ECOS 1990
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«CIDADÃOS PELO AMBIENTE»
2/Dezembro/1990
Instrumentalizar as ideias ecologistas e servir-se de plataformas que alguns ecologistas e ambientalistas de boa fé tiveram o trabalho de criar, parece ser uma das notas dominantes a extrair do encontro realizado no sábado, sob o título «Cidadãos pelo Ambiente».
Partiu-se muita pedra, as comunicações escritas - Romeu de Melo, João Reis Gomes, José Carlos Costa Marques, Viriato Marques, Gonçalo Ribeiro Teles [---]
Os dados estão lançados: os produtores de ideias na causa ecologista continuam em forma e alguns, como Delgado Domingos, José Carlos Marques e Romeu de Melo - que não esteve presente mas mandou um texto - nunca se mostraram tão firmes.
O que irá sair, no próximo futuro deste encontro de forças, é completamente imprevisível: não só porque a crise do Golfo pode baralhar totalmente os dados de um minuto para o outro, mas também porque a situação a Leste não está segura e pode virar do avesso. É assim prematuro tudo o que se avançar como projecto no próximo futuro.
No mês de Março, em que se prevê uma próxima reunião denominada «forum», pode já não haver história e todos os problemas ecológicos ficarem resolvidos com uma hecatombe total. Alguns como o José Carlos Marques, riram-se deste «apocalipse que está aí» mas, na verdade, foi um riso amarelo.
Ninguém acredita que a «loucura» do imperialismo ocidental, agora sem o reforço do imperialismo soviético, leve a humanidade ao holocausto por causa do petróleo. Mas a verdade é que ninguém consegue traçar outro horizonte para os próximos dias.
Sobre a imensa lavagem ao cérebro que está a ser feita à escala planetária para «habituar» as famílias americanas à ideia de uma chacina maciça dos seus filhos, houve apenas ecos indirectos nesta reunião.
Dissidentes de vários partidos em derrocada interna, apareceram a «oferecer-se» e como há falta de mão-de-obra entre os amigos do Ambiente, devendo ter emprego garantido, muito em breve, no novo partido de cidadãos pelo ambiente que se desenha no horizonte.
Como disse António Eloy, assessor do vereador Luís Coimbra na Câmara Municipal de Lisboa, as próximas eleições legislativas são as últimas em que se poderá formar um partido apenas com 5 mil assinaturas.
Depois, a Democracia fecha para obras. Com o encontro de sábado, ficou claro que o Ambiente continua a ser uma boa porta de entrada para as mais variadas posições partidárias se infiltrarem no processo de reorganização a que, após a queda do muro, se está a verificar no nosso País. O Ambiente leva a tudo e os organizadores deste Encontro abrem a porta para quem quiser passar. O Prof. Delgado Domingos facilitou uma sala no Instituto Superior Técnico para que houvesse uma simulação de debate.
Gonçalo Ribeiro Teles, que está cada vez mais lúcido, deu o tom na parte da manhã: os dados foram lançados, sem lugar a dúvidas, quando aquele ex-líder do Partido Popular Monárquico analisou a crise na base dos modelos de desenvolvimento que se encontram em colapso, a Leste e a Oeste.
Foi mais longe: a questão é de paradigma e o cientismo, o positivismo, o economicismo, são responsáveis pela situação de colapso. Só há um caminho de saída, como ele deixou claro: o renascimento rural associado à construção de uma sociedade paralela e de «tecnologias apropriadas». Se o sistema vigente deixar, o que não tem sido o caso, nem parece que venha a ser.
Na parte da tarde, acentuou-se a «transição». Firmes nas suas posições já conhecidas, Delgado Domingos, José Carlos Marques e Viriato Marques expuseram «projectos de vida» que seriam viáveis, se toda a gente ali estivesse de «boa fé». Como não é o caso, em reuniões deste género, ditas abrangentes e pluralistas, logo depois do intervalo tudo fica claro.
À parte a intervenção de Carlos Antunes, ex-PCP e ex-PRP, que, além de boa fé, se mostrou também realista e lúcido - a crise ecológica ainda agora começou - à parte a intervenção calma, europeia e sincera, o resto da tarde foi um regresso súbito ao esplendor dos anos 75 e 76. Como hoje seria demasiado escandaloso ( e inútil) uma apologia do Nuclear, o tema dos adubos serviu para separar campos e mostrar quem esta(va) ali de boa fé e quem foi ali de má fé.
Pivô de uma plataforma democrática para os ecologistas dialogarem, Luís Tavares, que também presidiu aos trabalhos, tem agora a tarefa de saber como vai digerir os «sapos vivos» que ali, aos saltos, se manifestaram em quantidade assaz numerosa.
No previsto Forum de Março, se a situação de Leste não mudar do avesso, como se prevê, é provável que surjam ainda em maior número os aproveitadores de todas as situações.
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«CIDADÃOS PELO AMBIENTE»
2/Dezembro/1990
Instrumentalizar as ideias ecologistas e servir-se de plataformas que alguns ecologistas e ambientalistas de boa fé tiveram o trabalho de criar, parece ser uma das notas dominantes a extrair do encontro realizado no sábado, sob o título «Cidadãos pelo Ambiente».
Partiu-se muita pedra, as comunicações escritas - Romeu de Melo, João Reis Gomes, José Carlos Costa Marques, Viriato Marques, Gonçalo Ribeiro Teles [---]
Os dados estão lançados: os produtores de ideias na causa ecologista continuam em forma e alguns, como Delgado Domingos, José Carlos Marques e Romeu de Melo - que não esteve presente mas mandou um texto - nunca se mostraram tão firmes.
O que irá sair, no próximo futuro deste encontro de forças, é completamente imprevisível: não só porque a crise do Golfo pode baralhar totalmente os dados de um minuto para o outro, mas também porque a situação a Leste não está segura e pode virar do avesso. É assim prematuro tudo o que se avançar como projecto no próximo futuro.
No mês de Março, em que se prevê uma próxima reunião denominada «forum», pode já não haver história e todos os problemas ecológicos ficarem resolvidos com uma hecatombe total. Alguns como o José Carlos Marques, riram-se deste «apocalipse que está aí» mas, na verdade, foi um riso amarelo.
Ninguém acredita que a «loucura» do imperialismo ocidental, agora sem o reforço do imperialismo soviético, leve a humanidade ao holocausto por causa do petróleo. Mas a verdade é que ninguém consegue traçar outro horizonte para os próximos dias.
Sobre a imensa lavagem ao cérebro que está a ser feita à escala planetária para «habituar» as famílias americanas à ideia de uma chacina maciça dos seus filhos, houve apenas ecos indirectos nesta reunião.
Dissidentes de vários partidos em derrocada interna, apareceram a «oferecer-se» e como há falta de mão-de-obra entre os amigos do Ambiente, devendo ter emprego garantido, muito em breve, no novo partido de cidadãos pelo ambiente que se desenha no horizonte.
Como disse António Eloy, assessor do vereador Luís Coimbra na Câmara Municipal de Lisboa, as próximas eleições legislativas são as últimas em que se poderá formar um partido apenas com 5 mil assinaturas.
Depois, a Democracia fecha para obras. Com o encontro de sábado, ficou claro que o Ambiente continua a ser uma boa porta de entrada para as mais variadas posições partidárias se infiltrarem no processo de reorganização a que, após a queda do muro, se está a verificar no nosso País. O Ambiente leva a tudo e os organizadores deste Encontro abrem a porta para quem quiser passar. O Prof. Delgado Domingos facilitou uma sala no Instituto Superior Técnico para que houvesse uma simulação de debate.
Gonçalo Ribeiro Teles, que está cada vez mais lúcido, deu o tom na parte da manhã: os dados foram lançados, sem lugar a dúvidas, quando aquele ex-líder do Partido Popular Monárquico analisou a crise na base dos modelos de desenvolvimento que se encontram em colapso, a Leste e a Oeste.
Foi mais longe: a questão é de paradigma e o cientismo, o positivismo, o economicismo, são responsáveis pela situação de colapso. Só há um caminho de saída, como ele deixou claro: o renascimento rural associado à construção de uma sociedade paralela e de «tecnologias apropriadas». Se o sistema vigente deixar, o que não tem sido o caso, nem parece que venha a ser.
Na parte da tarde, acentuou-se a «transição». Firmes nas suas posições já conhecidas, Delgado Domingos, José Carlos Marques e Viriato Marques expuseram «projectos de vida» que seriam viáveis, se toda a gente ali estivesse de «boa fé». Como não é o caso, em reuniões deste género, ditas abrangentes e pluralistas, logo depois do intervalo tudo fica claro.
À parte a intervenção de Carlos Antunes, ex-PCP e ex-PRP, que, além de boa fé, se mostrou também realista e lúcido - a crise ecológica ainda agora começou - à parte a intervenção calma, europeia e sincera, o resto da tarde foi um regresso súbito ao esplendor dos anos 75 e 76. Como hoje seria demasiado escandaloso ( e inútil) uma apologia do Nuclear, o tema dos adubos serviu para separar campos e mostrar quem esta(va) ali de boa fé e quem foi ali de má fé.
Pivô de uma plataforma democrática para os ecologistas dialogarem, Luís Tavares, que também presidiu aos trabalhos, tem agora a tarefa de saber como vai digerir os «sapos vivos» que ali, aos saltos, se manifestaram em quantidade assaz numerosa.
No previsto Forum de Março, se a situação de Leste não mudar do avesso, como se prevê, é provável que surjam ainda em maior número os aproveitadores de todas as situações.
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