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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-20

CIÊNCIA 1970

1-1 - 70-05-20-di> quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002-scan

UMA CIÊNCIA DAS CIÊNCIAS(*)

20/Maio/1970 - Já se falou na crítica como ciência - mas não terá sido outro vão propósito, não será outro pseudo-postulado, outro motivo de trágicos desperdícios, outra via errada de investigação?
A grande tarefa prospectiva, para hoje, será preparar o caminho certo da investigação, procurar na tecnologia ao dispor (em teoria, pelo menos, ao dispor dos homens) aquilo que pode servir para auxiliar o aprendiz nessa e noutras tarefas em que continua a imperar o artesanato, o amadorismo, o improviso, o subdesenvolvimento mental.
Fala-se do computador que escreve poemas e pinta quadros.
Outra via falsa, outra fruste maneira de entender como a técnica afectará e auxiliará a humana criação. Não se trata de substituir o específico do homem - exactamente a imaginação criadora, logo o quadro ou o poema - mas o instrumento crítico que ele aplica à selecção das obras criadas por essa imaginação. Não é à imaginação mas à faculdade de crítica e análise e medida (em suma, de ciência) que a tecnologia prestará, terá de prestar valioso auxílio.
Mais importante do que andar a navegar nas pantanosas águas de um experimentalismo oco - que preconiza o poema escrito por computadores, para se dizer à la page da vanguarda científica - mais importante, de um ângulo prospectivo, é perguntar como irá contribuir o computador para decidir, entre mil poemas e mil poetas, qual o que serve, quais os que servem
Este caos medieval de mil e uma opiniões, esta anarquia de ismos - na pintura, na poesia, no cinema, na filosofia, na política, na sociologia -, esta proliferação de teorias opostas, esta polémica, esta guerra civil acesa no coração dos homens é que é um estado barbárico que tem de terminar. E que terminar rapidamente com a ajuda dos instrumentos que permitem acelerar o pensamento humano, dar-lhe a velocidade necessária para acompanhar a matéria de estudo e análise.
Uma ciência das ciências será, de facto, mais do que nunca necessária. Uma teoria geral das ciências, uma plataforma interdisciplinar, uma epistemologia, uma propedêutica, uma axiologia, enfim, uma Prospectiva, palavra que talvez sirva para designar tudo isso.
O educando - ou seja, todos os homens de amanhã - não pode desgastar-se nesta estéril pesquisa contra si próprio. Há que substituir, e depressa, os métodos de análise. A crítica é, entre outras, uma trágica e absurda anomalia do nosso subdesenvolvimento intelectual. A intérmina guerra entre materialismo e idealismo - séculos de esterilizante discussão! - tem de ser resolvida por outros meios que não apenas os do cérebro humano. Porque máquinas vivas da Dialéctica não nascem todos os 22 de Abril de 1870.
A Humanidade deve muito a essas excepções de excepções mas uma maneira prospectiva de ver as coisas exige que as excepções - com o auxílio da tecnologia - se tornem a regra. Porque também o surto da individualidade ou personalidade de excepção é uma maneira antiquada de ver e resolver os problemas. E ainda uma sobrevivência do pensamento mágico, o "culto da personalidade".
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado, obviamente, inédito, já que nem valia a pena ter sido escrito.
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ABJECÇÃO 1968

1-2 - 68-05-20-di- 3670 caracteres - int-1968-diario

ESTRUTURA Nº 1 DA ABJECÇÃO:
VENCIDOS E VENCEDORES

Lisboa, 20/5/1968

# Forum dos Aflitos
# Discurso de um vencido incurável
# Intuições AC
# Tese  de AC

[ repes. 20/2/1992 - embora com algumas intuições interessantes, este texto terá que continuar aberto a modulações e actualizações, pela responsabilidade contida em certas afirmações que precisam de background histórico e factual confirmativos: mas, por isso mesmo, dá uma grelha interessante - eventualmente a ficcionar, exactamente devido às suas inexactidões e irregularidades, postas na boca de um personagem e não na minha... para novos teclamentos]

20 séculos de comércio , competição, violência, não deixaram imune nenhum sector da actividade humana. Por toda a parte, a «pessoa humana e sua eminente dignidade», proclamada pelos discursos que sancionaram, na sombra, indirecta e implicitamente, a violência, foi de facto corrompida pela moral da violência e da cupidez, do lucro e da vingança. Nada escapou e nem [ ??? ] as obras de arte, as superestruturas mais delicadas [???] , se encontram, em princípio, [a salvo] isentas da corrida competitiva [ há aqui uma ideologia da hierarquia implícita , pois faz a distinção das «grandes obras» e sua esperada «pureza»].
[[A arte encontra-se, às vezes, sem querer e sem o saber, ao serviço destes propósitos e poucos foram os artistas que, por um esforço próprio, se aperceberam da sua servidão e a superaram. Esses constituem as excepções que interessa descobrir. Independentemente do talento que puseram na construção da obra, interessa saber em que medida venceram as contradições impostas pela ]] sociedade da violência, do lucro, da compra e venda,  que tudo reduziu ou procurou reduzir aos termos da sua dilemática: vencedor (o bom) e vencido (o mau).
A didáctica das sabatinas, que os jesuítas aperfeiçoaram, vigora hoje em todos os degraus do edifício hierárquico e constitui a sua quintessência metafísica. Não há organismo ou estabelecimento que não assente na promoção competitiva , no jogo de lucros e de interesses, no exame de apuramento [e sua gestão]. E não há nenhum cidadão que possa escapar de lá entrar.

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CONSUMOS 1981

ecorealismo-9> - obvia e necessariamente inédito de 1981 - chave ac – os dossiês do silêncio – memórias da frente – os guardas do gulag

II – OS CONSUMOS

20/5/1981 - O adubo, o medicamento, o aditivo e o corante (alimentar) são violências que entidades multinacionais cada vez mais vagas, vastas e abstractas lançam no dia a dia do cidadão consumidor, sem que este tenha meios para se defender ou alguém para onde apelar.
Os consumos são, aliás, um campo cheio de armadilhas onde o intrínseco risco inerente ao produto químico se torna ainda mais fechado porque soma mais um alibi a todos os outros alibis com que os crimes quotidianos se costumam recobrir: o produto é anunciado, publicitado, aconselhado e receitado pelo senhor doutor (que aparece de bata branca na televisão a cores) para benefício, gozo ou paladar etc do consumidor.
Não há nenhum veneno que se meta pela boca abaixo do feliz cidadão que não seja para bem da sua saúde e das suas papilas gustativas.
Mata-se dizendo que dá mais vida.
Expolia-se e rouba-se a bolsa do consumidor dizendo-lhe que poupa, poupa, poupa.
Atrofia-se-lhe os rins com flúor dizendo que se evita a cárie.
Dá-se ácido sulfúrico sob a forma de gordura vegetal dizendo que torna tudo mais apetitoso.
Enfim, intoxica-se, envenena-se, adoece-se dizendo que conserva, ajuda a triunfar nos negócios, a ter sorte no casamento, a ser campeão no desporto.
Foi o Jean Luc Godard que chamou fascismo quimicamente puro à publicidade, não fui eu.
Mas dada a impopularidade de levantar estas questões ecológicas a este nível das contradições que tecem o industrialismo moderno com toda a "imprensa independente" ao seu serviço, fiquei louco de júbilo quando entrou a matar e com uma coragem dos diabos o meu amigo Dr. Beja Santos em defesa do consumidor.
Felizmente que ele tomava a vanguarda desta cruzada contra os consumos, pelo que eu logo pude abrandar a marcha e ir tomar umas banhocas à praia de Paço de Arcos. Tinha agora mais tempo livre, e melhorava assim a minha qualidade de vida. Deixava de andar à taroucada com os consumos todos e as armadilhas e as provocações do consumismo.
A grande popularidade do Afonso Cautela deve-se aos artigos que impopularmente ele ainda teimou em escrever numa fase muito recuada das suas ilusões de ecologista barato.

Mais recentemente pude comprovar que alarmista , afinal, mais uma vez fora eu, desde 1971, com artigos a chamar cancerígenos aos produtos que até são bons para a saúde, medicamentos incluídos.
Ainda bem que surgiu a DECO, o Ralph Nader, a Proteste, a Conteste, o "Come e Cala", os "10 Milhões de Consumidores", ainda bem, escuso eu de me andar pra aí a consumir denunciando consumos cancerígenos, que nunca mais acabam, mal se esgalha um já espreitam no horizonte mais de mil.
Até o PNUMA veio das Nações Unidas em meu auxílio, para festejar um Dia Mundial do Ambiente, já não posso precisar bem qual, aí por 77 ou 78. E disse o Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente do escândalo químico. Cancro que se come com gosto - continua ainda a dizer a Televisão pela cagagésima vez.
É preciso alertar as massas, dizem os progressistas sempre aflitos com as massas.
Mas alertar o quê, se as massas comem e lambem-se, e se não há alternativas para a trampa química, que os mesmos progressistas têm feito tudo para boicotar as alternativas em geral e as alternativas à química ?
Alertar o quê, a partir do momento em que Petróleo é mais venerado que o senhor dos Paços?
Quem tem petróleo tem cancro e segundo me dizem ninguém quer passar sem petróleo.
Então tenham cancro, chiça, não me chateiem e pronto: nem mais uma artigalhada sairá desta esferográfica em defesa do bom povo trabalhador que come cancro dado pelos seus protectores, amigos e patrões.

Quanto à pílula é que foi o bom e o bonito, também no semanário "Voz do Povo" quando se levantou o problema desse fascismo que a Esquerda ainda advoga com mais força do que a Direita, bem assim o aborto e outros métodos, ditos de "planeamento familiar".
Os sexo-ismos têm os seus advogados principalmente na Esquerda, de onde se pode concluir o êxito editorial das edições e intervenções "Frente Ecológica" sempre que se metia nessas áreas mais do que proibidas.
Com a pílula e os sexo-ismos estamos no coração do ismo maltusiano, de onde praticamente derivam os principais ramos, inclusive os eco-ismos que tão bons serviços estão prestando.
A polémica em que me envolveram sobre Pílula no semanário "Voz do Povo", mostra até que ponto um tipo se arrisca a ser linchado na praça pública, se porventura tiver o arrojo de estar pela vida contra todos os ismos.
Os mecanismos burocráticos, o papel selado, o cronivorismo das repartições, são, apesar de violências, temas de óbvia impopularidade, já não digo na Direita, o que seria lógico mas entre os homens de Esquerda.
A burocracia em geral e a tecno-burocracia em especial conta com a censura prévia, à Direita e à Esquerda.

As poluições vistas neste contexto de violências exercidas sobre a integridade física do cidadão são igualmente objecto de censura.
Verifica-se um pululante discurso folclórico sobre poluição mas exactamente para a neutralizar, arrumando-a no âmbito do lixo para nunca a ver e denunciar como crime.

As obstruções da via e da vida pública feitas por greves são, como toda a gente sabe sem ter coragem de o dizer, outra forma de opressão e violência de uma minoria profissional sobre o povo, opressão que tem evidentemente o consenso tácito de todos os órgãos de informação, à Esquerda e à Direita.
Todo o bico se cala a fecho éclair. E nem já Deus ou Marx distingue uma greve justa da greve destinada pura e simplesmente a chatiar até ao paroxismo o povinho, a desestabilizar a política, a arruinar a economia já arruinada, a fazer subir ainda mais a inflação, enfim, a reprimir directa e indirectamente ainda mais o povinho em geral. O povinho que não pode fazer greve porque não está organizado e enquadrado para isso.
E eles, manipuladores de greves, bem o sabem.
Mas a verdade "democrática" pura e simples é esta: para lá do povinho que sofre as consequências das violências sobre ele exercidas, quem paga as favas todas desta mentira sistemática é a própria Democracia, cravada de chulos por todos os lados que a vampirizam e vão entregando às mãos imperialistas da Europa, dos Estados Unidos, do Leste e do Oeste.
Também aqui se aplica a fábula mais popular em Portugal depois do 25 de Abril: distrair o povo com o carreiro de formigas, para a manada de Elefantes passar.
E os elefantes, para quem não saiba, são à esquerda e à direita, a ver quem entra primeiro.
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PSIQUIATRIA 1990

saraiva-1> notas de leitura – inédito ac de 1990 – texto de 5 estrelas

O CASO CLÍNICO DA PSIQUIATRIA - APROPÓSITO DO LIVRO DE MÁRIO SARAIVA «O CASO CLÍNICO DE FERNANDO PESSOA» - A MEDICINA COMO SISTEMA REPRESSIVO EXEMPLAR

Quando se julgava completamente fora de perigo, o caso da Psiquiatria académica agrava-se.E tem recidivas graves, como este livro escrito por Mário Saraiva, sobre "O Caso Clínico de Fernando Pessoa". Volta-se o feitiço contra o feiticeiro

Só ha uma posição sexualmente correcta , moral, certa e relevante: mandar a psiquiatria e os psiquiatras, todos, para o inferno. E que lhes faça bom proveito.

Fernando Pessoa morto nunca mais acaba de alimentar os vivos. Depois de servir para nome de uma loja maçónica, vê-se outra vez alvo do ataque médico, que acaba de deslindar o seu "caso clínico" com base em documentos comprovativos. Parafraseando Antonin Artaud, "os que vivem, vivem dos mortos".


20/5/1990 - Se o próprio Fernando Pessoa, em carta a Gaspar Simões (11/12/1931), se classificava de "histeroneurasténico" com predominância do elemento histérico na emoção e do elemento neurasténico na inteligência e na vontade", deixou campo aberto e lícito para que a medicina psiquiátrica o declare, mesmo post-mortem, um "caso clínico", como faz, em livro publicado pela editora Referendo, o Dr. Mário Saraiva, médico de clínica geral mas interessado nos casos patológicos que deram obras de arte.
Se é certo que o Dr. Mário Saraiva duvida que Fernando Pessoa seja um génio, não vendo grande beleza nas suas poesias, não deixa no entanto de o considerar um "poeta interessante" como nos disse em conversa amena.
Mesmo na "Mensagem", Mário Saraiva já julga perceber sinais de uma certa "perturbação" e de "dissociação psíquica" que viria a culminar numa "esquizofrenia paranoide", facto que o leva a aprofundar pormenores da "doença mental" de que o poeta padecia.
E como as confissões de Fernando Pessoa , devido à sua incurável "graforreia" (''não parava nunca de escrever" exclama Mário Saraiva) são abundantes, o olho clínico de um médico sente-se irresistivelmente atraído para terreno tão fértil, inclinando-se de imediato para um diagnóstico reservado, ainda que, para a terapêutica (de choque) seja um bocado tarde.
Munindo-se dos tratados da ciência médica que classificaram todas as doenças mentais possíveis e imaginárias, criando um armário de gavetas tão grande como um hospital, Mário Saraiva não tarda em descobrir, como nos diz, alguns dos rótulos que esses tratados compendiam e que se ajustam, como uma luva, a "esquizofrenia mista" ( esquizofrenia com paranóia) do poeta e seus heterónimos.

Para ele, os heterónimos não constituem qualquer mistério, antes a prova declarada de que se trata de uma "personalidade" oscilante nas suas várias partes, ora integradas, ora desintegradas.

A SEXUALIDADE DE FERNANDO PESSOA

Um ponto que logo agradará à posteridade saber sobre um poeta como Fernando Pessoa é o da sua "sexualidade", como dizem os tratados, separando a partida e a priori os órgãos genitais do corpo afectivo-erótico.
A esse respeito, Mário Saraiva não encontrou nada definido no sexo de Pessoa, por mais que prescrute à lupa:
" Este único namoro (Ofélia Marques), foi, portanto, um devaneio que lhe bastou, e talvez aquele que somente se deparou como possível à sua timidez e aos complexos que o inibiam de tratar com mulheres. "
E acrescenta: "Para a maneira de ser de Fernando Pessoa, era fatal que o idílio sui generis com Ofélia (como aliás com qualquer outra que fosse) se frustraria. Na realidade não passou de uma ficção, só durável enquanto foi exercício e deleite dos sentidos. Este namoro nunca poderia ser o prelúdio do casamento, ou qualquer coisa parecida, por evidente carência de masculinidade de Fernando Pessoa."
Para lá do recorte harmonioso que o Dr. Saraiva confere a esta frase, é de salientar, como aguda observação científica, o "deleite dos sentidos", o "idílio sui generis” e o "namoro como prelúdio do casamento" : vem tudo nos tratados de Psiquiatria e a nomenclatura está conforme.
Depois de mais algumas elocubrações de grande profundidade, Saraiva define lapidarmente: "Estamos em frente de uma misoginia fundamental a provocar a misogamia".
Quem não queria estar em frente era eu.

MASCULINIDADE DE PESSOA

A dúvida de Saraiva sobre o grau de "masculinidade" de Pessoa advém de uma descoberta sensacional que fez na arca-espólio do poeta, onde vampiros e comadres bisbilhoteiras desde Gaspar Simões e Jacinto Prado Coelho até Eduardo Lourenço e Taborda de Vasconcelos, se têm ido abastecer.
Trata-se de uma carta assinada por uma tal Maria José e dirigida a um serralheiro do bairro...
O Dr. Saraiva considera não só que é uma prova explícita da ambiguidade sexual de Pessoa (travestindo-se de Maria José ...) mas vai ao ponto de considerar este simples personagem de um conto (sob forma) epistolar... um novo heterónimo.
Segundo este doutor em medicina, o facto de Pessoa ter inventado uma narrativa que põe na boca de uma personagem feminina, é prova mais do que suficiente para duvidar da masculinidade do poeta.
O que diria então Saraiva de Flaubert, que se considerava a própria Madame Bovary "herself"...
Uma das coisas que as comadres bisbilhoteiras estão ansiosas por saber é se Fernando Pessoa teve ou não teve relações com mulheres, se tinha inclinações para o mesmo e o outro sexo, etc, etc.
Isto excita sempre as comadres bisbilhoteiras e a psiquiatria, desta feita, fez-lhes a vontade, pois o livro do Dr. Mário Saraiva antecipa a publicação que a Drª Teresa Rita Lopes, guardiã da arca, tinha intencionado fazer, do mais "comprometedor" - na opinião do Dr. Saraiva - texto de Pessoa.
Então não é que ele escreve uma carta em nome de uma tal Maria José dirigida a um tal serralheiro do bairro?
Pouco faltou para termos uma "lady Chaterley" em versão de Alfama... Maior escândalo ainda do que quando Flaubert se disse Madame Bovary...
O autor de "O Caso Clínico de Fernando Pessoa" não se mostra muito disposto a aceitar o "mito" Fernando Pessoa e ao detectar-lhe os "fracos" , está exactamente a reduzi-lo a proporções muito mais modestas do que aquelas que a posteridade lhe quer dar.
Talvez porque a medicina em geral e a psiquiatria em particular seja incapaz de duas coisas:
- Por um lado, incluir-se ela própria como objecto patológico e caso clínico incurável
- Por outro lado, aceitar que um poeta não se destina só a ser rotulado disto e daquilo mas a servir (com o seu testemunho, as suas confissões, a sua sinceridade fingida) de companheiro aos outros homens que nele encontram eco de si próprios.

INCAPACIDADE CONGÉNITA DA PSIQUIATRIA

Perante esta incapacidade congénita da Psiquiatria para se auto-diagnosticar e para se curar, a conclusão só pode ser uma: se Pessoa encontrou o eco que encontrou, por toda a parte, do seu caso, é porque o seu caso (a sua doença mental) é, afinal, a de muitos milhões de pessoas.
Exclui-se, destes milhões, o Dr. Saraiva e aqueles psiquiatras que se colocam sempre para lá dessas fraquezas humanas que tanto gostam de rotular nos outros com nomes esquisitos e rebarbativos.
Destinado a novas polémicas em torno da personalidade mais discutida, comentada e esquartejada da poesia portuguesa, o livro do Dr. Mário Saraiva tem o mérito de se expor a críticas que também lhe serão necessariamente feitas pelos que admitem uma indissociável dimensão patológica nos homens de génio.
Mérito, ainda, é ter compilado, num conjunto homogéneo, embora recheado de inocuidades, o que o poeta disse do seu próprio "caso clínico" e das suas permanentes contradições.
O trabalho aí fica, acrescentando-se assim mais um título à interminável bibliografia pessoana, como diria acacianamente Gaspar Simões, seu primeiro biógrafo.

RECIDIVAS DO POSITIVISMO

Quando se pensava que o positivismo já dera a alma ao seu criador - Augusto Comte - eis que surgem "recidivas" e se notam manifestações patológicas inesperadas no corpo clínico da ciência médica, inquietantes manifestações de anacronismo.
Uma "inocência" assim como a do Dr. Mário Saraiva, descascando "o caso clínico de Fernando Pessoa" como quem descasca amendoins, pensavam os mais bem intencionados que já não era possível nem passível de surgir hoje no mundo das artes, letras e ciências.
Ora, como sempre acontece nestas emergências "anacrónicas", o mal que Pedro diz de Paulo acaba por nos revelar muito mais sobre Pedro do que propriamente sobre Paulo. É assim que o mal que Saraiva diz de Pessoa acaba por revelar muito mais do Saraiva do que do Pessoa, que este a gente já conhece de ginjeira e em todas as posições.
Se o Dr. Saraiva é, para todos nós, um ilustre desconhecido, a verdade é que a pessoa de Pessoa , a sua multiforme personalidade, a sua incrível energia criadora, passou a barreira do Bem e do Mal, da Doença e da Sanidade, do Belo e do Feio, do Formal e do Anormal - passou a barreira "moralizante" dos termos contrários antagonistas em que a ciência em geral, a ciência médica em particular e a ciência psiquiátrica ainda mais em particular, ainda hoje chafurda, convencida de que há-de redimir o Mundo dos bons, exterminando a outra parte (a dos Maus). Daí que o Dr. Saraiva pesquise em Pessoa, até ao penico, todas as perversões, inversões e aversões possíveis e impossíveis, reais e imaginarias, numa fúria persecutória que não tem par em qualquer época, mesmo áurea, da santa inquisição.

QUANDO O PEQUENO QUER SUBMETER O GRANDE

Com esta obra de Mário Saraiva, é toda a ciência médica que se expõe. Quando ele se atreve a colocar o caso imenso de Fernando Pessoa na mesa pequenina das observações anatómicas , é a sua pequenez que se acentua.
E é muito bem feito que aconteça o que vai acontecer. Atrevendo-se a tanto, Mário Saraiva irá suscitar sobre si e não sobre Pessoa o odioso e o patético que sempre têm que surgir quando o pequeno quer submeter o grande à sua lei.
Esta é que é a perversão e a inversão fundamental do Universo, Dr. Saraiva.
O livro de Saraiva é assim "um caso clínico da Psiquiatria" que se julgava historicamente ultrapassado mas que surge a pedir assistência médica urgente.
Ao surgir no mercado, o livro da editorial Referendo ficará como o típico exemplar do discurso "beato" sobre o génio criador - o que deve fazer lei em Psicologia - tentando ressuscitar o cadáver de todas as psicologias e psiquiatrias académicas, devidamente embalsamadas já e há muito.
No fundo, é um triste espectáculo de revivalismo sem clima da época. É um triste espectáculo de embalar mortos - os preconceitos todos de uma ciência fóssil e completamente exangue.
Mas - o que é pior para o Establishment - Saraiva coloca, com o seu livro, o sistema médico em posição extremamente delicada , obrigado a "demarcar-se" relativamente ao "caso clínico” do Dr. Saraiva, com o qual, evidentemente, depois da Psicanálise e não da Anti-psiquiatria (neosofistica médica) se não deseja ver identificado.
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NATUROLOGIA 1999

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AS DÍVIDAS DA SEGURANÇA SOCIAL,(CHAMADAS DÍVIDAS DA SAÚDE), O CÉU DA MEDICINA E O INFERNO DA NATUROLOGIA
I
20/5/1999 - Com a ausência inesperada do Prof. Armindo Caetano, este sacrificado 1º ano da escola que deixou de ser superior, acaba de sofrer o seu mais rude golpe. Sendo caso para perguntar: que mais nos irá acontecer?
De facto, a um mês do final do ano, o balanço deste 1º ano não me parece glorioso, se levarmos em conta o que é a Nova Naturologia e a expectativa que legitimamente os alunos deveriam ter em relação à missão histórica que à Nova Naturologia está atribuída.
Para justificar o título de superior da escola, tem tido o 1º ano que se sujeitar aos ditames, aos dogmas, aos erros e equívocos da velha ideologia e do velho paradigma, da velha e velhíssima ciência académica, que por todo o mundo está a morrer de podre e de que o paroxismo da guerra no coração da Europa é a emergência mais recente, mais bárbara e esperemos bem que a última.
A medicina química e sintomatológica que é a guerra por outros meios, ainda por aí está e é igualmente perversa mas igualmente cheia de pesporrência e arrogância como os senhores da guerra, como aliás todos os poderes despóticos e arbitrários que, por todo o mundo, se encontram em processo acelerado de liquidação.
Por isso esta escola, a Nova Naturologia e os alunos que por elas optaram estão incumbidos de uma missão histórica: a mudança de paradigma não é mudar de camisa mas implica o desmoronar do sistema antigo e a construção de um novo sistema onde a vida e a criação sejam possíveis.
Há uma contradição que a escola terá, tarde ou cedo, que resolver e que este ano ainda não foi resolvida. Mas estrebuche a ordem dos médicos o que estrebuchar, queiram ou não os velhos do velho paradigma, o que tem mesmo de mudar, por imperativo cósmico-biológico, são os esquemas pedagógicos obsoletos, as cadeiras inúteis, a relação aluno-professor, os métodos de ensino, aprendizagem e avaliação, os conceitos de investigação experimental mas, principalmente, as teorias biológicas (transformadas em dogmas religiosos) em que assenta o edifício da velha medicina, da velha ciência e da velha sociedade.
Para falar apenas de uma delas - a teoria microbiana - é preciso dizer que o Rei Vai Nu e que todo o discurso debitado em milhares de páginas e de tratados, tem efeitos perversos múltiplos que apenas fazem proliferar as doenças e, entre todas, a incurável doença que é hoje a velha medicina.
Bem aventurados os que acreditam em Nossa Senhora de Fátima, em germes patogénicos, em toxinas, em virulentos vírus, em fungos e candidas albicans, em estafilococus e estreptococus, em infestações microbianas, em epidemias do século, bem aventurados porque deles será o reino dos céus.
O inferno das novas patologias (desconhecidas há menos de 10, 20, 30, 100 anos) , o inferno da albicans e da osteoporose, o inferno das alergias e das doenças auto-imunes, o inferno das doenças iatrogénicas (entre as quais se inclui a famosa sida) , o inferno dos ciclos viciosos criados pelos medicamentos em geral e pela santíssima trindade - vacinas, antibióticos e corticóides - em especial, o inferno das mais de 30 ites já catalogadas, todo este inferno de1a classe está a ser assoprado por todo o sistema de ensino médico, pelo poder académico-universitário, simplesmente porque ninguém quer perder os tachos nem diminuir os lucros que esta lógica absurda da sintomatologia continua a produzir.
Lucros que, quando não são cobrados, se chamam dívidas do Ministério às Farmácias e nem só.
O mais estranho deste quadro infernal onde todos nós continuamos colaborando, uns por acção e outros por omissão, é que ele parece um inferno estável, imutável e eterno. Sem alternativas. Sem saída. Sem esperança.
Pura ilusão, porém.
O inferno, afinal, é apenas lucrativo para os lobbies. E é o facto de ser lucrativo que o faz parecer estável, imutável e eterno.
O cancro só não foi ainda erradicado, porque continua a ser altamente rentável.
Vale a pena recordar que a guerra em curso na Europa foi principalmente motivada por um pormenor sem importância: é que o famoso bug 2000, que irá afectar os computadores na passagem do ano 1999 para o ano 2000, iria tornar obsoletos todos os mísseis norte-americanos.
Resolvido o imbróglio de saias do presidente, a organização meteu-se então , e rapidamente, à tarefa de despejar sobre um país, sobre um povo, sobre um património humano, cultural e histórico, o arsenal de bombas que ameaçavam nunca mais ter utilização que se visse.

Não é, portanto, fácil desmontar um sistema que se baseia nestes pressupostos e que está, por isso (por se basear na lógica sintomatológica), a dar rendimentos a tanta gente, tantos empregos e negócios, que alimenta em escalada exponencial tantos médicos e medicamentos específicos (dezenas de milhares, como se sabe), tantas cirurgias e especialidades, tantos catedráticos e tantos manuais de dez quilos editados pressurosa e didacticamente pela Gulbenkian.
Não é fácil , até porque o sistema consegue calar democraticamente todas as vozes críticas que ameaçam o negócio.
+
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II

Uma recente notícia de jornal, se a lermos bem lida, pode dar-nos uma ajuda para compreender a situação da nossa escola. Serve essa notícia como ponto de partida para a desmontagem do inferno médico onde vivemos, adoecemos e morremos.
No mesmo dia em que o «Correio da Manhã» dava em primeira página o título bombástico - medicinas alternativas metidas na ordem - o «Diário de Notícias» metia lá bem no fundo da página 39, a blenorragia do sistema : a famosa dívida da chamada saúde.
Parecendo que não mas é aqui que as águas entre Naturologia (ou ciência da saúde e da vida ) e Medicina (ciência da doença e da morte) se separam, se têm que separar.
E é aqui que se coloca o dilema desta escola e dos alunos que para aqui vieram na esperança de fazer carreira na medicina do futuro e na medicina que de facto tem futuro: a naturologia.
O que hoje se chama saúde é afinal o inferno do sistema sintomatológico que continua inflacionando a doença, exactamente porque jamais pensa em termos de saúde mas dos lucros que a doença dá.
E as famosas dívidas da chamada saúde são o espelho desses lucros que a doença dá.
O curioso e patético da questão é que a Mariazinha de Belém, ministra da saúde, está encurralada num buraco onde leva pancada de todos os lados menos daquele de onde lhe vem o dinheiro para pagar as negregadas dívidas.
Médicos, farmácias, hospitais, grevistas, todos pressionam para receberem o cacau, mais cacau. Como a teta do Orçamento de Estado já não pode ser mais espremida, o caso apresenta-se sem saída , sendo apenas aproveitado pela oposição ao governo , que encontra sempre nas despesas com a chamada saúde um bom pretexto de fazer guerrilha anti-governo, como se eles , quando eram governo, não tivessem exactamente alimentado o mesmo insaciável sistema, o tal inferno de 1ª classe que nós todos, contribuintes, continuamos a alimentar.
Devo dizer aqui que a única despesa que há muitos anos faço em farmácia é as pílulas para as minhas queridas gatinhas, não esperando que a segurança social mas pague. E isto apenas enquanto a nossa querida Homeopatia não descobrir um contraceptivo homeopático.
Como o dinheiro do Estado é o nosso dinheiro de contribuintes líquidos, seríamos nós os únicos com legitimidade para ir dizer BASTA à D. Mariazinha de Belém.
Curiosamente e porque o sistema é democraticamente um despotismo, somos os que nunca têm voz. Como neste 1º ano infelizmente se comprova.
Curiosamente , a Nova Naturologia, o único aliado que podia dar alguma ajuda e conforto à pobre Mariazinha de Belém, ajudando-a sair do buraco onde os lobbies e multinacionais a crucificam e enterram todos os dias, é aquele que ela ainda não percebeu que podia concorrer para desencalacrar as dívidas do Ministério da Saúde às farmácias, hospitais e etc.
Governo PS ou Governo PSD, a dívida continuará a crescer enquanto não houver alternativas holísticas de saúde ao sistema da doença. E só a Nova Naturologia está, por definição e natureza, em condições de estabelecer essas alternativas.
Não se vê muito bem como a famigerada dívida irá parar de crescer, porque o sistema alimenta-se exactamente dessa voracidade insaciável e dessa escalada sintomatológica que continua a chamar saúde àquilo que é doença e proliferação crescente da doença e das novas doenças.
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maria-3

III

Voltando à nossa escola, teremos de ver , com um pouco mais de transparência, em que medida estamos, alunos e professores, a ajudar também essa escalada infernal para o abismo.
Em que medida estamos, alunos e professores, a contribuir, também, para a famosa bancarrota da segurança social. E para a mais monumental débacle do sistrema.
Infelizmente e pelos vistos, estamos a ajudar e muito, na medida em que a ideologia dominante continua a ser a microbiana - a indústria mais rentável do século - e a sintomatologia a única lógica, quando afinal a nova naturologia se chama, por oposição a sintomatologia, medicina do terreno, medicina metabólica, medicina ortomolecular, medicinas energéticas e medicinas vibratórias.
A Homeopatia, a que aqui se dá tanto ênfase e que até figura no nome da Escola (porque já vai sendo também uma indústria crescidinha e rentável, claro), não sendo a única nem a mais importante, actua porque é uma medicina do terreno, baseada na lógica causal e ecológica, e não na lógica sintomatológica e microbiana.
Numa escola que se diz de homeopatia, acho que os alunos deveriam ter direito, no mínimo, a uma ração mais equitativa e equilibrada: 50% de discurso sobre medicina do terreno ou medicinas ecológicas e 50% sobre essa bicharada toda - vírus, bactérias, estreptococos, estafilococos, candida albicans, fungos e o diabo mais a tia.
Lucros só para a bicharada é que não me parece justo.

Se nos lembrarmos:
que as ites (faringites, hepatites, etc) são mais de 35
que todas as doenças dos jovens e adultos começam por ites maltratadas na infância
que uma simples faringite se pode abolir em 24 horas com um oligoelemento chamado Bismuto
que a melhor vacina é natural e deriva de um reforço inteligente e homeostático das defesas orgânicas
que a nova medicina implica uma nova imunologia
que a nova medicina terá que ser causal, ambiental e ecológica para não ser pura e simplesmente um disparate (e a vida este inferno que é)
que a sintomatologia é rendosa mas conduz ao colapso do sistema (tal como nos mostram as dívidas do Ministério e as despesas com a chamada saúde)
se nos lembrarmos disto tudo e de muito mais, é talvez o momento de cumprirmos todos, alunos e professores, a nossa obrigação - que é a de sermos os arautos e agentes da verdade, falando claro e mijando direito, ou seja, os pioneiros de um mundo novo, sem déspotas, sem guerras humanitárias, sem lobbies de pressão, sem dogmas e poderes académico-universitários, sem fungos, sem dívidas às farmácias, sem albicans, sem vírus e bactérias, tudo enfim, o que o velho sistema da sintomatologia e da teoria microbiana continua alimentando só porque lhe dá lucros.
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