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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-07-14

PETRÓLEO 1973

73-07-14-de> = diário de um ecologista – inédito AC de 1973 – eco-ecos

ESCASSÊS DE ORIGEM:PRIORIDADE À ECOLOGIA(*)

14/Julho/1973 - Notícias que os jornais já nem se dão ao trabalho de escamotear, vão anunciando a escassez em vários domínios: é de gasolina nos Estados Unidos, de trigo na URSS e em outros países, de papel para alguns jornais portugueses forçados a reduzir o número de páginas, de água um pouco por toda a parte.
Sempre, com a imperturbável calma de Panglosses, encaramos o facto economicamente e nada mais do que economicamente. Mais uns discursos sobre consumo per capita, mais uns protestos contra os fornecedores (e eles, contra quem protestam?), contra os serviços públicos que não servem o público (de facto não), mais um pouco de propaganda anti-comunista no caso da URSS e seu fracasso da política agrícola...
Enfim, a um lado e a outro não saímos dos argumentos político-tecnológicos, sócio-economicistas.
E, no entanto, o problema já começou a ser ecológico: quer dizer, a escassez é de raiz e não já, e não só como até aqui, de repartição mal feita, de administração ou gestão viciadas.
Como vamos sair deste impasse? E quando começaremos a compreender que a Prioridade, nos dez anos que nos restam para evitar a catástrofe, tem que ser indubitavelmente dada à Ecologia?
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no livro «Depois do Petróleo, o Dilúvio»(páginas 55-56), edição Estúdios Cor, Lisboa, Março de 1774
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HOLÍSTICA 1995

1-1 - 95-07-14-ah> ac dos projectos - 1465 caracteres -sdc-1>

CURSO DE GRAU I - MEDICINA HOLÍSTICA - O MÉTODO DA MÃO ESQUERDA

[14-7-1995]

Grelha aberta para ir incluindo os itens do curso de radiestesia holística:

Da radiestesia empírica tradicional à radiestesia holística - O método da mão esquerda - O uso do pêndulo para efeitos de telediagnóstico - Técnicas manipulatórias e sua total rejeição - O ser humano como aparelho de medida a detecção

Técnicas bio-terapêuticas: das energias cósmicas à bionergia do ser vivo e do ser humano, mediador entre céu e terra

Fontes antigas da sabedoria energética: Egipto da época dourada - Kaballah hebraica -Sufismo muçulmano - Taoismo chinês - Ayurveda hindu- Budismo tibetano

Fontes modernas da convergência quântica:Física das partículas (quântica) - Biologia molecular - Termodinâmica dos sistemas abertos - Abordagens sistémicas e holísticas modernas: da ecologia humana à radiestesia holística (Ecologia Alargada) - Cymatic (Campos de morfogénese cósmica)

Espectro-electromagnético da ciência moderna - Além e aquem do espectro electromagnético: área de eleição da radiestesia holística

Os nomes de deuses como nomes de energias na tradição egípcia:-

Desenvolvimento da comunicação (com o) «inconsciente colectivo» - Da psicanálise Junguiana à psicanálise sem psicanalista de Etienne Guillé - As memórias colectivas na memória individual: herança de 7 civilizações (hebraica, egípcia, hindu, mesopotâmica, céltica, atlante e lemuriana)
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SILÊNCIOS 1970

bomba-1> - os dossiês do silêncio

LUZ VERDE PARA A DESTRUIÇÃO(*)

14/Julho/1970 - "Coroada de êxito" - foi como as agências telegráficas consideraram a última explosão H da França, no seu atol da Muroroa ( Oceano Pacífico).
Ninguém tem dúvidas, claro, que foi um êxito e de que os objectivos foram atingidos. Só não se sabe (ou ninguém diz, embora saiba) a que preço e com que consequências, a curto e longo prazo. Só ninguém sabe quanto vai custar ao futuro mais esse êxito estrondoso do presente. No presente tudo certo, ou com aparência disso. Para o futuro, que inquietante interrogação nos leva a formular , uma vez mais, essa força nuclear de que a França oficial tanto se orgulha?
A propósito, lembramos a Conferência de Cadarache (1), convocada há um ano para alertar a humanidade sobre os perigos da poluição radioactiva. Precisamente em França se acendia a luz vermelha, que agora passou novamente a luz verde: não sem alguns protestos dos países vizinhos do Oceano Pacífico. Na referida Conferência de Cadarache sobre a Protecção Contra os Riscos da Poluição Nuclear dos Continentes, acentuava-se que, se nos Estados Unidos, a radioactividade oscila entre os 10 e 12 micro-roentgens, na Europa Ocidental não estamos longe dessa taxa.
Apesar de não existirem polígonos nucleares europeus, o nosso céu carregou-se, mesmo assim, de toda a espécie de poeiras projectadas em profusão pelas diversas explosões experimentais. A estas poeiras "quentes" das explosões, juntaram-se as substâncias radioactivas que libertam forçosamente as inúmeras aplicações industriais, médicas, agrícolas e científicas dos radioisótopo.
Entre a uti1ização bélica da energia atómica e as suas aplicações pacíficas, é difícil a escolha. Entre uma e outra, venha o diabo e escolha.
Só reactores nucleares existem hoje cerca de 500 em todo o mundo, dos quais 102 são "reactores de potência'', quer dizer, reactores que produzem resíduos radioactivos às dezenas de toneladas.
Dentro de 5 anos apenas, existirão mais de 300 centrais nucleares sobre o Globo e estas 300 centrais produzirão 8 vezes mais corrente eléctrica do que o conjunto actual das centrais nucleares de todos os países reunidos. Em 1980 , as centrais nucleares deverão fornecer ainda duas vezes mais corrente eléctrica do que em 1975. Isto significa que, dentro de 10 anos, o átomo estará na origem de quantidades de electricidade que corresponderão, sensivelmente, a 20 vezes a produção actual das centrais atómico-eléctricas.
Como em técnica não há milagres, as centrais nucleares de 1980 acumularão, fatalmente, mais resíduos radioactivos do que as centrais de 1970. Ora eleva-se já a dezenas de milhar de toneladas a quantidade de resíduos radioactivos lançados nos oceanos e mares nos últimos 25 anos.
Em 1968, só no Verão, França, Holanda, Bélgica e Inglaterra lançaram mais de 20.000 toneladas de resíduos radiactivos no Atlântico. Americanos e Russos fazem outro tanto.
Além de que nada nos garante de que os recipientes de betão e aço, nos quais foram encerrados os resíduos das centrais nucleares, não sejam um dia corroídos ou rebentados pelos movimentos dos fundos submarinos - e que, em vez de uma poluição progressiva, se assista então à invasão explosiva da terra por materiais radioactivos.
Sendo estas as perspectivas tão "animadoras" do átomo dito pacífico, não admira que, além de brilhante êxito, se considere a deflagração de mais uma Bomba como um refrescante alívio. A destruição lenta e a longo prazo, talvez seja preferível à outra que mata mais, melhor e mais depressa.
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(*) Publicado no jornal diário «Notícias da Beira” (Moçambique), 14/Julho/1970
(1) Cadarache é um importante centro de estudos nucleares (reactores utilizando plutónio) na margem esquerda do rio Durance, onde também existe uma famosa barragem hidroeléctrica.
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CÓDIGO 1993

1-2 - 93-07-14-eh> = ecologia humana - 2371 caracteres -nc-7> - regressos & silêncios - texto de 1984 restos - dez anos depois

14-7-1993

O NOVO CÓDIGO PENAL DE 1982

-> NOTÍCIAS DA CLANDESTINIDADE
-> TEMAS DE ECOLOGIA HUMANA

A pena de prisão até seis meses ou multa até 50 dias, prevista no artigo 148 do Código Penal de 1982, tem atenuantes, desde que o «agressor» seja médico e que as «ofensas no corpo ou na saúde» provocadas «no exercício da sua função» não causem doença ou incapacidade para o trabalho por mais de 8 dias.»
«Intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos», matéria contemplada no artigo 150º do Código Penal, também despenalizam substancialmente a medicina:
Conforme refere o artigo 150º, «as intervenções e outros tratamentos que, segundo o estado dos conhecimentos e da experiência da medicina, se mostram indicados e foram levados a cabo, de acordo com as «leges artis», por um médico ou outra pessoa legalmente autorizada a empreendê-los com intenção de prevenir, diagnosticar, debelar ou minorar uma doença, um sofrimento, uma lesão ou fadiga corporal ou uma perturbação mental, não se consideram ofensas corporais. »
[publicado]: Os «crimes de perigo comum» previstos no novo Código Penal de 1982, relacionam-se directamente com a segurança quotidiana do cidadão, devendo o consumidor conhecer este texto legislativo fundamental que eventualmente o poderá defender... Especificando esses «crime de perigo comum» em duas secções - «a) incêndios, explosões, radiações e outros crimes de perigo comum; b) dos crimes contra a saúde» - o novo Código Penal de 1982, integrou na legislação portuguesa conceitos e factores respeitantes à «qualidade de vida» que ainda há três décadas eram novidade...
Considerado, assim, bastante «evoluído» no contexto jurídico europeu - por integrar conceitos e factores já com algumas décadas de história... - o Código Penal publicado no «Diário da República», I série, em 23 de Setembro de 1982, anda ainda a ser estudado pelos técnicos, não tendo chegado à opinião pública naqueles capítulos que mais directamente a podiam interessar na medida em que mexem com a nossa integridade física imediata. De facto, o novo Código Penal, é um dos textos jurídicos portugueses em que os direitos do cidadão foram minimamente lembrados. Significativo é que, 11 anos depois da sua publicação oficial, ninguém se lembre disso: já ou ainda?
[transcrevemos os artigos referentes à secção II do já referido capítulo III - Dos Crimes de Perigo Comum]
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IMPERIALISMO 1976

76-07-14-NF> cac76> cartas de ac em 1976 - repescagem - chave para as ideias dele - matéria possível de temas e respostas à entrevista-testamento que hei-de dar no dia de s. nunca - não encontro o file ficcªar10.wri> (era folha de rosto e foi parar com certeza ao lixo) onde escrevia, mais tarde, estes antecedentes à dita carta que hoje vou repescar:

ECOLOGIA COMO ACTIVIDADE LÚDICA

De um militante ecológico em vias de vender a alma ao diabo, ao sr. Smith campbell, director da multinacional petrolífera anchovas, pedindo que o admita como consultor -(cartas ac para ac ficcionar)- nomes ocorrentes neste inédito ac : Josué de Castro e Herbert Marcuse - (a quem é dirigida esta carta tão confessional, tão memorialística, tão sintetizante, tão holística? Quem é Francisco Simão, para eu entrar em tamanhas confidências?)
As cartas, assim filosóficas como esta, são boa matéria-prima para E-T. Basta, muitas vezes, intercalar a pergunta para a resposta que já está dada - verdadeiro crisol , em 1976 (há 22 anos!) de ideias mais tarde confirmadas, esta texto assinala, de facto, a mania antecipativa do senhor afonso cautela

Lisboa, 14/Julho/1976 - Francisco Simão: Aceito o desafio das suas perguntas: o diálogo com pessoas inteligentes é hoje uma das poucas coisas que se pode fazer sem desgosto nem angústia, uma forma desportiva, higiénica e alegre de passar o tempo.
As dúvidas por si levantadas já têm sido, como calcula, motivo de indagação e explicação da minha parte, em outras conjunturas; nem de outra maneira se explica a inflação de textos que sou mais ou menos compelido a escrever, sempre ou quase sempre pela necessidade de explicação e às vezes de auto-explicação.
É sempre necessário e como se comprova, voltar a coisas que já largamente estão ditas, escritas, repetidas, coisas que alguns, por outro lado, com muito senso e realismo, insinuam ser apenas bocas, mais merda do que outra coisa.
E aqui começa, Francisco, o jogo de ambiguidades, o arame sobre o qual o aprendiz de iniciado se baloiça enquanto existe e para existir.

- Que finalidade, que objectivo terá, afinal, toda esta agitação, toda esta luta, todo este sofrimento, toda esta angústia, toda esta merda?
Mas repare: porque terei eu, ou terá você, mais obrigação de explicar a própria luta, do que os outros, os que se demitem, os que desistem de trabalhar ou trabalham no campo da contra-revolução.
Se nada tem sentido, então o criminoso é igual ao homem honesto, o destruidor da Natureza igual ao seu defensor e tudo está afinal certo porque tudo está afinal errado.
Creio ser mais ou menos isto o que dizia o grande inquisidor do Dostoiewski, argumentando a favor da meritória acção que consistia em mandar inocentes para o cepo dos torresmos.
Se deus não existe, nada tem sentido, não há moral, não há bem nem mal.

- Repare, porém, que todos se agarram a qualquer tábua: partido, ideal, religião, lucro, negócio, obra, filho, etc. Na grande noite e no grande cáos, todos procuram um casulo de ordem.
Eu procuro-a fazendo o que faço e tal como o faço.

- Esta podia ser a primeira resposta à sua pergunta: «acredita ou não na possível vitória da luta ecológica».
- Não sei se acredito ou não, o que lhe posso dizer é que não faço depender da vitória ou da não vitória, lutar e continuar lutando.
Acredito tanto como os outros acreditam naquilo em que dizem acreditar, enquanto não se suicidam (pelo álcool, pela droga, num acidente de automóvel, de qualquer forma disfarçada ou explícita de autodestruição). Para lhe ser franco, estou pela cabeça sempre muito mais próximo da tentação do suicídio e do niilismo, mas pelo instinto, pelo temperamento, pela intuição e pela imaginação mais próximo da terra, da esperança, portanto, contrabalançando o que a cabeça exige.
Daí que a única coisa real seja esta oscilação (talvez ambiguidade, talvez dialéctica, talvez indefinição) entre os dois contrários, neste caso entre o desespero e a esperança, o niilismo e a crença.

- Mas independentemente desse motivo existencial (luto como todos nós porque não posso deixar de fazer alguma coisa para existir e sentir que existo), existem outros dois motivos que gostaria de lhe dizer; um, é estético; o outro, lúdico.
Quem tenha um mínimo de sensibilidade artística (condição necessária mas nem sempre suficiente paa a sensibilidade ecológica) fatalmente que fará pender o maior peso da sua escala de valores para onde a fealdade e a porcaria e o mau gosto não abundem...
De resto, para quem tenha um certo gosto pelo jogo e não goste de xadrez, nem de futebol, nem de hipismo, nem de ténis, nem de marchas pedestres, eis que a luta ecológica começa e acaba por ser também um jogo, como qualquer outro. Faço questão de reivindicar o direito de jogar o jogo que me apetece ...
Estranho muito que isto escandalize muito boa gente, cuja actividade preponderante consiste em condenar nos outros aquilo que, sob outras formas, eles próprios fazem; em condenar nos outros que não sigam o padrão lúdico que eles seguem: em jogar o bacará, a roleta, o andebol de sete, etc. mas não consentirem que outros joguem ecologia.

- Acreditar nisto ou naquilo, no anjo da ecologia ou nos bandidos da tecnocracia, não é questão teórica, mental, de cabeça, deliberação que a gente tome às tantas horas do dia tal. Construir uma crença ou deixar-se esmagar por uma descrença pode ser obra de uma vida inteira. É questão que nos envolve no total, vai bolir com aquela zona que é, ao mesmo tempo, a mais singular, a mais pessoal e a mais inviolável de nós próprios.
Para quem escreve , está nessa zona o segredo do que ele produzir, criar, escrever. Tocar nessa zona hipersensível pode ser destruir alguém ou ressuscitar alguém. Por questões domésticas, estou a curar-me há um mês de uma bolada perto dessa zona de melindre moral hipersensível... E nunca mais cicatriza.
Exigir dos outros, mesmo os mais íntimos, que sintonizem a nossa zona mais profunda e mais íntima da nossa intimidade é um dos tais absolutos que este mundo de coisas relativas nunca nos dá. Paciência, que é virtude bastante chinesa.
II
- Quanto ao sistema e seu poder recuperador do militante, o problema continua a ser mais do militante do que do sistema ...
Creio ter sido Marcuse e outros ideólogos subtis de um neo-imperialismo, quem assinalou o carácter fechado, circular e vicioso da sociedade unidimensional. Ninguém pode sair dela, porque ela acaba sempre por comprar e vender o produto, por mais contestatário que seja o produto.
Desconfio dessa tese, aliás aliciante, porque serve à maravilha a contra-revolução. Utopia seria lutar contra o sistema, porque o sistema quando não pode esmagar, recupera.

- É o mesmo que me perguntarem: «se o imperialismo viesse agora oferecer-me um preço, vender-me-ia ao imperialismo?»
- Com toda a franqueza e sem cinismo, devo dizer-lhe: depende do preço.
Até hoje ninguém me fez propostas desonestas. Mas como a ecologia se começa a vender, se alguém mas fizer, num momento em que por amor à arte estou em vias de comer sola ao almoço e corno ao jantar, talvez me vendesse e vendesse a alma ao diabo. Talvez nessa altura, muitos daqueles que até hoje nem um dedo mexeram para me ajudar, me caissem em cima, com a boca cheia de condenações, de raios e coriscos, condenando a minha feia acção.
Não é caso para pânico, porém: para gáudio desses críticos, ninguém me ofereceu até hoje preço que eu aceite, nem eu me vendo por preço barato.

- Daí que, pela segunda lei da termodinâmica, eu esteja convencido disto: a quantidade de energia positiva que introduzi no ecossistema, através de um esforço que, de facto, hei-de reconhecer com toda a modéstia, tem algo de absurdo e de colossal, num país de madraços, de preguiçosos, de palermas, de imbecis, de oportunistas e de atrazados mentais.
Estou absolutamente certo (a certeza que me dá a lei física, tão inalterável como a lei da gravidade) de que o yang deste yin que tem sido o meu esforço de parir diariamente um superavit de vida onde os outros vão deixando lixo e cadáveres, há-de florescer por algum lado: não por mérito meu, mas por mérito da natureza que desponta sempre e mesmo que a massacrem muito.
Do que duvido, porém, é que seja suficiente, se poucos mais se derem ao mesmo trabalho de introduzir vida no ecossistema, limitando-se à desgastante entropia de consumir, consumir & consumir, acompanhando essa proveitosa actividade autofágica de maciças destruições de oxigénio, água, solos, clima, património vegetal e animal, de homens e recursos humanos.

- Se haverá ou não futuro possível, depende desta corrida entre os dois corredores: quem chegará primeiro, quem destruirá o outro?

- Você quer que eu lhe responda. Mas ninguém lhe poderá responder porque isso equivalia a poder adivinhar o número da lotaria...
Só a Natureza lhe poderá responder, se houvesse o mínimo de silêncio para a poder escutar (o que chamo sensibilidade ecológica).
Não pode você, enfim, é basear a sua opção ecológica numa antecipada e prévia certeza de que o seu partido ecológico será o vitorioso.
III
- Os movimentos pseudo-esotéricos em que fala, parecem-me todos, de facto, do mais acabado pechisbeque, quando não são pura e simplesmente carapuços mal disfarçados de infiltrações contra-revolucionárias e imperialistas. Esses pseudo, aliás, têm também a função de denegrir e pejorar o verdadeiro esoterismo, que é uma poderosa arma anti-imperialista.

- Como toda a sensibilidade ecológica e toda a inteligência que funciona em espiral, como todo o ser cósmico que se descobre como tal, o amigo afinal procura a linha herética desta anti-civilização da Morte, da qual são afluentes autores, correntes, artistas, poetas, filósofos, alguns contra-cientistas, profetas e profecias que eclodem hoje, todos, na convergência chamada contestação ecológica.
É isto que não percebem os que julgam perceber mais de ecologia. Será esta a grande linha de rutura e de passagem para outra espécie humana que sucederá à espécie humana.
Pela linha da Heresia passa um mundo em gestação.
O surrealismo e o realismo fantástico são, no tempo, alguns antecedentes muito recentes. Digo-lhe que esse trabalho de historiar a heresia (o movimento ecológico através do tempo e do espaço, afinal) é o que há mais tempo me ocupa e me ocupa mais milhares de páginas escritas, inéditas, na gaveta...

IV
- Uma referência à sua última pergunta: a incompatibilidade entre Ecologia e explosão demográfica. Inevitável...
- Não é necessário recorrer a contra-ideólogos para encontrar a tese neo-maltusiana da explosão demográfica desmistificada: a China Popular e o pensador Josué de Castro demonstraram suficientemente esse sofisma do neo-imperialismo, esse neo-maltusianismo , provando o que o militante da ecologia já nem precisa de provar: que se trata de uma gigantesca e bem orquestrada campanha da internacional tecnofascista contra o terceiro e o quarto mundo da Fome e uma vez que a população é, deste 3º e 4º mundo, a última , definitiva e grande arma absoluta.
Creio mais nela, aliás, para fazer explodir o odre podre do imperialismo e do tecnofascismo, do que na modesta , pequeno-burguesa, idealista e angustiada acção de ecomilitantes como nós...
Aliado do 3º mundo, é no lumpen proletariado - excluído até das obras clássicas do marxismo - que o ecomilitante poderá apoiar-se para constituir um verdadeiro partido revolucionário de emancipação ecológica. Revolução tricontinental igual a revolução ecológica - escrevi algures e por diversas vezes.
Aliás, tudo isto escrevi algures e por diversas vezes a pedido de vários amigos e de várias famílias. Não faço outra coisa do que repetir-me. Tudo isto, meu amigo Francisco Simão, que me fez o grande favor de querer trocar umas impressões nesta imensa e cósmica solidão.
Seu, sempre que queira, Afonso Cautela
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