CIÊNCIA 1970
1-1 - 70-05-20-di> quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002-scan
UMA CIÊNCIA DAS CIÊNCIAS(*)
20/Maio/1970 - Já se falou na crítica como ciência - mas não terá sido outro vão propósito, não será outro pseudo-postulado, outro motivo de trágicos desperdícios, outra via errada de investigação?
A grande tarefa prospectiva, para hoje, será preparar o caminho certo da investigação, procurar na tecnologia ao dispor (em teoria, pelo menos, ao dispor dos homens) aquilo que pode servir para auxiliar o aprendiz nessa e noutras tarefas em que continua a imperar o artesanato, o amadorismo, o improviso, o subdesenvolvimento mental.
Fala-se do computador que escreve poemas e pinta quadros.
Outra via falsa, outra fruste maneira de entender como a técnica afectará e auxiliará a humana criação. Não se trata de substituir o específico do homem - exactamente a imaginação criadora, logo o quadro ou o poema - mas o instrumento crítico que ele aplica à selecção das obras criadas por essa imaginação. Não é à imaginação mas à faculdade de crítica e análise e medida (em suma, de ciência) que a tecnologia prestará, terá de prestar valioso auxílio.
Mais importante do que andar a navegar nas pantanosas águas de um experimentalismo oco - que preconiza o poema escrito por computadores, para se dizer à la page da vanguarda científica - mais importante, de um ângulo prospectivo, é perguntar como irá contribuir o computador para decidir, entre mil poemas e mil poetas, qual o que serve, quais os que servem
Este caos medieval de mil e uma opiniões, esta anarquia de ismos - na pintura, na poesia, no cinema, na filosofia, na política, na sociologia -, esta proliferação de teorias opostas, esta polémica, esta guerra civil acesa no coração dos homens é que é um estado barbárico que tem de terminar. E que terminar rapidamente com a ajuda dos instrumentos que permitem acelerar o pensamento humano, dar-lhe a velocidade necessária para acompanhar a matéria de estudo e análise.
Uma ciência das ciências será, de facto, mais do que nunca necessária. Uma teoria geral das ciências, uma plataforma interdisciplinar, uma epistemologia, uma propedêutica, uma axiologia, enfim, uma Prospectiva, palavra que talvez sirva para designar tudo isso.
O educando - ou seja, todos os homens de amanhã - não pode desgastar-se nesta estéril pesquisa contra si próprio. Há que substituir, e depressa, os métodos de análise. A crítica é, entre outras, uma trágica e absurda anomalia do nosso subdesenvolvimento intelectual. A intérmina guerra entre materialismo e idealismo - séculos de esterilizante discussão! - tem de ser resolvida por outros meios que não apenas os do cérebro humano. Porque máquinas vivas da Dialéctica não nascem todos os 22 de Abril de 1870.
A Humanidade deve muito a essas excepções de excepções mas uma maneira prospectiva de ver as coisas exige que as excepções - com o auxílio da tecnologia - se tornem a regra. Porque também o surto da individualidade ou personalidade de excepção é uma maneira antiquada de ver e resolver os problemas. E ainda uma sobrevivência do pensamento mágico, o "culto da personalidade".
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado, obviamente, inédito, já que nem valia a pena ter sido escrito.
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UMA CIÊNCIA DAS CIÊNCIAS(*)
20/Maio/1970 - Já se falou na crítica como ciência - mas não terá sido outro vão propósito, não será outro pseudo-postulado, outro motivo de trágicos desperdícios, outra via errada de investigação?
A grande tarefa prospectiva, para hoje, será preparar o caminho certo da investigação, procurar na tecnologia ao dispor (em teoria, pelo menos, ao dispor dos homens) aquilo que pode servir para auxiliar o aprendiz nessa e noutras tarefas em que continua a imperar o artesanato, o amadorismo, o improviso, o subdesenvolvimento mental.
Fala-se do computador que escreve poemas e pinta quadros.
Outra via falsa, outra fruste maneira de entender como a técnica afectará e auxiliará a humana criação. Não se trata de substituir o específico do homem - exactamente a imaginação criadora, logo o quadro ou o poema - mas o instrumento crítico que ele aplica à selecção das obras criadas por essa imaginação. Não é à imaginação mas à faculdade de crítica e análise e medida (em suma, de ciência) que a tecnologia prestará, terá de prestar valioso auxílio.
Mais importante do que andar a navegar nas pantanosas águas de um experimentalismo oco - que preconiza o poema escrito por computadores, para se dizer à la page da vanguarda científica - mais importante, de um ângulo prospectivo, é perguntar como irá contribuir o computador para decidir, entre mil poemas e mil poetas, qual o que serve, quais os que servem
Este caos medieval de mil e uma opiniões, esta anarquia de ismos - na pintura, na poesia, no cinema, na filosofia, na política, na sociologia -, esta proliferação de teorias opostas, esta polémica, esta guerra civil acesa no coração dos homens é que é um estado barbárico que tem de terminar. E que terminar rapidamente com a ajuda dos instrumentos que permitem acelerar o pensamento humano, dar-lhe a velocidade necessária para acompanhar a matéria de estudo e análise.
Uma ciência das ciências será, de facto, mais do que nunca necessária. Uma teoria geral das ciências, uma plataforma interdisciplinar, uma epistemologia, uma propedêutica, uma axiologia, enfim, uma Prospectiva, palavra que talvez sirva para designar tudo isso.
O educando - ou seja, todos os homens de amanhã - não pode desgastar-se nesta estéril pesquisa contra si próprio. Há que substituir, e depressa, os métodos de análise. A crítica é, entre outras, uma trágica e absurda anomalia do nosso subdesenvolvimento intelectual. A intérmina guerra entre materialismo e idealismo - séculos de esterilizante discussão! - tem de ser resolvida por outros meios que não apenas os do cérebro humano. Porque máquinas vivas da Dialéctica não nascem todos os 22 de Abril de 1870.
A Humanidade deve muito a essas excepções de excepções mas uma maneira prospectiva de ver as coisas exige que as excepções - com o auxílio da tecnologia - se tornem a regra. Porque também o surto da individualidade ou personalidade de excepção é uma maneira antiquada de ver e resolver os problemas. E ainda uma sobrevivência do pensamento mágico, o "culto da personalidade".
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado, obviamente, inédito, já que nem valia a pena ter sido escrito.
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