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2006-02-12

POLUIÇÃO 1983

83-02-12-di> = diário de um idiota – esboços de ecologia humana

O CHUMBO QUE RESPIRAMOS(*)

(*) Provavelmente publicado no jornal «A Capital», não posso garantir em que data

12/2/1983 - O teor máximo de chumbo adicionado na gasolina continua a ser enigma em Portugal. O projecto financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o apoio técnico da Organização Mundial de Saúde (OMS), conclui a respeito do chumbo no ar que se respira: "nade se sabe".
Esta socrática conclusão figura no relatório global daquele projecto - designado "Luta contra a Poluição do Ar em zonas urbanas industrializadas" - , do qual devem aparecer em breve os relatórios parciais.
Entre outros organismos, participaram no projecto a Direcção Geral de Saúde, o Ministério da Indústria, (Direcção Geral da Qualidade) e a Comissão Nacional do Ambiente.
"A Capital" diligenciou ter acesso àquele relatório, mas foi afirmado que se trata de um "documento confidencial" até que esteja elaborado um "comunicado para a imprensa" já suficientemente digerido.

PORTARIA PLATÓNICA

A adição de chumbo na gasolina, regulamentada pela portaria 386/72, de 14 de Julho, recomendava à Refinaria 0, 635 gramas por litro de gasolina.
Dez anos volvidos, tudo indica que se trata de mais uma portaria platónica e por várias razões:
1 - Directrizes entretanto emanadas da CEE fixam em 0,4 aquele teor que, portanto, e mesmo teoricamente, torna o da lei portuguesa sensivelmente exagerado;
2 - Ninguém fiscaliza e a única coisa que se sabe é o "cheiro a chumbo" que durante largos períodos de tempo muitos notam na cidade de Lisboa e nem só, indicativo de percentagens certamente letais de chumbo na gasolina;
3 - Se o chumbo na gasolina é para aumentar o índice de octanas e, portanto, o rendimento dos motores, é evidente que a "crise" tudo justifica e quando há razões económicas, as razões ecológicas ou de saúde pública devem remeter-se à sua insignificância.
Compreende-se assim que "nada se saiba" sobre o chumbo - como diz o relatório do projecto "Poluição do Ar" - e que se considerem mesmo outros poluentes como de maior risco e prioridade.
É evidente, com efeito, o propósito de minimizar a importância do chumbo no ar que respiramos, quando se chama por exemplo a atenção para o chumbo na água, nos alimentos, nas canalizações e nos ambientes de trabalho como tipografias, fundições, etc
Sem negar a gravidade do chumbo em ambientes de trabalho - o saturnismo é considerado uma das doenças profissionais com maior incidência - a verdade é que esses casos são facilmente detectáveis e, feita a sua denúncia, fica claro que só não se age porque ninguém quer tocar em certos problemas tabu: e o ambiente em locais de trabalho é com certeza um desses tabus.

RECORDES EM LISBOA

De acordo com o inventário de emissões de gases poluentes na cidade de Lisboa, efectuado no âmbito do referido projecto OMS/PNUD, já em 1978 o quadro de poluentes era, em toneladas/ano, o seguinte: 12.300 de dióxido de enxofre, 6.300 de óxidos de azoto, 105.000 de monóxido de carbono, 1000 de fumos negros (partículas) e 26.000 toneladas de hidrocarbonetos.
Para dar uma imagem de "grandeza", serve o exemplo do dióxido de enxofre que é responsável, em Lisboa, por 6% das emissões de todo o país, que naquele ano se cifrou em 210 toneladas.
O peso relativo de Lisboa seria no entanto muito maior ainda no caso dos poluentes ligados à circulação automóvel como seja, por exemplo, o monóxido de carbono.
Resta lembrar que o projecto PNUD/OMS reconheceu que os principais poluidores do ar em Portugal., na globalidade, se inscrevem nas seguintes fontes: central térmica, Siderurgia, pasta de papel, cimenteira, Química-Adubos e Refinaria.

GESTÃO DO AR ESPERA ESTABILIDADE GOVERNATIVA

Quanto às Comissões de Gestão do Ar, criadas por decreto-lei n° 255/80 , de 30 de Julho, regulamentado por Portaria 508/81, de 25 de Junho, aguardam estabilidade governativa para entrar em funcionamento.
Até lá, a "rede" de vigilância da poluição atmosférica continuará na rotina de até aqui, sem grandes acções de fundo para atacar o problema. Os medidores medem , os relatórios (anuais) seguem o caminho normal dos relatórios , e pronto.
Iniciativas de fundo não se tomam, mas as medidas de limpeza ou higiene mais elementares também não.
O ''escândalo'' - a que alguns chamam "crime" - dos fumos negros ou partículas, é significativo da degradação a que se chegou. O que devia ser feito como função "fisiológica" normal - limpeza obrigatória do sistema de escape dos motores, anualmente - há décadas que não se faz.
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(*) Provavelmente publicado no jornal «A Capital», não posso garantir em que data