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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-14

INVENTÁRIOS 1994

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INVENTÁRIOS:RECOLHA DE NOTÍCIAS

14-6-1994

É proibido o emprego conjunto de solventes de extracção, como o hexano e a metiletilcetona, utilizados no fabrico de produtos alimentares e seus ingredientes. Uma directiva-quadro reduz de dez para dois miligramas a quantidade de diclorometanoalicada no café torrado. É igualmente proibida a utilização de acetona na refinação do azeite.
(in «Visão», 19/Maio/1994)
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Alguns possíveis efeitos na saúde pública de substâncias tóxicas:
Arsénio - acção cancerígena, alterações gastrointestinais e efeitos ao nível dermatológico
Cádmio - provoca hipertensão e problemas cardio-vasculares. Inibe o crescimento e deforma o esqueleto
Cobre - Afecta o sistema nervoso e os rins. Provoca inflamações gastrointestinais
Chumbo - acumula-se nos tecidos moles, particularmente no cérebro. Alterações do sistema nervoso central e do funcionamento dos rins
Mercúrio - acumula-se no fígado, rins, cérebro, coração, e pulmões. Pode ter efeitos mutagénicos
Níquel - interfere no aparelho respiratório por inalação, podendo provocar cancro nos pulmões
Zinco - alterações de coordenação muscular, balanço electrolítico, podendo provocar dores abdominais, letargias, náuseas, falhas renais
(In «Expresso», 14/Maio/1994)
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VOZES 1992

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VOZES PARA AC FICCIONAR

[é claro, meu caro afonso, que esta lista é, em si própria, uma das ficções a incluir no livro «forum dos aflitos» = «vozes do céu» com que irei concorrer ao grande prémio de novelística]

Lisboa, 14/6/1992

(títulos em curso ou em projecto, já com background arquivado para arrancar na primeira ocasião que se proporcione):

- De um Sobreiro bastante doente ao Exmº Sr. Director Geral das Florestas
- Do Engraxador Vitorino ao seu distinto cliente Dr. Fonseca e Cunha Amaral
- Do Tim-Tim criado por Hergé ao seu cãozinho malcriado
- Para Althusser as queixas de sua magoada mulher
- De um Paciente muito paciente ao seu impaciente médico-de-família
- Queixas de um profeta aos Inquisidores do seu Tempo
- Carta de Nossa Senhora de Fátima a Fina de Armada
- Do Zé do Telhado ao administrador do Banco de Portugal
- De uma testemunha (cega) de Hiroxima ao Prof Openheimer, pai e mãe da Bomba Atómica
- De um esquimó do Alasca ao presidente da multinacional ESSO
- Carta de um poeta sistematicamente chumbado nos concursos literários ao José Correia Tavares, avatar fantasmagórico de todos os poetas deste País
- Carta de um Humilhado e Ofendido ao escritor Fiodor Dostoiewski quando ainda jovem
- De um empregado de armazém à sua namorada que só vê aos fins de semana
- Do Peer Gynt himself ao compositor norueguês seu amigo Eduardo Grieg agradecendo tê-lo tornado imortal e belo como a própria beleza

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(*) Espero que, tornando pública esta lista, se torne mais difícil o roubo sistemático de ideaia para ficção a que tenho estado sujeito desde que me quis fazer escritor e comecei a concorrer aos prémios com júris excelentemente escolhidos a dedo pela Associação Portuguesa de Escritores
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POLUIÇÕES 1975

1-5 - saramago-1-ac-js> ac a saramago – inéditos ac - Quinta-feira, 17 de Julho de 2003

CARTA A JOSÉ SARAMAGO POR CAUSA DA «NOTA DO DIA» QUE ELE PUBLICOU NO «DIÁRIO DE NOTÍCIAS» - O SISTEMA RECUPERA A POLUIÇÃO MAS NÃO A ECOLOGIA

Depois de um scanner que me deu mais trabalho do que uma nova teclagem, não resisto a fazer um comentário a esta carta que hoje, 11 de Março de 2001, decidi desenterrar da gaveta só porque o destinatário, na altura chefe de redacção do «Diário de Notícias», é hoje prémio Nobel da Literatura laureadíssimo.
Tenho de encontrar algumas virtudes nesta prosa, para me sentir minimamente justificado da asneira que foi repescá-la. De facto, à parte a grosseria da linguagem, que me parece hoje perfeitamente indecente, por ali passava a minha identificação com o Terceiro Mundo (que continua intacta) e a minha tese de que as doenças do Terceiro Mundo são doenças do subdesenvolvimento que o desenvolvimento foi criando.
Se publiquei esta merda de prosa (espero bem que não) só podia ser no livro « A Revolução Ecológica», que me parece, apesar de tudo, não conter as asneiras que este contém.
Como documento de uma certa paranóia minha, serve E como mais um episódio do meu anti-estalinismo primário (mein kampf). Mas o ódio aos senhores doutores que mandam em nós continua a ser o mesmo e a base de todas as minhas revoltas, andanças e contradanças.
Espero bem que tenha sido mais uma das muitas cartas que ficaram na gaveta e que nem ao Saramago a tenha mandado. Nesse caso, porque é que só restava a péssima cópia de péssimo papel químico, que me deu água pela barba a scannar? Naturalmente mandei mesmo, o que me permitirá, se um dia a descobrirem no espólio glorioso de Saramago, ascender eu também à imortalidade.
E pronto: chega de comentário besta para uma prosa besta. Mas uma vez que já está em word, pois que fique e que faça a todos bom proveito.
Ah, é verdade: outro dos méritos desta prosa sem mérito é reflectir a loucura paranóica dos célebres anos loucos do gonçalvismo. Era o auge e a linguagem, nesse aspecto, está conforme. Ipsis verbis.

*
14/Junho/1975 (ou 1974?) - Melhor do que vacina BCG, a má fé é recomendável em todos os casos de gripe intercostal e a desconfiança o único método crítico, quanto se trata do contestar, desde a raiz, a raiz das hipocrisias, duplicidades, manhas, crimes, mitos e sofismas do sistema.
Mas deverá a má fé ser um método universal aplicável em todas as circunstâncias e, um pouco segundo a lei do funil, não só em casos previamente classificados de alarmismo?
Que o Sistema já recuperou o alarme ecológico é evidente, é patente. Os maiores poluidores são os primeiros a falar da luta contra a poluição. Para cada Lisnave e sua má consciência de poluidor nº 1, há sempre uma boa consciência chamada Gás limpo.
Bob Dylan blasfema contra o capitalismo em espiras gravadas de que o capitalismo aufere lautos lucros. E depois? Veja-se o comércio praticado com literatura, arte, filosofia e até política de oposição, e chegar-se-á à mesma conclusão: o sistema lépido tenta deglutir o que lhe é, ab initio, indigesto.
O Sistema, pois, recupera a poluição. Mas não a Ecologia. A escassês de recursos há-de acabar primeiro com ele, do que ele consiga esmagar os que até agora tem explorado. Poderia ser a escassês de recursos uma «manobra de alarmismo»? Vou tentar provar que é tarde demais para ser manobra.

Entretanto, cabe perguntar: porque se usa de tal e tanta má fé com o alarme ecológico (que é única e simplesmente a voz da realidade, da verdade) e não se usa da mesmíssima má fé para com toda a mentira, os mitos, crimes, sofismas, duplicidades, hipocrisias e contradições em que o reformismo do sistema é mais que fértil, é apoplético? Porquê?
Se os países ricos o foram até agora por sistemática pilhagem e exploração daqueles que os calmos e objectivos economistas classificam de pobres e subdesenvolvidos quando não de atrasados, é óbvio que tudo farão, os bodes, que tudo continuarão a fazer para prorrogar essa pilhagem e essa exploração. Não me parece necessário ser universitário para chegar a tal brilhante conclusão.
Não se compreende, então, porque haviam os desenvolvidos de precisar agora de um argumento "novo" - a escassês de recursos - para continuar explorando, e para justificarem, pela primeira vez, uma exploração que sempre praticaram sem justificações e a céu descoberto e à tripa forra, como convém.
Quando o forte explora o fraco ( sempre com o beneplácito de ilustres universitários em Direito, Economia Política ou qualquer outra avançada ciência de que os desenvolvidos têm o monopólio) , não me parece que o forte tenha necessidade alguma de dar ao fraco satisfações, razões, motivos lógicos da expoliação.
A que viria pois uma manobra, agora, em 1973?
Se a campanha de imprensa ultimamente activada sobre escassês de recursos" deve ter uma segunda intenção velada inconfessável - e de certeza a terá, pois o sistema não dá ponto sem nó, nada faz às claras, que não seja para obter finalidades ocultas - não vejo, porém, por inútil, que essa intenção seja a manobra de ( intensificar o) alarmismo referida por Saramago na sua Nota do Dia.
É que nem sequer para pôr fim à política de proteccionismo - sob os rótulos de "ajuda ao Terceiro Mundo - necessitaria o sistema de tão balofo como inútil argumento.
A ser isto - pôr fim à tal ajuda que foi sempre mera demagogia e mera propaganda - o que os odres de banha pretendiam, a verdade é que o podiam perfeitamente fazer sem necessitar de campanhas.
A má fé é um princípio ou método perfeitamente lícito e necessário: é a condição sine qua non da lucidez, a única arma para impedir que o sistema nos enfie todos os barretes que pretenda: sem dúvida, e não cansa repeti-lo. Mas neste caso dos recursos - e da campanha que decorre - creio haver um fundamento para a berraria e para o alarme.

É que, mesmo explorando, mesmo prosseguindo a exploração, mesmo levando ao paroxismo os tumores de fixação (Sines é, no nosso país, o modelo desta nova fase paroxística do capitalismo moribundo com o unânime aplauso de todos os diplomados portugueses em economia, ciência , técnica, política, sociologia & etc), mesmo activando as escolas de mergulhadores para ir procurar nos fundos marinhos aquilo que já esgotaram no solo terrestre, mesmo mobilizando toda a mitologia da produtividade e dos rendimentos P.N.B.( aplaudidíssimos por todos os doutores em P.N.B. aqui do meio), os potentados, os donos do mundo e seus conselheiros universitários estão mesmo à rasca porque já não chega.

A ecologia mantém a calma e sorri. Porque das duas máquinas postas em movimento, nenhuma delas pode ser parada sem que fragorosamente vão colidir: a da produtividade histérica e a do histérico consumismo, a da exploração e a do desperdício.
No fim, as tripas do sistema estão à vista e chamam-lhe Poluição.
E berram de medo, pois claro, porque os galões de gasolina lhes estão a minguar.
Não é alarmismo desta vez, não é truque; desta feita os cães estão mesmo de caganeira e à rasca. Os prognósticos mais pessimistas estão ainda bastante longe dos factos, embora a berraria já tivesse começado. Os recursos findarão muitíssimo antes do que os economistas lhes fazem crer, pois também os economistas estão em riscos de ir todos para o olho da rua, logo que os patrões saibam que estão todos num beco sem saída.
Por exemplo: mais do que o aviador ou o astronauta, o mergulhador constitui hoje uma classe profissional de elite, que tende a ser, num futuro próximo, a mais bem paga. Mas mesma paga a ouro, haverá cada vez menos quem lá queira ir: mesmo com vocação de suicida.
Resulta daqui: mesmo na hipótese mais optimista - a de haver ainda muito petróleo para sacar dos fundos marinhos - o custo desta exploração acabará por se tornar ruinoso.
O próprio limite da mão de obra escrava (vigente no ouro da África do Sul ou na construção civil de Lisboa com a importação de cabo-verdianos) está prestes a romper-se.
Mas no caso do mergulhador, há a hipótese de fazer dele (como do astronauta ou do aviador) um robô, um completo alienado, mas um escravo pròpriamente dito... é mais difícil. E não se paga a um escravo ordenados de ministro. No caso do mergulhador, é a própria sofisticação dos métodos de trabalho engendrados pelo sistema que o levará à ruína, pois acabará por não ter quem pura e simplesmente o sirva.
Não contando com os outros factores de ruína ( a contradição já enunciada) entre desperdício histérico e produtividade histérica e o gigantismo, (fracasso de que o ruinoso "Concorde" é o símbolo arquetípico) a ecologia sabe que também por ali, pela mão de obra e pela sofisticação da mão de obra - o sistema está a dar os últimos traques das suas gibóicas digestões. É que nem a demagogia da anti-poluição o salvará, já que é precisamente nessa que ele definitivamente se afundará.
Por esta coisa muito simples que só um simples de coração sabe mas os doutores todos ignoram: supondo que de repente todos os focos de poluição cessavam de poluir, a situação de colapso não se alterava um ápice. Porque o colapso é ao nível dos recursos e não só de poluições. Os odres encheram-se demais: é tudo o que a ecologia constata. E agora gritam porque se lhes vai a chucha. Nada mais humano.

Porque há-de haver manobra alarmista?

Nós os do Terceiro Mundo, porém, temos a ciência da Miséria. Estamos diplomados em escassês. Ouvir falar do que falta, faz-nos sorrir. A minha mulher que é cabo–verdiana, sorri com as faltas de água no continente... Aprendemos a subsistir nas secas e no sub-desenvolvimento. Mais: aprendemos a não ter promiscuidade, mesmo sem água: alguma vez, em Cabo Verde, por exemplo, houve epidemias causadas pelo subdesenvolvimento?
Onde irá então parar esse famoso argumento de que o subdesenvolvimento é sinónimo de terríveis e tremebundas epidemias? Quando o branco entra a matar, a chacinar, a disseminar os vírus da sua baba e da sua porcaria, dos seus dejectos, é claro, é fatal! os subdesenvolvidos entram em crise de saúde.
Não é apenas o sub-desevolvimento que provoca a doença: são as humilhações infligidas à dignidade do cada povo – com suas economias de subsistência completamente destroçadas, sua cultura e sua personalidade destruída, é isso que provoca as endemias. É o etnocídio que dá origem às doenças do subdesenvolvimento - não a miséria económica.

É acima de tudo a miséria moral infligida a um povo que o torna presa das doenças endémicas. Ser espezinhado pelo porco branco, pelo canibal civilizado, isso é que é a doença.
E eu, aqui, que o diga.

Somos nós, pois, que temos a técnica da resistência passiva. Quando a eles lhes faltarem as orgias e os uísques, nós sabemos até onde é preciso cavar para conseguir água pura. Será o momento da nossa sobrevivência e da nossa vingança. Quem aprendeu a sobreviver debaixo das bombas americanas, saberá sobreviver quando as bombas e a gasolina dos helicópteros chegar ao fim. Nós, índios americanos, sabemos onde ir desenterrar venenos letais e curativos, quando eles já nem osso tiverem que roer. Mesmo que nos tenham exterminado a todos, saberemos renascer.

A esta hora, apopléticos, eles estão consultando os seus potentes computadores, os seus economistas de estimação, que, desta vez, mastigam em seco. Os primeiros a marchar para a cadeira eléctrica, serão essas bruxas obesas e falidas do tipo Khan. Engordaram que nem porcos, raciocinam como gibóias, emitem guinchos como os macacos: tudo isto no intervalo dos últimos arrotos dos últimos uísques.
Se o fim dos bodes capitalistas está perto, estejamos no entanto certos de que não serão - como se tem visto – certos suaves socialismos a contribuir para isso. O bode capitalista há-de esbodegar-se, mas de indigestão e muitos coexistentes o seguirão na peugada.
O socialismo vigora há mais de meio século e, tal como o cristianismo em dois milénios, soube apenas dar o beneplácito aos fortes, e aos fracos as palavras de consolação que os resignassem das bordoadas.
Falidos os suaves socialismos - também por apoplexia de fartura - só na Ecologia – quer dizer na Revolução- reside a derradeira e decisiva esperança de ver rebentar os odres de banha, as barricas de proteína de todos os magarefes, que, doutorados nisto ou naquilo, regem este mundo.
Só a Ecologia é Esperança, porque lhes retira o Poder, quer dizer, a chispalhada, o porco na brasa , a suculenta churrasqueira, o empanzinamento de combustíveis e etc.
Vamos a ver agora quem é capaz de sobreviver na penúria.
Quando eles gritam que não têm gasolina e começam à estalada, gozamos nós, os subdesenvolvidos, o momento feliz em que nos veremos livres das suas latas invadindo o mundo, dos seus claxons, das suas motorizadas e do seu mau hálito, do seu mau cheiro. Quando berram que lhes vai faltar energias, antegozo o momento em que verei as centrais nucleares todas no prego, e livre a humanidade dessa aberração que só poderia ter nascido nos cérebros sacrossantos de eminentes sábios que do nazismo hitleriano se refugiaram para criadas de todo o serviço no nazismo norte-americano.
Para maior esperança e gozo do meu coração de português, é justamente agora, quando o panorama mundial se apresenta com este lindo aspecto, que a febre economicista sobe ainda mais alto em Portugal.
Claro, à cabeça o inefável Expresso, berço do funeral tecnocrático. Mas novas revistas, novos grupos de economia se anunciam, o frenesi entra no auge com o não sei quantos plano de Fomento, os terminais oceânicos, a industrialização acelerada.
Acelerai, irmãos, que a gasolina está no fim e já falta pouco.
Eu bem os oiço, aos futuros economistas da Nação , aqui pelas ruas, praticando nas suas motocicletas, os moto-crosses da sua virilidade duvidosa, bem os ouço, agora na idade rósea dos 18, acelerando, acelerando, acelerando, naquele ruído típico dos aceleras e que é, ipsis verbis, igual ao de uma intensa diarreia pela pia abaixo. Tais crianças hão-de dar belíssimos economïstas à Nação, dirigentes de empresas e, de certeza, lindíssimos políticos do Ambiente simpáticos deputados liberais. Estão, com certeza, suficientemente cafrealizados pelo distinto ruído das suas queridas motoretas, estão com certeza, para poderem ascender a postos de tanta responsabilidade.

Perante este quadro paradisíaco, vem agora o meu amigo José Saramago sugerir que essa história da escassês de combustíveis é boato, alarme só para alarmismo.
Não queira tirar-me, amigo Saramago, a maior alegria da minha vida e a única esperança deste sub-desenvolvido que compartilha com alguns milhões a sorte de pertencer aos espoliados do Terceiro Mundo, via Ecologia, evidentemente.
Afonso Cautela
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R. NADER 1986

1-4 - nader-2-ls-ie> = leituras selectas = ideia ecológica - quarta-feira, 25 de Dezembro de 2002-scan

JUVENTUDE É QUE PAGA - RÉPTEIS (*)

[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 14-6-1986] - A indústria em geral e a indústria alimentar em especial estão no seu direito de por no mercado produtos que matam, estropiam, envenenam, intoxicam, adoecem, etc. , mas que - diz a publicidade - obviamente dão saúde, triunfo e bem estar.

A ética darwinista do mais forte é a ética desses impérios e os lucros, as grandes margens de lucro, dão para pagar, na TV e nem só, a imensa publicidade que faz girar a máquina, que mete pelos olhos e boca do consumidor tudo o que for produzido.

Não há lei nem limites para o poder absoluto desta ofensiva dirigida à bolsa, à saúde, à vida do consumidor. O mexilhão que se lixe.

Quando um Instituto do Estado (obrigado a regular as relações entre a Opressão absoluta dos monopólios e o pobre consumidor esmagado pelo poderio desses monopólios) resolve alertar que os "répteis mágicos" estão no mercado português , embora já tenham sido proibidos numa data de países, é uma em 10 mil das denúncias que seria urgente fazer.

Mas da denúncia à acção parece haver ainda um abismo, com os alibis e as desculpas habituais: não há lei, pessoal, dinheiro, ou qualquer outra das argumentações habituais do nacional-porreirismo.

Enfim: denunciar ou não denunciar, dá igual.

Os brinquedos chamados "répteis mágicos" são uma construção diabólica, de facto, já que, mesmo se parcialmente engolidos, por crianças ou adultos, engrossam nas vias digestivas ao entrarem em contacto com líquidos e podem levar à morte ou à intervenção cirúrgica de urgência.

Mas depois de proibidos em muitos países, o produtor parece não desistir e insiste em inundar o mercado português. Sejamos justos: apesar de "répteis" e apesar de perigosos, conforme alerta o I.N.D.C. , será o único atentado que hoje se verifica em matéria de produtos e indústrias perigosas, letais, verdadeiras indústrias assassinas que se gabam de tornar a juventude mais gorda e mais feliz?

Quantos produtos banidos nos países ricos, não chegam depois e por isso mesmo, ao mercado português, onde ninguém nos pode impedir de ser os subdesenvolvidos que nos decretaram que fôssemos?

Quem diz "répteis" diz "cacaus instantâneos" ou, evidentemente, qualquer dos milhares de produtos de consumo, quer sejam particularmente publicitados ou não. Todos em geral e alguns em particular , cumprem bem sua religiosa missão.

MAR DE PORCARIA

Sempre que vem à liça o "mar de porcaria" em que se transformou a sociedade de consumo, a sensação, de facto, é esta: qualquer medida, oficial ou particular, tomada contra a invasão e o genocídio sistemático, é apenas uma ilha rodeada de consumos por todos os lados, um tropismo breve e ténue no meio de uma caótica convulsão que abisma, trucida e turbilhona os indivíduos.

Tal e qual como um reactor...

Tudo parece impossível para conter este pesadelo das indústrias em geral e da indústria alimentar em particular contra o pobre consumidor indefeso.

O cerco é um facto e um facto é também a inconsciência que a própria vítima tem dessa situação. Impõe-se uma conclusão "horrível": temos a abjecção con-su-me-rista que merecemos, derivando a palavra consumerista de consumo, como tem ensinado Beja Santos.

Na generalidade é assim, mau grado os esforços que ele e alguns outros autores, como Ivan Illich, Michel Bosquet, Ralph Nadar, Vance Packard, etc , têm desenvolvido para acordar os passageiros deste comboio fantasma chamado sociedade de consumo.

A comandar o comboio, o lucro. A situação de classe do problema alimentar é hoje evidente e não é preciso perfilhar o materialismo dialéctico para o concluir.

Novidade de pasmar foi que Isabel do Carmo, médica ilustre com especial preparação política, tivesse considerado, na sua crónica de "O Jornal" (4-10 Abril 86) toda as alternativas ao «agrobusiness» uma «moda».

Os movimentos sociais que tentam abrir alternativas reformistas ao crime industrial alimentar, seriam pelos vistos joguetes da burguesia, perguntando-me eu, subalimentado crónico, se de facto , durante 15 anos de luta pelas eco-alternativas, não terei sido movido por sentimentos e intentos da abjecta pequena-burguesia a que pertenço, porque nunca me soube passar para a alta.

Com efeito, tentei explicar dezenas de vezes, com ajuda de bons mestres na matéria, que sem revolução alimentar e sem revolução (da qualidade) biológica não haverá revolução a sério.

Pode ser que se discorde nos meios e na ordem de prioridades.

Mas onde é que os movimentos sociais alternativos e os mercados dos produtos ecológicos são mais pequeno-burgueses e criminosos, que os super-mercados da Morte, do Cancro, do Veneno químico-plástico, gostaria que me demonstrassem. Revolucionário, pelos vistos, será consumir especialidades farmacêuticas com que as multinacionais da química vão alienando, adoecendo, envenenando a pequena burguesia por esse mundo fora. A pequena-burguesia e, graças a Deus, o proletariado também.

TURBILHÃO

"Voragem" e "vertigem" são palavras ainda insuficientes para designar este cerco ou anel de ferro que a sociedade industrial apertou em volta do consumidor e de que, ingenuamente, muitos zelosos funcionários da dita sociedade se fingem inocentes.

O consumidor, aliás, colabora com o carrasco que o enforca. De facto, por um sado-masoquismo difícil de explicar, a adaptação ao quanto pior melhor é ainda outra das poderosas construções mentais que a referida engrenagem industrial conseguiu engendrar.

A lista negra de produtos químicos há já muito que atingiu o delírio da quantidade. Ninguém já pode parar esta escalada. Basta consultar o "simpósio terapêutico" , volumoso inventário de variedades e especialidades químico-farmacêuticas (só) que inundam o mercado.

Mas além dos fármacos, a lista alonga-se por outros químicos que , directa ou indirectamente, chovem sobre o consumidor.

Não há que ter pânico, mas há que considerar este poço de porcaria química uma determinante da engrenagem onde, bem ou mal, temos que habitar.

Não nos venham é dizer que a cloaca industrial é um jardim, um mar de rosas, o paraíso, o progresso irreversível e a irremediável felicidade do género humano em geral e da juventude em particular. Pobre juventude, sistematicamente manipulada, enganada, não só pelos traficantes de almas e tele-discos mas também por todos quantos se dizem, numa cínica demagogia, seus deliberados defensores.

A OMNIPOTENTE BARRELA

A poderosa lavagem ao cérebro operada pelas grandes (omnipotentes e omnipresentes) indústrias alimentares, que praticamente garantem a sobrevivência comercial de órgãos tão poderosos como a TV, não tem limites morais ou sociais nem podia ter. O poder, por definição, não se limita nem auto-limita.

Ralph Nader podia, há dez anos, afirmar que "milhões de jovens crescem, literalmente embrutecidos pela publicidade televisiva e acabam por acreditar que, de facto, dão saúde e dinamismo."

Ele citava, explicitamente, dois nomes, mas por razões óbvias não iremos repetir aqui esses nomes. Ninguém, aliás, tem o direito de acusar duas, deixando duzentas no silêncio.

Só outro poder, em princípio equivalente, o Estado, "pode" defrontar ou afrontar o poder discricionário das multinacionais. Mas o Estado, como já confessou, não pode. Resulta que milhões de jovens irão continuar "embrutecidos" pela publicidade televisiva, como alertava Ralph Nadar.

Pode ser, entretanto, que os "répteis mágicos" saiam entretanto do mercado, deixando o lugar a outros répteis, que não sendo mágicos nem inchando ao contacto com a água, têm a peculiaridade de só incharem à custa de ingerirem milhões e milhões de consumidores.
O cerco é inultrapassável, o nó indesatável e os "milhões de espectadores embrutecidos" não só não dão por isso, como ainda pedem mais. Não só se julgam felizes e saudáveis por consumir o produto anunciado, como estão preparados para zurzir, com o desprezo, a mofa ou o ridículo, quem se atrever a dizer, como este texto, que o Rei Vai Nu.

Chama-se a isto sociedade totalitária em plena democracia.
Chama-se a isto "defesa oficial do consumidor".
Chama-se a isto genocídio quotidiano.
Chama-se a isto irmos todos satisfeitos no mesmo barco, vendo a paisagem radioactiva.
Chama-se a isto a "revolução impossível''.

Enfim, nada de pessimismo: logo à noite, meia dúzia de spots garantem-nos que somos todos saudáveis, felizes, bonitos, escorreitos, expeditos, ágeis, jovens, inteligentes, previdentes, ricos, executivos, vitoriosos, vencedores se... (N embalagens servem para o efeito).

Embrutecei-vos uns aos outros: ainda podeis, no fim, ganhar um balde de plástico.

DESEMPREGO PARA A JUVENTUDE

Fadismo ternurento que faz do progresso uma "fatalidade do destino" exala-se do monocórdico discurso da ideologia dominante, toda de reverência pelas velhas e novas tecnologias, nomeadamente as da Informática.

Informática que vai tornar explosivo o desemprego, nomeadamente das novas gerações. Esta a realidade que já não é possível ocultar.

Mas "o que for, soará", "o destino tem muita força", "o progresso é fatal como a morte" e, com desemprego ou não, a robotização tem que se fazer.

No mínimo, este discurso é indecente, pornográfico, o que não impede de inundar os mais respeitáveis órgãos de informação. Qualquer elemento solene da classe dirigente jamais pode deixar qualquer sombra de ambiguidade no seu discurso, a respeito das sacrossantas tecnologias , o progresso que fomenta o desemprego.

Aliás, " não há-de ser nada", "o destino está escrito na palma das mãos", "o que não tem remédio, remediado está", "o que é preciso, é boa disposição".

O discurso populista une-se assim ao tecnocrático, confirmando que estamos enterrados até ao pescoço, incluindo o subconsciente colectivo que ajuda muito o nosso Fado.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado, nem sei como mas foi, na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 14-6-1986
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ECO-MANIFESTO 1977

agri-1 - ma - manifesto ecológico

APONTAMENTOS PARA UM MANIFESTO EM DEFESA DAS TECNOLOGIAS APROPRIADAS

Contemporâneo do folheto «A Cura pela Bioenergia» e apesar de todos os defeitos de construção (são pensamentos lançados como fios soltos de uma rede tântrica) , acho que valeu a pena ter escrito este texto e voltar a escrevê-lo (teclá-lo) , com o distanciamento crítico que necessita e os dados que entretanto ocorreram a confirmá-lo e a legitimá-lo.
Apesar de pomposo, o título deste texto (inédito) combina elementos decisivos para os novos tempos e o próximo paradigma. Apesar do ostensivo esquerdismo, e de ter sido escrito para uma plateia de esquerdistas, o texto formula em termos exactos a questão da fome na perspectiva de fundo ecológico. Levanta questões tabu como a da classe profissional (tecnoestrutura) que obedece a quem lhe paga, e o militante ecologista que em princípio é (ou devia ser) independente de indústrias e industriais.
Outro aspecto relevante deste texto é o enquadramento que faz da alternativa ecoagrícola no conjunto das eco-alternativas de vida, na energia e na medicina.
Outro tabu assumido neste texto de maneira decisiva: «a universidade, guarda avançada e garantia de perpetuação do status até às calendas.» Desmistificar a ciência universitária é, portanto, outra exigência que emana deste texto e que permanece cada vez mais necessária, já que, como o texto também indica, a sobrevivência física da vida e de todas as formas de vida está cada vez mais dependente do paradigma ideológico ou padrão cultural e civilizacional que conseguirmos criar.
A revolução (pacífica) deveria assim começar pelas superestruturas e não, como o marxismo defendia, pelas infraestruturas: entendendo-se como superestrutura a mudança dos hábitos de consumo e a opção por eco-alternativas de consumo e de vida. A revolução seria a revolução das ecoalternativas : e já se encontra em marcha na medicina, na alimentação, na agricultura e na energia. E na economia: com a experiência cooperativa. Falta conquistar o bastião decisivo e que se encontra ainda nas mãos das velhas tulipas: a educação. Mas o que a experiência no terreno também diz é que o sector alternativo precisa de apoio do Estado para crescer e se desenvolver: não compete ao Estado fazer ecologia, como é óbvio, mas compete ajudar e defender aqueles que pacificamente lutam pela sociedade eco-alternativa.
A psicanálise reichiana é outro curioso interface que este texto de interfaces curiosos mostra. Como texto de interfaces, abunda em palavras-chave, algumas das quais não voltam ou raramente voltam a comparecer em textos meus, o que significa que também eu, acoçado pelo desinteresse e desmotivação, alienei muitos dos temas marcantes da ecologia. Confesso: desisti das ecoalternativas e de lutar por elas. Mea culpa, mea grande culpa, admito esse meu demissionismo. Este texto terá sido a grelha para um verdadeiro manifesto pela vida: entre os temas-chave que nele constam, o de mudar e mudar já não foi esquecido. Ainda hoje, a mudança , a urgência da mudança, continua vigente com a descoberta da radiestesia alquímica, ou pura e simplesmente da alquimia, primeira ciência sagrada.
Com óbvios exageros de expressão e de nomenclatura , este texto, mesmo quando exagera, lança para a discussão ideias que, no mínimo, deverão ser de novo reanalisadas e submetidas a uma exigente reformulação crítica. Nesse aspecto - tudo abarcar dentro de um grão de arroz... - é um texto-chave e a retomar de novo, com a máxima urgência: nada nele é perecível, antes pelo contrário: tudo nele tem alguma parcela de razão.
(6/Setembro/1999)

PALAVRAS-CHAVE DESTE TEXTO-CHAVE:
Ambiguidades da dialéctica
Autodefesas
Bioagricultura
Biodinâmica
Bioenergia curativa
Biopolítica
Cancro
Consumos supérfluos
Crescimento económico
Desalimentos
Desertificação da agricultura
Desperdício sistemático
Doença
Doença como indústria
Eco-activista
Ecoalternativas de vida
Ecologia alimentar
Economia budista
Economia do Desperdício
Ecosocialismo
Educação fundamental
Entropia
Equilíbrio Yin Yang
Greve ao consumismo
Imunização natural
Indústria da Doença
Inércia biológica
Leis biológicas
Leis da Ordem do Universo
Materialismo dialéctico
Mecanização da agricultura
Medicina ecológica
Métodos ecológicos em energia, agricultura, medicina e economia
Militante ecologista
Necessidades necessárias e necessidades fictícias
Princípio do prazer
Relações cidade-campo
Renascimento rural
Revolução cultural
Revolução das necessidades
Revolução dos hábitos de consumo
Revolução existencial
Rotina hedonista
Superestrutura e infraestrutura
Tantra
Taoismo
Tecnocrata
Tecnologias apropriadas de saúde
Tecnologias de vida
Tirania consumista
Verbos de ecologia humana: Desintoxicar, Imunizar, Descarenciar, Equilibar
Via alternativa ou terceira via
Zen

AGRICULTURA E MEDICINA

14/Junho/1977 - A crítica ao sistema agroquímico está feita. Hoje, só os monopólios interessados em manter o status quo defendem - alias sem convicção - este tipo de suicídio e de morte lenta que é, de facto, a agricultura industrial com forte intervenção de produtos de síntese - desde os aparentemente inofensivos adubos até aos pesticidas já reconhecidamente tóxicos e destruidores - e crescentes injecções de energia arrancada a fontes fósseis.
Agrónomos da mais diversa formação ideológica convergem na crítica a uma agricultura suicida e, embora não o digam deixam em aberto uma única alternativa: a agricultura por métodos ecológicos, que respeite as leis biológicas e que, em suma, colabore com a grande força que é a energia vital ou bioenergia.
O êxito da Biodinâmica - mesmo em escala de produtividade - não se deve tanto a um refinamento de tecnologias agronómicas mas a uma sintonização, por vezes intuitiva, com as leis fundamentais da Ordem do Universo.
Os agrónomos de formação universitária , evidentemente, nunca irão dizer que perfilham uma corrente agronómica ou um método de agricultura que leva em consideração as fases zodiacais da astrologia e a influência da lua no crescimento das plantas. Isso poderia comprometer o seu bom nome de cientistas.
Com o militante e o prático, é diferente. Nada tem a temer e, muito menos, nada tem a ocultar.

SAÚDE DA TERRA E SAÚDE DO CORPO

Na agricultura como na medicina (uma procurando a saúde da terra e outra procurando a saúde do corpo ) o militante não tem medo de caminhar pelas vias alternativas que se oferecem , sem dever nada ao sistema e suas regras internas .
Na Agricultura e na Medicina, a via alternativa que permite ao militante emancipar-se das dependências terá, necessariamente, que se apoiar em pressupostos ideológicos, culturais e filosóficos que nada devem ao sistema científico .

Para um técnico interessa muito mais a discussão do problema energético, por exemplo, porque tem - à primeira vista - aspectos que só ele, técnico, domina e compreende, o que lhe permite ser ele a fazer a transição e a preconizar as reformas necessárias sem perder de mão o controle do processo.
E daí que as alternativas ecológicas para a energia sejam já hoje facilmente defendidas pelos que ainda ontem teriam defendido o nuclear.
Os métodos ecológicos em medicina e agricultura , porém, permitem uma  emancipação do antecedente e, como tal, escapam ao controle da ideologia dominante, guarda avançada e garantia de perpetuação do status até às calendas.
Desde que o ciclo seja totalmente biológico e apoiado na grande fonte de todas as fontes que é a bioenergia , não só está garantida a sua especificidade ecológica como a sua independência de métodos, sistemas , mecanismos, serviços e técnicos que servem a manipulação química ou outro tipo de indústria transformadora , eventualmente poluente ou hiperpoluente .
Convém banir a ideia de que para fazer bioagricultura (agricultura segundo métodos ecológicos) é preciso ir à universidade...

Neste aspecto perfilho a opinião do engenheiro e técnico agrário João Gamito. Pensa ele e eu com ele que um agrário com formação académica ou universitária pode perfeitamente desenvolver uma prática agrícola absolutamente contrária aos ditames que aprendeu nas escolas agrárias do sistema estabelecido. Sabendo ele, eng. Gamito, como o sistema faz, pode perfeitamente fazer ao contrário do sistema e fará bem, com certeza...
Terá por isso, necessariamente, que possuir uma formação técnica; mas é uma formação que será posta ao serviço de fundamentos filosóficos que ele perfilha, ao serviço de uma orientação (digamos ecológica) que lhe advém das linhas mestras com que ele interpreta o universo e a ordem do universo.
Mais: para o êxito de uma produção agrícola nacional (ou regional, ou local) conta menos o número de técnicos formados em Agronomia, do que um número de técnicos com visão crítica sobre a ciência e as técnicas que receberam e a disposição de evitar, na prática, os erros que os ensinaram a praticar.
Na agricultura como na medicina, trata-se de uma revolução a começar por cima. A começar na mudança de hábitos.
Mercados e supermercados, praças e lugares de víveres são a imagem do desperdício, da doença, da entropia, da inércia, enquanto imagem do consumidor que a eles acorre.
Dizer às pessoas que terão de dispensar 70% dos seus habituais consumos, talvez as escandalize.
Mas dizer às pessoas que ou fazem a revolução dos hábitos ou pereceremos todos - ainda é capaz de escandalizar muito mais.

PRATICANDO  É QUE SE APRENDE

Podem as necessidades ser satisfeitas começando por mudar os hábitos?


O político defende, como um dogma, que terá de se transformar primeiro a sociedade para que a mudança nos indivíduos e nos hábitos surja por acréscimo. A isso chama uma posição materialista.
Um ecologista ou militante radical pensa que enquanto se muda ou não muda a sociedade, o chamado controle dos meios de produção e o controlo do poder político, pode ele, militante, e deve, já hoje mudar os seus hábitos . A isto chama o político de esquerda idealismo do pior.
Será?
Humildemente, modestamente, o ecologista militante começa a revolução por si próprio, quer a sociedade a faça ou não faça, quer leve muito ou pouco tempo, quer a ordem económica e política venha ou não venha a ser outra, dentro de um mês, um ano, um século...
Não ignora o militante as forças de opinião que se levantam contra esta posição. Os equívocos de que se rodeia. Os melindres teóricos que levanta. Mas não há nada como a prática , para tirar a limpo as ambiguidades da dialéctica . O que o militante ecologista afirma praticando - sem que até hoje ninguém o pudesse desmentir ... - é a possibilidade imediata de já hoje começar a reconverter hábitos predadores e de desperdício que, em teoria, só a concretização de uma «revolução socialista» o levaria - se é que levaria ... - a reconverter.

Não é porque haja alguma incoerência entre esta posição do militante e a do materialismo dialéctico. Tão pouco é porque tenha essa posição do militante um fundo idealista - como normalmente se acusa de ter.

LIBERTAR O CONSUMIDOR DA TIRANIA CONSUMISTA


É a tão conhecida lei do menor esforço, tão ligada ao não menos conhecido (entre psicanalistas) «princípio do prazer». É a rotina, a dominadora rotina hedonista - ainda que se pinte de rótulos revolucionários verbais. É a ferrugem , a que Wilhelm Reich deu nomes pomposamente solenes como «carapaça caracterial», «peste emocional», etc.
Dou um exemplo prático, concreto, sem possibilidade de manobra ideológica e mais uma vez colhido na ecologia alimentar.
Nada mais prático, concreto, eficaz, revolucionário, terapêutico do que a técnica zen da macrobiótica para resolver, à partida, 50% dos mais frequentes problemas de saúde. Praticamente , é uma fórmula de extrema simplicidade. A tal ponto , que essa simplicidade põe , desde logo, um dos maiores e mais frequentes obstáculos a quem depara, pela primeira vez, com a bionergia curativa e os seus poderes quase miraculosos.
Curiosamente, o que afasta e espanta as pessoas viciadas de complicação, é a simplicidade macro. É a simplicidade das ecoalternativas de vida.
Mas, vencida esta, o obstáculo (biológico...) que surge logo a seguir e se agiganta é que a terapêutica zen consiste, fundamentalmente, em mudar de hábitos. Não consiste em aumentar consumos mas em diminuí-los.
O antipático desta terapia é que não consiste em consolidar, prorrogar, ampliar hábitos de consumo. Não consiste em aumentar o número de consumos mas em diminuí-los drasticamente (o que tem a ver directa e claramente com a fome do Terceiro Mundo). Não consiste em escravizar e alienar ainda mais mas em libertar as pessoas das suas grilhetas (desde as biológicas às familiares, sociais, políticas, económicas, etc..) O indesejável desta terapêutica é que não consiste em novos rótulos e novos frasquinhos, mas em suprimir rótulos e frasquinhos. Não consiste em mais alimentos manufacturados , industrializados, embalados, quimificados - mas precisamente em cortar com tudo isso.
No fundo, o segredo da bioagricultura como da bionergia curativa (macrobiótica) é o segredo da economia. Do «jejum» terapêutico. De uma greve ao supermercado e à sociedade de consumo. De uma desintoxicação geral de drogas, refrigerantes, refinados, manufacturas, embalagens, poluições, consumos, hábitos ...
O grande segredo da bioagricultura e da bioenergia curativa é, como tudo no zen em especial e no budismo em geral, o segredo de polichinelo.
Se nós, em 90% dos casos adoecemos por pletora de consumos supérfluos , entropizantes, tóxicos, venenosos, descalcificantes, desvitalizados, etc., o segredo de polichinelo é este: uma limpeza dessa excesso é igual a 50% de cura garantida.
Mas a lição da bionergia curativa - como técnica de libertação ou desintoxicação e greve aos consumos patogénicos - não acaba aqui.
Liga-se, de imediato, a outros hábitos : vestir, mastigar, respirar, pensar, conviver, dormir, ler, cultivar a terra, trabalhar, produzir, estudar, etc., etc.
Quer dizer: levando esta lógica ao seu ponto máximo de desenvolvimento, teríamos a sociedade toda do avesso no dia em que todos tivessem reconvertido os seus hábitos em todos os campos da actividade humana e da produção económica. Quer dizer: no dia em que as necessidades dos homens coincidissem com as necessidades reais da espécie. Pois é dessas, não tenhamos ilusões, que nos fala Marx. Não é das necessidades perfeitamente fictícias e fantásticas engendradas pela sociedade de consumo.
No campo da bioagricultura, a lição é também muito clara: não é caminhar para o socialismo continuar uma produção agrícola que pretende servir os hábitos e as necessidades engendradas por uma sociedade anti-socialista. A produção agrícola continuará a ser suicida e de ruína enquanto servir , sem crítica, nem discussão, nem mudança, um sistema de consumos que, em grande parte, foi e é responsável por essa ruína.
Se custa muito mudar de hábitos, o dilema então é claríssimo. Ou muda e muda mesmo - ou não tem saída do beco em que os sistemas anti-ecológicos o meteram, da crise permanente em que está.
Se este caminho de reconverter os hábitos e, a partir deles, a sociedade é lento - então o que dizer do outro, o de esperar a revolução política para mudar os hábitos e fazer a revolução cultural?
Se aquele é lento, este então dá tempo, como se tem visto, a que a Terra vá alegre e aceleradamente morrendo, para maior glória dos futuros socialismos.
Para o militante ecologista trata-se de mudar. Mudar já. Mudar hoje. Mudar agora. Mudar neste momento.
Ou então, no prazo de uma geração, morrer.

MACROBIÓTICA ALIMENTAR PORTA PARA A REVOLUÇÃO BIOLÓGICA

De que maneira a revolução dos hábitos, a revolução alimentar de Oshawa e Michio Kushi pode penetrar em todos os outros tecidos do corpo celular social para desencadear neles, também, a mudança?
Ficam desde logo visíveis os vários domínios de actividade , práxis e produção humana alterados ou subvertidos por directa ou indirecta pressão de novas técnicas alimentares e, portanto, de novos hábitos ou consumos.
A influência mais espectacular é sobre os consumos médicos e medicamentosos. Sobre as indústrias - entre elas a cirurgia - que alimentam , de facto, a grande e devoradora indústria que é a medicina, que é a indústria da doença..
A seguir, verificam-se influências profundas entre os métodos e técnicas de agricultura, bem como na gama dos alimentos produzidos e sua classificação: a produção agrícola passa a ser em função das necessidades básicas do consumidor e não em função das necessidades de exportação, industriais, comerciais, etc.
Uma nova maneira de cultivar a terra - que é uma arte e não uma indústria - implica alterações profundas na relação cidade-campo,  uma revisão na estrutura fundiária da terra - banindo de raiz o latifúndio.
Nestas relações, aliás, muito terá de ser mudado, à medida que os consumidores se organizem e constituam uma força capaz de pressionar poderes políticos, partidos , serviços, técnicos .
Modificada a correlação de forças entre cidade e campo, entre agricultura e indústria, é evidente que muita coisa será alterada na indústria no que respeita a prioridades. E, portanto, na linha dominante do crescimento económico. E portanto nas relações entre exploradores e explorados. Não há quem acredite que o sector cooperativo poderá fazer recuar até zero o sector capitalista de uma economia?...
Na pedagogia, a influência de novas técnicas alimentares é também directa.
As técnicas alimentares e terapêuticas, aliás, são fundamentalmente pedagógicas, se enquadradas num contexto de auto-suficiência e visto que são também uma forma , um método de conhecimento.
Entende-se pedagogia, porém, o sentido mais lato e mais rigoroso : é muito mais importante, na educação de uma criança, o seu sistema alimentar, a maneira como se lhe preparam autodefesas ou imunização natural, um terreno orgânico forte e sensível, o estado de equilíbrio yin-yang e a arte de o manter, do que saber a história de Portugal, as reacções químicas do hidrogénio ou a biologia das fanerogâmicas...
Trata-se de educação fundamental, não se trata de afogar o cérebro e a vitalidade infantil em informações, quase todas também supérfluas. Quando falava de consumos supérfluos, estava também a lembrar-me destes.
Quando se fala em técnicas alimentares e terapêuticas, é fundamental que se pense em não intoxicar, quanto possível, as crianças, seja com antibióticos, vacinas, corantes químicos, refinados, conservantes químicos .
Desintoxicar, imunizar, descarenciar e equilibrar são princípios terapêuticos mas também pedagógicos de uma revolução existencial.
Servem para o orgânico e o espiritual. Não fazer, aliás, distinção entre orgânico e espiritual é, desde logo, um princípio de pedagogia exemplar.

ENTRE OS CONSUMOS SUPÉRFLUOS E OS CONSUMOS FUNDAMENTAIS

Nos meios adeptos de um materialismo dialéctico que se tem mostrado mais materislista que dialéctico, soa a heresia a tese ainda reichiana de que é necessário fazer, em simultâneo, a revolução dos hábitos e a revolução das necessidades, a revolução existencial e a revolução económica, a revolução da superestrutura e a das infraestruturas.
Mas é um dos riscos a correr pelo eco-militante .
É uma das fases difíceis a ultrapassar, uma frente mais de resistência à opacidade da ignorância. Wilhelm Reich que o diga...
Com claridade , no entanto, tentemos mostrar como é que se pode, através de uma técnica alimentar reconvertida , pressionar quase todos os grandes sectores da sociedade e fazer inflectir a economia num caminho ecológico.
Para começar, a total substituição de mil consumos supérfluos por uma dezena de consumos fundamentais obrigará, como operação-chave, a rever e a reconverter toda a produção agrícola e toda a produção industrial.
Em vez de vinha, pomares, pecuária, plantação de colza, girassol, cártamo e outros óleos industriais, em vez de monoculturas de subculturas, em vez de lúpulo para cerveja e beterraba para açúcar, em vez de tabaco, em vez de anti-alimentos ou desalimentos, eis que se escalonará as necessidades básicas de alimentação na única forma correcta que é a forma indicada pelas técnicas alimentares do budismo zen, taoísta e tântrico.
Isto é um dogma mas um dogma que demonstrou na prática diária , hora a hora, a sua rigorosa justeza e verdade, é um dogma verdadeiro. E um dogma verdadeiro é uma força positiva. Um dogma falso é uma força negativa e destruidora .
Teremos então um escalonamento (eco) lógico, racional, económico da produção agrícola, se a pressão no sector dos consumos alimentares for cada vez mais sobre os fundamentais e cada vez menos sobre os supérfluos.
Entre os fundamentais, alguns exemplos: arroz, soja, milho-painço, trigo, algas, leguminosas, legumes, beterraba para fins alimentares...
Entre os supérfluos - que servem uma sociedade de consumo e desperdício - temos: colza, girassol, cártamo, tabaco, beterraba para fins desalimentares ou industriais.

A GRANDE MENTIRA DO EXCESSO DEMOGRÁFICO (NOS CAMPOS...)

Os métodos ecológicos em agricultura , por seu lado, pressionam um regresso à terra de muitos que foram constrangidos a deixá-la, o que teria influência decisiva e profunda no mercado do emprego e, portanto, no planeamento económico, que se voltaria , cada vez mais, para as indústrias subsidiárias do fundamental - do sector primário - abandonando progressivamente as indústrias supérfluas ou de que Portugal é meramente o esgoto e caixote do lixo , sem outros proventos a tirar daí.
Os postos de trabalho servem para justificar tudo: mas ainda ninguém foi capaz de nos explicar porque se fala só de indústrias , quando se quer dar emprego aos desempregados. E a agricultura , que continua às moscas, à míngua de braços?
De todas as explicações , mais ou menos sofísticas, para explicar a crise da produção agrícola, omite-se a que tem - logo a seguir è estrutura fundiária - relevo capital como responsável nessa crise: o abandono dos campos por milhares de camponeses e agricultores que as indústrias do Estrangeiro ou, estrangeiras, cá dentro, aliciaram com promessas de «melhores salários».

No programa «Mosaico», do dia 14 de Junho de 1977, a televisão mostrou ao País dois responsáveis pelo planeamento económico do Governo, na hora das grandes opções.

Enquanto a D. Manuela Silva e o Ministro do Plano puxavam a tónica para as necessidades básicas do povo português e para o sector primário da produção, para a agricultura , a alimentação e a habitação, os dois jornalistas, Francisco Sarsfield Cabral e Nuno Rocha, insistiam na tese: sem muitas indústrias , não há maneira de resolver o desemprego.
Acontece que é precisamente por causa das indústrias e das grandes indústrias, e em recessão acelerada por causa da crise (das eternas crises), que o desemprego aumenta à escala do mundo capitalista.
Por cá, não são apenas os dois jornalistas que continuam a preconizar como solução o que para os outros é um buraco cada vez maior onde as economias se afundando vão. Coisas!

MACROBIÓTICA: UM PRETEXTO PARA TRANSMUTAR

O pratinho de arroz integral e biológico não tem, evidentemente, o «milagre» de transmutar todas as pessoas que praticam o método alimentar aconselhado por Oshawa e Michio Kushi segundo os ensinamentos do princípio único e a prática do budismo.
Resolver cada um o seu problema de fígado, rim, tensão, alergia, furunculose, reumatismo, estômago ou intestinos, já é bastante : mas não é o mais importante que a macrobiótica prevê e dá.
O prato é um pretexto e a macrobiótica uma técnica exemplar para abrir o nosso universo a outras técnicas exemplares de libertação, autodomínio, autodefesa, autocrítica, autognose, etc..
Ficar-se pelo prato, pela culinária, pelo arroz, pela lentilha é, de certo modo, trair o espírito de Buda, seja ele Tao, Zen ou Tantra.

UM GRÃO DE ARROZ (INTEGRAL) VALE MAIS DO QUE UMA TONELADA DE BATATAS

Mudança é fazer já com que o fundamental domine o supérfluo
Dominando os processos biofísicos sobre os químicos, tudo se simplifica.
A química é o campo da complicação, da confusão, da destruição.
A biofísica (o ordenamento biofísico do território...) é o campo da ordem natural do universo e suas leis invioláveis.
A bioagricultura dá o modelo desta simplificação como política.
A bioenergia curativa e a técnica alimentar ou terapêutica conexa, também, se a compararmos à colossal complicação da medicina.
A medicina de ciência analítica, com efeito, enche milhões de volumes e centenas de bibliotecas.
Para a medicina ecológica bastam meia dúzia de linhas fundamentais: tal como no grão de arroz, tudo está em síntese
Entre um grão de arroz e uma batata , que abismo! Um grão de arroz alimenta mais do que um quilo de batatas...

É isto um princípio claro aplicável a tudo.

DA ENTROPIA À ECONOMIA ENERGÉTICA ( OU ECOLOGIA)

A reconversão dos hábitos alimentares é o ponto de Arquimedes da Mudança.
Utópico ou realista
possível ou impossível
a tempo ou já tarde
é a única via da Mudança


Na reconversão dos hábitos alimentares joga-se a fome mundial e nela reside o segredo - o calcanhar de Aquiles , o ponto de Arquimedes - porque será por eles que o homem biológico inverte a sua tendência actual irreversível de ser em estado crónico de entropia, estado no qual se apoia todo e qualquer sistema de exploração do homem pelo homem, capitalista ou anti-capitalista.
Trata-se de dar ao homem as técnicas para que ele possa inverter essa tendência de Entropia, ganhando mais energia do que perde, dispondo de força e poder que até agora nunca possuiu.
Utópica ou realista
lenta ou rápida
a tempo ou já tarde
é esta a proposta do princípio único, do monismo revolucionário, da biopolítica, do ecossocialismo, da macrobiótica zen, é esta a proposta da sabedoria búdica e da ciência original.
Quer a nossa doença (entropia) seja já (ou não) incurável, irreversível e a tendência para a morte imparável, pôr um dique é o que as técnicas alimentares e todas as tecnologias alternativas de libertação e uma reconversão de hábitos (de consumos) se impõe.
Chamar-lhe idealista pode ser um truque de propagada para adiar o momento, cada vez mais perto, em que o homem liberte o homem. Pode ser um truque para adiar o poder do Espírito na mão dos homens.