PROSPECTIVA 1971
1-1 - 71-05-17-di> terça-feira, 10 de Dezembro de 2002-scan
ALTERNATIVAS PARA O CONGESTIONAMENTO(*)
17-5-1971 - O modus vivendi ocidental goza, pelo menos, de uma particularidade curiosa. Gera em si próprio os anti-corpos que irá reabsorver e assimilar. Tudo o que de valioso se tem criado é por oposição ao meio, ao sistema, à ordem estabelecida. Autor ou movimento que permaneça, nasce sempre por oposição.
Chamo crítica a essa permanente oposição do espírito criador, inovador e revolucionário contra o status quo.
Há quem queira hoje limitar todos os problemas ao status quo burguês e, portanto, que a oposiçao anti-burguesa seja a única viável e lícita. Depois de feita a revolução anti-burguesa, todas as outras estão automatica-mente feitas.
Ora é aqui que entro em discordância não só com a crítica de esquerdas mas com certos opositores ditos "tecnocratas" e que se dedicam à Prospectiva ou Futurologia.
Não estou com a Prospectiva quando pretende apenas prolongar, sem mutação, as estruturas da sociedade tecnológica tal como está e fala de um futu-ro super-industrializado em. que capitalismo e comunismo "deixariam de ter sentido." Evidentemente que não compartilho desta ingenuidade política.
Mas estou com a Prospectiva quando se apresenta como alternativa para o "congestionamento" que se verifica na civilização tecnológica e super-industrializada, para criticar esse congestionamento e propor alternativas.
E não estou com a crítica de esquerdas, quando esta se limita a uma análise económica do capitalismo, terminando com essa e nessa análise a sua oposição ao sistema. Penso que o sistema, não só enquanto ordem burguesa e estrutura capitalista, terá ainda muito mais a contestar.
Assim pensaram alguns líders do movimento de Maio 68. Temos de continuar a contestar, mesmo quando alguns param em determinado status quo que se pretende revolucionário e que diz ter substituído o stats quo anteri-or. Será o que se chama contestação permanente?
Sei de cor um dos argumentos usados: tanto o capitalismo como o comunismo fazem-se com a tecnologia e se é contra o teor tecnológico (tecnocrático, dizem alguns) da civilização o que se insurgem hoje muitos críticos, a revolução que pretendem é contra a tecnologia e não já contra um ou outro dos dois sistemas políticos.
A pergunta é: a civilização terá fatalmente que seguir a lógica tecnológica, ou pode inflectir em outros sentidos, em outro sentido? Pode haver alternativas? E podem coexistir vários modus vivendi? O carácter totalitário e absolutista da civilização tecnológica não impedirá exactamente que vivam e sobrevivam minorias out?
Estas minorias out não pretendera impor urbi et orbi o seu modus vivendi. Mas será assim com o modus vivendi tecnológico? A fatalidade tecnológica não será apenas um mito posto a correr pelos funcionários-burocratas do sistema?
Eis o que interessa desvendar e eis o que alguns grupos, algumas minorias juvenis estão tentando desvendar. Na prática. Na Pátria da Utopia.
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(*) Este texto de Afonso Cautela parece ter permanecido inédito
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ALTERNATIVAS PARA O CONGESTIONAMENTO(*)
17-5-1971 - O modus vivendi ocidental goza, pelo menos, de uma particularidade curiosa. Gera em si próprio os anti-corpos que irá reabsorver e assimilar. Tudo o que de valioso se tem criado é por oposição ao meio, ao sistema, à ordem estabelecida. Autor ou movimento que permaneça, nasce sempre por oposição.
Chamo crítica a essa permanente oposição do espírito criador, inovador e revolucionário contra o status quo.
Há quem queira hoje limitar todos os problemas ao status quo burguês e, portanto, que a oposiçao anti-burguesa seja a única viável e lícita. Depois de feita a revolução anti-burguesa, todas as outras estão automatica-mente feitas.
Ora é aqui que entro em discordância não só com a crítica de esquerdas mas com certos opositores ditos "tecnocratas" e que se dedicam à Prospectiva ou Futurologia.
Não estou com a Prospectiva quando pretende apenas prolongar, sem mutação, as estruturas da sociedade tecnológica tal como está e fala de um futu-ro super-industrializado em. que capitalismo e comunismo "deixariam de ter sentido." Evidentemente que não compartilho desta ingenuidade política.
Mas estou com a Prospectiva quando se apresenta como alternativa para o "congestionamento" que se verifica na civilização tecnológica e super-industrializada, para criticar esse congestionamento e propor alternativas.
E não estou com a crítica de esquerdas, quando esta se limita a uma análise económica do capitalismo, terminando com essa e nessa análise a sua oposição ao sistema. Penso que o sistema, não só enquanto ordem burguesa e estrutura capitalista, terá ainda muito mais a contestar.
Assim pensaram alguns líders do movimento de Maio 68. Temos de continuar a contestar, mesmo quando alguns param em determinado status quo que se pretende revolucionário e que diz ter substituído o stats quo anteri-or. Será o que se chama contestação permanente?
Sei de cor um dos argumentos usados: tanto o capitalismo como o comunismo fazem-se com a tecnologia e se é contra o teor tecnológico (tecnocrático, dizem alguns) da civilização o que se insurgem hoje muitos críticos, a revolução que pretendem é contra a tecnologia e não já contra um ou outro dos dois sistemas políticos.
A pergunta é: a civilização terá fatalmente que seguir a lógica tecnológica, ou pode inflectir em outros sentidos, em outro sentido? Pode haver alternativas? E podem coexistir vários modus vivendi? O carácter totalitário e absolutista da civilização tecnológica não impedirá exactamente que vivam e sobrevivam minorias out?
Estas minorias out não pretendera impor urbi et orbi o seu modus vivendi. Mas será assim com o modus vivendi tecnológico? A fatalidade tecnológica não será apenas um mito posto a correr pelos funcionários-burocratas do sistema?
Eis o que interessa desvendar e eis o que alguns grupos, algumas minorias juvenis estão tentando desvendar. Na prática. Na Pátria da Utopia.
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(*) Este texto de Afonso Cautela parece ter permanecido inédito
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