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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-07-05

ARTES 1987

ddea -1>- diario de um aprendiz de ecologia alimentar

ARTES DE VIVER

Lisboa, 5/7/1987 - Alguns povos como os Hunzas do Tibete e os indígenas de Alcambamba dão-nos fios seguros da tradição alimentar: na arte de comer, tal como nas outras artes de viver, os modernismos ditos científicos não nos ensinam rigorosamente nada, antes pelo contrário.
Por isso a tendência, hoje, é procurar nos grandes sistemas da antiguidade, nomeadamente orientais, os padrões do nosso óptimo alimentar.
O sistema taoísta, por exemplo, é o que mais se aproxima dos dados actuais fornecidos pela ecologia. Os modernos doutrinadores da alimentação yin-yang chamaram-lhe macrobiótica.
Vendo-a no contexto de todas as outras artes de curar que integram a medicina taoísta, nomeadamente a Acupunctura, somos levados a concluir que o sistema taoísta, como Cosmologia e como Arte Prática de Viver, é o primeiro grande sistema de ciências ecológicas conhecido na história da humanidade.

Lisboa, 5/7/1987 - O padrão «Calorias» , escolhido pela ciência médica da nutrição, não esgota todos os aspectos energéticos que devem considerar-se implicados numa concepção não reducionista e portanto holística do fenómeno humano.


Lisboa, 15/3/1990 - Se há aquisições definitivas no lacto-ovo-vegetarianismo, o tema da desintoxicação é, com certeza, um deles.
Mas os métodos que a corrente lacto-ovo-vegetariana usa para desintoxicar atingem apenas níveis superficiais do organismo, mesmo aquela parte do organismo que é costume a fisiologia considerar porque se vê.
Omissão mais importante no lacto-ovo-vegetarianismo é a do corpo energético, completamente ignorado das sucessivas correntes vegetarianas, até à macrobiótica.
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ANIMAIS 1990

1-1- 90-07-05-di> = diário de um idiota - julho5> 2460 caracteres

O MISTÉRIO DOS ANIMAIS

5/Julho/1990 - O menosprezo com que se encaram os animais é o ponto que, até agora, constitui para mim o osso mais duro de roer na doutrina budista( que fala do amor em «benefício de todos os seres sensíveis») e um dos aspectos que me impedem de aderir total e incondicionalmente à doutrina, condição para aderir total e incondicionalmente à prática.
Afinal, o budismo também hierarquiza. A pretexto de graus e degraus evolutivos ( até à perfeição, até à Perfeição...), tem de considerar pelo caminho o chão juncado de cadáveres, lixos, imperfeições, « espinhas tortas».
Não concordo: por isso o Taoísmo, aí, vem mais uma vez em meu auxílio, dando-me a razão que o budismo me não dá. Para mim, a doutrina budista, nomeadamente através do ramo Nyingma, é a mais poderosa ( a mais potente como diz o mestre Filipe), mas o Taoísmo parece-me a mais verdadeira: e talvez que a opção tenha de ser entre a Força e a Verdade...
Sendo assim e porque continuo fascinado pela Verdade, ainda que seja um mito, concluo que neste momento sou mais taoísta do que budista. Talvez também porque o Taoísmo se desentranha em frutos terrestres (consequências práticas) de maior benefício para os seres sensíveis em geral e os seres humanos em particular.
Desde a Acupunctura à Macrobiótica, desde o Shiatsu às artes marciais, desde a arte do paradoxo à lógica dialéctica, o Taoísmo é um prodigioso universo sem fissuras... e sem hierarquias, sem «melhores» e «piores», sem esta obsessão que têm todas as religiões de separar o mundo em «bons» e «maus», em «virtuosos» e «pecadores», em possessos do demónio e protegidos de Deus! Racismos, não, obrigado.
O Taoísmo respeita a Espiral cósmica, em que todo o ponto avançado é «devedor» de todos os «atrasados» que o «antecedem» (e antecederão mesmo?). No Taoísmo, todos os pontos da Espiral têm iguais hipóteses e direitos perante Deus.
Não posso pensar nos animais em termos depreciativos. Aquela lenda do cão que se jura vingar da construção do «stupa» pela tal benemérita - do qual «stupa» nasceu todo o edifício do budismo Nyingma - parece-me, no mínimo, de muito mau gosto. E percebo agora porque tu, um dia, te mostraste bastante desagradado quando eu falei, com enlevo, do amor que há nos olhos de alguns animais como os cavalos.
[O mistério dos animais está entre os que um dia gostaria de «investigar» nas minhas ficções, porque é um dos que verdadeiramente me fascinam.]
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PROGRESSO 1980

1-2 -progresso-1-ie> = ideia ecológica do ac - os dossiês do silêncio – terminologia denuncia a ideologia

O PREÇO DO «PROGRESSO»(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 5/7/1980


5/7/1980 - Pertence à história da poluição, a escalada das tecnologias cada vez mais sofisticadas e, portanto, cada vez mais poluentes. Quando há um salto na sofisticação das tecnologias há, por via de regra, um aumento para pior na qualidade da poluição.
O facto de em língua portuguesa não haver uma palavra para designar o antónimo de qualidade - como era neste caso necessário - já nos informa da novidade que preside ao fenómeno da supersofisticação das tecnologias, sofisticação sempre directamente proporcional à violência do seu impacto sobre o meio ambiente e o homem.
Progresso nas tecnologias significa sempre mais poluição, mais perigo, mais violência, mais complicação, mais dinheiro (para pagar todos esses «progressos»).
A nova geração de autocarros (conhecidos do público por laranjas) e a modernização dos CTT (cujo preço os utentes bem têm sentido nos últimos anos, nomeadamente depois do 25 de Abril) são apenas dois exemplos bem conhecidos dos portugueses na sua vida quotidiana.
O luxo de Portugal possuir uma sofisticada companhia de navegação aérea, começou também a ficar evidenciado aos olhos do cidadão comum, quando os pilotos, que ganham 213 contos por mês, fizeram uma greve para reivindicar aumentos...
Como a referida companhia é do Estado, são os portugueses, evidentemente, quem paga o luxo de termos esta elite de homens que são os pilotas da aviação. Homens que ameaçam mudar-se para qualquer companhia estrangeira, se não lhes pagarem o que justamente exigem. Dentro da sua lógica de «classe profissional internacional», eles têm toda a razão e ninguém lhes pode levar a mal. Se queremos o progresso de uma companhia aérea, pagamos. Se queremos o progresso dos autocarros último modelo, pagamos (em vidas). Se queremos o progresso do «meio caminho andado» e do código postal, fora o resto, pagamos.

O ano de 1979 foi ainda pródigo noutras maravilhas, largamente noticiadas.
Do Brasil, foi a ofensiva da gasolina vegetal, obtida a partir do álcool extraído da cana do açúcar.
Mais um deslumbramento que será pago em alterações no ambiente (na fase de extracção), principalmente na fase das plantações desta monocultura (a cana) que já vem operando alterações catastróficas no regime de chuvas, como tantas outras monoculturas (banana e café, por exemplo) com que o imperialismo pilha as vastidões agrícolas da América Latina.
Com ecos repetidos em Portugal, o Etanol está também entre as panaceias miraculosas que os benfeitores querem trazer para Portugal: com base na beterraba, eis que o Etanol, na opinião de Eurico da Fonseca, deveria ser uma das alternativas energéticas a ponderar já. Ele lá sabe porquê!
Mas são inúmeros os exemplos de progresso nas tecnologias e nas indústrias, que todos acabamos por pagar com língua de palmo, ora por impostos, ora com o risco das nossas vidas, ora com a nossa saúde, ora com o meio ambiente e os recursos destruídos pela violência ou pela poluição.
Todos conhecem, porém, um dos casos mais comuns de progresso, que foi a passagem do sabão para os detergentes, ou da curtimenta orgânica das peles para a curtimenta química.
Em relação às novas técnicas para a exploração de urânio, o que se desenha é exactamente uma pioração dos processos (se analisados na perspectiva do homem e do ambiente), designados no entanto como melhoramentos na perspectiva tecnocrática e capitalista da economia..
Para nos convencer de que todos os avanços tecnológicos são melhorias e não piorias, são progressos e não retrocessos, o técnico encobre-se de sofismas vários, mas dois deles são predilectos:
1) De um lado, anuncia a escalada do pior como «um novo progresso tecnológico», de modo a deixar a opinião pública muito orgulhosa, especialmente se for a de um país tradicionalmente atrasado e subdesenvolvido, psicologicamente preparado para esperar o progresso como há séculos esperamos D. Sebastião o Desejado...
2) Do outro lado, lança ao público ignaro uma nomenclatura arrevesada, feita para impressionar, o que não lhe é difícil, visto que, regra geral, as novas e sofisticadas tecnologias correspondem sempre a novas e sofisticadas nomenclaturas.
Para o urânio, o grito de guerra que já se começou e ouvir e que irá aumentando de intensidade à medida que as fábricas forem invadindo o País, é este: « a lixiviação dos urânios pobres». O resto é nomenclatura banal, ao alcance do cidadão médio: recuperação dos minérios que ficaram nas minas.
Recorde-se que relativamente às pirites de Aljustrel houve e haverá um processo de sofisticação idêntico em curso. Palavra de guerra para as pirites: tratamento em leito fluidizado. O preço e pagar por esse extraordinário progresso da nossa economia será em água, o capital hoje mais precioso, como se sabe, à medida que o mundo industrial a torna rara e inexistente.
No ano de 1979 foi o grito de guerra para os carvões. A indústria da Alemanha Federal dispõe já de técnica para obter grandes quantidades de gasolina e gás a partir do carvão. Este triunfo da técnica e da ciência foi glosado em todos os tons e os propagandistas não se pouparam a esforços para que o público ficasse convencido da existência de mais esta vitória do progresso.
A que preço para o meio ambiente e para a saúde ou segurança das pessoas, eles nunca o dizem. Que lhes interessa a eles, os outros valores que não seja o capital propriamente dito? O negócio deles é números.
De que maneira uma tecnologia altamente sofisticada aumenta, na mesma proporção, a dependência dos consumidores em relação às grandes redes nacionais ou multinacionais que as controlam, eis outra coisa que os propagandistas também não dizem.
De que maneira, portanto, as tecnologias e indústrias, quanto mais sofisticadas mais tendem ao reforço das políticas concentracionárias e totalitárias, eis outra coisa que os propagandistas do progresso não dizem, nem tão-pouco os progressistas da política que falam em libertar o homem do homem seu explorador.
A tecnologia e a ciência não são política nem economicamente neutras, na medida em que todos os avanços e progressos e sofisticações e complicações nelas verificadas levam sempre ao maior reforço das autoridades - quer do Estado, quer das firmas que controlam o Estado, quer de quaisquer outras forças.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 5/7/1980
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ADARSHA 1996

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5-7-1996

LANÇADA EM LISBOA COM DISTRIBUIÇÃO INTERNACIONAL - BUDISMO TIBETANO INSPIRA REVISTA TRILINGUE

Texto de Afonso Cautela

O budismo tibetano moderniza-se. Já entrou na Internet e vai lançar uma revista internacional, trilingue (português, inglês e francês), sobre as múltiplas correntes e tendências, mosteiros e mestres que vivem dentro deste ramo do budismo, agora com a capital em Lisboa. Ilustres convidados da nossa vida política, artística e intelectual vão abrilhantar a festa. E o menino Buda nascido no Nepal sorri ao terceiro milénio.

O lançamento da revista «Adarsha» está marcado para o próximo dia 10 de Julho, no restaurante «Os Tibetanos», ex-Terraço Finisterra. Com redacção em Lisboa, terá uma difusão internacional e propõe-se divulgar a tradição tibetana através de textos de grandes mestres, além de publicar notícias sobre diversos centros e mosteiros budistas no mundo.
Quem pensava que o budismo tibetano era uma unidade dogmática e fechada, ficará surpreendido com a diversidade de tendências que existem no seu interior:
«Se imaginarmos o Tibete - diz Filipe Rocha, do Centro «Os Tibetanos» - com milhares de mosteiros, centenas de escolas e várias tradições principais, pode imaginar-se a importância de uma linhagem que as agrupe, conheça, preserve e transmita a todas sem as confundir uma com outras. Essa linhagem é que inspira o espírito da revista.»
Emília Marques Rosa explica não só o título da revista - « «adarsha» simboliza o espelho onde a pessoa se mira para se reconhecer na sua verdadeira natureza» - mas o que significa a linhagem Rime no seio do budismo tibetano:
«Os mestres da linhagem Rime assimilaram várias tradições e não as misturam. Rime significa, assim, não sectário. Que tem um sentido diferente da palavra «ecuménico» nas religiões ocidentais. Trata-se de conservar cada tradição na sua integralidade. A nossa revista segue exactamente no espírito da linhagem Rime, apresentando várias tradições.»
Cada número da revista, como nos explica Emília Marques Rosa, é particularmente centrado no trabalho de um mosteiro ou de um mestre. Neste primeiro número, o relevo vai para o Mosteiro de Schechen, um dos principais da mais antiga ordem do budismo tibetano e para a figura e pensamento do que foi mestre supremo da Ordem e que em 1991 (número palindrómico) deixou a Terra.

DIÁSPORA TIBETANA

A revista trimestral agora lançada corresponde assim a uma necessidade: servir de elo de ligação entre as numerosas colectividades budistas espalhadas pelo mundo.
A diáspora tibetana, iniciada com o genocídio mandado executar pela China de Mao Tsé Tung (a quem se deve, providencialmente, a expansão do budismo por todo o mundo), continua em marcha e vai conquistando cada vez mais adeptos. Poderá dizer-se que o instrumento de que a divina providência se serviu para provocar essa diáspora foi um bocado violento, envolvendo 1 milhão de mortos e 6 mil mosteiros destruídos e saqueados. Mas também se poderá dizer que Deus escreve torto por linhas direitas e tudo volta ao sítio.
«Adarsha» é o nome da nova revista internacional do budismo tibetano, que Lisboa tem a honra de acolher. Provavelmente porque o centro Ogyen Kunzang Choling (OKC), usualmente denominado «Os Tibetanos», na rua do Salitre, 117, é um ponto de referência entre os centros Nyngma Pa de todo o mundo.
Provavelmente também porque a missão messiânica que alguns atribuem a Portugal tem um certo fundamento. A existência de um mosteiro do budismo Nyingma, na serra do Caldeirão ou Mu, terra de ninguém entre o Alentejo e o Algarve, pode ser um sinal dessa vocação e dos novos tempos em que Portugal terá de novo um papel navegador, como queria o profeta Fernando Pessoa.

O MENINO BUDA

O assunto central do primeiro número da «Adarsha» é a reincarnação de Sua Santidade Dilgo Khyentsé Rinpoché.
Falando em Rinpoché - termo que significa precioso e que corresponde a um grau dignitário do budismo tibetano - a revista insere os textos com ensinamentos de Dilgo Khyentsé Rinpoché e de Jigmé Khyentsé Rinpoché, noticiário de vários centros e mosteiros da Ásia e Europa e algumas palavras do Lama Kunzang, aquele que tem estado mais perto da comunidade budista portuguesa e que, nos Alpes, no Mosteiro de Nyima Tzong, e em Bruxelas (primeiro templo budista criado na Europa), tem contado com um numeroso contingente de jovens portugueses nas fileiras dos seus estudantes.
Lama Kunzang é a figura particularmente respeitada que muitos - dentro e fora do budismo - consideram uma referência sagrada na Europa da barbárie e da catástrofe.

ESPELHO DA ALMA

Entrando nos truques de marketing que a sociedade de consumo não dispensa, a revista oferece, a cada assinante, uma foto a cores (13x18) de Tulku (reincarnação) Khyentsé Rinpoché, o menino nascido no Nepal, em 1992, filho de uma família de linhagem religiosa tibetana e que é considerado a reincarnação de Sua Santidade Dilgo Khyentsé Rinpoché.
A directora da revista, Emília Marques Rosa, explica a origem do título «Adarsha»(espelho em sânscrito):
«O nome foi-nos sugerido por Sua Santidade Dilgo Khyentse Rinpoche, um dos maiores mestres contemporâneos do budismo tibetano.»
Mestre supremo da Ordem Nyingma (ou dos Antigos) do budismo tibetano e um dos mestres do Dalai Lama, ele foi o responsável espiritual da OKC até à sua partida deste mundo, em 1991.
A OKC chegou à Europa em 1972 e desde 1979 que tem três centros em Portugal: Lisboa, Porto e o já citado na serra algarvia, onde existe também um centro de retiros espirituais.
A revista «Adarsha», redigida e realizada (impressa) em Lisboa, vai assim, religar vários centros entre si, com notícias desses centros mas, sobretudo, ensinamentos, alguns inéditos, dos Lamas, dirigidos não só a pessoas interessadas pelo budismo mas ao público em geral.
Com 52 páginas a cores e mais de 40 fotos, a revista apresenta-se com uma estética simultaneamente moderna e respeitadora da tradição budista tibetana.
A intenção fica patente na apresentação deste primeiro número, feita por Shechen Rabjam Rinpoche, abade do mosteiro de Shechen, no Nepal:
«É meu voto sincero que no espelho de Adarsha sejam reflectidas imagens de sabedoria e compaixão claras e autênticas, para benefício de todos os seres(...) Espero que pela apresentação de ensinamentos de todas as escolas do budismo tibetano, a Adarsha favoreça uma melhor compreensão da prática e da filosofia budista.»
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