DEEP ECOLOGY 1979
fome-1-ie>=ideia ecológica do afonso-os dossiês do silêncio–cadernos do ecomilitante – breviários do ecologista
AGRÓNOMOS DA FOME,ACIMA DE TODA A SUSPEITA(*)
(*) Este texto de Afonso Cautela foi parcialmente publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 13/10/1979
17/12/1979 - Desde que uma instituição torna os fracassos rotina, a sua imagem ganha com isso, face à opinião pública, uma espécie de habituação que funciona como borracha neutralizadora.
Quando uma instituição como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentar a Fome Mundial), ao longo destes seus vinte e tal anos, vem trimestralmente confessar os seus crescentes fracassos quanto às bocas que dizia alimentar, não é "dar o braço a torcer", mostrar a sua iníqua inocuidade, fazer estrondoso estendal dos seus falhanços e dos erros estruturais da sua malvada estratégia agro-tecnocrata. Não é nada disso: é uma espécie de anestésico que permite continuar a alimentar a Fome Mundial sem que a opinião pública se doa ou sensibilize já, à consecutiva confissão de tão consecutivo e sistemático fracasso.
A FAO leva os 365 dias do ano a dizer que os esfomeados aumentam, que aumenta o número de crianças desnutridas, assim, assado, frito, cozido.
A FAO consegue falar tão alto, que já ninguém a ouve e dá por isso.
Proveito imediato desta campanha "informativa" tira-o, pelo menos num ponto: os países "pobres" são, nas linhas e entrelinhas, acusados sempre de terem dívidas externas colossais.
Num telex da France Press (17.12.1979) , por exemplo, "afirma-se que as dívidas dos países em desenvolvimento se elevam a cerca de 300 biliões de dólares."
A FAO é especialista em números estarrecedores e teima em lembrar, de cinco em cinco minutos, que os esfomeados para o ano 2000 serão 250 milhões. É tudo em grande, graças a Deus!
"Flagelo de fome" é o "leit-motiv" com que começam sempre estes telexes a contar as proezas e aventuras da dita FAO. E a cadência do fado está desde logo marcada para acompanhar com as guitarras habituais do "excesso demográfico” e da "falta de ajuda" dos países "desenvolvidos", esses ingratos. Os camaradas que redigem estes telexes nunca escrevem "países exploradores" ou "países-pilhagem do Terceiro Mundo". Em "deontologia" jornalística, isso significaria fugir à famigerada "objectividade" do jornalista.
Quando se chama aos bois pelos nomes, vem logo um especialista em “mass media" dizer que sou subjectivo. Se se enfia o barrete dos eufemismos tipo "país desenvolvido" , - chavão forjado pelos organismos do tipo FAO, OCDE, CEE ou tutti quanti, - então isso é logo da mais sereníssima "objectividade".
Mas quando se fala da fome, que fique claro: é da ideologia desenvolvimentista que se fala e dos jornalistas por ela alimentados.
Quando se fala de ecologia é desta "economia" faoística, ao serviço da pilhagem e da exploração do homem pelo homem, que se fala.
E a exploração implica intrínseca e estruturalmente a “ manipulação do homem pelo homem" que estes telexes com notícias da FAO exalam.
Faz parte desta estratégia agro-tecnocrata ter ao serviço os jornalistas amestrados que são os primeiros a explicar, justificar e prorrogar a fome até às calendas, dos humilhados e explorados deste Mundo.
Faz parte do trabalho de um jornalista não amestrado nem alinhando ir sempre que possível detectando a teia: não porque tenha força de vontade para a destruir, mas para, em consciência, saber muito bem em que entrelinhas se infiltra a ideologia maltusiana desses eminentes agrónomos da Fome.
AGRICULTURA, INDÚSTRIA DE GUERRA
Os textos que inspiram toda a ciência agroquímica que se dá nos universidades e transmite às novas gerações, são exemplos frisantes e típicos de um discurso tecnocrático que despreza a Natureza, odeia a vida, ignora as leis da Ordem do Universo.
A Fitopatologia que se ensina nas escolas é mais semelhante a uma indústria de guerra do que a uma arte de paz.
Os técnicos agrários, não contentes em ter transformado a agricultura numa tecnologia mecânica, fizeram dela, há um século para cá, uma indústria de guerra perpétua.
A corrida para a destruição em que adubos e pesticidas meterem a agricultura, parece não ter saída nem alternativa dentro do sistema cultural vigente, dentro das vigentes ideologias do desenvolvimento e do crescimento económico indefinido. Os técnicos agrários só vislumbram a guerra cada vez mais encarniçada, só a destruição cada vez mais raivosa, só a violência cada vez mais in extremis.
Mas como a destruição engendra destruição e a violência engendra violência, eis que o beco sem saída da Agricultura transformada em "indústria pesada" se oferece aos olhos esbugalhados de agrários e técnicos como o panorama do fim do Mundo, do fim da terra...
Em desespero da causa, vem o técnico mais ardiloso e descobre, no laboratório, aquilo que se quer dar como alternativa para os pesticidas e a luta química em geral: vem o técnico e descobre a "luta biológica". Reconhecendo que a guerra química está perdida, reconhecendo que não é possível continuar queimando as terras e, ao mesmo tempo, exigindo delas alimento (absurdo que só os autênticas paranóicos continuam defendendo), vem um fitopatologista mais esperto a "descobre" a"luta biológica" Não desiste da palavra "luta" mas agrega-lha a palavra"biológica", já hoje mágica, à medida que a escalada Biocida prossegue...
Mas com e"luta biológica" (alternativa reformista dentro do sistema e não uma alternativa revolucionária para fora do sistema ecocida), temos de novo a asneira tecnocrática em campo, a desmedida megalomania do biotécnico supondo que pode por e dispor da Natureza a seu belo prazer, que pode pôr ordem nas coisas naturais, que pode sobrepor-se à Ordem do Universo, dominar, esmagar, tripudiar, etc. como sempre tem vindo a fazer, com grande orgulho ...científico dos ideólogos vendidos aos imperialismos.
É bom que o militante medite no discurso que alguns tecnofascistas da "luta biológica" lhe impingem, em desespero de causa, vendo perdida a guerra que a hecatombe química trava nos solos mas não querendo desistir da sua supremacia e domínio sobre a Natureza.
É bom que as analise e discuta a ideologia que preside à destruição ecológica dos solos. Só assim se poderá reconstruir a ideologia criadora revolucionária ia da Idade Solar que, entre partos a prantos, se aproxima para a próxima e venturosa geração que terá a felicidade de a viver.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi parcialmente publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra),13/10/1979
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AGRÓNOMOS DA FOME,ACIMA DE TODA A SUSPEITA(*)
(*) Este texto de Afonso Cautela foi parcialmente publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 13/10/1979
17/12/1979 - Desde que uma instituição torna os fracassos rotina, a sua imagem ganha com isso, face à opinião pública, uma espécie de habituação que funciona como borracha neutralizadora.
Quando uma instituição como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentar a Fome Mundial), ao longo destes seus vinte e tal anos, vem trimestralmente confessar os seus crescentes fracassos quanto às bocas que dizia alimentar, não é "dar o braço a torcer", mostrar a sua iníqua inocuidade, fazer estrondoso estendal dos seus falhanços e dos erros estruturais da sua malvada estratégia agro-tecnocrata. Não é nada disso: é uma espécie de anestésico que permite continuar a alimentar a Fome Mundial sem que a opinião pública se doa ou sensibilize já, à consecutiva confissão de tão consecutivo e sistemático fracasso.
A FAO leva os 365 dias do ano a dizer que os esfomeados aumentam, que aumenta o número de crianças desnutridas, assim, assado, frito, cozido.
A FAO consegue falar tão alto, que já ninguém a ouve e dá por isso.
Proveito imediato desta campanha "informativa" tira-o, pelo menos num ponto: os países "pobres" são, nas linhas e entrelinhas, acusados sempre de terem dívidas externas colossais.
Num telex da France Press (17.12.1979) , por exemplo, "afirma-se que as dívidas dos países em desenvolvimento se elevam a cerca de 300 biliões de dólares."
A FAO é especialista em números estarrecedores e teima em lembrar, de cinco em cinco minutos, que os esfomeados para o ano 2000 serão 250 milhões. É tudo em grande, graças a Deus!
"Flagelo de fome" é o "leit-motiv" com que começam sempre estes telexes a contar as proezas e aventuras da dita FAO. E a cadência do fado está desde logo marcada para acompanhar com as guitarras habituais do "excesso demográfico” e da "falta de ajuda" dos países "desenvolvidos", esses ingratos. Os camaradas que redigem estes telexes nunca escrevem "países exploradores" ou "países-pilhagem do Terceiro Mundo". Em "deontologia" jornalística, isso significaria fugir à famigerada "objectividade" do jornalista.
Quando se chama aos bois pelos nomes, vem logo um especialista em “mass media" dizer que sou subjectivo. Se se enfia o barrete dos eufemismos tipo "país desenvolvido" , - chavão forjado pelos organismos do tipo FAO, OCDE, CEE ou tutti quanti, - então isso é logo da mais sereníssima "objectividade".
Mas quando se fala da fome, que fique claro: é da ideologia desenvolvimentista que se fala e dos jornalistas por ela alimentados.
Quando se fala de ecologia é desta "economia" faoística, ao serviço da pilhagem e da exploração do homem pelo homem, que se fala.
E a exploração implica intrínseca e estruturalmente a “ manipulação do homem pelo homem" que estes telexes com notícias da FAO exalam.
Faz parte desta estratégia agro-tecnocrata ter ao serviço os jornalistas amestrados que são os primeiros a explicar, justificar e prorrogar a fome até às calendas, dos humilhados e explorados deste Mundo.
Faz parte do trabalho de um jornalista não amestrado nem alinhando ir sempre que possível detectando a teia: não porque tenha força de vontade para a destruir, mas para, em consciência, saber muito bem em que entrelinhas se infiltra a ideologia maltusiana desses eminentes agrónomos da Fome.
AGRICULTURA, INDÚSTRIA DE GUERRA
Os textos que inspiram toda a ciência agroquímica que se dá nos universidades e transmite às novas gerações, são exemplos frisantes e típicos de um discurso tecnocrático que despreza a Natureza, odeia a vida, ignora as leis da Ordem do Universo.
A Fitopatologia que se ensina nas escolas é mais semelhante a uma indústria de guerra do que a uma arte de paz.
Os técnicos agrários, não contentes em ter transformado a agricultura numa tecnologia mecânica, fizeram dela, há um século para cá, uma indústria de guerra perpétua.
A corrida para a destruição em que adubos e pesticidas meterem a agricultura, parece não ter saída nem alternativa dentro do sistema cultural vigente, dentro das vigentes ideologias do desenvolvimento e do crescimento económico indefinido. Os técnicos agrários só vislumbram a guerra cada vez mais encarniçada, só a destruição cada vez mais raivosa, só a violência cada vez mais in extremis.
Mas como a destruição engendra destruição e a violência engendra violência, eis que o beco sem saída da Agricultura transformada em "indústria pesada" se oferece aos olhos esbugalhados de agrários e técnicos como o panorama do fim do Mundo, do fim da terra...
Em desespero da causa, vem o técnico mais ardiloso e descobre, no laboratório, aquilo que se quer dar como alternativa para os pesticidas e a luta química em geral: vem o técnico e descobre a "luta biológica". Reconhecendo que a guerra química está perdida, reconhecendo que não é possível continuar queimando as terras e, ao mesmo tempo, exigindo delas alimento (absurdo que só os autênticas paranóicos continuam defendendo), vem um fitopatologista mais esperto a "descobre" a"luta biológica" Não desiste da palavra "luta" mas agrega-lha a palavra"biológica", já hoje mágica, à medida que a escalada Biocida prossegue...
Mas com e"luta biológica" (alternativa reformista dentro do sistema e não uma alternativa revolucionária para fora do sistema ecocida), temos de novo a asneira tecnocrática em campo, a desmedida megalomania do biotécnico supondo que pode por e dispor da Natureza a seu belo prazer, que pode pôr ordem nas coisas naturais, que pode sobrepor-se à Ordem do Universo, dominar, esmagar, tripudiar, etc. como sempre tem vindo a fazer, com grande orgulho ...científico dos ideólogos vendidos aos imperialismos.
É bom que o militante medite no discurso que alguns tecnofascistas da "luta biológica" lhe impingem, em desespero de causa, vendo perdida a guerra que a hecatombe química trava nos solos mas não querendo desistir da sua supremacia e domínio sobre a Natureza.
É bom que as analise e discuta a ideologia que preside à destruição ecológica dos solos. Só assim se poderá reconstruir a ideologia criadora revolucionária ia da Idade Solar que, entre partos a prantos, se aproxima para a próxima e venturosa geração que terá a felicidade de a viver.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi parcialmente publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra),13/10/1979
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