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2006-07-04

COSMOS 1997

adssac-1> lista aberta de sinais subtis em ac - DIÁRIO ÍNTIMO 4/JULHO/1997

DIZER COISAS INDIZÍVEIS

4/Julho/1997 - Não sei se poderei falar em «protecção do Cosmos». Mas é um facto que, hoje, relativamente ao que acontecia há algum tempo, sinto uma certa estabilidade e mesmo quando há uma turbulência, ela passa-se o nível terreno e terrestre, às vezes a níveis mesmo obscenos e transmuto-a mais rapidamente.
Transmutação mais rápida das energias perversas, seria talvez um dos sinais, apesar da ambiguidade e subtileza que caracterizam as mensagens vindas do Cosmos.

Os sonhos que actualmente sonho são de uma mediocridade evidente, de uma linearidade que se confunde com o mais raso dos meus quotidianos. É como se de noite estivesse a repetir o dia, as imagens mais vulgares e repetitivas do dia.
Posso falar de monotonia, nos meus sonhos, nada de sonhos cor de rosa, ou carregados de simbolismo. Apenas uma função fisiológica, cumprida, no entanto e mesmo assim, da maneira mais vulgar.

Desde que o intestino funcione, de manhã, o resto do dia passa-se sem aqueles negros pensamentos que dantes eram o meu dia a dia, pensamentos de embirração com a vida em geral, sem encontrar coragem e motivação para me suicidar.
Leit motiv de outros tempos - o suicídio e o aborrecimento da vida em geral - agora nem aflora à consciência, onde apenas espreita, vagamente, um certo tedium vitae, logo que o cansaço começa a pesar, na roda do dia, nomeadamente depois de almoço e com as energias despendidas para a digestão do almoço.

Se não fosse a protecção do Cosmos, penso que sucumbiria mais vezes do que aquelas que sucumbo, no embate diário com a mediocridade arrasadora da macacada circundante.
O ódio à macacada, de facto, tem aumentado, se é que pode aumentar o ódio a médicos, caçadores, alfarrabistas, tecnocratas, financeiros, mas também aos gurus e outros espiritualistas da merda, com o seu trabalho de perversão estrutural dos desígnios que nos estão traçados para a Nova Idade de Ouro.
Não encontrar nunca mais «interlocutor válido» e todas as cartas que escrevo aos distintos iniciados ficaram sem resposta, classifica-me como o intelectual do Fala-Só. Se não tivesse alguma protecção cósmica, pergunto-me como seria possível sobreviver?

Ao nível quotidiano da fisiologia alimentar, por exemplo, é inegável que as digestões estão muito mais realizadas e que, com as pançadas de pão que faço, consigo no dia seguinte sentir-me minimamente capaz para avançar o sofrimento diário. É como se a ideia de suicídio se tivesse intelectualizado e só surgisse quando eu deliberadamente a chamo ao campo de consciência. Penso no suicídio como uma atitude pragmática e não já como última solução para uma vida sem saída e sem solução. Mas penso, continuo a pensar no suicídio e gostaria de ter a questão da cremação e do além morte mais clara do que tenho neste momento.

Uma inequívoca vitória: sábado, dia 4 de Julho de 1997, sob o stress do incidente sucedido com a Cristina, comi uma sopa de pacote pilha de sal de manhã e a meio da tarde meia meloa há muito tempo no frigorífico. Antes de ir para a cama, aquele sintoma indesejável no recto que pressagia hemorróides. Deitei-me, certo de que não iria conciliar o sono, o mal estar no fundo do intestino era uma facto. Tirei do dedo um anel de cobre e fiquei com um amuleto de floral na mão. Não dormi tantas horas mas dormi. E o mal estar desapareceu.
Espero que não volte a aparecer tão cedo.

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