguir na mesma linha de utopia personalista. Nesses ensaios de ecologia humana, ocupo-me de apresentar hipóteses de trabalho que abram horizontes ao desespero da humanidade actual. Pensar é ensaiar, errar, caminhar. Prefiro errar, a pisar caminhos já trilhados.
Se escolhi no I capítulo o petróleo para ensaiar uma dialéctica e ecologia da crise, não foi por oportunismo editorial, mas porque essa matéria (prima) se presta, como ponto de encruzilhada, a levantar questões de método que considero importanrtes para quem não ande neste tempo e mundo só por ver andar.
Com o relatório do M.I.T. , a polémica dos recursos planetários entrou na fase aguda da controvérsia. Mais uma vez, o sistema recuperou a seu favor as críticas que lhe são feitas como sistema depredatório, ecocida e homicida. Denotando maior ou menor capacidade contra-ofensiva, usou desta vez um estratagema claro já usado em outras ocasiões: se os computadores afirmam que os recursos em matérias-primas e bens de base (água, oxigénio respirável, solos, segurança, silêncio) se encontram à beira do esgotamento devido ao modelo de crescimento utilizado, eis que o «sistema do desperdício» só podia ter uma resposta: encarecer esse bens cada vez mais raros (caros) , em vez de mudar radicalmente o modelo de crescimento que à delapidação sistemática e ao apocalipse ecológico nos tem conduzido.
«Depois de nós, o dilúvio» tornou-se o lema dos que não se importam com quem vier depois, contanto que nada se altere dos costumes mentais vigentes.
É para os que vierem depois que escrevo e continuarei escrevendo, para os que, ao abrirem os olhos, irão encontrar um Mundo queimado e destruído onde será impossível sobreviver. O que hoje parecem teses utópicas tornar-se-ão, em breve, por força dessa inadiável sobrevivência, o pão nosso de cada dia. Saberei esperar o dia (próximo) em que os factos me darão razão, ainda que hoje esteja em esmagadora minoria.
Se cito Ivan Illich, é não só porque encontro no seu radicalismo um aliado do Terceiro Mundo mas porque me agrada o tipo de discurso caquético que os seus livros desafiantes provocam nos adeptos da actual «ideologia do desenvolvimento» (Konrad Lorenz). E tenho a pretensão de me considerar muito mais radical do que Illich, vejam lá...
Mas os meus grandes aliados não são escritores e pensadores, por muito de vanguarda que os considere: são as gerações que vão agora nos 15 e 20 anos, serão dialecticamente o desespero, o congestionamento, a maciça intoxicação, as endemias, o nilismo que eles irão encontrar, que já estão encontrando num mundo onde não é possível nem amável viver. Queiram ou não os que estão teimando nesse modelo e acreditam que o futuro será de centrais nucleares (sic), a ideologia do desenvolvimento terá em cada mês mais noventa mil Sicco Mansholt a contestá-la.
À Sofística do século XX, aparentemente triunfante, irão opor-se os que defendem com alma um modelo de utopia personalista (humanista), de que me preocupa ir desde já descobrindo algumas linhas gerais e alguns pormenores.
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