NOTÍCIAS DA FRENTE 1983
4624 caracteres - retro-2> chave> chave para inéditos AC de 1983 - CONTRIBUTO ÀS MEMÓRIAS DE UM PESADELO
[Repescagem, em 22 de Abril de 1994, de um texto de 1983, sobre alguns episódios centrados na existência de um jornal chamado «Frente Ecológica»]
12-2-1995
VÁRIAS VICISSITUDES, EM DEZ ANOS UM ÚNICO OBJECTIVO: INFORMAR
[Um texto de 1983] 1 - Vicissitudes várias fizeram passar a «Frente Ecológica» por diversas fases e crises. Tendo começado por ser rótulo de um jornal (14 números publicados antes de dar a alma ao criador) passou a servir de sigla para algumas modestas edições artesanais (stenciladas) e foi ainda título de um série especial destinada a publicar textos que as várias neo-censuras consideram impublicáveis. «Frente Ecológica» também foi, por força das circunstâncias, mini-livraria ou centro documental ao dispor de estudantes e professores. Muitas listas de livros e minibibliografas foram enviadas aos que solicitavam pistas para os seus trabalhos escolares. Algumas vezes, para equilibrar uma contabilidade permanentemente deficitária, promovemos saldos de livros correntes a preços de ocasião, ou de livros raros a preços convidativos. E assim se foi dispersando a biblioteca que deveria manter-se unida
2 - Mas a Biblioteca dos Tempos Difíceis (como em determinado momento decidi baptizá-la) não morreu, apesar de tantas sangrias. Continua a resistir (1983), embora tendo às vezes que hibernar. Milhares de livros encontram-se armazenados, deteriorando-se e aguardando as condições materiais mínimas (estantes, sala, ficheiros) para funcionar ao serviço do público. Mas quem necessitará de se informar sobre o Mundo que já bate violentamente à nossa porta? Especializada em temas de Ecologia Prática, Movimento Ecológico, Tecnologias Apropriadas, Qualidade de Vida, Protecção da Natureza, etc., a quem poderá servir, e quando, a Biblioteca dos Tempos Difíceis. Terá que esperar por tempos ainda mais difíceis, para que uma entidade a apoie e ponha ao serviço público?
3 - A Biblioteca existe, pacientemente feita e refeita ao longo de 15 anos. Aguardamos sala, estantes, ficheiros. E um Ministro da Cultura que não tenha medo da Ecologia. Centenas de ouvintes se dirigiram, por carta ou postal, ao apontamento radiofónico «Ecologia em Diálogo», enquanto ele foi transmitido pela RDP - Antena 1, através do «Ponto de Encontro». Surgiria depois um jornal com o mesmo título, mas só saíram dois números. A Direcção Gael de Informação, por despacho de Manuel Figueira, negou porte pago ao jornal «Ecologia em Diálogo». Entretanto e na rádio, durante ano e meio, estes dez minutos semanais permitiram um diálogo com milhares de ouvintes sobre problemas de Ecologia. E isso só foi possível por especial empenho e boa vontade de quem nos convidou a realizar o programa. Costa Martins, produtor do «Ponto de Encontro», foi o homem que acreditou e apostou nessa iniciativa, nessa voz da ecologia na Rádio. A correspondência recebida nesse apontamento radiofónico prova que a Ecologia não é um assunto de élites e interessa milhares de portugueses. Gostaríamos de divulgar um dia essas cartas dos ouvintes que nos escreveram. Dando seguimento à vontade de muitos ouvintes e leitores, elaborámos algumas relações de endereços relativos a cada localidade, permitindo assim, a pessoas que porventura se desconheciam umas à outras, entrar em contacto por intermédio dessas listas. Parece-nos este um método expedito para formar núcleos ou nós de ecologistas na mesma terra, entrelaçando-se entre si esses núcleos para ir formando uma rede. Isto permite que se unam e venham a estabelecer convívio pessoas que, embora residindo perto, não teriam conhecimento de outras igualmente interessadas na frente ecologista.
4 - Eis várias situações solicitanto todas a mesma coisa: informação. Acontece que se luta, há 9 anos, na «Frente Ecológica» para pôr a funcionar esse pivot informativo - e ajudas, de facto, não têm sido muitas. Oficiais, nenhumas - antes pelo contrário. Particulares, algumas, de inigualáveis amigos que, de vez em quando mandam um cheque para aguentar as despesas de correio. Outros fazem o favor de convidar a «Frente Ecológica» para colóquios e encontros. Mas o que se pode dizer - a informação que se pode transmitir nesses encontros fortuitos - é apenas notícia de que a informação existe. Falta uma sala onde centralizá-la. Faltam estantes e ficheiros. Falta funcionalidade e capacidade de resposta. O embrião de um centro de resposta existe, mas de estudo embrionário não passará, enquanto o País e a Democracia que temos não passarem de um assustador aborto.
***
[Repescagem, em 22 de Abril de 1994, de um texto de 1983, sobre alguns episódios centrados na existência de um jornal chamado «Frente Ecológica»]
12-2-1995
VÁRIAS VICISSITUDES, EM DEZ ANOS UM ÚNICO OBJECTIVO: INFORMAR
[Um texto de 1983] 1 - Vicissitudes várias fizeram passar a «Frente Ecológica» por diversas fases e crises. Tendo começado por ser rótulo de um jornal (14 números publicados antes de dar a alma ao criador) passou a servir de sigla para algumas modestas edições artesanais (stenciladas) e foi ainda título de um série especial destinada a publicar textos que as várias neo-censuras consideram impublicáveis. «Frente Ecológica» também foi, por força das circunstâncias, mini-livraria ou centro documental ao dispor de estudantes e professores. Muitas listas de livros e minibibliografas foram enviadas aos que solicitavam pistas para os seus trabalhos escolares. Algumas vezes, para equilibrar uma contabilidade permanentemente deficitária, promovemos saldos de livros correntes a preços de ocasião, ou de livros raros a preços convidativos. E assim se foi dispersando a biblioteca que deveria manter-se unida
2 - Mas a Biblioteca dos Tempos Difíceis (como em determinado momento decidi baptizá-la) não morreu, apesar de tantas sangrias. Continua a resistir (1983), embora tendo às vezes que hibernar. Milhares de livros encontram-se armazenados, deteriorando-se e aguardando as condições materiais mínimas (estantes, sala, ficheiros) para funcionar ao serviço do público. Mas quem necessitará de se informar sobre o Mundo que já bate violentamente à nossa porta? Especializada em temas de Ecologia Prática, Movimento Ecológico, Tecnologias Apropriadas, Qualidade de Vida, Protecção da Natureza, etc., a quem poderá servir, e quando, a Biblioteca dos Tempos Difíceis. Terá que esperar por tempos ainda mais difíceis, para que uma entidade a apoie e ponha ao serviço público?
3 - A Biblioteca existe, pacientemente feita e refeita ao longo de 15 anos. Aguardamos sala, estantes, ficheiros. E um Ministro da Cultura que não tenha medo da Ecologia. Centenas de ouvintes se dirigiram, por carta ou postal, ao apontamento radiofónico «Ecologia em Diálogo», enquanto ele foi transmitido pela RDP - Antena 1, através do «Ponto de Encontro». Surgiria depois um jornal com o mesmo título, mas só saíram dois números. A Direcção Gael de Informação, por despacho de Manuel Figueira, negou porte pago ao jornal «Ecologia em Diálogo». Entretanto e na rádio, durante ano e meio, estes dez minutos semanais permitiram um diálogo com milhares de ouvintes sobre problemas de Ecologia. E isso só foi possível por especial empenho e boa vontade de quem nos convidou a realizar o programa. Costa Martins, produtor do «Ponto de Encontro», foi o homem que acreditou e apostou nessa iniciativa, nessa voz da ecologia na Rádio. A correspondência recebida nesse apontamento radiofónico prova que a Ecologia não é um assunto de élites e interessa milhares de portugueses. Gostaríamos de divulgar um dia essas cartas dos ouvintes que nos escreveram. Dando seguimento à vontade de muitos ouvintes e leitores, elaborámos algumas relações de endereços relativos a cada localidade, permitindo assim, a pessoas que porventura se desconheciam umas à outras, entrar em contacto por intermédio dessas listas. Parece-nos este um método expedito para formar núcleos ou nós de ecologistas na mesma terra, entrelaçando-se entre si esses núcleos para ir formando uma rede. Isto permite que se unam e venham a estabelecer convívio pessoas que, embora residindo perto, não teriam conhecimento de outras igualmente interessadas na frente ecologista.
4 - Eis várias situações solicitanto todas a mesma coisa: informação. Acontece que se luta, há 9 anos, na «Frente Ecológica» para pôr a funcionar esse pivot informativo - e ajudas, de facto, não têm sido muitas. Oficiais, nenhumas - antes pelo contrário. Particulares, algumas, de inigualáveis amigos que, de vez em quando mandam um cheque para aguentar as despesas de correio. Outros fazem o favor de convidar a «Frente Ecológica» para colóquios e encontros. Mas o que se pode dizer - a informação que se pode transmitir nesses encontros fortuitos - é apenas notícia de que a informação existe. Falta uma sala onde centralizá-la. Faltam estantes e ficheiros. Falta funcionalidade e capacidade de resposta. O embrião de um centro de resposta existe, mas de estudo embrionário não passará, enquanto o País e a Democracia que temos não passarem de um assustador aborto.
***