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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2005-12-15

DEEP ECOLOGY 1980

80-12-15-dm-ac>=diário de um militante frustrado–tese de 5 estrelas–os dossiês do silêncio

COM OU SEM PILHAS SOLARES,QUE SOCIEDADE QUEREMOS?(*)

15/12/1980 - As aparelhagens para exploração da energia solar, directa ou indirectamente, dependem, enquanto tecnologias, inteira e absolutamente da estratégia global em que ficarem inseridas.
Será diferente, por exemplo, utilizar eco-energias, conforme se trate de casa já instalada ou de casa que se planeia instalar.
Inventados para se "adaptar" às estruturas actuais das habitações, os colectores solares planos passam a lugar secundaríssimo, se se planeia uma arquitectura de raiz que já seja, na concepção, uma eco-arquitectura.
Varia conforme o caso: se é para aproveitar estruturas instaladas, antes da Era Ecológica , usa-se uma determinada linha de tecnologias de transição ou adaptação;
Se é para pensar, desde os fundamentos, uma eco-arquitectura que leve já em conta todas as eco-energias inseridas por sua vez numa estratégia de ecodesenvolvimento económico, eis que as prioridades são alteradas: e pode ser que à cabeça não venha o colector solar mas o moinho eólico, a barragem hídrica, o transformador ondomotriz, o digestor de biogás, passando o solar em geral e o colector em particular a terceiro ou quarto plano.
Claro que esta elasticidade na concepção, não a tem o técnico (pelas suas próprias limitações de campo) , nem lhe convém ter: porque ao jogar o jogo dúplice pró e contra o solar, tipo "duche escocês”, elogiando agora para a seguir lhe pôr mil defeitos, interessa-lhe que as tecnologias disponíveis neste momento não se democratizem nem funcionem ainda num sistema global integrado para que ele possa, sempre que necessário à classe no poder, invocar o argumento da "contra-indicação" ou do "ainda é cedo" ou do "ainda não é rentável."
Colocar dez painéis negros no telhado de uma casa que é toda ela, como estrutura e concepção arquitectónica, um disparate energético, pode evidentemente vir a mostrar-se um negócio pouco rentável.
Sabendo que a "climatização" das casas é exactamente concebida não para as manter termicamente reguladas mas para que os inquilinos venham a gastar o máximo de combustível da rede, não é com engenhocas solares que se vai corrigir este desequilíbrio energético de fundo, propositadamente deficitário e concebido para o desperdício.
Esquecer que as actuais construções foram feitas por técnicos à ordem da ideologia energívora dos lucros dos empórios, eis outra inocência destes discursos. Se o fundamento da economia do crescimento é o desperdício ( fundamentalmente de energia) não será com remendos de colectores que se colmata esse fundo permanente de desperdício.
A questão é outra, que não a meramente técnica.
Mais importante do que modelos de fornos, colectores, estufas, termo-sifões, acumuladores, transformadores, etc. - são questões de fundo e de estrutura as que interessam um ecologista.
Com ou sem solar, fundamental é que se planifique e definam estratégias que obedeçam não já aos megalómanos propósitos do energivorismo dos bons tempos e do desperdício energético sistemático em que nos "educaram" mas que fatalmente terão que obedecer a uma futurologia necessariamente guiada por uma natural austeridade nos gastos.
Fiados de que o povo não pensa nem lê ecologistas, eis os técnicos usando e abusando de mais este sofisma. As tecnologias solares são citadas sempre em função das chamadas "estimativas" de consumos usadas ontem e anteontem para o tempo da Ideologia do Desperdício (quando até a Europa dos Nove já está adoptando uma estratégia de Reciclagem), o tempo do petróleo abundante e barato, o tempo do nuclear seguro (coisa em que, depois de Three Mile Island, já ninguém acredita), para o tempo das ilusões e fantasmas do crescimento infinito que a realidade dos factos - e das crises - tem brutalmente posto em causa.
Com ou sem pilhas, com ou sem colectores, a bipolarização de fundo é entre os que querem uma sociedade solar, baseada numa filosofia, numa ética, numa fé, numa política e numa dialéctica que têm no Sol o símbolo e a força motriz e os que querem a sociedade do Plutónio com flores solares no tecto... e na campa.
A grande linha de clivagem é entre Eco-Desenvolvimento e Economia do Plutónio,
E deixem-se de silícios.
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(*) Provavelmente publicado no «Jornal da Província» que se publicava, creio, na Anadia
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