R. NADER 1986
1-4 - nader-2-ls-ie> = leituras selectas = ideia ecológica - quarta-feira, 25 de Dezembro de 2002-scan
JUVENTUDE É QUE PAGA - RÉPTEIS (*)
[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 14-6-1986] - A indústria em geral e a indústria alimentar em especial estão no seu direito de por no mercado produtos que matam, estropiam, envenenam, intoxicam, adoecem, etc. , mas que - diz a publicidade - obviamente dão saúde, triunfo e bem estar.
A ética darwinista do mais forte é a ética desses impérios e os lucros, as grandes margens de lucro, dão para pagar, na TV e nem só, a imensa publicidade que faz girar a máquina, que mete pelos olhos e boca do consumidor tudo o que for produzido.
Não há lei nem limites para o poder absoluto desta ofensiva dirigida à bolsa, à saúde, à vida do consumidor. O mexilhão que se lixe.
Quando um Instituto do Estado (obrigado a regular as relações entre a Opressão absoluta dos monopólios e o pobre consumidor esmagado pelo poderio desses monopólios) resolve alertar que os "répteis mágicos" estão no mercado português , embora já tenham sido proibidos numa data de países, é uma em 10 mil das denúncias que seria urgente fazer.
Mas da denúncia à acção parece haver ainda um abismo, com os alibis e as desculpas habituais: não há lei, pessoal, dinheiro, ou qualquer outra das argumentações habituais do nacional-porreirismo.
Enfim: denunciar ou não denunciar, dá igual.
Os brinquedos chamados "répteis mágicos" são uma construção diabólica, de facto, já que, mesmo se parcialmente engolidos, por crianças ou adultos, engrossam nas vias digestivas ao entrarem em contacto com líquidos e podem levar à morte ou à intervenção cirúrgica de urgência.
Mas depois de proibidos em muitos países, o produtor parece não desistir e insiste em inundar o mercado português. Sejamos justos: apesar de "répteis" e apesar de perigosos, conforme alerta o I.N.D.C. , será o único atentado que hoje se verifica em matéria de produtos e indústrias perigosas, letais, verdadeiras indústrias assassinas que se gabam de tornar a juventude mais gorda e mais feliz?
Quantos produtos banidos nos países ricos, não chegam depois e por isso mesmo, ao mercado português, onde ninguém nos pode impedir de ser os subdesenvolvidos que nos decretaram que fôssemos?
Quem diz "répteis" diz "cacaus instantâneos" ou, evidentemente, qualquer dos milhares de produtos de consumo, quer sejam particularmente publicitados ou não. Todos em geral e alguns em particular , cumprem bem sua religiosa missão.
MAR DE PORCARIA
Sempre que vem à liça o "mar de porcaria" em que se transformou a sociedade de consumo, a sensação, de facto, é esta: qualquer medida, oficial ou particular, tomada contra a invasão e o genocídio sistemático, é apenas uma ilha rodeada de consumos por todos os lados, um tropismo breve e ténue no meio de uma caótica convulsão que abisma, trucida e turbilhona os indivíduos.
Tal e qual como um reactor...
Tudo parece impossível para conter este pesadelo das indústrias em geral e da indústria alimentar em particular contra o pobre consumidor indefeso.
O cerco é um facto e um facto é também a inconsciência que a própria vítima tem dessa situação. Impõe-se uma conclusão "horrível": temos a abjecção con-su-me-rista que merecemos, derivando a palavra consumerista de consumo, como tem ensinado Beja Santos.
Na generalidade é assim, mau grado os esforços que ele e alguns outros autores, como Ivan Illich, Michel Bosquet, Ralph Nadar, Vance Packard, etc , têm desenvolvido para acordar os passageiros deste comboio fantasma chamado sociedade de consumo.
A comandar o comboio, o lucro. A situação de classe do problema alimentar é hoje evidente e não é preciso perfilhar o materialismo dialéctico para o concluir.
Novidade de pasmar foi que Isabel do Carmo, médica ilustre com especial preparação política, tivesse considerado, na sua crónica de "O Jornal" (4-10 Abril 86) toda as alternativas ao «agrobusiness» uma «moda».
Os movimentos sociais que tentam abrir alternativas reformistas ao crime industrial alimentar, seriam pelos vistos joguetes da burguesia, perguntando-me eu, subalimentado crónico, se de facto , durante 15 anos de luta pelas eco-alternativas, não terei sido movido por sentimentos e intentos da abjecta pequena-burguesia a que pertenço, porque nunca me soube passar para a alta.
Com efeito, tentei explicar dezenas de vezes, com ajuda de bons mestres na matéria, que sem revolução alimentar e sem revolução (da qualidade) biológica não haverá revolução a sério.
Pode ser que se discorde nos meios e na ordem de prioridades.
Mas onde é que os movimentos sociais alternativos e os mercados dos produtos ecológicos são mais pequeno-burgueses e criminosos, que os super-mercados da Morte, do Cancro, do Veneno químico-plástico, gostaria que me demonstrassem. Revolucionário, pelos vistos, será consumir especialidades farmacêuticas com que as multinacionais da química vão alienando, adoecendo, envenenando a pequena burguesia por esse mundo fora. A pequena-burguesia e, graças a Deus, o proletariado também.
TURBILHÃO
"Voragem" e "vertigem" são palavras ainda insuficientes para designar este cerco ou anel de ferro que a sociedade industrial apertou em volta do consumidor e de que, ingenuamente, muitos zelosos funcionários da dita sociedade se fingem inocentes.
O consumidor, aliás, colabora com o carrasco que o enforca. De facto, por um sado-masoquismo difícil de explicar, a adaptação ao quanto pior melhor é ainda outra das poderosas construções mentais que a referida engrenagem industrial conseguiu engendrar.
A lista negra de produtos químicos há já muito que atingiu o delírio da quantidade. Ninguém já pode parar esta escalada. Basta consultar o "simpósio terapêutico" , volumoso inventário de variedades e especialidades químico-farmacêuticas (só) que inundam o mercado.
Mas além dos fármacos, a lista alonga-se por outros químicos que , directa ou indirectamente, chovem sobre o consumidor.
Não há que ter pânico, mas há que considerar este poço de porcaria química uma determinante da engrenagem onde, bem ou mal, temos que habitar.
Não nos venham é dizer que a cloaca industrial é um jardim, um mar de rosas, o paraíso, o progresso irreversível e a irremediável felicidade do género humano em geral e da juventude em particular. Pobre juventude, sistematicamente manipulada, enganada, não só pelos traficantes de almas e tele-discos mas também por todos quantos se dizem, numa cínica demagogia, seus deliberados defensores.
A OMNIPOTENTE BARRELA
A poderosa lavagem ao cérebro operada pelas grandes (omnipotentes e omnipresentes) indústrias alimentares, que praticamente garantem a sobrevivência comercial de órgãos tão poderosos como a TV, não tem limites morais ou sociais nem podia ter. O poder, por definição, não se limita nem auto-limita.
Ralph Nader podia, há dez anos, afirmar que "milhões de jovens crescem, literalmente embrutecidos pela publicidade televisiva e acabam por acreditar que, de facto, dão saúde e dinamismo."
Ele citava, explicitamente, dois nomes, mas por razões óbvias não iremos repetir aqui esses nomes. Ninguém, aliás, tem o direito de acusar duas, deixando duzentas no silêncio.
Só outro poder, em princípio equivalente, o Estado, "pode" defrontar ou afrontar o poder discricionário das multinacionais. Mas o Estado, como já confessou, não pode. Resulta que milhões de jovens irão continuar "embrutecidos" pela publicidade televisiva, como alertava Ralph Nadar.
Pode ser, entretanto, que os "répteis mágicos" saiam entretanto do mercado, deixando o lugar a outros répteis, que não sendo mágicos nem inchando ao contacto com a água, têm a peculiaridade de só incharem à custa de ingerirem milhões e milhões de consumidores.
O cerco é inultrapassável, o nó indesatável e os "milhões de espectadores embrutecidos" não só não dão por isso, como ainda pedem mais. Não só se julgam felizes e saudáveis por consumir o produto anunciado, como estão preparados para zurzir, com o desprezo, a mofa ou o ridículo, quem se atrever a dizer, como este texto, que o Rei Vai Nu.
Chama-se a isto sociedade totalitária em plena democracia.
Chama-se a isto "defesa oficial do consumidor".
Chama-se a isto genocídio quotidiano.
Chama-se a isto irmos todos satisfeitos no mesmo barco, vendo a paisagem radioactiva.
Chama-se a isto a "revolução impossível''.
Enfim, nada de pessimismo: logo à noite, meia dúzia de spots garantem-nos que somos todos saudáveis, felizes, bonitos, escorreitos, expeditos, ágeis, jovens, inteligentes, previdentes, ricos, executivos, vitoriosos, vencedores se... (N embalagens servem para o efeito).
Embrutecei-vos uns aos outros: ainda podeis, no fim, ganhar um balde de plástico.
DESEMPREGO PARA A JUVENTUDE
Fadismo ternurento que faz do progresso uma "fatalidade do destino" exala-se do monocórdico discurso da ideologia dominante, toda de reverência pelas velhas e novas tecnologias, nomeadamente as da Informática.
Informática que vai tornar explosivo o desemprego, nomeadamente das novas gerações. Esta a realidade que já não é possível ocultar.
Mas "o que for, soará", "o destino tem muita força", "o progresso é fatal como a morte" e, com desemprego ou não, a robotização tem que se fazer.
No mínimo, este discurso é indecente, pornográfico, o que não impede de inundar os mais respeitáveis órgãos de informação. Qualquer elemento solene da classe dirigente jamais pode deixar qualquer sombra de ambiguidade no seu discurso, a respeito das sacrossantas tecnologias , o progresso que fomenta o desemprego.
Aliás, " não há-de ser nada", "o destino está escrito na palma das mãos", "o que não tem remédio, remediado está", "o que é preciso, é boa disposição".
O discurso populista une-se assim ao tecnocrático, confirmando que estamos enterrados até ao pescoço, incluindo o subconsciente colectivo que ajuda muito o nosso Fado.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado, nem sei como mas foi, na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 14-6-1986
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JUVENTUDE É QUE PAGA - RÉPTEIS (*)
[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 14-6-1986] - A indústria em geral e a indústria alimentar em especial estão no seu direito de por no mercado produtos que matam, estropiam, envenenam, intoxicam, adoecem, etc. , mas que - diz a publicidade - obviamente dão saúde, triunfo e bem estar.
A ética darwinista do mais forte é a ética desses impérios e os lucros, as grandes margens de lucro, dão para pagar, na TV e nem só, a imensa publicidade que faz girar a máquina, que mete pelos olhos e boca do consumidor tudo o que for produzido.
Não há lei nem limites para o poder absoluto desta ofensiva dirigida à bolsa, à saúde, à vida do consumidor. O mexilhão que se lixe.
Quando um Instituto do Estado (obrigado a regular as relações entre a Opressão absoluta dos monopólios e o pobre consumidor esmagado pelo poderio desses monopólios) resolve alertar que os "répteis mágicos" estão no mercado português , embora já tenham sido proibidos numa data de países, é uma em 10 mil das denúncias que seria urgente fazer.
Mas da denúncia à acção parece haver ainda um abismo, com os alibis e as desculpas habituais: não há lei, pessoal, dinheiro, ou qualquer outra das argumentações habituais do nacional-porreirismo.
Enfim: denunciar ou não denunciar, dá igual.
Os brinquedos chamados "répteis mágicos" são uma construção diabólica, de facto, já que, mesmo se parcialmente engolidos, por crianças ou adultos, engrossam nas vias digestivas ao entrarem em contacto com líquidos e podem levar à morte ou à intervenção cirúrgica de urgência.
Mas depois de proibidos em muitos países, o produtor parece não desistir e insiste em inundar o mercado português. Sejamos justos: apesar de "répteis" e apesar de perigosos, conforme alerta o I.N.D.C. , será o único atentado que hoje se verifica em matéria de produtos e indústrias perigosas, letais, verdadeiras indústrias assassinas que se gabam de tornar a juventude mais gorda e mais feliz?
Quantos produtos banidos nos países ricos, não chegam depois e por isso mesmo, ao mercado português, onde ninguém nos pode impedir de ser os subdesenvolvidos que nos decretaram que fôssemos?
Quem diz "répteis" diz "cacaus instantâneos" ou, evidentemente, qualquer dos milhares de produtos de consumo, quer sejam particularmente publicitados ou não. Todos em geral e alguns em particular , cumprem bem sua religiosa missão.
MAR DE PORCARIA
Sempre que vem à liça o "mar de porcaria" em que se transformou a sociedade de consumo, a sensação, de facto, é esta: qualquer medida, oficial ou particular, tomada contra a invasão e o genocídio sistemático, é apenas uma ilha rodeada de consumos por todos os lados, um tropismo breve e ténue no meio de uma caótica convulsão que abisma, trucida e turbilhona os indivíduos.
Tal e qual como um reactor...
Tudo parece impossível para conter este pesadelo das indústrias em geral e da indústria alimentar em particular contra o pobre consumidor indefeso.
O cerco é um facto e um facto é também a inconsciência que a própria vítima tem dessa situação. Impõe-se uma conclusão "horrível": temos a abjecção con-su-me-rista que merecemos, derivando a palavra consumerista de consumo, como tem ensinado Beja Santos.
Na generalidade é assim, mau grado os esforços que ele e alguns outros autores, como Ivan Illich, Michel Bosquet, Ralph Nadar, Vance Packard, etc , têm desenvolvido para acordar os passageiros deste comboio fantasma chamado sociedade de consumo.
A comandar o comboio, o lucro. A situação de classe do problema alimentar é hoje evidente e não é preciso perfilhar o materialismo dialéctico para o concluir.
Novidade de pasmar foi que Isabel do Carmo, médica ilustre com especial preparação política, tivesse considerado, na sua crónica de "O Jornal" (4-10 Abril 86) toda as alternativas ao «agrobusiness» uma «moda».
Os movimentos sociais que tentam abrir alternativas reformistas ao crime industrial alimentar, seriam pelos vistos joguetes da burguesia, perguntando-me eu, subalimentado crónico, se de facto , durante 15 anos de luta pelas eco-alternativas, não terei sido movido por sentimentos e intentos da abjecta pequena-burguesia a que pertenço, porque nunca me soube passar para a alta.
Com efeito, tentei explicar dezenas de vezes, com ajuda de bons mestres na matéria, que sem revolução alimentar e sem revolução (da qualidade) biológica não haverá revolução a sério.
Pode ser que se discorde nos meios e na ordem de prioridades.
Mas onde é que os movimentos sociais alternativos e os mercados dos produtos ecológicos são mais pequeno-burgueses e criminosos, que os super-mercados da Morte, do Cancro, do Veneno químico-plástico, gostaria que me demonstrassem. Revolucionário, pelos vistos, será consumir especialidades farmacêuticas com que as multinacionais da química vão alienando, adoecendo, envenenando a pequena burguesia por esse mundo fora. A pequena-burguesia e, graças a Deus, o proletariado também.
TURBILHÃO
"Voragem" e "vertigem" são palavras ainda insuficientes para designar este cerco ou anel de ferro que a sociedade industrial apertou em volta do consumidor e de que, ingenuamente, muitos zelosos funcionários da dita sociedade se fingem inocentes.
O consumidor, aliás, colabora com o carrasco que o enforca. De facto, por um sado-masoquismo difícil de explicar, a adaptação ao quanto pior melhor é ainda outra das poderosas construções mentais que a referida engrenagem industrial conseguiu engendrar.
A lista negra de produtos químicos há já muito que atingiu o delírio da quantidade. Ninguém já pode parar esta escalada. Basta consultar o "simpósio terapêutico" , volumoso inventário de variedades e especialidades químico-farmacêuticas (só) que inundam o mercado.
Mas além dos fármacos, a lista alonga-se por outros químicos que , directa ou indirectamente, chovem sobre o consumidor.
Não há que ter pânico, mas há que considerar este poço de porcaria química uma determinante da engrenagem onde, bem ou mal, temos que habitar.
Não nos venham é dizer que a cloaca industrial é um jardim, um mar de rosas, o paraíso, o progresso irreversível e a irremediável felicidade do género humano em geral e da juventude em particular. Pobre juventude, sistematicamente manipulada, enganada, não só pelos traficantes de almas e tele-discos mas também por todos quantos se dizem, numa cínica demagogia, seus deliberados defensores.
A OMNIPOTENTE BARRELA
A poderosa lavagem ao cérebro operada pelas grandes (omnipotentes e omnipresentes) indústrias alimentares, que praticamente garantem a sobrevivência comercial de órgãos tão poderosos como a TV, não tem limites morais ou sociais nem podia ter. O poder, por definição, não se limita nem auto-limita.
Ralph Nader podia, há dez anos, afirmar que "milhões de jovens crescem, literalmente embrutecidos pela publicidade televisiva e acabam por acreditar que, de facto, dão saúde e dinamismo."
Ele citava, explicitamente, dois nomes, mas por razões óbvias não iremos repetir aqui esses nomes. Ninguém, aliás, tem o direito de acusar duas, deixando duzentas no silêncio.
Só outro poder, em princípio equivalente, o Estado, "pode" defrontar ou afrontar o poder discricionário das multinacionais. Mas o Estado, como já confessou, não pode. Resulta que milhões de jovens irão continuar "embrutecidos" pela publicidade televisiva, como alertava Ralph Nadar.
Pode ser, entretanto, que os "répteis mágicos" saiam entretanto do mercado, deixando o lugar a outros répteis, que não sendo mágicos nem inchando ao contacto com a água, têm a peculiaridade de só incharem à custa de ingerirem milhões e milhões de consumidores.
O cerco é inultrapassável, o nó indesatável e os "milhões de espectadores embrutecidos" não só não dão por isso, como ainda pedem mais. Não só se julgam felizes e saudáveis por consumir o produto anunciado, como estão preparados para zurzir, com o desprezo, a mofa ou o ridículo, quem se atrever a dizer, como este texto, que o Rei Vai Nu.
Chama-se a isto sociedade totalitária em plena democracia.
Chama-se a isto "defesa oficial do consumidor".
Chama-se a isto genocídio quotidiano.
Chama-se a isto irmos todos satisfeitos no mesmo barco, vendo a paisagem radioactiva.
Chama-se a isto a "revolução impossível''.
Enfim, nada de pessimismo: logo à noite, meia dúzia de spots garantem-nos que somos todos saudáveis, felizes, bonitos, escorreitos, expeditos, ágeis, jovens, inteligentes, previdentes, ricos, executivos, vitoriosos, vencedores se... (N embalagens servem para o efeito).
Embrutecei-vos uns aos outros: ainda podeis, no fim, ganhar um balde de plástico.
DESEMPREGO PARA A JUVENTUDE
Fadismo ternurento que faz do progresso uma "fatalidade do destino" exala-se do monocórdico discurso da ideologia dominante, toda de reverência pelas velhas e novas tecnologias, nomeadamente as da Informática.
Informática que vai tornar explosivo o desemprego, nomeadamente das novas gerações. Esta a realidade que já não é possível ocultar.
Mas "o que for, soará", "o destino tem muita força", "o progresso é fatal como a morte" e, com desemprego ou não, a robotização tem que se fazer.
No mínimo, este discurso é indecente, pornográfico, o que não impede de inundar os mais respeitáveis órgãos de informação. Qualquer elemento solene da classe dirigente jamais pode deixar qualquer sombra de ambiguidade no seu discurso, a respeito das sacrossantas tecnologias , o progresso que fomenta o desemprego.
Aliás, " não há-de ser nada", "o destino está escrito na palma das mãos", "o que não tem remédio, remediado está", "o que é preciso, é boa disposição".
O discurso populista une-se assim ao tecnocrático, confirmando que estamos enterrados até ao pescoço, incluindo o subconsciente colectivo que ajuda muito o nosso Fado.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado, nem sei como mas foi, na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 14-6-1986
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