ADARSHA 1996
1-3 96-07-05-ls> leituras do ac adarsha1>
5-7-1996
LANÇADA EM LISBOA COM DISTRIBUIÇÃO INTERNACIONAL - BUDISMO TIBETANO INSPIRA REVISTA TRILINGUE
Texto de Afonso Cautela
O budismo tibetano moderniza-se. Já entrou na Internet e vai lançar uma revista internacional, trilingue (português, inglês e francês), sobre as múltiplas correntes e tendências, mosteiros e mestres que vivem dentro deste ramo do budismo, agora com a capital em Lisboa. Ilustres convidados da nossa vida política, artística e intelectual vão abrilhantar a festa. E o menino Buda nascido no Nepal sorri ao terceiro milénio.
O lançamento da revista «Adarsha» está marcado para o próximo dia 10 de Julho, no restaurante «Os Tibetanos», ex-Terraço Finisterra. Com redacção em Lisboa, terá uma difusão internacional e propõe-se divulgar a tradição tibetana através de textos de grandes mestres, além de publicar notícias sobre diversos centros e mosteiros budistas no mundo.
Quem pensava que o budismo tibetano era uma unidade dogmática e fechada, ficará surpreendido com a diversidade de tendências que existem no seu interior:
«Se imaginarmos o Tibete - diz Filipe Rocha, do Centro «Os Tibetanos» - com milhares de mosteiros, centenas de escolas e várias tradições principais, pode imaginar-se a importância de uma linhagem que as agrupe, conheça, preserve e transmita a todas sem as confundir uma com outras. Essa linhagem é que inspira o espírito da revista.»
Emília Marques Rosa explica não só o título da revista - « «adarsha» simboliza o espelho onde a pessoa se mira para se reconhecer na sua verdadeira natureza» - mas o que significa a linhagem Rime no seio do budismo tibetano:
«Os mestres da linhagem Rime assimilaram várias tradições e não as misturam. Rime significa, assim, não sectário. Que tem um sentido diferente da palavra «ecuménico» nas religiões ocidentais. Trata-se de conservar cada tradição na sua integralidade. A nossa revista segue exactamente no espírito da linhagem Rime, apresentando várias tradições.»
Cada número da revista, como nos explica Emília Marques Rosa, é particularmente centrado no trabalho de um mosteiro ou de um mestre. Neste primeiro número, o relevo vai para o Mosteiro de Schechen, um dos principais da mais antiga ordem do budismo tibetano e para a figura e pensamento do que foi mestre supremo da Ordem e que em 1991 (número palindrómico) deixou a Terra.
DIÁSPORA TIBETANA
A revista trimestral agora lançada corresponde assim a uma necessidade: servir de elo de ligação entre as numerosas colectividades budistas espalhadas pelo mundo.
A diáspora tibetana, iniciada com o genocídio mandado executar pela China de Mao Tsé Tung (a quem se deve, providencialmente, a expansão do budismo por todo o mundo), continua em marcha e vai conquistando cada vez mais adeptos. Poderá dizer-se que o instrumento de que a divina providência se serviu para provocar essa diáspora foi um bocado violento, envolvendo 1 milhão de mortos e 6 mil mosteiros destruídos e saqueados. Mas também se poderá dizer que Deus escreve torto por linhas direitas e tudo volta ao sítio.
«Adarsha» é o nome da nova revista internacional do budismo tibetano, que Lisboa tem a honra de acolher. Provavelmente porque o centro Ogyen Kunzang Choling (OKC), usualmente denominado «Os Tibetanos», na rua do Salitre, 117, é um ponto de referência entre os centros Nyngma Pa de todo o mundo.
Provavelmente também porque a missão messiânica que alguns atribuem a Portugal tem um certo fundamento. A existência de um mosteiro do budismo Nyingma, na serra do Caldeirão ou Mu, terra de ninguém entre o Alentejo e o Algarve, pode ser um sinal dessa vocação e dos novos tempos em que Portugal terá de novo um papel navegador, como queria o profeta Fernando Pessoa.
O MENINO BUDA
O assunto central do primeiro número da «Adarsha» é a reincarnação de Sua Santidade Dilgo Khyentsé Rinpoché.
Falando em Rinpoché - termo que significa precioso e que corresponde a um grau dignitário do budismo tibetano - a revista insere os textos com ensinamentos de Dilgo Khyentsé Rinpoché e de Jigmé Khyentsé Rinpoché, noticiário de vários centros e mosteiros da Ásia e Europa e algumas palavras do Lama Kunzang, aquele que tem estado mais perto da comunidade budista portuguesa e que, nos Alpes, no Mosteiro de Nyima Tzong, e em Bruxelas (primeiro templo budista criado na Europa), tem contado com um numeroso contingente de jovens portugueses nas fileiras dos seus estudantes.
Lama Kunzang é a figura particularmente respeitada que muitos - dentro e fora do budismo - consideram uma referência sagrada na Europa da barbárie e da catástrofe.
ESPELHO DA ALMA
Entrando nos truques de marketing que a sociedade de consumo não dispensa, a revista oferece, a cada assinante, uma foto a cores (13x18) de Tulku (reincarnação) Khyentsé Rinpoché, o menino nascido no Nepal, em 1992, filho de uma família de linhagem religiosa tibetana e que é considerado a reincarnação de Sua Santidade Dilgo Khyentsé Rinpoché.
A directora da revista, Emília Marques Rosa, explica a origem do título «Adarsha»(espelho em sânscrito):
«O nome foi-nos sugerido por Sua Santidade Dilgo Khyentse Rinpoche, um dos maiores mestres contemporâneos do budismo tibetano.»
Mestre supremo da Ordem Nyingma (ou dos Antigos) do budismo tibetano e um dos mestres do Dalai Lama, ele foi o responsável espiritual da OKC até à sua partida deste mundo, em 1991.
A OKC chegou à Europa em 1972 e desde 1979 que tem três centros em Portugal: Lisboa, Porto e o já citado na serra algarvia, onde existe também um centro de retiros espirituais.
A revista «Adarsha», redigida e realizada (impressa) em Lisboa, vai assim, religar vários centros entre si, com notícias desses centros mas, sobretudo, ensinamentos, alguns inéditos, dos Lamas, dirigidos não só a pessoas interessadas pelo budismo mas ao público em geral.
Com 52 páginas a cores e mais de 40 fotos, a revista apresenta-se com uma estética simultaneamente moderna e respeitadora da tradição budista tibetana.
A intenção fica patente na apresentação deste primeiro número, feita por Shechen Rabjam Rinpoche, abade do mosteiro de Shechen, no Nepal:
«É meu voto sincero que no espelho de Adarsha sejam reflectidas imagens de sabedoria e compaixão claras e autênticas, para benefício de todos os seres(...) Espero que pela apresentação de ensinamentos de todas as escolas do budismo tibetano, a Adarsha favoreça uma melhor compreensão da prática e da filosofia budista.»
***
5-7-1996
LANÇADA EM LISBOA COM DISTRIBUIÇÃO INTERNACIONAL - BUDISMO TIBETANO INSPIRA REVISTA TRILINGUE
Texto de Afonso Cautela
O budismo tibetano moderniza-se. Já entrou na Internet e vai lançar uma revista internacional, trilingue (português, inglês e francês), sobre as múltiplas correntes e tendências, mosteiros e mestres que vivem dentro deste ramo do budismo, agora com a capital em Lisboa. Ilustres convidados da nossa vida política, artística e intelectual vão abrilhantar a festa. E o menino Buda nascido no Nepal sorri ao terceiro milénio.
O lançamento da revista «Adarsha» está marcado para o próximo dia 10 de Julho, no restaurante «Os Tibetanos», ex-Terraço Finisterra. Com redacção em Lisboa, terá uma difusão internacional e propõe-se divulgar a tradição tibetana através de textos de grandes mestres, além de publicar notícias sobre diversos centros e mosteiros budistas no mundo.
Quem pensava que o budismo tibetano era uma unidade dogmática e fechada, ficará surpreendido com a diversidade de tendências que existem no seu interior:
«Se imaginarmos o Tibete - diz Filipe Rocha, do Centro «Os Tibetanos» - com milhares de mosteiros, centenas de escolas e várias tradições principais, pode imaginar-se a importância de uma linhagem que as agrupe, conheça, preserve e transmita a todas sem as confundir uma com outras. Essa linhagem é que inspira o espírito da revista.»
Emília Marques Rosa explica não só o título da revista - « «adarsha» simboliza o espelho onde a pessoa se mira para se reconhecer na sua verdadeira natureza» - mas o que significa a linhagem Rime no seio do budismo tibetano:
«Os mestres da linhagem Rime assimilaram várias tradições e não as misturam. Rime significa, assim, não sectário. Que tem um sentido diferente da palavra «ecuménico» nas religiões ocidentais. Trata-se de conservar cada tradição na sua integralidade. A nossa revista segue exactamente no espírito da linhagem Rime, apresentando várias tradições.»
Cada número da revista, como nos explica Emília Marques Rosa, é particularmente centrado no trabalho de um mosteiro ou de um mestre. Neste primeiro número, o relevo vai para o Mosteiro de Schechen, um dos principais da mais antiga ordem do budismo tibetano e para a figura e pensamento do que foi mestre supremo da Ordem e que em 1991 (número palindrómico) deixou a Terra.
DIÁSPORA TIBETANA
A revista trimestral agora lançada corresponde assim a uma necessidade: servir de elo de ligação entre as numerosas colectividades budistas espalhadas pelo mundo.
A diáspora tibetana, iniciada com o genocídio mandado executar pela China de Mao Tsé Tung (a quem se deve, providencialmente, a expansão do budismo por todo o mundo), continua em marcha e vai conquistando cada vez mais adeptos. Poderá dizer-se que o instrumento de que a divina providência se serviu para provocar essa diáspora foi um bocado violento, envolvendo 1 milhão de mortos e 6 mil mosteiros destruídos e saqueados. Mas também se poderá dizer que Deus escreve torto por linhas direitas e tudo volta ao sítio.
«Adarsha» é o nome da nova revista internacional do budismo tibetano, que Lisboa tem a honra de acolher. Provavelmente porque o centro Ogyen Kunzang Choling (OKC), usualmente denominado «Os Tibetanos», na rua do Salitre, 117, é um ponto de referência entre os centros Nyngma Pa de todo o mundo.
Provavelmente também porque a missão messiânica que alguns atribuem a Portugal tem um certo fundamento. A existência de um mosteiro do budismo Nyingma, na serra do Caldeirão ou Mu, terra de ninguém entre o Alentejo e o Algarve, pode ser um sinal dessa vocação e dos novos tempos em que Portugal terá de novo um papel navegador, como queria o profeta Fernando Pessoa.
O MENINO BUDA
O assunto central do primeiro número da «Adarsha» é a reincarnação de Sua Santidade Dilgo Khyentsé Rinpoché.
Falando em Rinpoché - termo que significa precioso e que corresponde a um grau dignitário do budismo tibetano - a revista insere os textos com ensinamentos de Dilgo Khyentsé Rinpoché e de Jigmé Khyentsé Rinpoché, noticiário de vários centros e mosteiros da Ásia e Europa e algumas palavras do Lama Kunzang, aquele que tem estado mais perto da comunidade budista portuguesa e que, nos Alpes, no Mosteiro de Nyima Tzong, e em Bruxelas (primeiro templo budista criado na Europa), tem contado com um numeroso contingente de jovens portugueses nas fileiras dos seus estudantes.
Lama Kunzang é a figura particularmente respeitada que muitos - dentro e fora do budismo - consideram uma referência sagrada na Europa da barbárie e da catástrofe.
ESPELHO DA ALMA
Entrando nos truques de marketing que a sociedade de consumo não dispensa, a revista oferece, a cada assinante, uma foto a cores (13x18) de Tulku (reincarnação) Khyentsé Rinpoché, o menino nascido no Nepal, em 1992, filho de uma família de linhagem religiosa tibetana e que é considerado a reincarnação de Sua Santidade Dilgo Khyentsé Rinpoché.
A directora da revista, Emília Marques Rosa, explica a origem do título «Adarsha»(espelho em sânscrito):
«O nome foi-nos sugerido por Sua Santidade Dilgo Khyentse Rinpoche, um dos maiores mestres contemporâneos do budismo tibetano.»
Mestre supremo da Ordem Nyingma (ou dos Antigos) do budismo tibetano e um dos mestres do Dalai Lama, ele foi o responsável espiritual da OKC até à sua partida deste mundo, em 1991.
A OKC chegou à Europa em 1972 e desde 1979 que tem três centros em Portugal: Lisboa, Porto e o já citado na serra algarvia, onde existe também um centro de retiros espirituais.
A revista «Adarsha», redigida e realizada (impressa) em Lisboa, vai assim, religar vários centros entre si, com notícias desses centros mas, sobretudo, ensinamentos, alguns inéditos, dos Lamas, dirigidos não só a pessoas interessadas pelo budismo mas ao público em geral.
Com 52 páginas a cores e mais de 40 fotos, a revista apresenta-se com uma estética simultaneamente moderna e respeitadora da tradição budista tibetana.
A intenção fica patente na apresentação deste primeiro número, feita por Shechen Rabjam Rinpoche, abade do mosteiro de Shechen, no Nepal:
«É meu voto sincero que no espelho de Adarsha sejam reflectidas imagens de sabedoria e compaixão claras e autênticas, para benefício de todos os seres(...) Espero que pela apresentação de ensinamentos de todas as escolas do budismo tibetano, a Adarsha favoreça uma melhor compreensão da prática e da filosofia budista.»
***
<< Home