74-03-01-et> = entrevista-testamento - merge um bocado tonto, repetindo o que já ficou nos respectivos files individuais – funciona como cópia - 19200 bytes chave para entrevista-testamento (em que eu possa explicar-me das minhas aberrantes teses) 1-3-1974CONTRA A CIÊNCIA ORDINÁRIA (O TEMA TABU POR EXCELÊNCIA)
[Em itálico os neologismos AC?]
1989
I - Gritam pelos bombeiros mas, enquanto gritam, vão ateando o fogo ou não fazem nada para o apagar.
Assim se pode definir em expressão jocosa, a situação criada pela ciência oficial estabelecida relativamente ao estado de guerra perpétuo que é o estado normal e crónico da sociedade industrial.
Fizeram o mal e agora fazem a caramunha.
De facto, o mito da neutralidade, com o qual se mistificaram várias gerações, serviu plenamente o objectivo pretendido.
De fora do processo, sempre neutros e independentes (como diz o da pasta dentífrica), os cientistas assopram as chamas e agora, armando ao inocente, armando mesmo em vítimas (da incompreensão geral e da geral ignorância das massas e dos leigos) gritam por socorro.
São então chamados amigos da paz e da humanidade.
II - Como tenho verificado pela reacções aos textos onde analiso os mitos da ciência oficial, a surdez é completa; eles já perceberam que lhes toco onde mais lhes dói e censuram: há uma supercensura em tudo o que critique e ponha em causa a religião da ciência;
- Penso que a religião da ciência, hoje vigente a Leste e a Oeste, é o tema principal do ecologista no que evidentemente não sou seguido, nem entendido, nem percebido por nenhum dos que se dizem ecologistas;
- Por mais que os idólatras do progresso manifestem a sua tecnodelinquência através de todo os seus tecnofascismos, a malta não compreende que os desastres e catástrofes e crimes desta desastrosa sociedade industrial têm todos origem na ideologia ou religião do cientismo (que ainda por cima é anticientífico, na medida em que é sintomatológico e não causal);
- Os canibais da civilização: até quando abusareis da nossa paciência?
- Temas de um texto que permanece (obviamente) inédito: porque são os cientistas culpados da destruição ambiental? Porque são eles os cúmplices do genocídio em particular e do ecocídio em geral? Que raio de ciência é esta que mata, adoece, esfola e aliena?
- Mais temas do ensaio que permanece (obviamente) inédito: os dogmas da fé científica, a religião da ciência, os cientistas no banco dos réus, os chacais da sofística, os burocratas da ciência, os mega-palermas das megatoneladas, os engenheiros do ambiente...
1989
DIÁRIO DE UM LEITOR DE JORNAIS - DIÁRIO DE UM ANARQUISTA ACIDENTAL - TÍTULOS & ANÚNCIOS
11/3/1989/27/5/89/ 19/8/1989 - Foi uma semana e peras nos títulos dos jornais : «Cacem a bruxa do Murtal», «Linchem o Negro da Bobadela», «Metam o louco no manicómio», «Prendam os naturoterapeutas que curam», «Investiguem o caso de corrupção das alfândegas», «Processem uns senhores que andam praí a dar notícias», «Analisem as urinas por causa do doping», «Internem os gafados da sida», «Detenham para averiguações o cigano que vende carpetes».
Com tantos bodes expiatórios, meticulosamente metidos em tribunal ou denunciados à polícia, as prioridades, portanto, totalmente invertidas, é então o momento azado de, neste Estado de Direito às avessas, tranquilamente
instituições
serviços
ministérios
multinacionais
polícias
lobbies
partidos
academias
universidades
trusts
clubes
viverem a bela vida da total impunidade.
E ainda dizem que a vítima não serve para nada?
Que seria do Poder sem tanta vítima e sem tanto bode expiatório? Que seria do poder, se não tivesse, quando fica de aflitos, uma classe profissional submissa, mal paga, sorridente, humilhada de manhã à noite, escorraçada quando não precisam dela e aliciada quando dela precisam?
E que anúncios maravilhosos a classe dos privilegiados tem à disposição: «Rio, meu cetim líquido», «Apartamentos excepcionais, com lareira, garagem e arrecadação», «Deslumbrante vista de mar sobre a praia», «Óptimas vistas sobre o pinhal e o mar».
Em registo menos idílico mas igualmente sedutor: «Apartamentos de luxo-lugar de estacionamento», «Materiais e acabamentos de grande qualidade», «Oportunidade única hoje, grande valor amanhã», «Moradias e andares para alugar a estrangeiros», «Zonas verdes, clube privativo, piscinas, ténis e todos os equipamentos», «Habitação e comércio de qualidade».
Alguém falou de crise de habitação?
Mas crise onde?
Crise para quem?
Se o Estado tem que fazer alguma coisa, de certeza que não são «casas para pobres», isso foi chão que deu uvas. O Estado deve proteger os desprotegidos construtores que continuam dando o melhor do seu esforço para haver em Portugal habitações condignas para estrangeiro morar, para haver, enfim, qualidade de vida.
Ou há moralidade ou comem só alguns.
(Ver CPT, «Especiarias por missangas - O preço a Pagar»)
1987
25/7/1987 - Modernizar a ciência - Limites da tecnocracia - Para o investigador livre, não sujeito a obediência de escola ou empresa ou academia, os maiores desafios da ciência apresentam-se hoje nas zonas de fronteira - ou interfaces - entre as várias disciplinas constituídas e que, por imperativo metodológico, se foram separando de uma matriz ou unidade original.
O grande desafio, hoje, é também um convite à reunificação do conhecimento, à re-globalização do que foi pulverizado e que, por essa razão, deixou de ser científico (isto é, não sectário nem sectorial) na medida em que deixou de ser universal.
Há um limite lógico para as tendências de um método: e passar os limites em que ele foi eficiente pode conduzir a um limiar em que ele começa a ser ineficiente e, em última instância, destrutivo do meio ambiental.
A crítica feita hoje à análise científica e seus exageros, surgiu de forma indirecta: pode ser a consciência ecológica, por exemplo, a mostrar, pelos resultados ou efeitos, até que ponto a ciência passou a linha de segurança e a linha da sua própria coerência, para se tornar uma amálgama caótica que ninguém já é capaz de controlar.
A crítica do conhecimento científico (Epistemologia) não se tem mostrado suficientemente «corajosa» para acompanhar os desafios da realidade e de algumas vozes (de filósofos) independentes, sem obediência nem subserviência a escolas, universidades, empresas e academias.
Automaticamente, verifica-se uma certa marginalização dessas vozes, talvez porque são incómodas ao lembrar os limites e os abusos da ciência, muito mais controlada hoje pelas tecnologias de ponta da sociedade industrial do que pelo objectivo humanista de ser, saber e conhecer.
Objectivo humanista é algo, aliás, que hoje parece não competir já ao cientista, sempre a lavar as mãos como Pilatos das consequências que o seu trabalho pode ocasionar no homem e no ambiente humano.
Sob a capa de «novas tecnologias», ou mesmo de uma alegada «avant garde» e de uma new age, mais influenciada por tropismos da moda comercial do que por motivações profundas em sintonia com a essência dos direitos humanos, a ciência torna-se assim pouco aliciante para o jovem que, apesar de tudo, ainda mantenha uma certa linha ética de conduta, ainda acredite em alguma fé e não perfilhe o social-niilismo a que ciências, filosofias e artes das últimas décadas o empurram com particular violência.
Tolhido pela autoridade dos mestres, agora travestidos de modernistas para encobrir a sua essência de académicos e escolastas, o jovem não se atreve a reconhecer um novo academismo que vem com rótulos insistentes do «novo», do «vanguardista», do «moderno».
Mas é um facto que esta vanguarda, assumida ou disfarçadamente tecnocrática, oculta um academismo, uma mentalidade conservadora, uma falta de iniciativa e de imaginação, uma moral de conveniência obediente aos ditames puramente comerciais do oportunismo e da moda .
Há talvez que voltar ao esquema claro e clássico das principais etapas que o investigador propunha para o avanço das ciências, entre as quais (etapas) a hipótese de trabalho (ou imaginação criadora) era fundamental.
Ninguém hoje, nos meios da chamada «pesquisa científica», põe hipóteses de trabalho criadoras: e só a imaginação pode ser, no campo do conhecimento, revolucionária. Pelo que parece abusiva e oportunista a ideia tornada corrente de que é revolucionária qualquer mudança tecnológica dentro da lógica tecnocrática.
No discurso dos tecnoapologetas, com efeito, usa-se e abusa-se da palavra revolução, indo ao ponto, caricato, de chamar «revolução industrial» ao começo histórico da reacção.
Afinal, face à consciência crítica da ecologia, o que será hoje mais revolucionário:
- O que teima em prorrogar a utopia tecnocrática, em todos os campos das tecnologias de ponta alienantes
- Ou os pequenos grandes contributos da tecnologia intermédia ou eco-tecnologias, criadoras de uma sociedade alternativa à engrenagem sem futuro do macro-sistema?
A linha de demarcação entre o que é e o que não é revolucionário, passa, de qualquer modo, pela ecologia, pelo pensamento ecologista, desde que radicalize suficientemente os postulados, até agora inamovíveis, de uma comunidade científica (assim autodesignada) tornada igreja universal, repetidora de dogmas imutáveis.
O campo fascinante que hoje se abre ao investigador livre e jovem é o das interrogações fundamentais, aquelas que põem em causa ou em questão os dogmas da tal igreja ou ciência estabelecida.
Muitos são os livros, as obras, os autores, os relatórios, os temas onde esses desafios podem ser claramente ouvidos pelas novas gerações de investigadores.
Ciências malditas, ciências paralelas, anticiência, ciências do maravilhoso, ciências diferentes, ciências sagradas ou ciências do sagrado - seja qual for a designação que o macrosistema já deu a este campo holístico da investigação aberta ao futuro, o que importa reter , com firmeza, é que nesse campo está o melhor e o pior, o trigo e o joio, da ciência futura.
Há, portanto, que separar o trigo do joio, sem dúvida, e essa é a primeira grande demarche para o jovem investigador livre.
Separar o válido do inválido é, neste caso e neste campo, um trabalho de intuição ou percepção crítica, fase tão importante na carreira de um cientista como a já citada e fóra de moda «hipótese de trabalho».
Há coisas aparentemente antiquadas que voltarão a ser modernas, há coisas aparentemente de vanguarda que terão de ser enterradas quanto antes.
Acima de tudo, o investigador livre não poderá encarreirar nos falsos caminhos propostos que são apenas os caminhos das multinacionais da química, da petroquímica, da farmácia, do electro-nuclear, ansiosas de que seja o Estado e as instituições do Estado (quer dizer, os cidadãos contribuintes) a pagar a pesquisa «científica» que elas aproveitarão para seus interesses e lucros corporativos ou privados.
1974
1/3/1974 - CIRCULAR DE UM ESCRITOR POBREZINHO A PEDIR EMPREGO - Meu caro amigo e senhor: Farto de meias palavras e meias tintas, de censuras e auto-censuras, de inibições, complexos de culpa e timidez, farto de estar farto, venho submeter à atenção de V.Exª algumas considerações que reputo oportunas e susceptíveis de merecer indignada repulsa de V.Exª , que também deve estar farto daquilo que eu estou.
Antes de mais, o senhor deve estar farto de lhe entrarem em casa cartas como esta, copiografada, tipo circular, pedindo-lhe a esmola de uma assinatura, convidando-o a comprar um livro que se lhe manda pelo correio, violentando-o na sua intimidade e na sua contabilidade.
Deve o senhor, também, estar farto de aceder a pedidos tais, ou não aceder. E deve igualmente estar farto de livros que não lhe interessam, que são só para vaidade do autor, oportunismo do editor, ou.
Mas como, pela minha parte e agora na pele do autor, também estou farto de muita coisa, desculpará V.Exª mas vou fazer de V.Exª mais uma vítima de uma circular que vem pedir uma nota sua de 50$ para livro que mandei imprimir à minha custa, na tipografia Gazeta do Sul e de que desejo enviar-lhe um exemplar.
Título: Manifesto contra o Meio Ambiente - II
Subtítulo: A Utopia Personalista
Páginas: Duzentas e tal
O livrinho em questão será impresso com todas as licenças, não é pornográfico e tão pouco conhece palavrões além daqueles que o seu filho de 5 anos já conhece. O livrinho em questão terá 1000 exemplares de tiragem e não vai ser best seller de livraria; o livro que lhe prometo à cobrança lá para Junho (Dia Mundial do Ambiente) é bem intencionado, puro, angélico, platónico, pacifista quanto baste, radical mas convivente, constestatário mas implacável com a mentira, a demagogia, amigo do pobre, do viúvo e da criancinha diminuída.
Palavra de honra que amo as criancinhas e por isso escrevi este livrinho que ninguém quis editar - no desejo de que não destruam e corrompam mais o mundo onde elas (criancinhas) hão-de querer viver, ainda que diminuídas; o livrinho pelo qual troco 50$ dos seus, é manifesto a favor de tudo o que V.Exª encontrar, no Universo, amável e digno de ser amado; é um livro incurável, mas útil aos incuráveis; não é ficção, poesia, narrativa, já não há tempo a perder com frioleiras, e o livro quer dizer-lhe que não, que o grito Utopia ou Morte é já e já a decisão; um livro urgente e que (lhe prometo) continuará a ser escrito à medida que a humanidade está procedendo ao extermínio de si própria.
Isso lhe juro e garanto sobre o meu cadáver...
É que - saiba V.Exª também - estou farto de escrever para a gaveta; de prégar aos peixinhos, de dar pérolas a porcos, de pensar dentro da tumba.
Farto de truques: o amigo que telefona a dizer que os tecnocratas se vão rir; outro que me chama lunático por vir defender eu o que toda a gente ataca, mata, corrompe; outro que acusa o meu idealismo e o meu amor à Natureza; outro que admira a campanha ecológica mas acha mais utilitário o seu Fiat; outro que disfarça o despeito e a raiva; outro que não responde; outro que responde para elogiar a qualidade do papel do livro que lhe enviei; outro que diz não ter percebido.
Farto de críticos portugueses e da sua nulidade balofa lantejoulada de fantasias circenses; farto dos intelectuais irremediavelmente obedientes ao umbigo dos mito e das conveniências do grupo, do partido, do quintal; farto de me dizerem que não sirvo para darem o trabalho a outro que ainda serve menos graças a Deus; farto de humildade e de modéstia; farto de me dizerem que não sou doutor e que falo por despeito contra os doutores; farto de esperar como o Fernando Pessoa que seja a posteridade a desenterrar os manuscritos da arca.
Daí esta carta a prometer que não desistirei e que, silêncio e hostilidade, nada me afectará.
De facto, não me importa o silêncio e a hostilidade com que recebam este livro ou os que tenciono publicar a seguir na mesma linha de utopia personalista. Nesses ensaios de ecologia humana, ocupo-me de apresentar hipóteses de trabalho que abram horizontes ao desespero da humanidade actual. Pensar é ensaiar, errar, caminhar. Prefiro errar, a pisar caminhos já trilhados.
Se escolhi no I capítulo o petróleo para ensaiar uma dialéctica e ecologia da crise, não foi por oportunismo editorial, mas porque essa matéria (prima) se presta, como ponto de encruzilhada, a levantar questões de método que considero importanrtes para quem não ande neste tempo e mundo só por ver andar.
Com o relatório do M.I.T. , a polémica dos recursos planetários entrou na fase aguda da controvérsia. Mais uma vez, o sistema recuperou a seu favor as críticas que lhe são feitas como sistema depredatório, ecocida e homicida. Denotando maior ou menor capacidade contra-ofensiva, usou desta vez um estratagema claro já usado em outras ocasiões: se os computadores afirmam que os recursos em matérias-primas e bens de base (água, oxigénio respirável, solos, segurança, silêncio) se encontram à beira do esgotamento devido ao modelo de crescimento utilizado, eis que o «sistema do desperdício» só podia ter uma resposta: encarecer esse bens cada vez mais raros (caros) , em vez de mudar radicalmente o modelo de crescimento que à delapidação sistemática e ao apocalipse ecológico nos tem conduzido.
«Depois de nós, o dilúvio» tornou-se o lema dos que não se importam com quem vier depois, contanto que nada se altere dos costumes mentais vigentes.
É para os que vierem depois que escrevo e continuarei escrevendo, para os que, ao abrirem os olhos, irão encontrar um Mundo queimado e destruído onde será impossível sobreviver. O que hoje parecem teses utópicas tornar-se-ão, em breve, por força dessa inadiável sobrevivência, o pão nosso de cada dia. Saberei esperar o dia (próximo) em que os factos me darão razão, ainda que hoje esteja em esmagadora minoria.
Se cito Ivan Illich, é não só porque encontro no seu radicalismo um aliado do Terceiro Mundo mas porque me agrada o tipo de discurso caquético que os seus livros desafiantes provocam nos adeptos da actual «ideologia do desenvolvimento» (Konrad Lorenz). E tenho a pretensão de me considerar muito mais radical do que Illich, vejam lá...
Mas os meus grandes aliados não são escritores e pensadores, por muito de vanguarda que os considere: são as gerações que vão agora nos 15 e 20 anos, serão dialecticamente o desespero, o congestionamento, a maciça intoxicação, as endemias, o nilismo que eles irão encontrar, que já estão encontrando num mundo onde não é possível nem amável viver. Queiram ou não os que estão teimando nesse modelo e acreditam que o futuro será de centrais nucleares (sic), a ideologia do desenvolvimento terá em cada mês mais noventa mil Sicco Mansholt a contestá-la.
À Sofística do século XX, aparentemente triunfante, irão opor-se os que defendem com alma um modelo de utopia personalista (humanista), de que me preocupa ir desde já descobrindo algumas linhas gerais e alguns pormenores.
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