MEDICINA 1977
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DOENÇAS DO CONSUMO - POLUENTES E ANTIPOLUENTES:A IDEIA ECOLÓGICA EM MEDICINA
19 de Maio de 1978 - Condicionantes da saúde humana e da esperança média de vida das populações modernas, são alguns dos mecanismos da sociedade de consumo que, na maior parte dos casos, passam despercebidos.
E nunca são reconhecidos como causas de efeitos (regra geral os chamados «poluentes») que afectam séria e gravemente a qualidade de vida (quando não a própria vida) de populações inteiras.
A preocupação mítica pelo novo e pela moda, a febre de aumentar os lucros com os problemas instalados, a mentalidade que para cada poluente preconiza um anti-poluente, a obsessão de alargar mercados e fazer prosperar as vendas, a insegurança nas estradas nas estradas e o congestionamento nas cidades, o stress continuado do chamado ritmo moderno de vida, enfim, a mentalidade sintomatológica, típica da medicina moderna, acaba por alastrar a outros campos e actividades.
Em medicina, a preocupação do «novo» está muito ligada à mitologia do progresso científico, que legitima a sua própria existência dizendo que está sempre descobrindo coisas novas.
Para curar doenças que a medicina considera incuráveis, há sempre a esperança de estar quase a ser descoberto um novo medicamento, um novo produto, um novo antipoluente.
Esta pretensão ou presunção do «novo» está - como todos os mitos modernos - tão enraizada no subconsciente do consumidor que nela se baseia, com êxito, toda a ofensiva publicitária de um produto que se pretende impor.
«Novo» é a palavra-chave (a palavra mágica) dos anúncios que palpitam no meio de néons, ora na televisão, ora nos magazines ilustrados, ora na torrente de publicidade a domicílio que hoje enche as caixas dos correios. Abandonar o velho e comprar o novo: eis todo um programa de técnica de vendas, eis um dos motores da sociedade de consumo, tão estreitamente ligado à moda.
Moda e novo são os motores do lucro que fazem girar indefinidamente a sociedade de consumo.
Não admira que o hábito do novo ataque também no campo da medicina, onde todos os dias se anunciam novos progressos e novos medicamentos (à partida sempre maravilhosos, antes de se lhe conhecerem os efeitos perversos, geralmente tardios).
Nos medicamentos e nas doenças, a ciência médica aspira sempre a ter novidades para oferecer ao público. Quando encontra uma nova doença, a ciência médica diz que fica preocupada mas, no fundo, rejubila.
De um lado, porque irá pedir mais uns anos de investigação em que a nova doença deverá ser estudada, provavelmente um novo medicamento e, melhor ainda, uma vacina.
Rotulando de estranha, enigmática e misteriosa, ou ainda não «descoberta» nem estudada a «nova» doença, que poderá ser apenas um efeito cuja causa ambiental à partida se descarta, a ciência médica ganha tempo e deixa alastrar a doença que depois, quando houver um «novo» medicamento, irá tratar da maneira como o faz sempre: atacando sintomas, sem jamais indagar da causa ambiental que os provoca.
Jamais a ciência médica, de facto, faz cientificamente a única coisa científica a fazer que é ligar o efeito à causa ambiental que o provoca.
Por exemplo: ligar o consumo de contraceptivos às anemias graves e leucemias.
Segundo a mesma ciência médica, apoiada numa teoria que já nasceu moribunda (a teoria microbiana) tem que haver sempre um novo vírus que se pode descobrir para cada nova doença
E para cada novo vírus há sempre a esperança de poder vir a comercializar uma nova vacina ou um novo medicamento anti-vírus.
Assim funciona a ciência médica, impelida pelos interesses dos que produzem vacinas e medicamentos.
É este o princípio do alargamento de mercados.
Quando se proclamam os «malefícios do tabaco», esquecendo que milhares de medicamentos são iatrogenicamente perigosos ou mortais, insinuando doenças agudas ou a médio e longo prazo, é para desconfiar das campanhas contra o tabaco e em defesa do consumidor.
Se o inventário dos milhares de consumos provocantes, venenosos, tóxicos, patogénicos, está por fazer, desconfiemos dos que, sem denunciar centenas de produtos químicos cancerígenos, alguns oficialmente incluídos nos consumos autorizados e até obrigatórios (é o caso do cloro na água municipal e só por um triz não chegou a ser também o ??????) continuam a bater a tecla do tabaco.
A 9 de Maio de 1978, segundo a agência France Press, foi proibido nos EUA, pela Food and Drug Administration (F.D.A.), o método contraceptivo comercializado nos Estados Unidos sob o nome de «Depo Provera».
Segundo a F.D. A, os testes laboratoriais, efectuados em animais, revelaram que o produto farmacêutico utilizado (em injecções uma vez por trimestre, segundo o método) produzia o risco de esterilidade e de cancro no útero.
O «Depo Provera» utilizado em 35 países foi autorizado como produto contraceptivo nos estados Unidos, em Setembro de 1974. O presidente dos laboratórios que fabrica o «Depo Provera» revelou ter a intenção de apelar da decisão da F.D.A.
Para lá das 10 linhas sacramentais a um canto do jornal, quem mais levantou a voz para falar disto? Que serviço nacional de saúde alertou as populações? Que dispositivos se prepararam para a defesa do consumidor?
Muitas perguntas sobre contraceptivos em geral se poderiam e deveriam fazer, desde já:
- Estará Portugal entre os 35 países onde esse «Depo provera» é consumido?
- Só «Depo-Provera» é cancerígeno, quando todos os contraceptivos químicos já foram, intermitentemente, apontados como tal?
- Os médicos que continuam aconselhando o contraceptivo químico às senhoras, nunca lhes roeu a consciência não as avisar do risco que correm?
- Saberão os médicos - e mesmo que soubessem, quereriam - relacionar com o consumo de contraceptivos alguns sintomas que algumas doentes, mais tarde, podem apresentar?
- Não será científico, como a medicina tanto reclama, ligar o efeito à causa que o produz?
- Estará a medicina disposta a ser, além de honesta, científica, ligando o efeito à causa, quer dizer, a chamada «pílula cor de rosa» manifestações de leucemia ou, em casos mais frequentes, a corrimentos vaginais prolongadíssimos ou a gravíssimas anemias?
- Corrimentos e anemias, evidentemente, para os quais a ciência médica receitará, na melhor das hipóteses, mais químicas e mais medicamentos?
- Não haverá um dia remorsos nas consciências de colaborar, deliberada e conscientemente, nesta escalada?
Quando o mito das vitaminas começa a ser adoptado pela medicina - visto que muitos laboratórios começavam a produzir enormes stocks de vitaminas sintéticas, como se as vitaminas não fossem o componente alimentar mais difundido na Natureza - ninguém se lembrou de que era oportuno desconfiar de tão súbito e brusco interesse da ciência médica pelas avitaminoses.
Na verdade, esse súbito interesse tem causas conhecidas, não aparece por acaso nem se deve a nenhum insólito amor da ciência médica aos seus doentes.
Alguns pontos podem ser assinalados:
1 - Os laboratórios tinham começado a produzir vitaminas sintéticas e se não houvesse já populações inteiras com carências vitamínicas, inventar-se-iam
2 - Felizmente para a ciência médica e para os fabricantes de vitaminas sintéticas, toda a desalimentação corrente provoca avitaminoses, sem falar dos medicamentos e aditivos químicos de toda a espécie que para essas avitaminoses também concorrem
3 - Grande vantagem política dos produtos contra avitaminoses era esta: escamoteava-se todo o sistema das indústrias alimentares que manipulam, deterioram, encarecem, carenciam, refinam, adicionam a maior parte dos alimentos básicos que se fabricam. Centenas de frasquinhos salvadores foram receitados pela honesta ciência médica mas certamente que nem uma só vez um deles se lembrou de dizer aos doentes que comessem cereal integral e biológico, não farinado nem refinado;
4 - Com os frasquinhos de vitaminas cultivava-se, simultâneamente, a retórica do cru e de que as vitaminas só existem em alimentos não cozinhados: com tal retórica do natural e do biológico, começaram a ganhar alguns movimentos de alimentação racional, com base em toda a espécie de latinhas e frasquinhos
5 - Com a vitamina em frasco, escamoteava-se o facto de que as avitaminoses são resultado já da hiperintoxicação do organismo, incapaz por isso de transmutar os elementos nutritivos de que necessita através daqueles que recebe
6 - Com o mito das vitaminas, punha-se toda a gente a beber doses industriais de frutos altamente entrópicos como a laranja e o tomate, o que é evidentemente óptimo para ter sempre o consumidor nas mãos do médico, devido às doses potássicas industriais que tal regime acarreta.
Não tardou muito que o excesso de vitaminas sintéticas não começasse a constituir também um problema de saúde pública.
Segundo o «Journal» da associação Médica Norte-Americana, o abuso de vitaminas estaria à beira de se converter num dos maiores problemas de saúde nos Estados Unidos.
O Dr. Philip White, director de nutrição, sugere aos seus colegas que estejam atentos ao exagerado número de casos de envenenamento por excesso de ingestão vitamínica, especialmente a partir do momento em que deixou de haver restrições na sua aquisição.
O dr. Bennet Schaywitz, que trabalha para a Universidade de Yale, informou o «Journal» do caso de uma criança de quatro anos que ficou gravemente doente por ingerir doses maciças de vitaminas que tirava da despensa da avó.
Quando a levaram ao hospital, com febre alta e dor nos ossos, descobriu-se que a criança tinha uma hipervitaminose de vitamina , que era superior dez vezes ao índice tolerável pelo organismo humano.
O dr. Schaywitz sublinhou que muitas crianças com leves deformações cerebrais foram tratadas com doses elevadas de vitaminas por nutricionistas que procuravam impor a sua própria terapia.
O Dr. White afirmou, por sua vez, que comprovou nos supermercados a venda de produtos vitamínicos com cargas de 8, 16 e 32 mil vezes acima dos níveis recomendados pelas autoridades médicas do país.
O «Journal» cita os exemplos prejudiciais de uma terapia vitamínica maciça no tratamento da artrite e desordens psiquiátricas (Vitamina A9), prevenção de catarros e resfriados (Vitamina C), nevrose (Vitamina B-1), da Vitamina E para tratar a esterilidade e as enfermidades cardíacas e a pseudovitamina B-17 para o cancro.
Apesar de ter sido denunciado há muito tempo, o monossódio de glutamato ( comercializado em Portugal com o nome de [???] continua a utilizar-se na cozinha doméstica em restaurantes.
Em Setembro de 1972, um investigador médico de Washington advertiu que os bébés a quem fossem dados alimentos contendo uma mistura de um fortificante de monossódio de glutamato - mais conhecido no mercado por M.S.G. - estavam expostos a possíveis danos produzidos no cérebro.
O dr. John Olney, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, Missouri, disse que os bébés podiam ser alimentados com produtos para adultos contendo M.S.G. ou receberam esses alimentos através do leite materno.
O Dr. JohnOlney disse a uma comissão do Senado, destinada à selecção de nutrição e necessidades alimentares huamanas, que em 1969, após investigações laboratoriais, descobriu que o M.S.G. destruía células cerebrais de bébés animais.
Os fabricantes americanos de comidas para bebés deixaram, mais tarde, voluntariamente, de utilizar a mistura fortificante nos seus produtos mas o dr. Olney reivindica que o M.S.G. continua ainda em utilização em certos alimentos vendidos ao público, muito embora sejam rotulados para adultos. O perigo está em que o M.S.G. poderá ser absorvido pelos bebés mesmo através do leite materno.
Poluentes e antipoluentes formam uma interminável cadeia de interesses interligados e que fazem girar a roda dos lucros e de novas indústrias.
Se há um poluente, o mais lógico seria indagar da causa que o produz. Mas não é isso o que acontece: se há um poluente e é uma fabrica, por exemplo, que o produz, ninguem vai indagar da causa que o produz mas logo se pensará em produzir um anti-poluente. O que pode originar uma nova indústria e novos poluentes que, por sua vez, irão justificar novos antipoluentes e portanto novas indústrias.
Este esquema não é tão caricatural como pode parecer.
Em Tóquio, por exemplo, depois da poluição ter transformado a cidade num inferno, houve logo quem preconizasse «máscaras anti-gás».
O director do Instituto de Investigações sobre Perigos Públicos, Michitaki Kaino, lembraria numa assembleia que as máscaras anti-gás seriam tão necessárias aos residentes da capital japonesa como os chapéus de chuva nos dias de mau tempo.
Uma semana antes, o governo tinha avisado os habitantaes da capital japonesa para permanecerem dentro de casa, a fim de evitar irritações nos olhos e na garganta em consequência de uma nuvem de fumo e ácido sulfúrico que pairou sobre a cidade durante tês dias consecutivos.
Puxar a poluição - efeito - a primeiro plano, permite omitir os factores causais que condicionam a qualidade de vida de uma sociedade.
Um desse factores é a insegurança, que não tendo nada a ver com poluições, tende a ser esquecida e menosprezada.
Não será a poluição mas a insegurança que, na maior parte dos casos, provoca maior contingente de mortes e doenças. Diz-se depois que é o «preço a pagar pelo progresso».
Sendo a sociedade de consumo - a que alguns chamam sociedade do desperdício - a sociedade da violência, do traumatismo pré-preparado e provocado, mesmo quando não polui, ela mata, tortura, fere, traumatiza, estraga, rasga, arranha.
As estatísticas de mortos e feridos nas estradas, por exemplo, limitam-se na sua neutralidade a debitar números que fazem esquecer a realidade humana desses números. Esta - a estatística - é outra forma de omissão das causas.
É a forma liofilizada de esquecer a insegurança estrutural da sociedade do consumo e da violência.
Em Outubro de 1975, a Organização Mundial de Saúde anunciava que os acidentes rodoviários matam anualmente 250 mil pessoas e ferem mais de 9 milhões.
Vinte ou trinta anos decorridos, não se espera que a situação haja melhorado. É próprio da sociedade de consumo nunca recuar no números e nos recordes que vai registando.
***
DOENÇAS DO CONSUMO - POLUENTES E ANTIPOLUENTES:A IDEIA ECOLÓGICA EM MEDICINA
19 de Maio de 1978 - Condicionantes da saúde humana e da esperança média de vida das populações modernas, são alguns dos mecanismos da sociedade de consumo que, na maior parte dos casos, passam despercebidos.
E nunca são reconhecidos como causas de efeitos (regra geral os chamados «poluentes») que afectam séria e gravemente a qualidade de vida (quando não a própria vida) de populações inteiras.
A preocupação mítica pelo novo e pela moda, a febre de aumentar os lucros com os problemas instalados, a mentalidade que para cada poluente preconiza um anti-poluente, a obsessão de alargar mercados e fazer prosperar as vendas, a insegurança nas estradas nas estradas e o congestionamento nas cidades, o stress continuado do chamado ritmo moderno de vida, enfim, a mentalidade sintomatológica, típica da medicina moderna, acaba por alastrar a outros campos e actividades.
Em medicina, a preocupação do «novo» está muito ligada à mitologia do progresso científico, que legitima a sua própria existência dizendo que está sempre descobrindo coisas novas.
Para curar doenças que a medicina considera incuráveis, há sempre a esperança de estar quase a ser descoberto um novo medicamento, um novo produto, um novo antipoluente.
Esta pretensão ou presunção do «novo» está - como todos os mitos modernos - tão enraizada no subconsciente do consumidor que nela se baseia, com êxito, toda a ofensiva publicitária de um produto que se pretende impor.
«Novo» é a palavra-chave (a palavra mágica) dos anúncios que palpitam no meio de néons, ora na televisão, ora nos magazines ilustrados, ora na torrente de publicidade a domicílio que hoje enche as caixas dos correios. Abandonar o velho e comprar o novo: eis todo um programa de técnica de vendas, eis um dos motores da sociedade de consumo, tão estreitamente ligado à moda.
Moda e novo são os motores do lucro que fazem girar indefinidamente a sociedade de consumo.
Não admira que o hábito do novo ataque também no campo da medicina, onde todos os dias se anunciam novos progressos e novos medicamentos (à partida sempre maravilhosos, antes de se lhe conhecerem os efeitos perversos, geralmente tardios).
Nos medicamentos e nas doenças, a ciência médica aspira sempre a ter novidades para oferecer ao público. Quando encontra uma nova doença, a ciência médica diz que fica preocupada mas, no fundo, rejubila.
De um lado, porque irá pedir mais uns anos de investigação em que a nova doença deverá ser estudada, provavelmente um novo medicamento e, melhor ainda, uma vacina.
Rotulando de estranha, enigmática e misteriosa, ou ainda não «descoberta» nem estudada a «nova» doença, que poderá ser apenas um efeito cuja causa ambiental à partida se descarta, a ciência médica ganha tempo e deixa alastrar a doença que depois, quando houver um «novo» medicamento, irá tratar da maneira como o faz sempre: atacando sintomas, sem jamais indagar da causa ambiental que os provoca.
Jamais a ciência médica, de facto, faz cientificamente a única coisa científica a fazer que é ligar o efeito à causa ambiental que o provoca.
Por exemplo: ligar o consumo de contraceptivos às anemias graves e leucemias.
Segundo a mesma ciência médica, apoiada numa teoria que já nasceu moribunda (a teoria microbiana) tem que haver sempre um novo vírus que se pode descobrir para cada nova doença
E para cada novo vírus há sempre a esperança de poder vir a comercializar uma nova vacina ou um novo medicamento anti-vírus.
Assim funciona a ciência médica, impelida pelos interesses dos que produzem vacinas e medicamentos.
É este o princípio do alargamento de mercados.
Quando se proclamam os «malefícios do tabaco», esquecendo que milhares de medicamentos são iatrogenicamente perigosos ou mortais, insinuando doenças agudas ou a médio e longo prazo, é para desconfiar das campanhas contra o tabaco e em defesa do consumidor.
Se o inventário dos milhares de consumos provocantes, venenosos, tóxicos, patogénicos, está por fazer, desconfiemos dos que, sem denunciar centenas de produtos químicos cancerígenos, alguns oficialmente incluídos nos consumos autorizados e até obrigatórios (é o caso do cloro na água municipal e só por um triz não chegou a ser também o ??????) continuam a bater a tecla do tabaco.
A 9 de Maio de 1978, segundo a agência France Press, foi proibido nos EUA, pela Food and Drug Administration (F.D.A.), o método contraceptivo comercializado nos Estados Unidos sob o nome de «Depo Provera».
Segundo a F.D. A, os testes laboratoriais, efectuados em animais, revelaram que o produto farmacêutico utilizado (em injecções uma vez por trimestre, segundo o método) produzia o risco de esterilidade e de cancro no útero.
O «Depo Provera» utilizado em 35 países foi autorizado como produto contraceptivo nos estados Unidos, em Setembro de 1974. O presidente dos laboratórios que fabrica o «Depo Provera» revelou ter a intenção de apelar da decisão da F.D.A.
Para lá das 10 linhas sacramentais a um canto do jornal, quem mais levantou a voz para falar disto? Que serviço nacional de saúde alertou as populações? Que dispositivos se prepararam para a defesa do consumidor?
Muitas perguntas sobre contraceptivos em geral se poderiam e deveriam fazer, desde já:
- Estará Portugal entre os 35 países onde esse «Depo provera» é consumido?
- Só «Depo-Provera» é cancerígeno, quando todos os contraceptivos químicos já foram, intermitentemente, apontados como tal?
- Os médicos que continuam aconselhando o contraceptivo químico às senhoras, nunca lhes roeu a consciência não as avisar do risco que correm?
- Saberão os médicos - e mesmo que soubessem, quereriam - relacionar com o consumo de contraceptivos alguns sintomas que algumas doentes, mais tarde, podem apresentar?
- Não será científico, como a medicina tanto reclama, ligar o efeito à causa que o produz?
- Estará a medicina disposta a ser, além de honesta, científica, ligando o efeito à causa, quer dizer, a chamada «pílula cor de rosa» manifestações de leucemia ou, em casos mais frequentes, a corrimentos vaginais prolongadíssimos ou a gravíssimas anemias?
- Corrimentos e anemias, evidentemente, para os quais a ciência médica receitará, na melhor das hipóteses, mais químicas e mais medicamentos?
- Não haverá um dia remorsos nas consciências de colaborar, deliberada e conscientemente, nesta escalada?
Quando o mito das vitaminas começa a ser adoptado pela medicina - visto que muitos laboratórios começavam a produzir enormes stocks de vitaminas sintéticas, como se as vitaminas não fossem o componente alimentar mais difundido na Natureza - ninguém se lembrou de que era oportuno desconfiar de tão súbito e brusco interesse da ciência médica pelas avitaminoses.
Na verdade, esse súbito interesse tem causas conhecidas, não aparece por acaso nem se deve a nenhum insólito amor da ciência médica aos seus doentes.
Alguns pontos podem ser assinalados:
1 - Os laboratórios tinham começado a produzir vitaminas sintéticas e se não houvesse já populações inteiras com carências vitamínicas, inventar-se-iam
2 - Felizmente para a ciência médica e para os fabricantes de vitaminas sintéticas, toda a desalimentação corrente provoca avitaminoses, sem falar dos medicamentos e aditivos químicos de toda a espécie que para essas avitaminoses também concorrem
3 - Grande vantagem política dos produtos contra avitaminoses era esta: escamoteava-se todo o sistema das indústrias alimentares que manipulam, deterioram, encarecem, carenciam, refinam, adicionam a maior parte dos alimentos básicos que se fabricam. Centenas de frasquinhos salvadores foram receitados pela honesta ciência médica mas certamente que nem uma só vez um deles se lembrou de dizer aos doentes que comessem cereal integral e biológico, não farinado nem refinado;
4 - Com os frasquinhos de vitaminas cultivava-se, simultâneamente, a retórica do cru e de que as vitaminas só existem em alimentos não cozinhados: com tal retórica do natural e do biológico, começaram a ganhar alguns movimentos de alimentação racional, com base em toda a espécie de latinhas e frasquinhos
5 - Com a vitamina em frasco, escamoteava-se o facto de que as avitaminoses são resultado já da hiperintoxicação do organismo, incapaz por isso de transmutar os elementos nutritivos de que necessita através daqueles que recebe
6 - Com o mito das vitaminas, punha-se toda a gente a beber doses industriais de frutos altamente entrópicos como a laranja e o tomate, o que é evidentemente óptimo para ter sempre o consumidor nas mãos do médico, devido às doses potássicas industriais que tal regime acarreta.
Não tardou muito que o excesso de vitaminas sintéticas não começasse a constituir também um problema de saúde pública.
Segundo o «Journal» da associação Médica Norte-Americana, o abuso de vitaminas estaria à beira de se converter num dos maiores problemas de saúde nos Estados Unidos.
O Dr. Philip White, director de nutrição, sugere aos seus colegas que estejam atentos ao exagerado número de casos de envenenamento por excesso de ingestão vitamínica, especialmente a partir do momento em que deixou de haver restrições na sua aquisição.
O dr. Bennet Schaywitz, que trabalha para a Universidade de Yale, informou o «Journal» do caso de uma criança de quatro anos que ficou gravemente doente por ingerir doses maciças de vitaminas que tirava da despensa da avó.
Quando a levaram ao hospital, com febre alta e dor nos ossos, descobriu-se que a criança tinha uma hipervitaminose de vitamina , que era superior dez vezes ao índice tolerável pelo organismo humano.
O dr. Schaywitz sublinhou que muitas crianças com leves deformações cerebrais foram tratadas com doses elevadas de vitaminas por nutricionistas que procuravam impor a sua própria terapia.
O Dr. White afirmou, por sua vez, que comprovou nos supermercados a venda de produtos vitamínicos com cargas de 8, 16 e 32 mil vezes acima dos níveis recomendados pelas autoridades médicas do país.
O «Journal» cita os exemplos prejudiciais de uma terapia vitamínica maciça no tratamento da artrite e desordens psiquiátricas (Vitamina A9), prevenção de catarros e resfriados (Vitamina C), nevrose (Vitamina B-1), da Vitamina E para tratar a esterilidade e as enfermidades cardíacas e a pseudovitamina B-17 para o cancro.
Apesar de ter sido denunciado há muito tempo, o monossódio de glutamato ( comercializado em Portugal com o nome de [???] continua a utilizar-se na cozinha doméstica em restaurantes.
Em Setembro de 1972, um investigador médico de Washington advertiu que os bébés a quem fossem dados alimentos contendo uma mistura de um fortificante de monossódio de glutamato - mais conhecido no mercado por M.S.G. - estavam expostos a possíveis danos produzidos no cérebro.
O dr. John Olney, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, Missouri, disse que os bébés podiam ser alimentados com produtos para adultos contendo M.S.G. ou receberam esses alimentos através do leite materno.
O Dr. JohnOlney disse a uma comissão do Senado, destinada à selecção de nutrição e necessidades alimentares huamanas, que em 1969, após investigações laboratoriais, descobriu que o M.S.G. destruía células cerebrais de bébés animais.
Os fabricantes americanos de comidas para bebés deixaram, mais tarde, voluntariamente, de utilizar a mistura fortificante nos seus produtos mas o dr. Olney reivindica que o M.S.G. continua ainda em utilização em certos alimentos vendidos ao público, muito embora sejam rotulados para adultos. O perigo está em que o M.S.G. poderá ser absorvido pelos bebés mesmo através do leite materno.
Poluentes e antipoluentes formam uma interminável cadeia de interesses interligados e que fazem girar a roda dos lucros e de novas indústrias.
Se há um poluente, o mais lógico seria indagar da causa que o produz. Mas não é isso o que acontece: se há um poluente e é uma fabrica, por exemplo, que o produz, ninguem vai indagar da causa que o produz mas logo se pensará em produzir um anti-poluente. O que pode originar uma nova indústria e novos poluentes que, por sua vez, irão justificar novos antipoluentes e portanto novas indústrias.
Este esquema não é tão caricatural como pode parecer.
Em Tóquio, por exemplo, depois da poluição ter transformado a cidade num inferno, houve logo quem preconizasse «máscaras anti-gás».
O director do Instituto de Investigações sobre Perigos Públicos, Michitaki Kaino, lembraria numa assembleia que as máscaras anti-gás seriam tão necessárias aos residentes da capital japonesa como os chapéus de chuva nos dias de mau tempo.
Uma semana antes, o governo tinha avisado os habitantaes da capital japonesa para permanecerem dentro de casa, a fim de evitar irritações nos olhos e na garganta em consequência de uma nuvem de fumo e ácido sulfúrico que pairou sobre a cidade durante tês dias consecutivos.
Puxar a poluição - efeito - a primeiro plano, permite omitir os factores causais que condicionam a qualidade de vida de uma sociedade.
Um desse factores é a insegurança, que não tendo nada a ver com poluições, tende a ser esquecida e menosprezada.
Não será a poluição mas a insegurança que, na maior parte dos casos, provoca maior contingente de mortes e doenças. Diz-se depois que é o «preço a pagar pelo progresso».
Sendo a sociedade de consumo - a que alguns chamam sociedade do desperdício - a sociedade da violência, do traumatismo pré-preparado e provocado, mesmo quando não polui, ela mata, tortura, fere, traumatiza, estraga, rasga, arranha.
As estatísticas de mortos e feridos nas estradas, por exemplo, limitam-se na sua neutralidade a debitar números que fazem esquecer a realidade humana desses números. Esta - a estatística - é outra forma de omissão das causas.
É a forma liofilizada de esquecer a insegurança estrutural da sociedade do consumo e da violência.
Em Outubro de 1975, a Organização Mundial de Saúde anunciava que os acidentes rodoviários matam anualmente 250 mil pessoas e ferem mais de 9 milhões.
Vinte ou trinta anos decorridos, não se espera que a situação haja melhorado. É próprio da sociedade de consumo nunca recuar no números e nos recordes que vai registando.
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