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2006-03-02

YIN-YANG 1985

85-03-02-yy- yin-yang - 12800 bytes tcdn-1- tomar conta de nos próprios

IDEIAS PARA A NOVA IDADE DE OURO 
YIN YANG, TÉCNICA INICIÁTICA

Lisboa, 2/3/1985 - Despojado, através dos séculos, por instituições  (Igreja, Estado, Exército, Partidos, Sindicatos, Egrégoras), dos poderes que inicial e iniciaticamente teria aprendido a administrar no tempo em que os deuses andavam na Terra, o homem moderno assemelha-se a um zombie, a um morto-vivo, a um animal domesticado e envelhecido, esgotado nas suas energias e potencialidades originais.
Às alienações seculares e milenares, digamos «artesanais», juntam-se hoje, na era do Virtual, novas ditaduras, de ordem dita científica e tecnológica, só aparentemente mais subtis. Como se pudesse chamar-se ciência e técnica a este charco de poluições entrecruzadas que nos cerca e afoga e que faz o orgulho de toda uma civilização.
A Informática, pretendendo inverter a marcha do sujo, promete, com o Virtual, novos paraísos de limpeza e finesse. É o projecto do senhor Alvin Toffler, com os seus famosos «choques do futuro». No fundo, apenas se prepara para, nos infernos sangrentos de ontem e de hoje, às poluições industriais e às dominações  da «segunda vaga» , acrescentar outras , porventura mais limpas, ou liofilizadas, mas nem por isso menos detectáveis, por um olho clínico treinado, à vista desarmada.
Em qualquer caso e sem que se veja o ponto de retorno desta escalada para o abismo, para o vazio e para o Nada energético, as revoluções que se têm imposto até agora com esse nome apenas continuam reduzindo os seres humanos a robôs de trabalho, neo-escravaturas policiadas pela pirâmide hierárquica da tecnoburocracia .

2 - O nosso tempo tempo de kali-yuga, idade do ferro segundo os hinduístas, apocalipse segundo os judaico-cristãos, não assiste apenas ao interminável blá-blá das ideologias bem ou mal intencionadas.
É também o tempo em que há um reajustamento de posições no ataque à fortaleza de uma das mais poderosas ciências iniciáticas, uma das mais perfeitas artes de curar,  uma das mais potentes e rigorosas das ciências energéticas - a Acupunctura e todo o sistema taoísta do yin-yang.
Ao aprofundar, pelas técnicas de Acupunctura, a dialéctica yin-yang, o seu poder de gerir a bioenergia humana, através da lei dos 5 elementos cósmicos, podemos verificar, pelo menos, três factos fundamentais que hoje decidem do destino humano:
a) A natureza humana é mesmo de origem divina e o homem dispõe ainda de vestígios que lhe permitem reconstituir o grande e poderoso dragão da Sabedoria, o que equivale a dizer que ainda tem uma chance de se salvar e de escapar, por uma unha negra, ao apocalipse termo-nuclear;
b) A técnica iniciática, que permite, em termos illichianos, a reapropriação do homem pelo homem, embora possa ter revestido outras formas históricas (Tibete, Índia, Egipto, Europa, etc) revela-se hoje através da Acupunctura e das técnicas yin-yang com o rigor, a clareza e a democraticidade que nenhuma das outras tércnicas é crível possuir; como se sabe, ideologias e religiões tiveram todas, a única e suprema missão de desapossar o ser humano de si mesmo, das suas próprias e mais nobres energias, papel que hoje é representado à maravilha e também pelos chamados grupos esotéricos;
c) Pelas duas anteriores razões, é compreensível que as forças da Alienação - do Virtual e da Entropia - que sempre se perfilaram contra o segredo último do ser humano, estejam hoje também tentando depreciar a Acupunctura, apossando-se dela, à medida que ela se revela a ponta da meada pela qual podemos (todos e nem só alguns) de novo religar as forças da terra às do Céu em favor do homem e da sua libertação.

3 - Se a Acupunctura - ou, melhor dizendo, o princípio do yin-yang - não tivesse vindo mostrar ao homem ocidental e a toda a humanidade alienada que o homem é de facto uma poderosa central de energia desaproveitada, havia ao menos uma prova, embora dada pela negativa, desse imenso potencial.
A fabulosa energia que significa potencialmente um ser humano, demonstra-se (já que não pode ser ouvida, nem tocada, nem pesada) pela força que exactamenttte a quer destruir: essa força dá hoje por vários nomes, entre os quais, os de: Virtual, Entropia, Poluição, Desperdício, Lixo, Alienação, etc.
Perdido o fio iniciático das origens - de que o yin-yang é uma das vanguardas - a Humanidade ficou exposta a uma minoria voraz , a classe dirigente e seus intermináveis blá-blás.
O facto de a humanidade continuar existindo e trabalhando (resistindo) mesmo submetida , demonstra, ainda que ironicamente, a sua imensa e infinita capacidade.
A energia humana, de facto, não se toca, nem vê, nem sente, como dirá a viciada mentalidade ocidental, dita científica, e haverá portanto tendência de a minimizar senão mesmo de a negar.
O facto de ter resistido e continuar resistindo, no entanto, é a prova não só da soberana força que se guarda, oculta, nos seres humanos e seus arcanos, mas a prova também da sua natureza divina.

4 - Desta verificação, capaz de vencer o mais pessimista e niilista dos pensamentos - conceitos mas, regra geral, pre-conceitos - a respeito da natureza humana, resulta outra inabalável certeza: houve, sabemo-lo agora, em certa época da história, técnicas capazes de fazer passar da potência ao acto as infinitas virtualidades a que chamam energia.
Mas exactamente porque essas técnicas permitiam a libertação do ser humano (a reapropriação de si próprio, como diria Ivan Illich), a História limitou-se a ser a pilhagem  dessa central de energia por parte das instituições que em tal tarefa se foram revesando.
O filão chamado «oculto» não é nem mais nem menos do que isso. As técnicas de auto-apropriação humana, no fundo, nada têm de secretas. Ocultam-nas os que as temem, ou os que delas querem o uso e usufruto exclusivo, ou os que as utilizam por  febre de poder, o que é outra coisa bem diferente.
A classe dirigente,  quando não pode, em relação às ciências sagradas, destruí-las, abafá-las ou deturpá-las (a todas estas formas eles recorrem), lança no mercado as chamadas «ciências ocultas», às quais até nem falta o halo de maldito, mistério, fantástico e maravilhoso .


5 - A ausência de ritual pode ser uma das enormes vantagens «sociais» que o yin-yang apresenta relativamente a outras técnicas iniciáticas.
O simbolismo inerente às técnicas taoístas, tal como às do zen budismo, tem para os modernos ocidentais, habituados no plástico e no pronto a comer, a vantagem de estar implícita e não necessitar cenário nem aventais nem incensos nem genuflexões.
Também o yoga do vajraiana tibetano é uma poderosa técnica iniciática (talvez a fonte de todas as outras) mas talvez menos democratizável por não dispensar o ritual e as cerimónias.
O Yin-yang aparece depurado dessa ganga decorativa e a sua força de penetração social pode consistir nessa depuração, nessa ausência de circo e teatralidade.
Não se pretende fazer, a propósito de ritos e rituais, juízos de valor contra ou a favor: no caso do yoga tibetano, eles são inerentes ao Ensinamento e dele indesligável, já que se trata de uma sabedoria transmitida em linhagem ininterrupta, de mestre a discípulo, e em que o veículo de transmissão é fundamentalmente não verbal.
A técnica iniciática para o homem moderno é uma escolha: e essa escolha, hoje, pode fazer-se entre três ou quatro ordens que das outras se destacam pela qualiade.
O yin-yang tem a vantagem de ser democratizável e de equilibrar as exigências de admissão e transmissão de conhecimentos entre os métodos exotéricos (com x) da escola ocidental e os esotéricos (com s) das escolas orientais.

6 - Face a esta evidência arquistórica, o panorama hoje, em 1985, é heterogéneo e até certo ponto desconcertante.
Por um lado, autores que se dizem informados a respeito do hermetismo, contribuem para a lenda rendosa do oculto, criando uma ideia de «maldito» inversa da que é justo de admitir.
Jacques Bergier, que sempre revelou a sua obediência à ortodoxia da ciência profana, vulgar ou ordinária, relata na obra « Os Livros Malditos»(*) uma série de perseguições a determinados livros, partindo sempre de um pressuposto algo risível: as perseguições movidas pelos «homens de negro» que ele postula, ao gosto dos surrealistas e outros vulgarizadores da magia vulgar, pretenderiam apenas evitar a divulgação de grandes descobertas...científicas.
Como, na boca de Bergier, já sabemos o que significa «científico» e a qual ciência ele se refere, teremos de tomar esta tese dos «homens de negro» com mais uma das suas jacqueries.

7 - O célebre filósofo e educador Krishnamurti, por outro lado, tendo escapado à teia e ao mito que a Sociedade Teosófica dele queria tecer, ocupou os trinta livros da sua obra a repetir a mesma obsessão: os homens estão condicionados por mil e uma instituições e mitologias (os blá-blás) , daí a sua profunda infelicidade: o que até é verdade, mas não chega. Importa saber como se descondiciona um cérebro condicionado por todo o lixo que submerge modernamente o ser humano.
As afirmações de Krishnamurti estão com certeza correctas e devem ser um diagnóstico brilhante do Estado a que o ser humano na Terra chegou.
Mas é verdade, também, que o Blá-Blá característico de todas as instituições , ideologias, igrejas, partidos ( ver «Crónica do Planeta Terra» in «A Capital» de 2/3/1985) tão bem verberado por Krishnamurti, também nele não vai além desse Blá-Blá.
É aliás desesperante, até porque Krishnamurti , no seu estilo tão característico mas tão repetitivo, de livro para livro, de capítulo para capítulo, de folha para folha e de linha para linha, cria mil e uma vez a expectativa, abrindo clareiras e dúvidas com um rosário de perguntas: mas, além das perguntas - ao melhor estilo do racionalista António Sérgio ou mesmo do racionalista Platão - a sua obra limita-se às pias e boas intenções que todos os moralistas do Mundo têm lançado aos educandos, nomeadamente nesta Era do Virtual em que os grandes «educadores do povo» são  a televisão, o computador e os jogos Nintendo.
Pior do que um Imoral, de facto, só os moralistas todos deste tempo-e-mundo.

8 - Só que - e como disse no início deste ensaio sobre Yin-yang, técnica iniciática - o nosso tempo não assiste apenas ao interminável Blá-Blá da classe dirigente.
Com o yin-yang e todas as técnicas iniciáticas que dele irradiam, os homens têm outra vez na mão o fio da meada que se perdera, quer dizer, a arma da sua própria libertação.
Iremos perdê-lo outra vez?
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(*) «Os Livros Malditos» - Jacques Bergier - Ed. Hemus, São Paulo, 1972 - 137 pgs
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