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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-07-12

HOLÍSTICA 2002

holist3>diario>

12-7-2002

PROFETAS DA VISÃO HOLÍSTICA E DO NOVO PARADIGMA

Alan KARDEC
Alan WATTS
Albert CAMUS
Alexis CARREL
Alfred SAUVY
Alice A. BAYLEY
Alvin TOFFLER
André VOISIN
Annie BEASANT
Antonin ARTAUD
Bertrand RUSSELL
Buckminster FULLER
C.J.JUNG
C.LOUIS KERVRAN
Carl SAGAN
Claude BERNARD
D.H. LAWRENCE
Danilo DOLCI
Edgar MORIN
Eich FROMM
Eliphas LEVY
Emanuel MOUNIER
Ernesto BONO
Felix LE DANTEC
Frederick LEBOYER
Friedrich SCHUMACHER
Gabriel MARCEL
Gordon Rattray TAYLOR
GURDIEFF
Gustavo LE BON
Henri BERGSON
Henri LEFEBVRE
Henri MARCUSE
Herman HESSE
HIPOCRATES
Ivan Illich
J.L. BORGES
Jack LONDON
John HUIZINGA
Jorge OSHAWA
Josué de CASTRO
Julius EVOLA
KAREN HORNEY
Karl MANHEIM
KHRISHNAMURTI
KINSEY
Konrad LORENZ
Lanza del VASTO
Leon DENIS
Louis PAUWELS
Luis RACIONERO
Mahatma GANDHI
Maria MONTESSORI
Maurice MESSEGUE
MAX HEINDEL
Michel BOSQUET
Michel REMY
Michio KUSHI
Mircea ELIADE
Orlando RIBEIRO
P.D. OUSPENSKY
PARACELSO
Paul CARTON
Paulo MANTEGAZZA
Raquel CARSON
René DUBOS
René DUMONT
René GUÉNON
Roger GARAUDY
S. João DE DEUS
SCHOPENHAUER
Segismundo FREUD
Serge MOSCOVICI
Soren KIERKEGAARD
Swami VIVEKANANDA
Teilhard de CHARDIN
Theodore ROSACK
Tomas RIBOT
Vance PACKARD
Wilhelm REICH
Wilhelm STECKEL
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RECURSOS 1980

recursos-2> os dossiês do silêncio

BANCOS GENÉTICOS E COMÉRCIO DE SEMENTES - ESCÂNDALO MUNDIAL DENUNCIADO PELAS NAÇÕES UNIDAS

12/7/1980 - O capital genético do mundo vegetal está em vias de se esgotar, enquanto as sementes de plantas com valor alimentar se tornam um dos negócios mais bem controlados e poderosos do «agro-business», totalmente monopolizado por meia dúzia de companhias multinacionais.
O aviso agora lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (P. N. U. M. A.), com sede em Nairobi, aparece na sequência do alerta já lançado várias vezes (mas sempre abafado) por agrónomos e geneticistas, que denunciaram no empobrecimento genético da riqueza vegetal do planeta, uma ameaça de fome endémica e de esgotamento de recursos alimentares a curto prazo.
As «sementes» das diversas plantas são hoje objecto de grandes monopólios - diz claramente o P. N. U. M. A.
Um estudo do I. C. D. A. (International Coalition for Development Action), observa que o maior comprador de sementes no mundo de hoje é a Shell - o gigante anglo-holandês do petróleo e dos produtos químicos. E quatro companhias, Dekalb, Pioneer, Sandoz e Ciba-Geigy, controlam dois terços do mercado das sementes de milho e sorgo híbrido nos Estados Unidos. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (F. A. O.), uma companhia, a United Brands, antiga United Fruits, detém dois terços das culturas de bananas potenciais no mundo. Digamos que o «tipo» de bananas que consumiremos, dentro de 20 anos, poderá muito bem depender de uma só empresa comercial.
Mas o estudo do ICDA, intitulado «Seeds of the Earth» (As sementes da Terra) verifica ainda um outro fenómeno aterrador: grande número dos principais fabricantes de pesticidas já controlam o «business» das sementes. O referido estudo adverte para o facto de que estas companhias ameaçam cultivar plantas capazes de prosperar graças à aplicação de certas substâncias químicas. Os fabricantes de pesticidas conseguem que os cultivadores comprem não só as sementes mas igualmente os pesticidas indispensáveis.
E aponta exemplos: uma certa substância química foi utilizada no processo de maturação de uma variedade de tomates chamada «Florida MH-1», que permite fixar a data da colheita no momento em que as condições do mercado pareçam apropriadas.
«Encorajados pelas indústrias - diz o estudo do I. C. D. A. - os produtores de tomate da Universidade da Florida desviaram o seu programa de cultura, a fim de produzir um tomate capaz de amadurecer unicamente com a ajuda de... pesticidas».
Mas também os Governos ocidentais já se preveniram para a grande escassez, constituindo bancos de genes a partir das matérias provenientes do Terceiro Mundo.
No caso do trigo, o estudo indica: em 1970, o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos gabava-se de ter genes provenientes de 27 nações. Vinte e dois deles eram de países do Terceiro Mundo, 14 dos quais somente detinham em reserva uma pequena parte do seu próprio trigo.
Esclarece o documento do P. N. U. M. A., agora divulgado, que a diversidade genética pertence exclusivamente às nações do Terceiro Mundo, mas que estas estão em perigo de perder esta preciosa herança natural.. A chamada .revolução verde (patrocinada, aliás, pela F. A. O., como tivemos ocasião de largamente denunciar no nosso caderno da Colecção 100 Dias, intitulado «Os Agrónomos da Fome») e as companhias comerciais de sementes têm provocado a erosão destes centros de diversidade genética.

PNUMA PÕE FAO NO BANCO DOS RÉUS

Uma das principais acusações feitas pela P. N. U. M.A. à «revolução verde» da F. A. O., é que ela provocou o abandono maciço das espécies vegetais locais - depositárias de 10 000 anos de diversificação genética - em proveito de algumas espécies de alta reacção.
(Alá seja louvado, que não foi só o Afonso Cautela a escrevê-lo, e a ladrar no deserto...)
Estas espécies não são de alto rendimento, como geralmente dizem os agro-químicos, mas de «alta reacção» (designação cientificamente correcta) porque as colheitas que fornecem só se conseguem à custa de enormes doses de adubos e produtos químicos - com todos os prejuízos que isso acarreta para o ambiente, sublinha o P. N. U. M. A. de Nairobi.
Além disso, estas espécies são vulneráveis aos desafios postos pelo ambiente, mudanças climáticas, insectos e doenças das culturas

EPIDEMIAS ATACAM SUBITAMENTE

A história recente está cheia de exemplos de culturas e plantações devastadas por súbitas epidemias e insectos novos ou «velhos que se adaptaram».
Em 1970, a ferrugem atacou bruscamente as culturas do milho nos E. U. A., deixando aos estados do Sul apenas metade das colheitas habituais. Comentário do dr. William Campbell, do Ministério da Agricultura dos E. U. A.: «Estávamos nós satisfeitos, calmos e despreocupados... os híbridos iam muito bem, quando de repente a doença atacou.»
Um exemplo mais recente é a propagação - no espaço de três anos - de um pulgão castanho do arroz, que passou do estádio de curiosidade académica ao de flagelo «chave», devastando milhões de hectares de arrozais na Ásia do Sul e Sueste.
Também a desflorestação contribui para liquidar um número quase infinito de espécies vegetais selvagens (a tal riqueza genética.).
Quando isto foi constatado pelos próprios que tinham criado a situação apocalíptica. (F. A. O. incluída), é claro que não foram eles a dar o alarme mas foram os primeiros a preparar-se para recuperar a situação de novo a seu favor, arrebanhando os genes todos que ainda conseguiram encontrar.
E foi assim que as sementes se tornaram uma mercadoria preciosa. As companhias multinacionais lançam-se na corrida para a sua conquista. As sementes tornam-se um dos maiores negócios dentro do «agro-business» multinacional. Fornecedores locais nos países do Terceiro Mundo, recolhem sementes raras para as expedir para as companhias ocidentais, que vão organizando assim os seus «bancos de sementes», guardados por arame farpado...
A recente Estratégia Mundial da Conservação não o oculta: «Os produtores de plantas (de valor comercial) e os fornecedores de sementes "registam patentes" de certas espécies e exigem "royalties" para a sua utilização.
Perante esta situação de monopólio que estrangula a humanidade esfomeada e ameaça fazer depender de meia dúzia de empresas os nossos estômagos, o P. N. U. M. A. propõe uma estratégia internacional mas não multinacional... Propõe os centros Vavilov (do cientista soviético que lhes dá o nome), onde uma extrema variedade genética é posta ao serviço do Terceiro Mundo, sem intermediários.
Paradoxalmente, só o Terceiro Mundo é que possuía essa riqueza genética, já que o «mundo industrializado está excluído dos centros de diversidade genética».
E pronto. Por agora, acabamos por aqui mais uma história desconhecida da humanidade, que ignora afinal quem lhe governa a fome e a abundância.
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(*) Publicado no jornal » A Capital» (Crónica do Planeta terra), 12/7/1980
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REFORMISMO 1972

1-3 - 72-07-12-ie> 5 de Dezembro de 2002-scan

MELHORAR O MAL:PRIMORES DO REFORMISMO(*)

12-Julho-1972 - Vistas com certo distanciamento crítico, as medidas reformistas (remendo, emenda, remédio, panaceia, conselho publicitário) equivalem-se no vocabulário da caquexia tecnocrática.

E a palavra "combate" aparece em profusão nos articulados do costume:

Combate à poluição
Combate à carestia da vida
Combate às rendas altas
Combate à cólera
Combate às barracas
Combate à fome
Combate aos engarrafamentos
Combate ao lixo

Refocila nos próprios excrementos e depois "combate" tudo. É um combate pegado a Tecnocracia. Combate principalmente aquilo que produziu, os excrementos que produziu, o lixo que produziu, os erros que produziu, as doenças que produziu, as situações que produziu, os engarrafamentos que produziu, a inflação que produziu.
Evidente, óbvio, claro o que se pretende: como dizia um folheto anunciando as virtudes de um novo antipoluente alemão, "a protecção ao meio ambiente não representa apenas sobrecarga, cria também possibilidades de novas indústrias e mercados".

Sem pudor e já sem vergonha, isto foi dito e escrito.
Pois então não se está mesmo a ver a inevitabilidade do processo? Primeiro a inevitabilidade do crescimento. Depois a inevitabilidade da aceleração. Depois a inevitabilidade da industrialização, a todo o custo e preço. Depois a inevitabilidade da poluição. E depois – claro! - a inevitabilidade dos antipoluentes.
Se há coisas que o Sistema se ocupa e preocupa em radicar nos espíritos impúberes, é a noção de inevitabilidade desta marcha para o Excremento. Não há que pestanejar nem hesitar, quando se fala de crescer, tecnificar, industrializar, poluir, antipoluir. Pois pode-se viver sem isso, porventura? Será porventura concebível uma sociedade que não seja esta, organizada segunda as leis desta? Segundo a lógica (exponencial) desta e respectiva moral?

Lógica exponencial, lógica inflexível, lógica inevitável, lógica inflacionária, lógica totalitária: crescimento, supérfluo, indústria, excrementos, resíduos, lixo.
Quem pode escapar?
Como dizia um dos médicos que se banharam no Tamariz: "Há poluição por toda a parte. Vamo-nos matar por isso? Vamos deixar de nos banhar? Vamos deixar de comer? Vamos, inclusive, deixar de poluir?".
Estamos engrenados no inevitável, quem pode deter o carro dos deuses no seu declive para a Glória?

MEDICINA: TÍPICA ESTRUTURA DO CAPITALISMO QUOTIDIANO

Onde a lógica exponencial da exploração capitalista atinge proporções modelares porque arquetípicas é na Medicina, campo privilegiado de todo o reformismo que se preza.

Incapaz - como todo o sistema de que é servidora Mor - de ser efectivamente causal, revolucionária, humana desde a origem, a terapêutica depositou todas as esperanças no Banco da cirurgia e na Alopatia, porque para a exploração capitalista são esses os ramos que, por reformistas, estabelecem o perfeito ciclo vicioso de onde mais ninguém pode safar-se: necessidades que criam novas necessidades que por sua vez criam novas necessidades (tão perfeito como a Medicina só o ramo dos Estupefacientes, o consumo mais provocante e mais multiplicador de necessidades que engendram outras necessidades).
Ir às causas das doenças seria ir à causa última do Sistema e pô-lo em dúvida, em cheque, em causa. Eliminar efectivamente as doenças (como aliás é possível mesmo num ambiente poluído) iria acabar com 70% das indústrias de fármacos e 80% das intervenções da indústria cirúrgica.
Evidentemente que a indústria não consente nisso. O que lhe importa é criar novas necessidades (doenças cada vez mais "incuráveis", mais crónicas, mais para toda a vida) que novas indústrias por sua vez hão-de vir satisfazer. Cá esta o ciclo exponencial, a tal lógica que é uma moral.

CONTAMINAR A REVOLUÇÃO: COEXISTÊNCIA

Não vale a pena acentuar o que a chamada "coexistência pacífica" representa neste contexto: é apenas a contaminação, pelo vírus capitalista (e sua lógica exponencial, suas mitologias da inevitabilidade, etc ) de uma sociedade que algum dia se pretendeu revolucionária.

É a derrocada.
É a doença do reformismo estendida às sociedades que - dizia-se - queriam fazer a Revolução.
Outros dois campos privilegiados do reformismo são os organismos especializados da ONU, mormente a FAO - recomendando as suas "revoluções verdes" que são a maneira airosa inventada para evitar e adiar a Revolução - e a OMS, - recomendando as suas campanhas vacinatórias, maneira igualmente prática de evitar a Revolução que seria liquidar o Mal (no caso a Doença) pela raiz, através de todo um sistema ecológico (incluindo a política) humanizado e revolucionário.
"Revoluções verdes" e "campanhas vacinatórias" equivalem-se na maneira como manipulam milhões de seres humanos, iludindo-os com a falsa esperança de reformas que apenas melhoram o mal, sem o liquidar, sem o extirpar, sem o arrancar de vez e de raiz.
Melhorar o Mal - é a definição de todo o Reformismo. Revolução é liquidar (pela raiz) o Mal.
Todos os melhoramentos são reformismo, adiamento, engano. Juntando às palavras "combate" e "campanha" a palavra "melhoramento", obtemos a santíssima trindade do Reformismo, que não faz mais nem menos do que preconizar coisas tão santas como estas:

Melhorar a cidade
Melhorar a fome
Melhorar os impostos
Melhorar os exames
Melhorar as transplantações cirúrgicas
Melhorar os hospitais
Melhorar as prisões
Melhorar as doenças
Melhorar o capitalismo
Melhorar o racismo
Melhorar o supermercado
Melhorar os bombardeamentos aéreos
Melhorar a guerra biológica
Melhorar os tanques
Melhorar o tráfego
Melhorar as máscaras antipoluição
Melhorar a poluição
Melhorar o Mal
Desburocratizar a burocracia
Meter o Rossio na Rua da Betesga
Habitar uma cidade inabitável
Mais sol para os estabelecimentos prisionais
Afiar a lâmina da guilhotina
Humanizar os exames
Evitar acidentes de tráfego
Um motor limpo
Um automóvel que não mata

Enfim:
Um quadrado redondo

No meio da insolúvel necrose e da inenarrável caquexia que é a civilização tecnológica, diverte ver aqueles que, tendo visto até ao fundo do saco a imundície onde estão e estamos mergulhados, preconizam no entanto logo a seguir panos quentes e mezinhas, emendas e reformas, remendos e adendas, melhoramentos e campanhas pró ou anti, para melhorar o mal, para estabilizar a derrocada, para adiar o total afundamento em coisa nenhuma que é a marcha deste rio de excrementos. O ridículo junta-se ao patético:
Exemplo desse reformismo é aquele crítico bem intencionado que preconiza "estabelecimentos prisionais menos desumanos" ou "mais assistência à classe pobre", ou "exames mais exigentes para os condutores de ligeiros e pesados"
Sempre melhorar o mal. A emenda, o remendo, a reforma - eis a grande política da sociedade que não sabe nem pode fazer a Revolução.
Com a campanha antipoluição verifica-se o que sempre, em emergências tais, se verificou: quando a poluição já nos afoga ou asfixia, vem o engenheiro sanitário pedir que se purifiquem os motores, as águas, os rios, os mares, os ares. Vem a era dos antipoluentes, outra indústria, outra fonte de receitas, outra maneira de depredar e degradar os recursos naturais.
Anti – no vocabulário da caquexia tecnológica – o prefixo reformista por excelência.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, a que não retiro hoje uma vírgula, foi publicado no livro edição do autor, «Contributo à Revolução Ecológica», Paço de Arcos, 1976
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