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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2005-12-16

DEEP ECOLOGY 1988

88-12-17-ie-cpt> sexta-feira, 22 de Novembro de 2002-scan – remete para file 87-04-17-ie> inédito

AS CONSTANTES DO PROGRESSO (*)

[17-12-1988] - Não queremos deixar de contribuir, nesta modesta crónica, para abrilhantar algumas iniciativas de âmbito oficial, em defesa dos direitos humanos e planetários.
Lembro a iniciativa presidencial "Memória do Século" (antes designada "balanço ") e o Ano Europeu do Ambiente, jogada da C.E.E.
Também se ouve, com grande insistência, que é preciso dar um "estatuto científico" ao ecologismo.
Pois claro, ora essa. É para já.
Como a memória é curta e a vida breve, o contributo cientifico desta crónica regional (Planeta Terra) refere-se, por agora, às constantes do sistema que vive de ir matando os ecossistemas, constantes que são, como se sabe, a primeira etapa para chegar à definição das leis científicas que regem o funcionamento da giga-joga a que alguns engenheiros, muito emproados, chamam Progresso.
Bom proveito.

SÓ VANTAGENS E BENEFÍCIOS

Convencido a ver só vantagens e benefícios nos produtos da sociedade industrial, o consumidor é normalmente (por norma) convidado a esquecer os malefícios e as desvantagens, restando-lhe gozar e enaltecer os benefícios e as vantagens.
Contra todas as evidências da interdependência, o sistema omite o próprio fatalismo a que deve cega obediência.
"Não há fumo sem fogo" diz a sabedoria popular. Mas o sistema quase sempre quer que haja fogo sem (se dar pelo)fumo.
Ou, mais frequentemente, separa o fumo do fogo, para que o nexo de causalidade não se note.
Distanciar das causas a atenção para a concentrar nos efeitos (sintomas), actua assim como um anestésico sobre as mentalidades.
Não é difícil ao sistema fazer com que o consumidor ignore completamente o "preço" que paga pelos progressos da civilização, já que os efeitos de uma agressão sobre os ecossistemas são, regra geral, difusos, indirectos e a médio ou longo prazo.
E este distanciamento, no espaço e no tempo, entre causa e efeito, que permite ao sistema "matar" sem ninguém dar por isso. Quando surge a disfunção - que nos seres vivos se chama doença - quem indaga da causa?
É mais fácil, então, fazer crer, à maneira medieval, que tudo o que nos acontece, cai do céu.
Em vez de Ecologia - ou análise das interdependências entre tudo o que existe - temos a Teologia.
E o nosso tempo, a nível de ideologia dominante, é mais teológico do que ecológico, no que respeita à demanda das causas responsáveis - poluidores nacionais ou multinacionais, por exemplo.
Quando uma inovação tecnológica é apresentada inicialmente como vantagem, progresso, benefício e até como grande favor para a gente (e é sempre), mas mais tarde se tornam patentes os inconvenientes e desvantagens dessa inovação tecnológica, a interdependência de causa-efeito é inegável mas o sistema (através da sua ideologia dominante) tenta obviar aos inconvenientes com aquilo mesmo que os produziu, tenta curar a mordidela do cão com a saliva do (mesmo) bicho, dando origem aos ciclos viciosos.

O CICLO VICIOSO

O ciclo vicioso é um efeito perverso e pervertida da (lei da) interpendência.
Exemplo de interdependência perversa ou pervertida: quando o sistema utiliza radiações para combater o cancro que é produzido, entre muitas outras causas, exactamente por radiações ionizantes, evidencia-se , inflexível, a lei da interdependência mas na sua forma pervertida; quando se utilizam medicamentos para tratar doenças que, na maior parte dos casos, foram provocadas por medicamentos ou/e outros procedimentos médicos, evidencia-se a lei da interdependência mas na sua forma perversa de ciclo vicioso: o efeito que volta a ser causa, o remédio que começou por ser doença, a faca que corta a ferida que abriu.
Quando o sistema utiliza detergentes (que é um derivado do petróleo) para combater as marés negras provocadas pelo petróleo derramado dos petroleiros partidos, revela-se ainda a lei da interdependência mas na forma de ciclo vicioso.
Quando se analisa o sistema que vive de ir matando os ecossistemas, esta perversão estrutural salta à vista como contradição fundamental que manieta e manipula os indivíduos na engrenagem a que estão sujeitos.
No caso particular do subsistama médico - modelo de todo o macrosistema, aliás - o ataque sintomatológico em vez da prevenção causal e / ou profilática e uma das suas caracteristicas dominantes, uma das suas leis inflexíveis.
Embora todos os gastos a prevenir a doença por meios profilácticos sejam sempre produtivos à la longue e a higiene, em sentido estrito e em sentido lato, compense sempre (mais vale prevenir do que remediar), surge sempre o argumento "monetarista" para não se fazerem investimentos na prevenção e na profilaxia.
No entanto, o mais "anti-económico", por definição e natureza , é sempre a doença e deixar que a doença prolifere através das causas que a provocam e que não são eliminadas.
Griffith Edwards, consultor da Organização Mundial de Saúde e chefe honorário da Divisão de Pesquisas sobre Dependência, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres, expressa de maneira vigorosa (e ecológica) esse carácter anti-económico de certas "economias" quando, a propósito de alcoolismo, escreve, na revista "Saúde Mundial" (Junho de 1979) o seguinte:
"É um paradoxo absurdo utilizar a receita fiscal produzida pelo álcool para construir estradas nas quais não se pode conduzir em segurança, dada a presença de motoristas embriagados; construir hospitais que ficarão sobrecarregados, com 30 por cento cios leitos tonados por doenças relacionadas com o alcool; fazer grandes gastos no treinamento de técnicos que morrem de cirrose; ou usar essa dinheiro para construir novas prisões, onde 50 por cento dos detidos que ali se acham ao fim do dia foram presos por terem bebido. O argumento do oportunismo económico é especioso.»
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(*) Não sei se com este título, este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», Crónica do Planeta Terra, 17-12-1988
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DEEP ECOLOGY 1979

fome-1-ie>=ideia ecológica do afonso-os dossiês do silêncio–cadernos do ecomilitante – breviários do ecologista

AGRÓNOMOS DA FOME,ACIMA DE TODA A SUSPEITA(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi parcialmente publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 13/10/1979

17/12/1979 - Desde que uma instituição torna os fracassos rotina, a sua imagem ganha com isso, face à opinião pública, uma espécie de habituação que funciona como borracha neutralizadora.
Quando uma instituição como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentar a Fome Mundial), ao longo destes seus vinte e tal anos, vem trimestralmente confessar os seus crescentes fracassos quanto às bocas que dizia alimentar, não é "dar o braço a torcer", mostrar a sua iníqua inocuidade, fazer estrondoso estendal dos seus falhanços e dos erros estruturais da sua malvada estratégia agro-tecnocrata. Não é nada disso: é uma espécie de anestésico que permite continuar a alimentar a Fome Mundial sem que a opinião pública se doa ou sensibilize já, à consecutiva confissão de tão consecutivo e sistemático fracasso.
A FAO leva os 365 dias do ano a dizer que os esfomeados aumentam, que aumenta o número de crianças desnutridas, assim, assado, frito, cozido.
A FAO consegue falar tão alto, que já ninguém a ouve e dá por isso.
Proveito imediato desta campanha "informativa" tira-o, pelo menos num ponto: os países "pobres" são, nas linhas e entrelinhas, acusados sempre de terem dívidas externas colossais.
Num telex da France Press (17.12.1979) , por exemplo, "afirma-se que as dívidas dos países em desenvolvimento se elevam a cerca de 300 biliões de dólares."
A FAO é especialista em números estarrecedores e teima em lembrar, de cinco em cinco minutos, que os esfomeados para o ano 2000 serão 250 milhões. É tudo em grande, graças a Deus!
"Flagelo de fome" é o "leit-motiv" com que começam sempre estes telexes a contar as proezas e aventuras da dita FAO. E a cadência do fado está desde logo marcada para acompanhar com as guitarras habituais do "excesso demográfico” e da "falta de ajuda" dos países "desenvolvidos", esses ingratos. Os camaradas que redigem estes telexes nunca escrevem "países exploradores" ou "países-pilhagem do Terceiro Mundo". Em "deontologia" jornalística, isso significaria fugir à famigerada "objectividade" do jornalista.
Quando se chama aos bois pelos nomes, vem logo um especialista em “mass media" dizer que sou subjectivo. Se se enfia o barrete dos eufemismos tipo "país desenvolvido" , - chavão forjado pelos organismos do tipo FAO, OCDE, CEE ou tutti quanti, - então isso é logo da mais sereníssima "objectividade".
Mas quando se fala da fome, que fique claro: é da ideologia desenvolvimentista que se fala e dos jornalistas por ela alimentados.
Quando se fala de ecologia é desta "economia" faoística, ao serviço da pilhagem e da exploração do homem pelo homem, que se fala.
E a exploração implica intrínseca e estruturalmente a “ manipulação do homem pelo homem" que estes telexes com notícias da FAO exalam.
Faz parte desta estratégia agro-tecnocrata ter ao serviço os jornalistas amestrados que são os primeiros a explicar, justificar e prorrogar a fome até às calendas, dos humilhados e explorados deste Mundo.
Faz parte do trabalho de um jornalista não amestrado nem alinhando ir sempre que possível detectando a teia: não porque tenha força de vontade para a destruir, mas para, em consciência, saber muito bem em que entrelinhas se infiltra a ideologia maltusiana desses eminentes agrónomos da Fome.

AGRICULTURA, INDÚSTRIA DE GUERRA

Os textos que inspiram toda a ciência agroquímica que se dá nos universidades e transmite às novas gerações, são exemplos frisantes e típicos de um discurso tecnocrático que despreza a Natureza, odeia a vida, ignora as leis da Ordem do Universo.
A Fitopatologia que se ensina nas escolas é mais semelhante a uma indústria de guerra do que a uma arte de paz.
Os técnicos agrários, não contentes em ter transformado a agricultura numa tecnologia mecânica, fizeram dela, há um século para cá, uma indústria de guerra perpétua.
A corrida para a destruição em que adubos e pesticidas meterem a agricultura, parece não ter saída nem alternativa dentro do sistema cultural vigente, dentro das vigentes ideologias do desenvolvimento e do crescimento económico indefinido. Os técnicos agrários só vislumbram a guerra cada vez mais encarniçada, só a destruição cada vez mais raivosa, só a violência cada vez mais in extremis.
Mas como a destruição engendra destruição e a violência engendra violência, eis que o beco sem saída da Agricultura transformada em "indústria pesada" se oferece aos olhos esbugalhados de agrários e técnicos como o panorama do fim do Mundo, do fim da terra...
Em desespero da causa, vem o técnico mais ardiloso e descobre, no laboratório, aquilo que se quer dar como alternativa para os pesticidas e a luta química em geral: vem o técnico e descobre a "luta biológica". Reconhecendo que a guerra química está perdida, reconhecendo que não é possível continuar queimando as terras e, ao mesmo tempo, exigindo delas alimento (absurdo que só os autênticas paranóicos continuam defendendo), vem um fitopatologista mais esperto a "descobre" a"luta biológica" Não desiste da palavra "luta" mas agrega-lha a palavra"biológica", já hoje mágica, à medida que a escalada Biocida prossegue...
Mas com e"luta biológica" (alternativa reformista dentro do sistema e não uma alternativa revolucionária para fora do sistema ecocida), temos de novo a asneira tecnocrática em campo, a desmedida megalomania do biotécnico supondo que pode por e dispor da Natureza a seu belo prazer, que pode pôr ordem nas coisas naturais, que pode sobrepor-se à Ordem do Universo, dominar, esmagar, tripudiar, etc. como sempre tem vindo a fazer, com grande orgulho ...científico dos ideólogos vendidos aos imperialismos.
É bom que o militante medite no discurso que alguns tecnofascistas da "luta biológica" lhe impingem, em desespero de causa, vendo perdida a guerra que a hecatombe química trava nos solos mas não querendo desistir da sua supremacia e domínio sobre a Natureza.
É bom que as analise e discuta a ideologia que preside à destruição ecológica dos solos. Só assim se poderá reconstruir a ideologia criadora revolucionária ia da Idade Solar que, entre partos a prantos, se aproxima para a próxima e venturosa geração que terá a felicidade de a viver.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi parcialmente publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra),13/10/1979
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