LITOTRITOR 1989
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A FÁBULA DO LITOTRITOR
1/Julho/1989(?) - Se um triturador de pedras renais (litotritor) , do último modelo e da mais sofisticada quão moderna tecnologia de ponta, custa 170 mil contos, envolvendo a sua instalação um total de 200 mil contos, logo se verificará que o seu uso terá que ser rentável.
Quem investe - Estado ou particular - neste progresso da tecnologia médica, não poderá dar-se ao luxo de ter a máquina parada, sem clientes.
Um litotritor do último modelo, custando 200 mil contos, é montado com base nas estimativas oficiais de doentes com cálculos renais em Portugal: dois mil novos doentes, cada ano.
Ora estes dados de base tornam-se inalteráveis, a partir do momento em que fica instalada uma aparelhagem tão sofisticada e tão cara, a ser rentabilizada custe o que custar.
Haja o que houver, em Portugal terá de haver sempre, por ano, dois mil novos casos de litíase renal...
Aqui começa o processo que leva o tema das «próteses» (em sentido lato) para o campo dos assuntos proibidos, dos temas-tabu.
Se, porventura, os progressos da ecologia humana e consequente despistagem ambiental dos factores que causam a doença, levasse um dia à descoberta da causa ambiental que provoca tal incidência anual de cálculos renais, essa ciência, ou essa parcela de ciência, torna-se uma verdade tabu, face ao vultuoso investimento dos 200 mil contos no litotritor.
Ecologia humana, ciência subversiva, tende para ciência oculta.
Se o número de litíases renais não pode baixar, nem por milagre, porque há que alimentar a máquina, a ecologia humana, ao apontar a causa que produz o efeito (a litíase), será de imediato considerada maldita.
A lógica do sistema instalado orienta-se, portanto, para o aumento exponencial da doença e não para o seu decréscimo.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado a outra doença frequentíssima - a paralisia renal - e a máquina (prótese) que a tecnologia médica de ponta fabrica : a hemodiálise.
No tecnotritor e na hemodiálise, a lógica inerente a estes dois progressos é a de que a doença aumente e não de que alguma vez possa diminuir.
O desenvolvimento da hemodiálise dá, desde já, o panorama que se prepara para a litotrícia.
Daqui por um ano, a ciência dirá que a litotrícia extra-corporal por onda de choque, conheceu um extraordinário desenvolvimento mas nessa altura, de certeza, que o número anual de novos casos de litíase renal será já muito superior a dois mil novos doentes por ano.
Ao escrever isto, a esferográfica treme e todo o meu subconsciente fica encrespado , num desejo ardente de calar, proibir e censurar estas palavras francamente e obviamente indesejáveis.
***
A FÁBULA DO LITOTRITOR
1/Julho/1989(?) - Se um triturador de pedras renais (litotritor) , do último modelo e da mais sofisticada quão moderna tecnologia de ponta, custa 170 mil contos, envolvendo a sua instalação um total de 200 mil contos, logo se verificará que o seu uso terá que ser rentável.
Quem investe - Estado ou particular - neste progresso da tecnologia médica, não poderá dar-se ao luxo de ter a máquina parada, sem clientes.
Um litotritor do último modelo, custando 200 mil contos, é montado com base nas estimativas oficiais de doentes com cálculos renais em Portugal: dois mil novos doentes, cada ano.
Ora estes dados de base tornam-se inalteráveis, a partir do momento em que fica instalada uma aparelhagem tão sofisticada e tão cara, a ser rentabilizada custe o que custar.
Haja o que houver, em Portugal terá de haver sempre, por ano, dois mil novos casos de litíase renal...
Aqui começa o processo que leva o tema das «próteses» (em sentido lato) para o campo dos assuntos proibidos, dos temas-tabu.
Se, porventura, os progressos da ecologia humana e consequente despistagem ambiental dos factores que causam a doença, levasse um dia à descoberta da causa ambiental que provoca tal incidência anual de cálculos renais, essa ciência, ou essa parcela de ciência, torna-se uma verdade tabu, face ao vultuoso investimento dos 200 mil contos no litotritor.
Ecologia humana, ciência subversiva, tende para ciência oculta.
Se o número de litíases renais não pode baixar, nem por milagre, porque há que alimentar a máquina, a ecologia humana, ao apontar a causa que produz o efeito (a litíase), será de imediato considerada maldita.
A lógica do sistema instalado orienta-se, portanto, para o aumento exponencial da doença e não para o seu decréscimo.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado a outra doença frequentíssima - a paralisia renal - e a máquina (prótese) que a tecnologia médica de ponta fabrica : a hemodiálise.
No tecnotritor e na hemodiálise, a lógica inerente a estes dois progressos é a de que a doença aumente e não de que alguma vez possa diminuir.
O desenvolvimento da hemodiálise dá, desde já, o panorama que se prepara para a litotrícia.
Daqui por um ano, a ciência dirá que a litotrícia extra-corporal por onda de choque, conheceu um extraordinário desenvolvimento mas nessa altura, de certeza, que o número anual de novos casos de litíase renal será já muito superior a dois mil novos doentes por ano.
Ao escrever isto, a esferográfica treme e todo o meu subconsciente fica encrespado , num desejo ardente de calar, proibir e censurar estas palavras francamente e obviamente indesejáveis.
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