CONSUMOS 1981
ecorealismo-9> - obvia e necessariamente inédito de 1981 - chave ac – os dossiês do silêncio – memórias da frente – os guardas do gulag
II – OS CONSUMOS
20/5/1981 - O adubo, o medicamento, o aditivo e o corante (alimentar) são violências que entidades multinacionais cada vez mais vagas, vastas e abstractas lançam no dia a dia do cidadão consumidor, sem que este tenha meios para se defender ou alguém para onde apelar.
Os consumos são, aliás, um campo cheio de armadilhas onde o intrínseco risco inerente ao produto químico se torna ainda mais fechado porque soma mais um alibi a todos os outros alibis com que os crimes quotidianos se costumam recobrir: o produto é anunciado, publicitado, aconselhado e receitado pelo senhor doutor (que aparece de bata branca na televisão a cores) para benefício, gozo ou paladar etc do consumidor.
Não há nenhum veneno que se meta pela boca abaixo do feliz cidadão que não seja para bem da sua saúde e das suas papilas gustativas.
Mata-se dizendo que dá mais vida.
Expolia-se e rouba-se a bolsa do consumidor dizendo-lhe que poupa, poupa, poupa.
Atrofia-se-lhe os rins com flúor dizendo que se evita a cárie.
Dá-se ácido sulfúrico sob a forma de gordura vegetal dizendo que torna tudo mais apetitoso.
Enfim, intoxica-se, envenena-se, adoece-se dizendo que conserva, ajuda a triunfar nos negócios, a ter sorte no casamento, a ser campeão no desporto.
Foi o Jean Luc Godard que chamou fascismo quimicamente puro à publicidade, não fui eu.
Mas dada a impopularidade de levantar estas questões ecológicas a este nível das contradições que tecem o industrialismo moderno com toda a "imprensa independente" ao seu serviço, fiquei louco de júbilo quando entrou a matar e com uma coragem dos diabos o meu amigo Dr. Beja Santos em defesa do consumidor.
Felizmente que ele tomava a vanguarda desta cruzada contra os consumos, pelo que eu logo pude abrandar a marcha e ir tomar umas banhocas à praia de Paço de Arcos. Tinha agora mais tempo livre, e melhorava assim a minha qualidade de vida. Deixava de andar à taroucada com os consumos todos e as armadilhas e as provocações do consumismo.
A grande popularidade do Afonso Cautela deve-se aos artigos que impopularmente ele ainda teimou em escrever numa fase muito recuada das suas ilusões de ecologista barato.
Mais recentemente pude comprovar que alarmista , afinal, mais uma vez fora eu, desde 1971, com artigos a chamar cancerígenos aos produtos que até são bons para a saúde, medicamentos incluídos.
Ainda bem que surgiu a DECO, o Ralph Nader, a Proteste, a Conteste, o "Come e Cala", os "10 Milhões de Consumidores", ainda bem, escuso eu de me andar pra aí a consumir denunciando consumos cancerígenos, que nunca mais acabam, mal se esgalha um já espreitam no horizonte mais de mil.
Até o PNUMA veio das Nações Unidas em meu auxílio, para festejar um Dia Mundial do Ambiente, já não posso precisar bem qual, aí por 77 ou 78. E disse o Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente do escândalo químico. Cancro que se come com gosto - continua ainda a dizer a Televisão pela cagagésima vez.
É preciso alertar as massas, dizem os progressistas sempre aflitos com as massas.
Mas alertar o quê, se as massas comem e lambem-se, e se não há alternativas para a trampa química, que os mesmos progressistas têm feito tudo para boicotar as alternativas em geral e as alternativas à química ?
Alertar o quê, a partir do momento em que Petróleo é mais venerado que o senhor dos Paços?
Quem tem petróleo tem cancro e segundo me dizem ninguém quer passar sem petróleo.
Então tenham cancro, chiça, não me chateiem e pronto: nem mais uma artigalhada sairá desta esferográfica em defesa do bom povo trabalhador que come cancro dado pelos seus protectores, amigos e patrões.
Quanto à pílula é que foi o bom e o bonito, também no semanário "Voz do Povo" quando se levantou o problema desse fascismo que a Esquerda ainda advoga com mais força do que a Direita, bem assim o aborto e outros métodos, ditos de "planeamento familiar".
Os sexo-ismos têm os seus advogados principalmente na Esquerda, de onde se pode concluir o êxito editorial das edições e intervenções "Frente Ecológica" sempre que se metia nessas áreas mais do que proibidas.
Com a pílula e os sexo-ismos estamos no coração do ismo maltusiano, de onde praticamente derivam os principais ramos, inclusive os eco-ismos que tão bons serviços estão prestando.
A polémica em que me envolveram sobre Pílula no semanário "Voz do Povo", mostra até que ponto um tipo se arrisca a ser linchado na praça pública, se porventura tiver o arrojo de estar pela vida contra todos os ismos.
Os mecanismos burocráticos, o papel selado, o cronivorismo das repartições, são, apesar de violências, temas de óbvia impopularidade, já não digo na Direita, o que seria lógico mas entre os homens de Esquerda.
A burocracia em geral e a tecno-burocracia em especial conta com a censura prévia, à Direita e à Esquerda.
As poluições vistas neste contexto de violências exercidas sobre a integridade física do cidadão são igualmente objecto de censura.
Verifica-se um pululante discurso folclórico sobre poluição mas exactamente para a neutralizar, arrumando-a no âmbito do lixo para nunca a ver e denunciar como crime.
As obstruções da via e da vida pública feitas por greves são, como toda a gente sabe sem ter coragem de o dizer, outra forma de opressão e violência de uma minoria profissional sobre o povo, opressão que tem evidentemente o consenso tácito de todos os órgãos de informação, à Esquerda e à Direita.
Todo o bico se cala a fecho éclair. E nem já Deus ou Marx distingue uma greve justa da greve destinada pura e simplesmente a chatiar até ao paroxismo o povinho, a desestabilizar a política, a arruinar a economia já arruinada, a fazer subir ainda mais a inflação, enfim, a reprimir directa e indirectamente ainda mais o povinho em geral. O povinho que não pode fazer greve porque não está organizado e enquadrado para isso.
E eles, manipuladores de greves, bem o sabem.
Mas a verdade "democrática" pura e simples é esta: para lá do povinho que sofre as consequências das violências sobre ele exercidas, quem paga as favas todas desta mentira sistemática é a própria Democracia, cravada de chulos por todos os lados que a vampirizam e vão entregando às mãos imperialistas da Europa, dos Estados Unidos, do Leste e do Oeste.
Também aqui se aplica a fábula mais popular em Portugal depois do 25 de Abril: distrair o povo com o carreiro de formigas, para a manada de Elefantes passar.
E os elefantes, para quem não saiba, são à esquerda e à direita, a ver quem entra primeiro.
***
II – OS CONSUMOS
20/5/1981 - O adubo, o medicamento, o aditivo e o corante (alimentar) são violências que entidades multinacionais cada vez mais vagas, vastas e abstractas lançam no dia a dia do cidadão consumidor, sem que este tenha meios para se defender ou alguém para onde apelar.
Os consumos são, aliás, um campo cheio de armadilhas onde o intrínseco risco inerente ao produto químico se torna ainda mais fechado porque soma mais um alibi a todos os outros alibis com que os crimes quotidianos se costumam recobrir: o produto é anunciado, publicitado, aconselhado e receitado pelo senhor doutor (que aparece de bata branca na televisão a cores) para benefício, gozo ou paladar etc do consumidor.
Não há nenhum veneno que se meta pela boca abaixo do feliz cidadão que não seja para bem da sua saúde e das suas papilas gustativas.
Mata-se dizendo que dá mais vida.
Expolia-se e rouba-se a bolsa do consumidor dizendo-lhe que poupa, poupa, poupa.
Atrofia-se-lhe os rins com flúor dizendo que se evita a cárie.
Dá-se ácido sulfúrico sob a forma de gordura vegetal dizendo que torna tudo mais apetitoso.
Enfim, intoxica-se, envenena-se, adoece-se dizendo que conserva, ajuda a triunfar nos negócios, a ter sorte no casamento, a ser campeão no desporto.
Foi o Jean Luc Godard que chamou fascismo quimicamente puro à publicidade, não fui eu.
Mas dada a impopularidade de levantar estas questões ecológicas a este nível das contradições que tecem o industrialismo moderno com toda a "imprensa independente" ao seu serviço, fiquei louco de júbilo quando entrou a matar e com uma coragem dos diabos o meu amigo Dr. Beja Santos em defesa do consumidor.
Felizmente que ele tomava a vanguarda desta cruzada contra os consumos, pelo que eu logo pude abrandar a marcha e ir tomar umas banhocas à praia de Paço de Arcos. Tinha agora mais tempo livre, e melhorava assim a minha qualidade de vida. Deixava de andar à taroucada com os consumos todos e as armadilhas e as provocações do consumismo.
A grande popularidade do Afonso Cautela deve-se aos artigos que impopularmente ele ainda teimou em escrever numa fase muito recuada das suas ilusões de ecologista barato.
Mais recentemente pude comprovar que alarmista , afinal, mais uma vez fora eu, desde 1971, com artigos a chamar cancerígenos aos produtos que até são bons para a saúde, medicamentos incluídos.
Ainda bem que surgiu a DECO, o Ralph Nader, a Proteste, a Conteste, o "Come e Cala", os "10 Milhões de Consumidores", ainda bem, escuso eu de me andar pra aí a consumir denunciando consumos cancerígenos, que nunca mais acabam, mal se esgalha um já espreitam no horizonte mais de mil.
Até o PNUMA veio das Nações Unidas em meu auxílio, para festejar um Dia Mundial do Ambiente, já não posso precisar bem qual, aí por 77 ou 78. E disse o Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente do escândalo químico. Cancro que se come com gosto - continua ainda a dizer a Televisão pela cagagésima vez.
É preciso alertar as massas, dizem os progressistas sempre aflitos com as massas.
Mas alertar o quê, se as massas comem e lambem-se, e se não há alternativas para a trampa química, que os mesmos progressistas têm feito tudo para boicotar as alternativas em geral e as alternativas à química ?
Alertar o quê, a partir do momento em que Petróleo é mais venerado que o senhor dos Paços?
Quem tem petróleo tem cancro e segundo me dizem ninguém quer passar sem petróleo.
Então tenham cancro, chiça, não me chateiem e pronto: nem mais uma artigalhada sairá desta esferográfica em defesa do bom povo trabalhador que come cancro dado pelos seus protectores, amigos e patrões.
Quanto à pílula é que foi o bom e o bonito, também no semanário "Voz do Povo" quando se levantou o problema desse fascismo que a Esquerda ainda advoga com mais força do que a Direita, bem assim o aborto e outros métodos, ditos de "planeamento familiar".
Os sexo-ismos têm os seus advogados principalmente na Esquerda, de onde se pode concluir o êxito editorial das edições e intervenções "Frente Ecológica" sempre que se metia nessas áreas mais do que proibidas.
Com a pílula e os sexo-ismos estamos no coração do ismo maltusiano, de onde praticamente derivam os principais ramos, inclusive os eco-ismos que tão bons serviços estão prestando.
A polémica em que me envolveram sobre Pílula no semanário "Voz do Povo", mostra até que ponto um tipo se arrisca a ser linchado na praça pública, se porventura tiver o arrojo de estar pela vida contra todos os ismos.
Os mecanismos burocráticos, o papel selado, o cronivorismo das repartições, são, apesar de violências, temas de óbvia impopularidade, já não digo na Direita, o que seria lógico mas entre os homens de Esquerda.
A burocracia em geral e a tecno-burocracia em especial conta com a censura prévia, à Direita e à Esquerda.
As poluições vistas neste contexto de violências exercidas sobre a integridade física do cidadão são igualmente objecto de censura.
Verifica-se um pululante discurso folclórico sobre poluição mas exactamente para a neutralizar, arrumando-a no âmbito do lixo para nunca a ver e denunciar como crime.
As obstruções da via e da vida pública feitas por greves são, como toda a gente sabe sem ter coragem de o dizer, outra forma de opressão e violência de uma minoria profissional sobre o povo, opressão que tem evidentemente o consenso tácito de todos os órgãos de informação, à Esquerda e à Direita.
Todo o bico se cala a fecho éclair. E nem já Deus ou Marx distingue uma greve justa da greve destinada pura e simplesmente a chatiar até ao paroxismo o povinho, a desestabilizar a política, a arruinar a economia já arruinada, a fazer subir ainda mais a inflação, enfim, a reprimir directa e indirectamente ainda mais o povinho em geral. O povinho que não pode fazer greve porque não está organizado e enquadrado para isso.
E eles, manipuladores de greves, bem o sabem.
Mas a verdade "democrática" pura e simples é esta: para lá do povinho que sofre as consequências das violências sobre ele exercidas, quem paga as favas todas desta mentira sistemática é a própria Democracia, cravada de chulos por todos os lados que a vampirizam e vão entregando às mãos imperialistas da Europa, dos Estados Unidos, do Leste e do Oeste.
Também aqui se aplica a fábula mais popular em Portugal depois do 25 de Abril: distrair o povo com o carreiro de formigas, para a manada de Elefantes passar.
E os elefantes, para quem não saiba, são à esquerda e à direita, a ver quem entra primeiro.
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