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2005-12-15

CIÊNCIA 1978

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PSICO & BIO:A VIDA E A ALMA EM LABORATÓRIO(*)

15/12/1978 - A análise dos sintomas paroxísticos que hoje se tornaram sensíveis e espectaculares leva-nos, pelo avesso, a conhecer por dentro o sistema ideológico que nos governa. Nos adoece. Nos mata. Nos aliena. Nos corrompe. Nos condena.
É, no fim de contas, a única utilidade dos sintomas: levar-nos às causas, sabendo então nós de que doença sofre o sistema e como nos tortura dizendo que salva.
Não fora os extremos patológicos a que o sistema fez chegar os ecossistemas e ainda hoje continuaríamos a considerar, como estupendos progressos da ciência, os mais nefandos e negregados crimes.
Graças à poluição, podemos (se quisermos) acordar. E se não for suficiente, outros empurrões receberemos para aprender a (con)viver neste ecossistema Terra.
Nem sempre, porém, a análise dos sintomas nos leva directamente ao conhecimento das causas.
À causa.
Por exemplo: até que ponto uma teoria cientifica (inocente e de bata branca) poderá ser responsável pela tortura, pela manipulação, pela violência, pela mais atroz patologia mental?
Que papel nos crimes de Biocídio podem ter teorias tão inocentes e tão aparentemente desligadas de toda uma praxis violenta e terrorista, teorias como a que compara o cérebro a um computador, o corpo a uma máquina e o homem a um animal?
Ou a teoria (o mito) das vitaminas?
Ou a teoria (a lenda) de que é possível reproduzir vida num laboratório?
Até que ponto é polìticamente responsável por boa parte da Alienação contemporânea ter-se considerado o homem Rei da Natureza e seu Déspota Absoluto?
Até que ponto a "alma no laboratório" de tão ilustres psico-experimentalistas, não conduz directamente à miséria de todas as lavagens ao cérebro?
Até que ponto os testes psico-técnicos não são, na origem e nos resultados, uma forma de controle mental generalizado?
Até que ponto os exames escolares não partem de premissas aleatórias e alienatórias estabelecidas por "modernas escolas psico-experimentalistas, mais medievais do que as medievais?
Até que ponto é deseducativo o conceito de Q.I. (quociente de inteligência)?
Até que ponto é deseducativa uma hierarquização da "inteligência" e o espírito humano reduzido ao cérebro calculador?
Até que ponto é desumano utilizar em experiências ratos ou macacos, retirando daí ilações para o homem?
Historicamente, pelo menos, há uma indiscutível proximidade: toda essa manipulação psico e bïocrática teve o auge na ciência nazi e a maior parte dos"grandes avanços" no campo da engenharia cerebral e afins. Se não vieram de lá, devem-se aos "sábios" que de lá emigraram para os Estados Unidos.
Os nazis tinham a grande vantagem de pôr mais a claro os seus processos: realizavam sempre a experiência em seres humanos sem o eufemismo dos ratos e macacos.
Pode lá haver teoria mais isenta do que a reflexologia de Pavlov?
Mas a que manipulações já conduziu e conduzirá sempre que for preciso?
(" A publicidade é fascista" - Jean Luc Godard )
A injecção de produtos químicos e a transformação do comportamento - até que ponto, tão interessantes experiências, são ou não são desinteressadas?
No fundo é só a curiosidade humana que move esses cientistas misto de poetas: é o espírito da aventura e do desconhecido que os move.
No fundo, trata-se só de matar esta sede, esta fome, esta ansiedade de saber - neutral e objectivamente - que (por exemplo) ratos machos começam, após uma injecção de testosterona no hipotálamo, a ter comportamento de fêmeas e a construir ninhos de papel... (Allan E. Fischer, da Universidade de Pittsburg).
No fundo, haverá alguém mais bem intencionado do que o Prof. Delgado, da Universidade de Yale, quando estimula uma mulher com eléctrodos no lóbulo temporal direito até ao ponto em que a mulher, de tão estimulada, acaba por pedir ao ilustre terapeuta que vá para a cama com ela, tão excitada - estimulada - estava pelo Delgado?
Injectando certos produtos químicos no cérebro, um casal de macacos pode ter 81 relações sexuais em 90 minutos: a experiência é ainda do Prof. Delgado, que nada tem, evidentemente, de tarado sexual, fazendo tudo isso no seu laboratório de bata branca e por amor à arte.
No fundo, trata-se só de saber - como a ciência é desinteressada e curiosa! - que a memória do rato A para o rato B pode ser transplantada por uma operação cirúrgica.
Trata-se só de saber que a memória pode ser estimulada electricamente.
A Ciência é boa, a ciência é neutra, a ciência não é moral nem imoral. Investiga. Se vai ou que vá parar às mãos de torcionários, isso já não é com ela. Nem com a alma branca da bata branca.
Alguma vez a cirurgia do cérebro poderá ser mais do que ciência pura merecedora do Prémio Nobel?
Não será a cirurgia das transplantações, ciência pura, neutra, objectiva, para lá de toda a suspeita e de toda e classificação judicativa e de todo o colaboracionismo?
Dizem outros, desconfiados, que não.
A ciência investiga porque lhe interessa dominar processos ou mecanismos (psíquicos) e pô-los depois, manipulando-os, ao serviço de uma finalidade, de uma ideologia, de uma política, de uma moral, de um objectivo.
É sempre astuta e falsa a pretensa neutralidade da ciência.
Quando, com afinco, se procura o mecanismo da fotossíntese, evidentemente que se poderá considerar objectivo e ideologicamente neutro o conhecimento desse mecanismo. Mas o facto de se ter investigado esse e não outro, o facto de se investigar com persistência, o facto de se orientar para aí a investigação e de haver dinheiro para investigar isso e não outra coisa, esse facto é absolutamente político. Depende de toda uma política da ciência que aí se leva a efeito.
Porque, uma vez conhecido o mecanismo da clorofila, esse conhecimento será posto totalmente ao serviço de uma - por exemplo - política de maior produção de plantas!
*
Em 10 de Março de 1970, iniciaram-se dezenas de experiências no Instituto Max Plank de Munique para saber se o homem era um torturador nato...
Dir-se-á: ciência pura. Neutral. Nenhuma ideologia embacia a experiência.
Mas o facto de se escolher esse tema - e não outro - já é indicativo de uma política.
Aliás, toda a metodologia das experiências é a priori discutível. Nada tem de objectivo. Escolhe-se, entre várias, uma metodologia. Essa escolha obedece e envolve, evidentemente, normativos de vária ordem. Até que ponto todas as experiências não viciam na origem as conclusões a que se pretende chegar?
Há uma pergunta que se pode fazer para todas as experiências realizadas em sociologia, biologia e psicologia.
Como pode ser reproduzido em laboratório o ambiente real do mundo real?
Que poder probatório têm afinal testes de laboratório?
Provará um teste psicotécnico a inteligência de alguém?
Tudo isso, no entanto, que provoca à partida as mais sérias dúvidas e reservas é usado como dogma indiscutível pela famigerada ciência da bata branca.

A PACÍFICA CIÊNCIA NASCE DA GUERRA

Quando se refere a impoluta ciência, a sua santa objectividade ou neutralidade, é quase sempre esquecida a proveniência bélica da maior parte das grandes invenções da ciência, não só moderna.
Artimanhas investigadas com verbas militares - para fins altamente (i)morais como matar o inimigo -eis que passam depois para isentas, impolutas, santas, objectivas e neutrais experiências no melhor espírito da bata branca laboratorial.
A energia nuclear deve-se à guerra e na guerra, pela guerra, fomentando a guerra foi testada.
Mas - terminada (?) a guerra - tinham que se inventar as aplicações "pacíficas" do átomo bélico.
A penicilina foi aplicada na guerra e o calculador electrónico também, para resolver problemas de balística; o transistor tinha, na origem, o objectivo de reduzir o complexo de matérias electrónicas do exército.
Há uma pergunta que se pode fazer para todas as experiências realizadas em sociologia, biologia e psicologia.
Como pode ser reproduzido em laboratório o ambiente real do mundo real?
Que poder probatório têm afinal testes de laboratório?
Provará um teste psicotécnico a inteligência de alguém?
Quando a bomba Goyave explode, trezentas bolinhas de aço, de meio centímetro de diâmetro, são projectadas em todas as direcções. À velocidade inicial de 1000 metros por segundo, a coisa magoa.
Os sábios americanos que haviam realizado esta bomba para a guerra do Vietname, verificaram depois que ela fazia belíssimos ferimentos. Estudaram então pequenas flechas que substituíram as bolinhas.
As flechas destruíam os tecidos e não podiam sair. Era melhor, embora ainda não fosse perfeito.
Continuava a haver um problema. O inimigo tinha cirurgiões, médicos, que apesar de tudo conseguiam extrair os projécteis, tratar os ferimentos, curar, por vezes, alguns feridos. Não podia ser. Os sábios produziram então uma matéria plástica, tão dura como o aço, e que tem a vantagem de ser transparente aos raios X. Impossível, portanto, ver através da rádio, onde se encontram os estilhaços, impossível operar. 0 progresso não pára.
(GÉRARD BONNOT, cronista de ciência no semanário «L’Express»)
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BATA BRANCA SUJA DE SANGUE,PSIQUIATRIA SERVE DE AVISO

Se o escândalo no campo (nos asilos...) da Psiquiatria deu raia mais cedo e abriu, mais tarde, a dissidência chamada Anti-Psiquiatria
Se, portanto, o regime policial da ordem psiquiátrica passou a ser policiado, agora e por sua vez, por David Cooper e seus discípulos, Ronald Laing e seus alunos, etc
significa o facto três coisas:
que outros campos, asilos e ciências (de bata branca) continuam à espera do seu David Cooper;
que a ciência, pelo facto de vestir bata branca, não está limpa das mortes e do sangue que continue fazendo;
que é preciso desconfiar hoje dos que, reformistas, aconselham alguns remendos na bata (e na fachada) dos respectivos templos para que os corpos de polícia que lá moram continuem mais à vontade a sua acção, evitando roturas subversivas à Cooper-Laing-Anti-Psiquiatria.
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FINGEM IGNORAR QUANDO LHES CONVÉM

Um dos fenómenos mais folclóricos é a falta de memória dos cientistas encartados.
Desmemória ou falta de atenção, de facto, é a melhor explicação para o que poderá ser má fé e voluntária obstrução de dados conhecidos.
Exemplo desse desfazamento entre os que proclamam uma coisa e os que proclamam outra, é o diagnóstico da asma: reconhecido centenas de vezes o papel dos antibióticos nas alergias e aparecendo a asma, normalmente, sob a forma de espasmos alérgicos, curioso e folclórico é quando vem outro cientista anunciar que as crises de asma são condicionadas por factores psíquicos: os doentes asmáticos - segundo estes - seriam muito nervosos e sensíveis ao ruído.
Mais uma vez a ciência confunde.
Confunde causa desencadeante ou causa intermédia com causa das causas ou causa rerum.
Se o sistema nervoso manifesta desequilíbrio ou carência, é por causa de uma causa intermédia que, por isso mesmo, só actua se tiver a provocá-la causa mais forte: os tecidos impregnados de produtos químicos tóxicos, e em particular de antibióticos reconhecidamente alergenos.
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(*) Este texto foi publicado na colecção «Mini-Ecologia» (qual número? Qual título?)
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