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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-21

NATUROLOGIA 1999

1-1 - 99-05-21-ac-nn> ac da nova naturologia - maria-2>

21-5-1999

EM DEFESA DA NATUROLOGIA HOLÍSTICA:

PROFILAXIA PARA PREVENIR A DOENÇA
EM VEZ DE A COMBATER


II

Uma recente notícia de jornal, se a lermos bem lida, pode dar-nos uma ajuda para compreender a situação da nossa escola. Serve essa notícia como ponto de partida para a desmontagem do inferno médico onde vivemos, adoecemos e morremos.
No mesmo dia em que o «Correio da Manhã» dava em primeira página o título bombástico - medicinas alternativas metidas na ordem - o «Diário de Notícias» metia lá bem no fundo da página 39, a doença do sistema : a famosa dívida da chamada saúde.
Parecendo que não mas é aqui que as águas entre Naturologia (ou ciência da saúde) e Medicina (ciência da doença) se separam, se têm que separar.
E é aqui que se coloca o dilema desta escola e dos alunos que para aqui vieram na esperança de fazer carreira na medicina do futuro e na medicina que de facto tem futuro.
O que hoje se chama saúde é afinal o sistema sintomatológico que continua inflacionando a doença, exactamente porque jamais pensa em termos de saúde mas dos lucros que a doença dá.
E as famosas dívidas da chamada saúde são o espelho desses lucros que a doença dá.


Governo PS ou Governo PSD, a dívida continuará a crescer enquanto não houver alternativas de saúde ao sistema da doença.
Não se vê muito bem como irá parar de crescer, porque o sistema alimenta-se exactamente dessa voracidade insaciável e dessa escalada sintomatológica que continua a chamar saúde àquilo que é doença e a proliferação crescente da doença e das novas doenças.
+
1-1 - 99-05-21-ac-ah> afonso dos projectos - maria-3>

21-5-1999

III
Voltando à nossa escola, teremos de ver , com um pouco mais de transparência, em que medida estamos a ajudar também essa escalada infernal para o abismo.
Em que medida estamos a contribuir, também, para a famosa bancarrota da segurança social.
Infelizmente e pelos vistos, estamos a ajudar e muito, na medida em que a ideologia dominante continua a ser a microbiana - a indústria mais rentável do século - e a sintomatologia a única lógica, quando afinal a nova naturologia se chama medicina do terreno, medicina metabólica, medicina ortomolecular, medicinas energéticas e medicinas vibratórias.
A Homeopatia, a que aqui se dá tanto ênfase (porque já vai sendo também uma indústria crescidinha e rentável, claro), não sendo a única nem a mais importante, actua porque é uma medicina do terreno, baseada na lógica causal e ecológica, e não na lógica sintomatológica e microbiana.
Numa escola que se diz de homeopatia, acho que os alunos deveriam ter direito, no mínimo, a uma ração mais equitativa e equilibrada: 50% de discurso sobre medicina do terreno ou medicinas ecológicas e 50% sobre essa bicharada toda - vírus, bactérias, estreptococos, estafilococos, candida albicans, fungos e o diabo mais a tia.

Se nos lembrarmos:
que as ites (faringites, hepatites, etc) são mais de 35
que todas as doenças dos jovens e adultos começam por ites maltratadas na infância
que uma simples faringite se pode abolir em 24 horas com um oligoelemento chamado Bismuto
que a melhor vacina é natural e deriva de um reforço inteligente e natural das defesas orgânicas
que a nova medicina implica uma nova imunologia
que a nova medicina terá que ser causal, ambiental e ecológica para não ser pura e simplesmente um disparate
que a sintomatologia é rendosa mas conduz ao colapso do sistema (tal como nos mostram as dívidas do Ministério e as despesas com a chamada saúde)
se nos lembrarmos disto tudo e de muito mais, é talvez o momento de cumprirmos todos a nossa obrigação - que é a de sermos os pioneiros da verdade, ou seja, de um mundo novo, sem déspotas, sem guerras humanitárias, sem lobbies de pressão, sem fungos, sem dívidas às farmácias, sem albicans, sem vírus e bactérias que o velho sistema continua alimentando só porque lhe dá lucros.
***

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SATÉLITES 1983

espaço-1> os dossiês do silêncio

ESPIÕES DE BOAS INTENÇÕES A GUERRA DOS SATÉLITES COM FINS PACÍFICOS(*)

21/5/1983 - Não haveria necessidade de falar em «utilização pacífica» de um invento (tecnologia, ciência ou forma de energia) se a sua utilização bélica não surgisse primeiro e não fosse um facto há muito tempo.
Obviamente.
É assim que logo se inventou um «átomo pacífico» paralelamente à escalada do armamento nuclear, em vez da «guerra química» a propaganda inventou os «benefícios da química», a «guerra biológica» aparece disfarçada de pacíficas epidemias naturais, a «guerra climática» é sempre atribuída a distúrbios e culpas da intratável Natureza, enquanto a genética deixa de estar ao serviço da mais feroz «manipulação do homem pelo homem, mascarando-se de grande benefício para a humanidade.
Também a «guerra espacial» não podia escapar a esta regra ou hipocrisia, de fundo. E quando a espionagem por satélite já era rotina de uma guerra secreta entre grandes potências, surge a utilização «pacífica» dos satélites, do espaço exterior e da «detecção remota» ou «teledetecção».

A GUERRA COM FINS PACÍFICOS

Com a chamada «utilização pacífica» do «espaço exterior» e da «teledetecção» pretendem os técnicos da especialidade cantonar e sectorizar o público em geral ou o jornalista mais renitente. Tudo o que fica de fora desta «pacífica» utilização, já não é evidentemente com os serviços, com o LNEC, com o novo computador. Vai para a zona negra, indefinida, abissal do «uso bélico», intocável, situado numa espécie de outro planeta.
Com isto pretende-se escamotear a questão de fundo, que é esta: de que modo a «pacífica» captação de imagens pode ser utilizada para fins menos pacíficos.
Mais: a «espionagem» deixará de se chamar assim, se em vez de informações de instalações militares, captar informações de culturas agrícolas, manchas de poluição, águas subterrâneas, urânio e outros minérios?
O sofisma que dá o carácter «diabólico» à nossa época, comandada por tecnologias de ponta que escapam ao controlo dos próprios técnicos que dizem controlá-las, é exactamente esta duplicidade ou hipocrisia de fundo: quando surge a palavra «paz» é porque se pretende camuflar ou legitimar uma qualquer «guerra», circunscrita assim a uma zona interdita onde poderá desenvolver-se à vontade sem interferências da sociedade civil ou de jornalistas indiscretos.
Teremos então o seguinte quadro: tudo quanto se fizer de triunfal no domínio dos satélites vai para a zona boa ou pacífica. Mas o que suceder de sinistro ou odioso fica na sombria área «não pacífica» e como tal não se discute. Rotula-se de «segredo militar».

SOFISMA, SEXTA DIMENSÃO DA INTELIGÊNCIA TERRESTRE

Assume aspectos patológicos esta pretensão sofística de rigor terminológico.
Se, por exemplo, eu digo que o Landsat dá informações para lá da superfície terrestre, eles corrigem: «não dá, contribui para».
Se eu digo teledetecção, eles corrigem (como se eu tivesse dito uma grande asneira) para «detecção remota».
Se eu incluo na teledeteccão os aparelhos de medida usados na Base Aérea n.° 1 e que captam imagens de grandes altitudes, tal como os satélites, logo me emendam: isso não é já teledetecção mas «geofísica»...
Esta flutuação de palavras entre a terra e o espaço verifica-se igualmente no caso dos satélites e «porque caem».
«Nada obriga a que todos os satélites venham um dia a cair», dizem os engenheiros espaciais, para logo a seguir se desdizerem: « qualquer satélite, até a Lua, pode cair»...
Nenhum afirma, explìcitamente, que a «energia nuclear» é usada como «sistema de propulsão de alguns satélites», preferindo sublinhar outras fontes energéticas igualmente utilizadas como o combustível «hidrazina» e os «painéis solares»
A ambiguidade de linguagem é ainda notória quando se chega ao melindroso assunto da «informação que as potências obtêm sobre recursos naturais de outros países e o aproveitamento que venham a fazer dela».

TERCEIRO MUNDO ENTRA NA CORRIDA

A ambiguidade e o sofisma, a subtileza manhosa e a flagrante contradição, continuam, quando se chega à regulamentação prevista para a «gestão do espaço exterior».
Enquanto foram as grandes potências imperialistas a encher o espaço de satélites (meteorológicos, telecomunicações, de recursos, espiões, etc.) não se falou de lei, nem de «anarquia existente».
Quando os pequenos quiseram entrar na corrida, porque para isso os grandes os aliciaram, realiza-se em Viena de Áustria uma conferência para «ver se se chegava a um acordo».
Os termos em que a Conferência de Viena (9.8.1982) decidiu sobre a «gestão do espaço» são verdadeiramente imponentes. Imperialistas, ditatoriais e tirânicos. Dessa conferência sai, com efeito, uma recomendação ao Comité das Nações Unidas para a Utilização Pacífica do Espaço Exterior, para «definir legislação relativa à possibilidade de um país ser detectado (observado) por satélites de outro e dos dados obtidos serem vendidos a países terceiros (eventualmente por empresas privadas) sem autorização prévia do país observado».

TERCEIRO MUNDO EM BICOS DE PÉS

É uma obra-prima de sofística esta recomendação. Não se põe em causa, de raiz, que a superpotência espacial saiba o que muito bem quer e entende dos países que eventualmente «coloniza» ou irá colonizar economicamente.
Isso não é ponto em questão para os técnicos reunidos em Viena sob os auspícios da O. N. U. Hipocritamente «teme-se apenas» que a mesma informação «vá parar a terceiros...»
Paternal e enternecedor é o súbito receio dos espacialistas (com pa): «Há - imagine-se! - o perigo de o Terceiro Mundo não vir a ter espaço para pôr os seus satélites... »
Perigo, portanto, não é a matilha de satélites já em órbita e que podem em qualquer altura cair-nos em cima ou desfazer-se em merda radioactiva.
«A questão das quedas é irrelevante» - dirá um tecnocrata espacial. Perigo e grande é que o Terceiro Mundo seja também chamado à glória de competir com as grandes potências espaciais, disputando-lhe espaço no espaço, pondo-se em «bicos dos pés» para conseguir gastar em corrida espacial a energia que não tem para dar de comer aos seus povos.
Até onde irá o cinismo canibalesco destes ternos guerreiros espaciocratas?
- - - -
(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1983
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LUMPEN 1969

69-05-21-dl> inédito ac de 1969 – leituras – diário de um leitor distraído

DESCOLONIZAÇÃO LITERÁRIA E ALGUMAS MINORIAS

21-5-1969 - Pode ser uma minoria de vinte milhões ( os negros americanos dentro da população) ou apenas de algumas unidades. Mas o que define as minorias - a solidariedade universal - torna-as na soma e totalidade a maioria absoluta. Só que, por distribuição irregular de riquezas, as minorias aparentes são as maiorias reais (em poder económico e político) e as minorias reais são as maiorias aparentes.
Exemplificando, na literatura: autores privilegiados, pertencentes à classe que pode e manda, monopolizam o direito de falar dos outros, dos próprios humilhados e ofendidos, do lumpen-proletariat, dos que não têm voz; monopolizam a voz dos que a não têm e deles, sobre eles, por eles falam.
Caryl Chessmann, Albertine Sarrazin, Violette Leduc, Jean Genet, surgidos da infra.-miséria que os privilegiados denominam abjecção, falam de si e por si.
Quando procuramos, no deserto humano que constitui hoje o "convívio" tal como as empresas e o trabalho o estabeleceram, só nos perseguidos de todos os tempos encontramos, tanto como na música, a companhia não alienada, a companhia que não é ainda outra forma burlesca de solidão. Perseguidos e doentes, out-siders e franco-atiradores, segregados e famintos, de qualquer forma e por qualquer motivo o rebotalho da sociedade, as sobras da abundância, as migalhas do banquete.

NÃO PÁRA DE NOS SURPREENDER

Um fenómeno que não pára de nos surpreender, de nos emocionar: o advento, para a maioridade literária, daqueles povos e daquelas criaturas que tradicional e secularmente se supunham sem meios nem méritos criadores. Os países latino-americanos, no primeiro caso, as escritoras portuguesas, no segundo, - são para já e sem nos alargarmos agora para outros horizontes , exemplos de maior representatividade.
As escritoras portuguesas, há apenas uma dezena de anos que impuseram a sua presença: Irene Lisboa seria a tímida afirmação de um génio que não soube defender-se a tempo das cóleras circundantes; depois , dezenas de escritoras, principalmente romancistas, asseguraram não só a superioridade definitiva do naipe feminino sobre o masculino das letras portuguesas, como nos revelaram uma nova escala de estilos ou «modos de ver o mundo».
Por isto ou por aquilo, a obra destes autores é diferente, é melhor, é mais vivida e sofrida e autêntica. Parece que a emancipação de uma minoria até então desconsiderada, perseguida ou diminuída (povo ou grupo “rácico”) deixa marcas que a literatura , depois, quando não é meramente literária, transforma e prolonga em vigor existencial.
Mas, ao falar-se do exemplo português, poderia pensar-se que é da condição nacional que advém o fenómeno da emancipação feminina. Que dizer, no entanto, quando num meio emancipado, surgem ainda casos maiores como: Simone de Beauvoir, Violette Leduc, Albertine Sarrazin?
Quase todas páginas de confissão , de interioridade e desespero existencial, pertencem elas a um “terceiro mundo” espiritual , que ainda está por catalogar entre os críticos europeus mas que já se afirma independente e paralelamente ao Terceiro Mundo. É um facto, antes de como facto ser conhecido e reconhecido.
Albertine Sarrazin teve lugar na língua francesa, por um acaso. Ela vem de um exílio que, maior pelas fronteiras geográficas, se define pelas fronteiras da vida. Exilada, ela, como bastarda Violette Leduc, chegam à literatura pelo canal de onde os escritores literatos (a maioria!) fogem.
Fazendo companhia a Jean Genet ou Antonin Artaud – Albertine Sarrazin pagou com juros e anterioridade, tudo quanto escreveu. E tudo – incluindo breve fama – o que ganhou com quanto escreveu. Motivo por que fica fora dos cânones e é maior do que tudo quanto se narrou dentro deles.

O NOBEL PARA ASTÚRIAS

Miguel Angel Astúrias foi «ofendido» com a atribuição do prémio Nobel. Porta-voz de um Terceiro Mundo onde a fome é de sentido plural (há várias fomes e fomes de tudo!) e se subdivide em todas as formas possíveis , equipara-se a Albertine Sarrazin na grande pátria das independências recentemente conquistadas.
Também o romance deixou de ser campo de privilegiados e nele se ouvem, agora, as vozes daqueles que não tinham até agora direito à palavra. Da ruína e da submissão nasce uma literatura que, embora individual ou individualista na aparência e nos processos, fala implicitamente de um grupo mais vasto: a humanidade humilhada que toma consciência e conta de si através da literatura.

PALAVRAS-CHAVE NA DESCOLONIZAÇÃO DO ESCRITOR

A literatura de novas ópticas é subversiva no sentido em que vem afirmar mais mundos e mais «marias na terra», dando a palavra aos que até agora a não tinham: ao Terceiro Mundo do Mundo: a criança, o louco, o doente, o negro.
A literatura prospectiva é a descolonização em sentido lato, é o terceiro mundo da literatura.
Temos, em resumo, algumas noções básicas ( sublinhadas no texto) ao desvendar as leis que regem a nova imaginação:
Relatividade
Resistência de minorias
Descolonização
Novas ópticas
Epistemologias múltiplas
Mudança
Dialéctica
Terceiro mundo
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HEDONISMO 1989

1-2 - 89-05-21-ac-cf> hedonismo-1-ac-cf > ac a cf

O MEU ÓDIO A HEDONISTAS E BEATOS(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela nem sequer como carta a CF foi talvez enviado, permanecendo, portanto, totalmente inédito

21-5-1989

A propósito do Krishnamurti, em que falámos, encontrei essa passagem no Virgílio Ferreira, página 351, do "Conta-Corrente-I".
Há uma referência à Beatriz, que tu também deves conhecer, pelos idos de Évora (Évora será uma coisa, pelo menos, que temos em comum, não?).
Parece-me a opinião do Virgílio demasiado severa, e quando ele fala do "beato manso" estou e não estou de acordo com ele. "Beatismo" é a palavra que costumo usar para designar uma das coisas que visceralmente mais detesto: toda a pretensão predicadora, moralista, “deves fazer isto” e "deves fazer aquilo”, enfim, a constante pregação em vista à morigeração dos costumes.
Se há peso-pesadelo na chamada nossa cultura ocidental e cristã, não sei se este - da predicação e do discurso-sermão - não será um dos mais arreigados.
Ora o esforço de Krishnamurti, colocando-se , desde logo, na perspectiva de uma fonte cultural descontaminada de poluições cristãs ocidentais moralizadoras, terá muita coisa criticável, a meu ver, mas não o seu beatismo: nesse caso o que diríamos de todo o ensaísmo ocidental, que é uma beatisse pegada.
Mas quando falo de "beatismo" como uma das coisas a que voto maior aversão, estou ainda a pensar num tal conceito de optimismo ou mesmo de alegria, com o qual, de facto, não consigo alinhar.
Ouvindo agora mesmo um extracto da "Ode à Alegria", da Nona Sinfonia de Beethoven( que os eurocratas elegeram em música publicitária da campanha eleitoral ao Parlamento de Estrasburgo...), penso mais uma vez o que tenho dito ou escrito em outras circunstâncias: a Alegria é algo de tão sagrado que temos que ter algum cuidado na palavra. Um pouco como a palavra Deus, um pouco como a palavra Amor, um pouco como a palavra Paz, um pouco como a palavra Liberdade.
Somos, neste caldo cultural em que estamos, demasiado levianos no uso de certas palavras, cuja carga de sagrado nos devia aconselhar maior prudência.
Falaste-me de uma viagem que fizeste (aos Açores, não foi?) e da "alegria" que apreciaste nos companheiros de viagem, por contraste ao que tínhamos referido como o meu "tremendismo", "pessimismo", "negativismo".
A questão é muito melindrosa, Carlos, e vou tentar tocá-la com o máximo de delicadezas: alegria que não seja arrancada da profunda tristeza que é a vida, que sentido pode ter?
Bach exemplifica, na música, o que eu gostaria de dizer a este respeito. Qualquer conceito extrai-se, sempre, do seu contrário: a saúde é o outro lado da doença, o prazer é o outro lado da dor, a liberdade é o outro lado da alienação, o dia é o outro lado da noite, (para outras dicotomias, ver "Diccionario de Sinónimos e Antonimos,"Ed Oceano, Barcelona, 198&).
E o que chamo "beatismo" , de um modo geral, é a atitude dos que se colocam só num termo desta dialéctica - geralmente considerado o "bom" - como se não existisse o outro termo, que é então repelido como o "mau".
O que eu penso - e é uma das démarches mais terríveis de toda a minha vida - é que aprender a viver é aprender a amar, com igual intensidade, o "bom" e o "mau", o "puro" e o "perverso", a "doença' e a "saúde", a "alegria" e a "tristeza”, a "esperança" e o “desespero"...
Costumo dizer, glosando esta minha estranha e rara filosofia: que seria do amarelo se ninguém gostasse dele.
Claro que amar o bom, o belo, o saudável, o dia, o prazer, o útil, o rico, o glorioso, o amável, não custa nada a ninguém, e que outra sociedade levou mais longe o hedonismo como religião, do que a sociedade de consumo?
Mas que outra sociedade prova também melhor as consequências trágicas desse hedonismo? Não será paradoxal que cheire tanto a morte, a sangue, a violência, a doença, numa sociedade que baseia a sua ideologia de massas no constante elogio da vida, da paz, da saúde ? "Quilómetros de prazer" ...gritam eles, na RTC, na RTP!
O nosso medo à morte, a nossa vergonha à morte, é a causa principal de que esta sociedade, este sistema, não seja outra coisa do que um gigantesco campo de morte.
Quando releio o Tao Te King, é para tentar instintivar esse supremo sexto sentido que perdemos, o sexto sentido da dialéctica ou da compreensão dos contrários sem que , os entendamos como contrários. Não saber isso como quem respira - aí reside, a meu ver, a raiz de todo o mal, de toda a doença que se respira na cultura ocidental.
Reaprender a vida é reaprender, por exemplo, a dialéctica taoísta. Todo o maniqueísmo (ver só um lado da realidade) revela-se na prática pelo tal "beatismo": querer convencer os outros de que estou sempre numa boa, quando, na realidade e na verdade, eu só posso estar numa boa e má ao mesmo tempo, é maniqueísta, hipócrita e beato.
A alegria (como o prazer, o amor, a liberdade, a fé) é um breve relâmpago na infinita noite da Tristeza humana.
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RECURSOS 1988

1-3 - recursos-1> os dossiês do silêncio

21-5-1988

TECNOLOGIA LIBERTADORA E OS RECURSOS QUE TEMOS(*)

1 - À luz dos recursos vivos e naturais que o progresso vai delapidando, os conceitos de crescimento económico e desenvolvimento industrial começam a ficar comprometidos face à opinião pública.
Se se fala de recursos e em aproveitar recursos, não faz sentido que o mais importante recurso que é o lixo ou desperdício se continue a deitar fora.
Se se fala em recursos, não se justifica então que o biogás - a partir do grande recurso nacional que é o excremento animal - continue a contar com a má vontade sistemática de técnicos e políticos.
Se se fala em aproveitar recursos, devia ver-se que várzeas fertilíssimas têm sido destruídas com o desenvolvimento urbano de cidades como Lisboa, ou de grandes complexos industriais como o de Sines.
Respeitar os recursos devia incluir a manutenção de recursos humanos que são as artes e os ofícios sistematicamente sacrificados aos mitos da rendibilidade capitalista ou socialista.
Se se fala de recursos e de viver com o que temos, porque se deixa crescer o moliço na Ria de Aveiro sem o recolher, só porque ele constitui um fertilizante orgânico de primeira ordem e portanto um concorrente dos adubos da Quimigal?
Se se fala de recursos, porque se têm assassinado solos fertilíssimos com plantações de eucaliptos e porque se mataram serras inteiras como a serra de Ossa que sucumbiu a 11 milhões de eucaliptos?
Se se fala em aproveitar recursos e em viver com o que temos, porque se têm sacrificado as culturas de subsistência alimentar básica por culturas industriais de exportação como cártamo, girassol, tomate, beterraba, algodão, tabaco?
Se se fala em não delapidar o que temos, porque se impermeabilizam milhares de hectares de solos com quilómetros de betão armado = auto-estradas e vias rápidas?
Se se fala em aproveitar recursos, porque se defendem barragens como a de Alqueva que vão destruir os poucos regadios existentes no Alentejo, estradas, aldeias e património cultural com o que pretende ser o «maior lago artificial da Europa»?
2 - Quando a classe dirigente se curar da megalomania que a consome e nós continuamos a pagar, o País tomará o rumo do bom senso e os sacrifícios exigidos talvez sejam feitos com menos rancor, menos raiva, menos ódio do que agora.
Quando as tecnologias libertadoras e apropriadas apontarem o caminho certo da Economia viável, quando as pequenas e médias empresas tomarem o lugar de protagonistas de que foram relegadas pelos mastodontes industriais, talvez os portugueses se interessem e empenhem no sentido colectivo do seu País.
Não é abstracto o tema da dimensão empresarial: ele está intrinsecamente ligado à nossa possibilidade de sobrevivência como povo independente.
O pequeno e o médio aumentam a nossa independência, o grande torna-nos cada vez mais escravos das multinacionais disto e daquilo.
A discussão do Plano Energético em termos de grandes unidades produtoras é a total aberração que alguns responsáveis do Governo, como o Secretário de Estado do Ambiente, já reconheceram.
Insistir nos planos megalómanos - Alqueva, Siderurgia, Nuclear, Pirites, Petróleo - é não só continuar aumentando a dívida externa, reforçando a nossa dependência, comprometendo as futuras gerações mas também obstruir todo o trabalho de emancipação nacional e de libertação da sociedade civil que as indústrias e tecnologias de média e pequena dimensão são as únicas a garantir.
Os técnicos que quiserem ser honestos com o povo português devem mostrar esses números, em vez de continuar a escamoteá-los.
3 - Engenheiros de energia começam (quase) sempre os seus discursos com um exercício de futurologia. Aquilo a que chamam «as estimativas dos consumos energéticos para os próximos anos».
Olhos postos nos países desenvolvidos, ricos, industrializados, prósperos, felizes - em suma, energívoros - os engenheiros energívoros portugueses sonham então para os portugueses(?) as grandes metas europeias e norte-americanas.
Se queremos ser gente, passar da retaguarda para a vanguarda, ter qualidade de vida, temos de consumir energia como eles consomem. Nem mais nem menos.
E vá de obrarem gráficos com as metas a atingir até ao Ano 2000.
Jamais passa por estas cabecinhas-de-vento que o processo tem de ser o inverso, se o critério for de facto o interesse dos portugueses e a independência nacional.
Quem não for «pau-mandado» dos interesses estrangeiros, de Leste ou Oeste, terá de fazer o contrário do que eles sistematicamente fazem e dizem nos seus discursos de insaciáveis burocratas: em vez de pôr primeiro as metas obrigando a gente (povo indefeso) a correr para elas, fazendo das tripas coração à procura de recursos para alcançar essas metas, realista e sensato é (apenas) ver primeiro o que temos e depois gastar em quantidade e qualidade de acordo com as forças e energias que temos.
4 - Paranoico e megalómano é pretender produzir energia em obediência aos padrões e metas que nos são estranhos, completamente alheios e estrangeiros. Paranoico é recorrer à exploração de energias importadas - em vez de explorar as que temos apenas porque potências internacionais ou multinacionais, a Leste e a Oeste, pretendem impingir-nos as suas tecnologias - regra geral obsoletas - e aqui implantar indústrias das quais não usufruímos vantagens mas apenas sofremos os custos ambientais. O caso do alumínio é a típica indústria devoradora de energia ou energívora, outras o serão de água - hidróvoras -, outras o serão ainda de outros recursos naturais portugueses. Implantando indústrias energívoras, o sistema pretende depois convencer-nos de que há metas a atingir.
Realista é saber que energias temos e podemos explorar para depois ligar a sua utilização necessariamente regionalizada - à maneira como produzir e ao tipo de coisas a produzir.
5 - O jacinto-de-água deixou de figurar na lista dos flagelos, para se incluir, com fortes razões de facto, na lista dos recursos naturais a explorar, desde que se descobriu que esta biomassa podia transformar-se em energia. Era só querer...
Que grande campanha não se deveria ter já feito, perante um tal recurso de energia disponível?
O jacinto-de-água, também conhecido por jacinto aquático ou desmazelos, é uma planta aquática, flutuante, que vive em águas doces; tem flor azul-lilás, longas folhas verdes, dispostas em tufos, com umas raízes grossas e suculentas, e outras compridas e normalmente delgadas, aparentando constituir, no conjunto, a forma de cabeleira.
Reproduz-se por sementes contidas em cápsulas, em número variável, chegando a atingir 5000 sementes por planta e mantendo por 15 anos o poder germinativo, resistindo à submersão e à dissecação e, propagando-se por meios vegetativos, alastra rapidamente, originando problemas e prejuízos de ordem vária. Assim, reduz as secções dos leitos dos rios, das valas de drenagem e dos canais de rega, dificulta a navegabilidade, diminui os caudais nas linhas de água, por obstrução, e aumenta a evapotranspiração cerca de 3,7 vezes mais do que a superfície livre das águas, nas mesmas condições. Por outro lado, verifica-se uma diminuição da fauna ictiológica nas áreas que invade e constitui planta hospedeira de insectos portadores de doenças do homem e animais.
Para exterminar ou conter o desenvolvimento vegetativo e populacional desta planta, não se dispõe, actualmente, de nenhum meio de luta, isolado ou combinado, que apresente resultados inteiramente satisfatórios. Por outro lado, esta operação torna-se mais difícil, por se tratar de um hidrófilo, e poder-se provocar desequilíbrios nos ecossistemas do meio aquático, desde que não se tenha em conta os componentes físicos, químicos e biológicos.
Introduzida em Portugal em data desconhecida, provavelmente como planta ornamental, foi inventariada entre nós, pela primeira vez, em 1939. A partir dos últimos anos tem-se desenvolvido bastante, espalhando-se por algumas regiões, especialmente no Ribatejo, numa zona que vem desde montante da Barragem de Belver até Vila Franca de Xira e há uma outra larga mancha, na foz do Sado, causando grandes prejuízos materiais, na ordem de milhares de contos. Pela experiência adquirida nos últimos anos, no nosso País, e pelo que se conhece do seu comportamento em outras partes do mundo, considera-se esta praga extremamente perniciosa.
Em face da gravidade da situação e de ser urgente desencadear acções específicas, de grande envergadura, coordenadas e integradas, porque deverão ser de natureza pluridisciplinar, o secretário de Estado do Ambiente, prof. Gomes Guerreiro, por despacho de 19 de Novembro de 1976, incumbiu o presidente da Comissão Nacional do Ambiente de coordenar uma campanha de combate a esta praga, em colaboração com outros organismos interessados. Estão já a participar nos trabalhos, além de técnicos da Comissão Nacional do Ambiente e do Serviço de Estudos do Ambiente, representantes das Forças Armadas, da Secretaria de Estado das Pescas, da Universidade de Aveiro, da Faculdade de Ciências de Lisboa, do Instituto Superior de Agronomia, da Direcção-Geral do Serviço de Fomento Marítimo, da Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos, da Direcção-Geral dos Serviços Florestais, da Administração-Geral e Capitania do Porto de Lisboa, do Laboratório de Farmacologia da Repartição dos Serviços Fitopatológicos e do Centro de Estudos Agronómicos da CUF.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1988

ARBORICÍDIO 1980

barrete-1- polémicas ac com o meio ambiente – inéditos ac de 1980 –  inédito ac 5 estrelas

ARBORICÍDIO OU UM PLANO ARBORICIDA?

21/5/1980 -Isto para já e para citar só os casos de que me chegaram informações. Mas, por estas amostras, que não são tão poucas como isso e que envolvem , no seu conjunto, milhares de árvores já arrancadas pela raiz, é de supor que o Plano Arboricida estará em curso numa área e numa escala muito vasta. Sem que nenhum paisagista tenha piado. O segredo, ao abrigo do qual tem sido executado este Plano (e pelos sinais já conhecidos não hesitamos em falar de Plano) leva a pensar que os casos até agora chegados ao nosso conhecimento são apenas uma pinga de água no oceano de destruição.
II
Agora  é talvez o momento de pôr os pontos nos iis e demarcar posições em relação a vários ingredientes em jogo nesta, pouco clara, manobra de distracção.
Devem os ecologistas, pelo menos, não se deixar misturar e confundir com esta carga da brigada ligeira de  amigos da natureza .

III
Para a gente acreditar que há sinceridade neste súbito amor pela natureza de técnicos e urbanistas que tão alegremente a têm ajudado a massacrar em inúmeras circunstâncias, seria interessante que à cruzada em defesa dos jardins de Academo se seguisse ou juntasse uma cruzada igualmente badalada pelos infatigáveis "mass media", explicando:
- Quantas árvores seculares têm sido abatidas nas áreas já indicadas e em outras de que não nos chegou informação (Mas os técnicos metidos nos serviços autárquicos com certeza sabem tudo)
- Que espécie de árvores são arrancadas e porquê? Se o critério é de antiguidade, em quantos séculos de existência se avalia as que foram ou vão ser abatidas? A que finalidade obedece a operação: puro vandalismo? Aproveitamento comercial das raízes? Lenha para queimar? Obtenção de espaço útil para ...parques infantis?
IV
"As árvores estavam secas" - é a desculpa que as autarquias põem a circular, difusamente, para adormecer a opinião pública, mas até hoje nenhuma declaração oficial, responsável, formal, pondo o preto no branco, foi dada por qualquer serviço.
"As árvores começaram a secar depois de uma fumigação química a que foram submetidas" - este é outro dos boatos postos a circular, difusamente, sem que um comunicado claro tenha sido emitido até hoje às populações.
"Foram atacadas de bicho e aplicou-se um produto químico que as secou..." - é outro boato que circula à boca pequena, nitidamente para enganar a gente.
A opinião pública exige que se saiba: Quem pulverizou? Porque se pulverizou? Se era para matar bicho e se matou árvores, que raio se passa?
V
Em casos concretos observados por testemunhas oculares, algumas dessas árvores dadas como secas e que portanto foram abatidas, já mostravam rebentos verdes, demonstrando que, afinal, não estavam tão secas como isso nem tão definitivamente.
Curioso e espantoso é que, num país onde tudo se adia e onde nada que seja produtivo anda, a serra mecânica voou célere para os locais adrede preparados, a cortar rapidamente as árvores ditas "secas" ...antes que elas reverdecessem. A cortar, veloz, antes que ficasse a nu a verdade: a árvore não secou, mas teria sido seca artificial e provisoriamente para justificar o abate. A pressa, num país onde só a destruição anda de pressa, não leva a concluir outra coisa.
VI
Em Lisboa, não há praticamente um jardim imune a esta campanha de preservação da Natureza e melhoria do Meio Ambiente , certamente integrada na Campanha de Preservação da Natureza recentemente lançada a nível mundial pela actual Secretária de Estado do Ambiente, drª Margarida Borges de Carvalho. Se ela me soubesse explicar o mistério das árvores abatidas por este País fora, eu diria que é uma secretária formidável.
Estrela, Campo de Ourique, Praça da Ilha do Faial, Príncipe Real, foram só alguns dos casos de que recebi telefonemas, cartas e avisos, ou que pessoalmente pude constatar. Mas ninguém melhor do que a Câmara Municipal de Lisboa para dizer quantas árvores, quando, como e porque foram abatidas. Povo amigo, a câmara  está contigo.
Nem a Imprensa, nem os urbanistas altamente preocupados com a clorofila, piaram até hoje sobre este escândalo que se tornou já rotineiro, apesar do espectáculo cruel de ver, dias a fio, raízes monumentais expostas à estupefacção pública.
VII
Que nos digam,  esses que nos convidam para colóquios e para assinar abaixos-assinados, o que se passa com as árvores gigantes deste País e para onde vão as raízes que, em alguns casos, são mais pesadas do que a própria árvore.
Como tais informações não têm sido dadas pelas entidades competentes estaria disposto a acreditar na sinceridade destes amigos da Natureza se, ao menos, tão heróicos, ajudassem a deslindar, de vez, este mistério das árvores abatidas por todo o País.

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MEP 1997

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21-5-1997

RESPOSTA AC ÀS PERGUNTAS DA MARTA LEANDRO PARA A REVISTA «FORUM AMBIENTE»

1 - - Foi um dos fundadores do MEP(Movimento Ecológico Português), nascido em 75, e acabou por ser visto como «enfant terrible» do ecologismo português, mas entretanto abandonou a «causa verde». É hoje um «ambiento-céptico»?
1 - Aquilo a que chama «causa verde» é que, pelos vistos, me abandonou. Desde que o Ambiente começou a dar lucro, dispensaram os meus préstimos, serviços e «know how». De vez em quando lembram-se de mim - especialmente sociólogos e etnólogos - para me perguntarem se ainda detenho aquela fabulosa documentação que fez da «Biblioteca para os Tempos Difíceis» uma das melhores da Península (depois do centro do México de Illich e depois da biblioteca do meu particular amigo José Carlos Marques). Mas, na maior parte dos casos, todo esse background informativo já foi, ou para o lixo, ou para as instituições de caridade (que o queimam no Inverno para aquecer os velhinhos sem lar), ou para o meu amigo Carlos Filipe Marreiros da Luz, de Portimão, que fez o favor de acolher dezenas desses caixotes com informação ecológica.

Nestas alturas de balanço, em que se dá volta à casa e só se encontra pó, cinza e nada, regra geral diz-se mal dos governos que não apoiam iniciativas tão lindas como foi o Movimento Ecológico Português, ou o Grupo Coordenador de Paço de Arcos. Mas os governos existem exactamente para não apoiar o que deviam, senão não eram governos, eram uns pelintras como eu, cuja dedicação àquilo que chama «causa verde» me leva a que seja o único jornalista português sem automóvel.
Quando vejo os meus colegas olharem para mim com um misto de comiseração e dó, acho de facto que me enganei na agulha, quando, em 1969, publiquei, nos «Cadernos do Século», o primeiro livro sobre ecologismo que apareceu em Portugal ou quando, em Fevereiro de 1975, fui ao décimo cartório notarial de Lisboa, com mais 5 amigos, para registarmos os estatutos do MEP. Sigla e nome que, anos mais tarde, quanto o ambiente começou a dar lucro, os camaradas do Partido Comunista nos roubaram sem aviso prévio e sem sequer dizerem «lá vai assalto».
Detesto rememoriar estas tolices, pois até parece que estou ressaibiado, quando na verdade estou reconhecidíssimo a toda a esta gente. Se não fossem esses e outros que andaram sempre a chular-me as ideias e a chutar-me de todos os sítios e lugares onde quer que se possa ter um cagagésimo de Poder, eu não tinha chegado, em Março de 1992, aos 59 anos, ao Etienne Guillé, meu clarão de Damasco e, entre outras coisas, autor de uma Ecologia Alargada como sempre a entendi, no meio dos naturais e inevitáveis mal-entendidos com todos em geral e com os que se dizem ecologistas em particular.

2 - Apesar da amargura que se pode depreender das suas palavras, sei que se tornou um optimista. Ao trocar o efémero da Ecologia - efémero porque a destruição ecológica põe em causa a continuidade da Terra - ganhou a certeza da eternidade?
2 - Sem regresso às fontes do sagrado, continuaremos a beber na fonte do Chafurdo que é toda a civilização ocidental, último estertor de uma Era zodiacal particularmente macaca que foi a Era dos Peixes.
Agora que mudámos de Era - em 26 de Agosto de 1983, ao meio dia - eu pergunto-me o que é que andamos aqui a fazer, a fingir que somos isto, aquilo ou aqueloutro. A única coisa a fazer é fitar de frente a Eternidade, como faz a Esfinge, e saber que os pontos cardiais são agora outros. E que temos o Paraíso (inclusive ecológico) nas nossas mãos e ao dobrar da esquina.
O único obstáculo é que o Mundo dos três M (Merda, Morte, Mentira) continua a ser rentável para muito boa gente, especialistas, grupos, ciências, indústrias, pelo que vai demorar um tempo até que um universo estruturado e programado pela Era zodiacal do Aquário, uma das mais sublimes que o Cosmos já emitiu, possa emergir.
A Ecologia redutora e reducionista dos actuais grupos e militantes não leva em consideração esse macro-ambiente que é o canal cósmico que nos estrutura o ADN da célula e provoca a nossa alquimia de base. Ecologia sem alquimia e as restantes 12 ciências sagradas, deixou de me interessar. Ecologia planetária é um acidente, o Planeta terra é um acidente geográfico, e a quem mitifica a Mãe Terra eu gosto de dizer que me apetece mais chamá-la de megera. O telurismo cansa-me. Ou levamos em consideração a nossa dimensão de seres humanos, entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, ou andamos a perder o nosso rico tempo e a fazer perder o dos outros.

É a reflexão possível aos 64 anos. E o que me dá mais pena nos jovens é não poderem perceber, aos 20, o que é isso de ter 64 anos. Tudo se relativiza, quando caminhamos, através da noite, para a Claridade do outro lado.
Sabe que o chamado «Livro dos Mortos Egípcio» (um dos meus livros de cabeceira) se intitula afinal «Abertura à Iluminação»?

2 - - Depois de tantas batalhas travadas e escritas, porquê mesmo assim um silêncio tão sepulcral? Já não vale a pena defender o Planeta?
2 - Gosto do «silêncio sepulcral». Um dos dossiês que ainda não rasguei, tem por fóra o rótulo «Silêncios & Silenciamentos», ou seja, guarda os «temas malditos» que, através dos anos, foram silenciados ou caindo no esquecimento. Quer no lado da Entropia (o que chamo de tecnoterror industrial), quer no lado da Neguentropia (o que chamo de tecnologias eco-alternativas), os silêncios são mais que muitos. O sistema que vive de ir matando os ecossistemas tem um aparelho de contra-informação bem montado. Mas eu acho que as pessoas - dando audiência às televisões e comprando o papel dos jornais - têm os silêncios, a desinformação e a contra-informação que merecem. Estamos, não esqueça, na Era do Virtual e ninguém como Baudrillard, num livrinho precioso sobre «simulacros», terá teorizado tão bem esse virtual. De que a informação Internet é apenas um dos tentáculos.
Que jornais e telejornais ajudam muito a silenciar as questões decisivas para o futuro do Planeta e do ser humano, é um facto. Contra o qual não tenho nada, além de pura e simplesmente não aderir. E de me estar nas tintas para os destinos do Planeta e ninharias semelhantes.
Considero que a democracia criou os seus fascismos peculiares e que o homem dimensional de Marcuse atingiu, também entre nós, a perfeição. Viva o mundo tolatitário, pois!

3 - Tornou-se ao mesmo tempo um crítico das associações ambientalistas da actualidade, as mesmas que directa ou indirectamente ajudou a criar. Como é que isso aconteceu?
3 - Houve um tempo do movimento ecologista, de pendor anarquisante, em que toda a gente criticava toda a gente. É uma forma de expressar o desespero de não se poder agir verdadeiramente pelo que supomos verdadeiro e justo. Aliás, de todos os desperdícios que se produzem nesta sociedade de consumo («do luxo e do lixo», como a baptizei) o desperdício de palavras, de tempo, de energias é um dos que mais me horripilam hoje. Quando os jovens de hoje tiverem os meus 64 anos vão compreender porquê. Uma das campanhas em que, desde 1975, me empenhei - um Programa Nacional de Reciclagem Sistemática - depois de ser ignorada acabou por ser recuperada por algumas autarquias, que recebem em troca fundos e mais fundos comunitários, preço a pagar por todos os progressos que a Europa nos irá cá metendo como quem enfia um supositário delicado.

4 - A Ecologia deixiu de ser um ideal para se tornar um folclore?
4 - A ecologia tornou-se no que o próprio sistema quis que se tornasse, por mais que alguns grupos ecologistas andem a fingir independência. Um dos que melhor fingem é o «Green Peace». Uma vez que os problemas ecológicos só podem ter solução, mudando de sistema - e ninguém quer nem pode mudar, porque vive dele - é evidente que só podem subsistir na base do folclore para atrair militantes.
As verdadeiras questões da crise ecológica não só não são atacadas como irão agravar-se, através de secas e dilúvios, as duas faces da mesma realidade: a alteração deliberada e provocada dos climas.

5 - O progresso tornou-se no anti-progresso? E este percurso seria evitável?
5 - O percurso actual nunca poderia ser evitável. Desde os anos 70 que patetas como eu vinham dizendo que ou se mudava tudo ou tudo seria irreversível. Ninguém mudou nada. Só que já dava para governos e poderes tomarem juízo, mas nada indica que isso aconteça. O discurso sobre o delírium tremens das autoestradas, sobre a lepra de Alqueva, sobre o cancro dos gasodutos, sobre a megalomania de todos os projectos megalómanos e assassinos, diz-nos que políticos e economistas vão continuar a piedosa obra de destruição que com a industrialização têm emprendido.
Os chamados «estudos de impacto ambiental» com que todos (incluindo ecologistas) enchem a boca, são uma boa anedota, ou uma boa «história para camelos», como gostava de dizer o meu ex-director Rudolfo Iriarte.
Progresso, para mim, só tem sentido o «progresso do ser humano enquanto ser humano», capaz de desenvolver as suas potencialidades divinas. Os chamados progressos do desenvolvimento sempre tive o cuidado de lhes chamar «retrocessos». E acho que tenho razão.
Portugal 96 está em retrocesso acelerado para o abismo. Mas não sou eu que vou mexer uma palha para o impedir. Quando os senhores do Governo quiserem um consultor ecologista, terão de me pagar à hora e a preço de ouro. O que tinha a dar a este País já dei e acho que dei de mais.
Se quiserem continuar a correr para o abismo, corram e que lhes faça muito bom proveito.

6 - Quando era militante ecologista, gostava de ser referido como «anarca não-institucional». É vegetariano, não usa elevadores , não fuma, não anda de carro. A ecologia é também anarquia?
6 - Sinceramente não me lembro dessa do «anarca não institucional» mas se a Marta o diz é porque foi. Hoje prefiro ser conotado com a extrema direita e dá-me certo gozo pensar que, ao pé de mim, o Paulo Portas é um perigoso esquerdista.
Aliás, a questão dos rótulos que nos colocam é daquelas coisas que ontem me irritavam e hoje me divertem. Há grupos especializados a criar a imagem deste ou daquele elemento mais indigesto ou incómodo. Um labéu que convém muito é o de «gajo mal disposto»: sempre que, numa situação de opressão, alguém refila ou protesta, é porque tem maus fígados. Ditadura e democracia têm alimentado até à perfeição este tipo de hipocrisia, que na política se chama demagogia e nos ex-comícios de esquerda se chamava provocação.
No fundo, os «sapos vivos» que nos condenaram a comer, antes e depois do 25 de Abril. Já os digeri e a minha capacidade para continuar, no dia-a-dia a dia jornalístico, a digerir estes sapos, é posta à prova. Se ainda não morri e continuo disposto a viver mais 64 anos, o melhor é mesmo tirarem o cavalinho da chuva. O que não mata, engorda.

6 - Na sua obra «Ecologia e Luta de Classes em Portugal», considera o ruído, tal como a publicidade, o tráfego automóvel e o consumo medicamentoso «crimes insidiosos» porque «se tornaram familiares e criaram, como qualquer outra droga, habituação. Daí até à naturologia foi um passo?
6 - Não renuncio a uma linha de tudo o que escrevi e publiquei (e escrevi demais), mas é evidente que acho essa nomenclatura do «crime» um exagero e só própria dos auges gonçalvistas revolucionários.
Sei que me recriminaram sempre a violência da linguagem, mesmo os meus amigos mais próximos como o José Carlos Marques ou o Carlos Filipe Marreiros da Luz. Ou o Prof. Gomes Guerreiro ou o Prof Delgado Domingos.
Dei-lhes sempre razão mas a única maneira de escapar à violência da linguagem para expressar a violência do ambiente, era calar-me. Calei-me, com proveito para todos.
E agora só a Marta me faz falar. Sem recidivas.
Termos que também me fazem um bocado de brotoeja são os de «vegetarianismo», «naturismo», etc, pois servem à maravilha para fazer cair no ridículo os menos simpatizantes da medicina oficial como eu. Não sou mesmo nada simpatizante, mas também não quero que me crucifiquem por isso. Calma aí, senão vou queixar-me ao Padre Milícias, franciscano como eu fui, quando soube que o santo de Assis fora o primeiro ecologista da Europa pré-industrial...
O que eu sempre referi foi a Ecologia Humana, ou seja, a Holística, ou seja, as tecnologias ecolternativas à medicina.
Foram 30 anos de «silêncio sepulcral» à volta desta minha ecomania. O que só prova que todo o mundo estava certo e só eu estava, estou e continuarei errado.
Valeu-me, para companhia nesta solidão, a descoberta do Taoísmo (um maravilhoso sistema de Neguentropia energética), do budismo tibetano e, desde 1973, o Etienne Guillé, o maior sistémico que conheço, entre o Céu e a Terra.

7 - O pêndulo, a radiestesia e as medicinas alternativas com base na auto-diagnose e auto-cura são hoje o seu mundo. A naturologia pode ser uma boa filosofia de vida para toda a gente?
7 - Agradeço ter concedido em fazer-me essa pergunta. Quando hoje falo do pêndulo de Radiestesia, sinto-me tal e qual como nos anos 60, a falar de Ecologia: ou seja, sinto-me a falar pró Boneco. Mas hoje ainda mais do que ontem. Porque a informação quântica simbolizada pelo Pêndulo de Radiestesia ultrapassa de tal modo o quadro actual das nossas referências, que de facto vamos viver ainda muito tempo uma conversa de surdos.
Se quiser resumir numa palavra o que hoje me interessa sem escandalizar os bem-pensantes e os polícias do pensamento, é a palavra «Energia(s)». Ler e compreender as energias, acho que foi isso, sempre, o que me mobilizou as energias e o pouco entusiasmo que fui pondo nas coisas.
Hoje posso dizer que, sobre energias, já não tenho crenças (há um mercado de crenças, hoje, no mercado das energias, como sabe), tenho apenas CERTEZAS, poucas mas boas.
O que me leva a trabalhar com o Pêndulo de Radiestesia as 48 horas do dia (disse 48, não disse 24). O resto, de facto, é lixo. Não reciclado.
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