agri-1 - ma - manifesto ecológico
APONTAMENTOS PARA UM MANIFESTO EM DEFESA DAS TECNOLOGIAS APROPRIADAS
Contemporâneo do folheto «A Cura pela Bioenergia» e apesar de todos os defeitos de construção (são pensamentos lançados como fios soltos de uma rede tântrica) , acho que valeu a pena ter escrito este texto e voltar a escrevê-lo (teclá-lo) , com o distanciamento crítico que necessita e os dados que entretanto ocorreram a confirmá-lo e a legitimá-lo.
Apesar de pomposo, o título deste texto (inédito) combina elementos decisivos para os novos tempos e o próximo paradigma. Apesar do ostensivo esquerdismo, e de ter sido escrito para uma plateia de esquerdistas, o texto formula em termos exactos a questão da fome na perspectiva de fundo ecológico. Levanta questões tabu como a da classe profissional (tecnoestrutura) que obedece a quem lhe paga, e o militante ecologista que em princípio é (ou devia ser) independente de indústrias e industriais.
Outro aspecto relevante deste texto é o enquadramento que faz da alternativa ecoagrícola no conjunto das eco-alternativas de vida, na energia e na medicina.
Outro tabu assumido neste texto de maneira decisiva: «a universidade, guarda avançada e garantia de perpetuação do status até às calendas.» Desmistificar a ciência universitária é, portanto, outra exigência que emana deste texto e que permanece cada vez mais necessária, já que, como o texto também indica, a sobrevivência física da vida e de todas as formas de vida está cada vez mais dependente do paradigma ideológico ou padrão cultural e civilizacional que conseguirmos criar.
A revolução (pacífica) deveria assim começar pelas superestruturas e não, como o marxismo defendia, pelas infraestruturas: entendendo-se como superestrutura a mudança dos hábitos de consumo e a opção por eco-alternativas de consumo e de vida. A revolução seria a revolução das ecoalternativas : e já se encontra em marcha na medicina, na alimentação, na agricultura e na energia. E na economia: com a experiência cooperativa. Falta conquistar o bastião decisivo e que se encontra ainda nas mãos das velhas tulipas: a educação. Mas o que a experiência no terreno também diz é que o sector alternativo precisa de apoio do Estado para crescer e se desenvolver: não compete ao Estado fazer ecologia, como é óbvio, mas compete ajudar e defender aqueles que pacificamente lutam pela sociedade eco-alternativa.
A psicanálise reichiana é outro curioso interface que este texto de interfaces curiosos mostra. Como texto de interfaces, abunda em palavras-chave, algumas das quais não voltam ou raramente voltam a comparecer em textos meus, o que significa que também eu, acoçado pelo desinteresse e desmotivação, alienei muitos dos temas marcantes da ecologia. Confesso: desisti das ecoalternativas e de lutar por elas. Mea culpa, mea grande culpa, admito esse meu demissionismo. Este texto terá sido a grelha para um verdadeiro manifesto pela vida: entre os temas-chave que nele constam, o de mudar e mudar já não foi esquecido. Ainda hoje, a mudança , a urgência da mudança, continua vigente com a descoberta da radiestesia alquímica, ou pura e simplesmente da alquimia, primeira ciência sagrada.
Com óbvios exageros de expressão e de nomenclatura , este texto, mesmo quando exagera, lança para a discussão ideias que, no mínimo, deverão ser de novo reanalisadas e submetidas a uma exigente reformulação crítica. Nesse aspecto - tudo abarcar dentro de um grão de arroz... - é um texto-chave e a retomar de novo, com a máxima urgência: nada nele é perecível, antes pelo contrário: tudo nele tem alguma parcela de razão.
(6/Setembro/1999)
PALAVRAS-CHAVE DESTE TEXTO-CHAVE:
Ambiguidades da dialéctica
Autodefesas
Bioagricultura
Biodinâmica
Bioenergia curativa
Biopolítica
Cancro
Consumos supérfluos
Crescimento económico
Desalimentos
Desertificação da agricultura
Desperdício sistemático
Doença
Doença como indústria
Eco-activista
Ecoalternativas de vida
Ecologia alimentar
Economia budista
Economia do Desperdício
Ecosocialismo
Educação fundamental
Entropia
Equilíbrio Yin Yang
Greve ao consumismo
Imunização natural
Indústria da Doença
Inércia biológica
Leis biológicas
Leis da Ordem do Universo
Materialismo dialéctico
Mecanização da agricultura
Medicina ecológica
Métodos ecológicos em energia, agricultura, medicina e economia
Militante ecologista
Necessidades necessárias e necessidades fictícias
Princípio do prazer
Relações cidade-campo
Renascimento rural
Revolução cultural
Revolução das necessidades
Revolução dos hábitos de consumo
Revolução existencial
Rotina hedonista
Superestrutura e infraestrutura
Tantra
Taoismo
Tecnocrata
Tecnologias apropriadas de saúde
Tecnologias de vida
Tirania consumista
Verbos de ecologia humana: Desintoxicar, Imunizar, Descarenciar, Equilibar
Via alternativa ou terceira via
Zen
AGRICULTURA E MEDICINA
14/Junho/1977 - A crítica ao sistema agroquímico está feita. Hoje, só os monopólios interessados em manter o
status quo defendem - alias sem convicção - este tipo de suicídio e de morte lenta que é, de facto, a agricultura industrial com forte intervenção de produtos de síntese - desde os aparentemente inofensivos adubos até aos pesticidas já reconhecidamente tóxicos e destruidores - e crescentes injecções de energia arrancada a fontes fósseis.
Agrónomos da mais diversa formação ideológica convergem na crítica a uma agricultura suicida e, embora não o digam deixam em aberto uma única alternativa: a agricultura por métodos ecológicos, que respeite as leis biológicas e que, em suma, colabore com a grande força que é a energia vital ou bioenergia.
O êxito da Biodinâmica - mesmo em escala de produtividade - não se deve tanto a um refinamento de tecnologias agronómicas mas a uma sintonização, por vezes intuitiva, com as leis fundamentais da Ordem do Universo.
Os agrónomos de formação universitária , evidentemente, nunca irão dizer que perfilham uma corrente agronómica ou um método de agricultura que leva em consideração as fases zodiacais da astrologia e a influência da lua no crescimento das plantas. Isso poderia comprometer o seu bom nome de cientistas.
Com o militante e o prático, é diferente. Nada tem a temer e, muito menos, nada tem a ocultar.
SAÚDE DA TERRA E SAÚDE DO CORPO
Na agricultura como na medicina (uma procurando a saúde da terra e outra procurando a saúde do corpo ) o militante não tem medo de caminhar pelas vias alternativas que se oferecem , sem dever nada ao sistema e suas regras internas .
Na Agricultura e na Medicina, a via alternativa que permite ao militante emancipar-se das dependências terá, necessariamente, que se apoiar em pressupostos ideológicos, culturais e filosóficos que nada devem ao sistema científico .
Para um técnico interessa muito mais a discussão do problema energético, por exemplo, porque tem - à primeira vista - aspectos que só ele, técnico, domina e compreende, o que lhe permite ser ele a fazer a transição e a preconizar as reformas necessárias sem perder de mão o controle do processo.
E daí que as alternativas ecológicas para a energia sejam já hoje facilmente defendidas pelos que ainda ontem teriam defendido o nuclear.
Os métodos ecológicos em medicina e agricultura , porém, permitem uma emancipação do antecedente e, como tal, escapam ao controle da ideologia dominante, guarda avançada e garantia de perpetuação do
status até às calendas.
Desde que o ciclo seja totalmente biológico e apoiado na grande fonte de todas as fontes que é a bioenergia , não só está garantida a sua especificidade ecológica como a sua independência de métodos, sistemas , mecanismos, serviços e técnicos que servem a manipulação química ou outro tipo de indústria transformadora , eventualmente poluente ou hiperpoluente .
Convém banir a ideia de que para fazer bioagricultura (agricultura segundo métodos ecológicos) é preciso ir à universidade...
Neste aspecto perfilho a opinião do engenheiro e técnico agrário João Gamito. Pensa ele e eu com ele que um agrário com formação académica ou universitária pode perfeitamente desenvolver uma prática agrícola absolutamente contrária aos ditames que aprendeu nas escolas agrárias do sistema estabelecido. Sabendo ele, eng. Gamito, como o sistema faz, pode perfeitamente fazer ao contrário do sistema e fará bem, com certeza...
Terá por isso, necessariamente, que possuir uma formação técnica; mas é uma formação que será posta ao serviço de fundamentos filosóficos que ele perfilha, ao serviço de uma orientação (digamos ecológica) que lhe advém das linhas mestras com que ele interpreta o universo e a ordem do universo.
Mais: para o êxito de uma produção agrícola nacional (ou regional, ou local) conta menos o número de técnicos formados em Agronomia, do que um número de técnicos com visão crítica sobre a ciência e as técnicas que receberam e a disposição de evitar, na prática, os erros que os ensinaram a praticar.
Na agricultura como na medicina, trata-se de uma revolução a começar por cima. A começar na mudança de hábitos.
Mercados e supermercados, praças e lugares de víveres são a imagem do desperdício, da doença, da entropia, da inércia, enquanto imagem do consumidor que a eles acorre.
Dizer às pessoas que terão de dispensar 70% dos seus habituais consumos, talvez as escandalize.
Mas dizer às pessoas que ou fazem a revolução dos hábitos ou pereceremos todos - ainda é capaz de escandalizar muito mais.
PRATICANDO É QUE SE APRENDE
Podem as necessidades ser satisfeitas começando por mudar os hábitos?
O político defende, como um dogma, que terá de se transformar primeiro a sociedade para que a mudança nos indivíduos e nos hábitos surja por acréscimo. A isso chama uma posição materialista.
Um ecologista ou militante radical pensa que enquanto se muda ou não muda a sociedade, o chamado controle dos meios de produção e o controlo do poder político, pode ele, militante, e deve, já hoje mudar os seus hábitos . A isto chama o político de esquerda idealismo do pior.
Será?
Humildemente, modestamente, o ecologista militante começa a revolução por si próprio, quer a sociedade a faça ou não faça, quer leve muito ou pouco tempo, quer a ordem económica e política venha ou não venha a ser outra, dentro de um mês, um ano, um século...
Não ignora o militante as forças de opinião que se levantam contra esta posição. Os equívocos de que se rodeia. Os melindres teóricos que levanta. Mas não há nada como a prática , para tirar a limpo as ambiguidades da dialéctica . O que o militante ecologista afirma praticando - sem que até hoje ninguém o pudesse desmentir ... - é a possibilidade imediata de já hoje começar a reconverter hábitos predadores e de desperdício que, em teoria, só a concretização de uma «revolução socialista» o levaria - se é que levaria ... - a reconverter.
Não é porque haja alguma incoerência entre esta posição do militante e a do materialismo dialéctico. Tão pouco é porque tenha essa posição do militante um fundo idealista - como normalmente se acusa de ter.
LIBERTAR O CONSUMIDOR DA TIRANIA CONSUMISTA
É a tão conhecida lei do menor esforço, tão ligada ao não menos conhecido (entre psicanalistas) «princípio do prazer». É a rotina, a dominadora rotina hedonista - ainda que se pinte de rótulos revolucionários verbais. É a ferrugem , a que Wilhelm Reich deu nomes pomposamente solenes como «carapaça caracterial», «peste emocional», etc.
Dou um exemplo prático, concreto, sem possibilidade de manobra ideológica e mais uma vez colhido na ecologia alimentar.
Nada mais prático, concreto, eficaz, revolucionário, terapêutico do que a técnica zen da macrobiótica para resolver, à partida, 50% dos mais frequentes problemas de saúde. Praticamente , é uma fórmula de extrema simplicidade. A tal ponto , que essa simplicidade põe , desde logo, um dos maiores e mais frequentes obstáculos a quem depara, pela primeira vez, com a bionergia curativa e os seus poderes quase miraculosos.
Curiosamente, o que afasta e espanta as pessoas viciadas de complicação, é a simplicidade macro. É a simplicidade das ecoalternativas de vida.
Mas, vencida esta, o obstáculo (biológico...) que surge logo a seguir e se agiganta é que a terapêutica zen consiste, fundamentalmente, em mudar de hábitos. Não consiste em aumentar consumos mas em diminuí-los.
O antipático desta terapia é que não consiste em consolidar, prorrogar, ampliar hábitos de consumo. Não consiste em aumentar o número de consumos mas em diminuí-los drasticamente (o que tem a ver directa e claramente com a fome do Terceiro Mundo). Não consiste em escravizar e alienar ainda mais mas em libertar as pessoas das suas grilhetas (desde as biológicas às familiares, sociais, políticas, económicas, etc..) O indesejável desta terapêutica é que não consiste em novos rótulos e novos frasquinhos, mas em suprimir rótulos e frasquinhos. Não consiste em mais alimentos manufacturados , industrializados, embalados, quimificados - mas precisamente em cortar com tudo isso.
No fundo, o segredo da bioagricultura como da bionergia curativa (macrobiótica) é o segredo da economia. Do «jejum» terapêutico. De uma greve ao supermercado e à sociedade de consumo. De uma desintoxicação geral de drogas, refrigerantes, refinados, manufacturas, embalagens, poluições, consumos, hábitos ...
O grande segredo da bioagricultura e da bioenergia curativa é, como tudo no zen em especial e no budismo em geral, o segredo de polichinelo.
Se nós, em 90% dos casos adoecemos por pletora de consumos supérfluos , entropizantes, tóxicos, venenosos, descalcificantes, desvitalizados, etc., o segredo de polichinelo é este: uma limpeza dessa excesso é igual a 50% de cura garantida.
Mas a lição da bionergia curativa - como técnica de libertação ou desintoxicação e greve aos consumos patogénicos - não acaba aqui.
Liga-se, de imediato, a outros hábitos : vestir, mastigar, respirar, pensar, conviver, dormir, ler, cultivar a terra, trabalhar, produzir, estudar, etc., etc.
Quer dizer: levando esta lógica ao seu ponto máximo de desenvolvimento, teríamos a sociedade toda do avesso no dia em que todos tivessem reconvertido os seus hábitos em todos os campos da actividade humana e da produção económica. Quer dizer: no dia em que as necessidades dos homens coincidissem com as necessidades reais da espécie. Pois é dessas, não tenhamos ilusões, que nos fala Marx. Não é das necessidades perfeitamente fictícias e fantásticas engendradas pela sociedade de consumo.
No campo da bioagricultura, a lição é também muito clara: não é caminhar para o socialismo continuar uma produção agrícola que pretende servir os hábitos e as necessidades engendradas por uma sociedade anti-socialista. A produção agrícola continuará a ser suicida e de ruína enquanto servir , sem crítica, nem discussão, nem mudança, um sistema de consumos que, em grande parte, foi e é responsável por essa ruína.
Se custa muito mudar de hábitos, o dilema então é claríssimo. Ou muda e muda mesmo - ou não tem saída do beco em que os sistemas anti-ecológicos o meteram, da crise permanente em que está.
Se este caminho de reconverter os hábitos e, a partir deles, a sociedade é lento - então o que dizer do outro, o de esperar a revolução política para mudar os hábitos e fazer a revolução cultural?
Se aquele é lento, este então dá tempo, como se tem visto, a que a Terra vá alegre e aceleradamente morrendo, para maior glória dos futuros socialismos.
Para o militante ecologista trata-se de mudar. Mudar já. Mudar hoje. Mudar agora. Mudar neste momento.
Ou então, no prazo de uma geração, morrer.
MACROBIÓTICA ALIMENTAR PORTA PARA A REVOLUÇÃO BIOLÓGICA
De que maneira a revolução dos hábitos, a revolução alimentar de Oshawa e Michio Kushi pode penetrar em todos os outros tecidos do corpo celular social para desencadear neles, também, a mudança?
Ficam desde logo visíveis os vários domínios de actividade , práxis e produção humana alterados ou subvertidos por directa ou indirecta pressão de novas técnicas alimentares e, portanto, de novos hábitos ou consumos.
A influência mais espectacular é sobre os consumos médicos e medicamentosos. Sobre as indústrias - entre elas a cirurgia - que alimentam , de facto, a grande e devoradora indústria que é a medicina, que é a indústria da doença..
A seguir, verificam-se influências profundas entre os métodos e técnicas de agricultura, bem como na gama dos alimentos produzidos e sua classificação: a produção agrícola passa a ser em função das necessidades básicas do consumidor e não em função das necessidades de exportação, industriais, comerciais, etc.
Uma nova maneira de cultivar a terra - que é uma arte e não uma indústria - implica alterações profundas na relação cidade-campo, uma revisão na estrutura fundiária da terra - banindo de raiz o latifúndio.
Nestas relações, aliás, muito terá de ser mudado, à medida que os consumidores se organizem e constituam uma força capaz de pressionar poderes políticos, partidos , serviços, técnicos .
Modificada a correlação de forças entre cidade e campo, entre agricultura e indústria, é evidente que muita coisa será alterada na indústria no que respeita a prioridades. E, portanto, na linha dominante do crescimento económico. E portanto nas relações entre exploradores e explorados. Não há quem acredite que o sector cooperativo poderá fazer recuar até zero o sector capitalista de uma economia?...
Na pedagogia, a influência de novas técnicas alimentares é também directa.
As técnicas alimentares e terapêuticas, aliás, são fundamentalmente pedagógicas, se enquadradas num contexto de auto-suficiência e visto que são também uma forma , um método de conhecimento.
Entende-se pedagogia, porém, o sentido mais lato e mais rigoroso : é muito mais importante, na educação de uma criança, o seu sistema alimentar, a maneira como se lhe preparam autodefesas ou imunização natural, um terreno orgânico forte e sensível, o estado de equilíbrio yin-yang e a arte de o manter, do que saber a história de Portugal, as reacções químicas do hidrogénio ou a biologia das fanerogâmicas...
Trata-se de educação fundamental, não se trata de afogar o cérebro e a vitalidade infantil em informações, quase todas também supérfluas. Quando falava de consumos supérfluos, estava também a lembrar-me destes.
Quando se fala em técnicas alimentares e terapêuticas, é fundamental que se pense em não intoxicar, quanto possível, as crianças, seja com antibióticos, vacinas, corantes químicos, refinados, conservantes químicos .
Desintoxicar, imunizar, descarenciar e equilibrar são princípios terapêuticos mas também pedagógicos de uma revolução existencial.
Servem para o orgânico e o espiritual. Não fazer, aliás, distinção entre orgânico e espiritual é, desde logo, um princípio de pedagogia exemplar.
ENTRE OS CONSUMOS SUPÉRFLUOS E OS CONSUMOS FUNDAMENTAIS
Nos meios adeptos de um materialismo dialéctico que se tem mostrado mais materislista que dialéctico, soa a heresia a tese ainda reichiana de que é necessário fazer, em simultâneo, a revolução dos hábitos e a revolução das necessidades, a revolução existencial e a revolução económica, a revolução da superestrutura e a das infraestruturas.
Mas é um dos riscos a correr pelo eco-militante .
É uma das fases difíceis a ultrapassar, uma frente mais de resistência à opacidade da ignorância. Wilhelm Reich que o diga...
Com claridade , no entanto, tentemos mostrar como é que se pode, através de uma técnica alimentar reconvertida , pressionar quase todos os grandes sectores da sociedade e fazer inflectir a economia num caminho ecológico.
Para começar, a total substituição de mil consumos supérfluos por uma dezena de consumos fundamentais obrigará, como operação-chave, a rever e a reconverter toda a produção agrícola e toda a produção industrial.
Em vez de vinha, pomares, pecuária, plantação de colza, girassol, cártamo e outros óleos industriais, em vez de monoculturas de subculturas, em vez de lúpulo para cerveja e beterraba para açúcar, em vez de tabaco, em vez de anti-alimentos ou desalimentos, eis que se escalonará as necessidades básicas de alimentação na única forma correcta que é a forma indicada pelas técnicas alimentares do budismo zen, taoísta e tântrico.
Isto é um dogma mas um dogma que demonstrou na prática diária , hora a hora, a sua rigorosa justeza e verdade, é um dogma verdadeiro. E um dogma verdadeiro é uma força positiva. Um dogma falso é uma força negativa e destruidora .
Teremos então um escalonamento (eco) lógico, racional, económico da produção agrícola, se a pressão no sector dos consumos alimentares for cada vez mais sobre os fundamentais e cada vez menos sobre os supérfluos.
Entre os fundamentais, alguns exemplos: arroz, soja, milho-painço, trigo, algas, leguminosas, legumes, beterraba para fins alimentares...
Entre os supérfluos - que servem uma sociedade de consumo e desperdício - temos: colza, girassol, cártamo, tabaco, beterraba para fins desalimentares ou industriais.
A GRANDE MENTIRA DO EXCESSO DEMOGRÁFICO (NOS CAMPOS...)
Os métodos ecológicos em agricultura , por seu lado, pressionam um regresso à terra de muitos que foram constrangidos a deixá-la, o que teria influência decisiva e profunda no mercado do emprego e, portanto, no planeamento económico, que se voltaria , cada vez mais, para as indústrias subsidiárias do fundamental - do sector primário - abandonando progressivamente as indústrias supérfluas ou de que Portugal é meramente o esgoto e caixote do lixo , sem outros proventos a tirar daí.
Os postos de trabalho servem para justificar tudo: mas ainda ninguém foi capaz de nos explicar porque se fala só de indústrias , quando se quer dar emprego aos desempregados. E a agricultura , que continua às moscas, à míngua de braços?
De todas as explicações , mais ou menos sofísticas, para explicar a crise da produção agrícola, omite-se a que tem - logo a seguir è estrutura fundiária - relevo capital como responsável nessa crise: o abandono dos campos por milhares de camponeses e agricultores que as indústrias do Estrangeiro ou, estrangeiras, cá dentro, aliciaram com promessas de «melhores salários».
No programa «Mosaico», do dia 14 de Junho de 1977, a televisão mostrou ao País dois responsáveis pelo planeamento económico do Governo, na hora das grandes opções.
Enquanto a D. Manuela Silva e o Ministro do Plano puxavam a tónica para as necessidades básicas do povo português e para o sector primário da produção, para a agricultura , a alimentação e a habitação, os dois jornalistas, Francisco Sarsfield Cabral e Nuno Rocha, insistiam na tese: sem muitas indústrias , não há maneira de resolver o desemprego.
Acontece que é precisamente por causa das indústrias e das grandes indústrias, e em recessão acelerada por causa da crise (das eternas crises), que o desemprego aumenta à escala do mundo capitalista.
Por cá, não são apenas os dois jornalistas que continuam a preconizar como solução o que para os outros é um buraco cada vez maior onde as economias se afundando vão. Coisas!
MACROBIÓTICA: UM PRETEXTO PARA TRANSMUTAR
O pratinho de arroz integral e biológico não tem, evidentemente, o «milagre» de transmutar todas as pessoas que praticam o método alimentar aconselhado por Oshawa e Michio Kushi segundo os ensinamentos do princípio único e a prática do budismo.
Resolver cada um o seu problema de fígado, rim, tensão, alergia, furunculose, reumatismo, estômago ou intestinos, já é bastante : mas não é o mais importante que a macrobiótica prevê e dá.
O prato é um pretexto e a macrobiótica uma técnica exemplar para abrir o nosso universo a outras técnicas exemplares de libertação, autodomínio, autodefesa, autocrítica, autognose, etc..
Ficar-se pelo prato, pela culinária, pelo arroz, pela lentilha é, de certo modo, trair o espírito de Buda, seja ele Tao, Zen ou Tantra.
UM GRÃO DE ARROZ (INTEGRAL) VALE MAIS DO QUE UMA TONELADA DE BATATAS
Mudança é fazer já com que o fundamental domine o supérfluo
Dominando os processos biofísicos sobre os químicos, tudo se simplifica.
A química é o campo da complicação, da confusão, da destruição.
A biofísica (o ordenamento biofísico do território...) é o campo da ordem natural do universo e suas leis invioláveis.
A bioagricultura dá o modelo desta simplificação como política.
A bioenergia curativa e a técnica alimentar ou terapêutica conexa, também, se a compararmos à colossal complicação da medicina.
A medicina de ciência analítica, com efeito, enche milhões de volumes e centenas de bibliotecas.
Para a medicina ecológica bastam meia dúzia de linhas fundamentais: tal como no grão de arroz, tudo está em síntese
Entre um grão de arroz e uma batata , que abismo! Um grão de arroz alimenta mais do que um quilo de batatas...
É isto um princípio claro aplicável a tudo.
DA ENTROPIA À ECONOMIA ENERGÉTICA ( OU ECOLOGIA)
A reconversão dos hábitos alimentares é o ponto de Arquimedes da Mudança.
Utópico ou realista
possível ou impossível
a tempo ou já tarde
é a única via da Mudança
Na reconversão dos hábitos alimentares joga-se a fome mundial e nela reside o segredo - o calcanhar de Aquiles , o ponto de Arquimedes - porque será por eles que o homem biológico inverte a sua tendência actual irreversível de ser em estado crónico de
entropia, estado no qual se apoia todo e qualquer sistema de exploração do homem pelo homem, capitalista ou anti-capitalista.
Trata-se de dar ao homem as técnicas para que ele possa inverter essa tendência de Entropia, ganhando mais energia do que perde, dispondo de força e poder que até agora nunca possuiu.
Utópica ou realista
lenta ou rápida
a tempo ou já tarde
é esta a proposta do princípio único, do monismo revolucionário, da biopolítica, do ecossocialismo, da macrobiótica zen, é esta a proposta da sabedoria búdica e da ciência original.
Quer a nossa doença (entropia) seja já (ou não) incurável, irreversível e a tendência para a morte imparável, pôr um dique é o que as técnicas alimentares e todas as tecnologias alternativas de libertação e uma reconversão de hábitos (de consumos) se impõe.
Chamar-lhe idealista pode ser um truque de propagada para adiar o momento, cada vez mais perto, em que o homem liberte o homem. Pode ser um truque para adiar o poder do Espírito na mão dos homens.