DEEP ECOLOGY 1982
entrepar-ie-ac = ideia ecológica do ac - manifest - 7373 caracteres
5-2-1982
Repesc em 17/11/1990
MANIFESTO POLÍTICO DO ECOREALISMO (EM PREPARAÇÃO)
ENTRE PARTIDOS SEM SER DE NENHUM
A DIFÍCIL DIALÉCTICA - PARTIDOS VISTOS DA «FRENTE ECOLÓGICA»
A TERCEIRA VIA: O QUE É?
AQUELA MÁQUINA PARTIDÁRIA
«Não se trata de converter os partidos à ecologia, o que seria tarefa tão impossível como querer um quadrado redondo - mas de criar, quanto antes, um partido do realismo ecológico, ou partido dos cidadãos. (5/2/1982)
Vários textos, inéditos e publicados, poderei reunir (e já reuni) para eventual publicação conjunta, em caderno polémico e «notícias da clandestinidade», em volta do tema político dos partidos.
Assumirá, eventualmente, a forme de carta de um anarquista aos senhores dos partidos, ou poderá, retirando os textos em «eu» para «diário geral», apontar mesmo para um estilo manifesto, a aproveitar, ou não, na candidatura ecologista às próximas presidenciais.
Até porque já existe um manifesto do lumpen-proletariado, que, embora datado, tem perfeito enquadramento (também polémico, ainda e cada vez mais) num manifesto político mais geral e abrangente.
Os ideólogos da mitologia tecnocrática costumam apregoar de que não há esquerda nem direita, pois o que sobreleva na política é o pragmatismo dos interesses económicos e esse não tem esquerda nem direita: está sempre a favor do vento.
Este «neutralismo» tecnocrático opõe-se a empenhamento e «engagement» humanista, que também não tem, por sua vez, esquerda nem direita. Por isso, quando se ouve o «slogan «nem esquerda nem direita» é preciso saber de onde ele vem, já que tem um significado distinto e mesmo inverso conforme a proveniência for tecnocrática ou humanista.
Em princípio, é a este empenhamento neutral, a este radical-reformismo, a esta utopia realista que o ecorealismo rende obediência, rejeitando liminarmente o neutralismo tecnocrático.
Nos textos redigidos ao longo dos anos inserem-se temas que denominei de «cancro totalitário», «macrosistema», «neo-sofística» e «crise planetária» (assim acontece ao texto intitulado « A mitologia tecnocrática», de 11 pgs A4 inéditas. Poderá ser um dos textos a inserir na «História de um Movimento - Páginas polémicas», tenha ou não o ar de manifesto: o ar deste texto é, efectivamente, mais testemunhal).
Um outro ensaio longo, e portanto inédito, tem 19 pgs a4, versa a questão dos fascismos quotidianos, a conspiração tácita entre vários aparelhos partidários para deixarem passar esses fascismos sem os mencionar como tal, mas meras disfunções ocasionais sem integração estrutural e ideológica. Há excepções em alguns pensadores da corrente marxista, incluindo o próprio Marx dos escritos da juventude, e depois Henri Lefèbvre com uma corajosa crítica da vida quotidiana e Michel Bosquet analisando o que chama de «capitalismo quotidiano». Ligar o ecologismo ou ecorealismo a estas fontes da filosofia marxista tem alguma importância, nomeadamente hoje (17/11/1990) em que uma direita festiva, comandada pelo pensador rock Miguel Esteves Cardoso, tem, com bastante êxito junto do público juvenil, inalado a tese de que ser irreverente, jovem, inconformista e práfrentex é exactamente adoptar e defender as manifestações mais expressivas do fascismo quotidiano, nomeadamente o ruído. Isto tem implicações a outro nível, o da apologia velada da droga e do relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo, o que, sendo uma ideia progressista, vai reforçar a ideia de que fazer a apologia do ruído é progressista também.
São estes os perigos de um pensamento que não sendo dialéctico antes se chamaria da «ambiguidade», na qual o pensador do vídeo clip Miguel Esteves Cardoso é mestre.
Na análise da vida quotidiana, esquerda e direita encontram-se do mesmo lado, fazendo ambas a apologia desse fascismo quotidiano.
*
Voltando a referir o «Para um manifesto do lumpen-proletariado», inédito com 6 pgs A4, destaco o último ponto, o 6, onde se resume, muito rapidamente, uma obsessão pessoal minha, a propósito da literatura malcriada, dos escritores que desceram aos porões e às traseiras da sociedade. Mais: está implícita nesta minha obsessão pelo proletariado uma imensa metáfora, vendo-me eu próprio, enquanto falhado, insultado, vaiado, excluído e demitido da sociedade, constantemente retratado em todos os lumpen: isto, de facto, é uma engrenagem trituradora que só deixa sobreviver quem estiver devidamente doutorado em alguma coisa.
Embora o lugar desta obsessão minha seja o texto de ficção e não o manifesto ou ensaio, a verdade é que ele foi escrito e a ele voltarei, provavelmente, em um possível capítulo de «O Forum dos Aflitos». Constantemente lembro Pasolini, Jean Genet, Artaud, Albertine Sarrasin, Violette Leduc, Danilo Dolci, João Carreira Bom («subgente»)
*
O recado crítico a dar pelo ecorealismo é, de facto, à esquerda, atendendo a que a Direita não nos deve já preocupar.
A este respeito, a minha tese herética repete-se: foi a esquerda que temos quem nos empurrou para a Direita que está.
Por isso intitulei «Da Esquerda à Esquerda» uma série de crónicas que publiquei no «Página Um» e onde fui muito criticado por criticar a esquerda e não criticar a direita. Mas a direita em ecologia não conta, está fóra do baralho e não me parece que seja com ela o debate a travar. Só que, com a Esquerda que se tem vindo a revelar nas águas ditas «verdes», também não me parece que seja para debater seja o que for. Está então o debate encerrado?
Talvez sim e daí, em grande parte, o mutismo a que me remeti.
*
Ainda em 1983, eu estava e continuava muito preocupado com a Esquerda (conforme posso ler num inédito desse ano) e que ela não quisesse perceber onde se infiltrava hoje e sob que formas o fascismo quotidiano. Esqueci-me nesse texto de 1983, de citar dois marxistas, Michel Bosquet e Lefebvre, mas de qualquer maneira receberia sempre a resposta de ressonância estalinista que era clássica cassete em casos que tais: « Não se pode fazer fé em intelectuais que dissidiram do partido comunista francês, pois eles são despeitados e jás não traduzem a pureza da doutrina.» Com argumentos destes se calou tanta gente, aqui, em Portugal, onde os estalinistas reinaram e continuam reinando, apesar da Perestroika ( 17/11/1990).
Em suma: que a chamada «Esquerda», a que monopolizava com mais veemência o rótulo, pelo menos - continuasse ignorando o biocídio e o tecnofascismo do chamado progresso económico, tecnológico e científico, era o grande espanto meu, na «Frente Ecológica», ainda em 1983. Se nunca tive veleidades de fazer pedagogia a burros, o facto é que o facto continuava e preocupar-me...
*
Ainda na perspectiva «Da esquerda à Esquerda» há um longo ensaio, em papel A4 de jornal (13 pgs), mas sem dia definido, não sei se inédito se publicado em caderno policopiado, em que tento definir o movimento ecológico perante os partidos políticos, embora dando a direita reaccionária como assunto arrumado... A terminologia não deixa lugar a dúvidas sobre a época, altamente e alucinadamente gonçalvista em que esse ensaio longo, polémico, foi escrito.
«Dos amanhãs que cantam aos amanhãs que choram» era um título bem elucidativo deste polémico manifesto onde tentava investir contra o tabu do progressismo, ou seja, a confusão sofística entre progresso e desenvolvimentismo industrial e economicismo estrito.
***
5-2-1982
A IDEIA ECOLÓGICA + BIBLIOGRAFIA DOMÉSTICA
Repesc em 17/11/1990
MANIFESTO POLÍTICO DO ECOREALISMO (EM PREPARAÇÃO)
ENTRE PARTIDOS SEM SER DE NENHUM
A DIFÍCIL DIALÉCTICA - PARTIDOS VISTOS DA «FRENTE ECOLÓGICA»
A TERCEIRA VIA: O QUE É?
AQUELA MÁQUINA PARTIDÁRIA
«Não se trata de converter os partidos à ecologia, o que seria tarefa tão impossível como querer um quadrado redondo - mas de criar, quanto antes, um partido do realismo ecológico, ou partido dos cidadãos. (5/2/1982)
Vários textos, inéditos e publicados, poderei reunir (e já reuni) para eventual publicação conjunta, em caderno polémico e «notícias da clandestinidade», em volta do tema político dos partidos.
Assumirá, eventualmente, a forme de carta de um anarquista aos senhores dos partidos, ou poderá, retirando os textos em «eu» para «diário geral», apontar mesmo para um estilo manifesto, a aproveitar, ou não, na candidatura ecologista às próximas presidenciais.
Até porque já existe um manifesto do lumpen-proletariado, que, embora datado, tem perfeito enquadramento (também polémico, ainda e cada vez mais) num manifesto político mais geral e abrangente.
Os ideólogos da mitologia tecnocrática costumam apregoar de que não há esquerda nem direita, pois o que sobreleva na política é o pragmatismo dos interesses económicos e esse não tem esquerda nem direita: está sempre a favor do vento.
Este «neutralismo» tecnocrático opõe-se a empenhamento e «engagement» humanista, que também não tem, por sua vez, esquerda nem direita. Por isso, quando se ouve o «slogan «nem esquerda nem direita» é preciso saber de onde ele vem, já que tem um significado distinto e mesmo inverso conforme a proveniência for tecnocrática ou humanista.
Em princípio, é a este empenhamento neutral, a este radical-reformismo, a esta utopia realista que o ecorealismo rende obediência, rejeitando liminarmente o neutralismo tecnocrático.
Nos textos redigidos ao longo dos anos inserem-se temas que denominei de «cancro totalitário», «macrosistema», «neo-sofística» e «crise planetária» (assim acontece ao texto intitulado « A mitologia tecnocrática», de 11 pgs A4 inéditas. Poderá ser um dos textos a inserir na «História de um Movimento - Páginas polémicas», tenha ou não o ar de manifesto: o ar deste texto é, efectivamente, mais testemunhal).
Um outro ensaio longo, e portanto inédito, tem 19 pgs a4, versa a questão dos fascismos quotidianos, a conspiração tácita entre vários aparelhos partidários para deixarem passar esses fascismos sem os mencionar como tal, mas meras disfunções ocasionais sem integração estrutural e ideológica. Há excepções em alguns pensadores da corrente marxista, incluindo o próprio Marx dos escritos da juventude, e depois Henri Lefèbvre com uma corajosa crítica da vida quotidiana e Michel Bosquet analisando o que chama de «capitalismo quotidiano». Ligar o ecologismo ou ecorealismo a estas fontes da filosofia marxista tem alguma importância, nomeadamente hoje (17/11/1990) em que uma direita festiva, comandada pelo pensador rock Miguel Esteves Cardoso, tem, com bastante êxito junto do público juvenil, inalado a tese de que ser irreverente, jovem, inconformista e práfrentex é exactamente adoptar e defender as manifestações mais expressivas do fascismo quotidiano, nomeadamente o ruído. Isto tem implicações a outro nível, o da apologia velada da droga e do relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo, o que, sendo uma ideia progressista, vai reforçar a ideia de que fazer a apologia do ruído é progressista também.
São estes os perigos de um pensamento que não sendo dialéctico antes se chamaria da «ambiguidade», na qual o pensador do vídeo clip Miguel Esteves Cardoso é mestre.
Na análise da vida quotidiana, esquerda e direita encontram-se do mesmo lado, fazendo ambas a apologia desse fascismo quotidiano.
*
Voltando a referir o «Para um manifesto do lumpen-proletariado», inédito com 6 pgs A4, destaco o último ponto, o 6, onde se resume, muito rapidamente, uma obsessão pessoal minha, a propósito da literatura malcriada, dos escritores que desceram aos porões e às traseiras da sociedade. Mais: está implícita nesta minha obsessão pelo proletariado uma imensa metáfora, vendo-me eu próprio, enquanto falhado, insultado, vaiado, excluído e demitido da sociedade, constantemente retratado em todos os lumpen: isto, de facto, é uma engrenagem trituradora que só deixa sobreviver quem estiver devidamente doutorado em alguma coisa.
Embora o lugar desta obsessão minha seja o texto de ficção e não o manifesto ou ensaio, a verdade é que ele foi escrito e a ele voltarei, provavelmente, em um possível capítulo de «O Forum dos Aflitos». Constantemente lembro Pasolini, Jean Genet, Artaud, Albertine Sarrasin, Violette Leduc, Danilo Dolci, João Carreira Bom («subgente»)
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O recado crítico a dar pelo ecorealismo é, de facto, à esquerda, atendendo a que a Direita não nos deve já preocupar.
A este respeito, a minha tese herética repete-se: foi a esquerda que temos quem nos empurrou para a Direita que está.
Por isso intitulei «Da Esquerda à Esquerda» uma série de crónicas que publiquei no «Página Um» e onde fui muito criticado por criticar a esquerda e não criticar a direita. Mas a direita em ecologia não conta, está fóra do baralho e não me parece que seja com ela o debate a travar. Só que, com a Esquerda que se tem vindo a revelar nas águas ditas «verdes», também não me parece que seja para debater seja o que for. Está então o debate encerrado?
Talvez sim e daí, em grande parte, o mutismo a que me remeti.
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Ainda em 1983, eu estava e continuava muito preocupado com a Esquerda (conforme posso ler num inédito desse ano) e que ela não quisesse perceber onde se infiltrava hoje e sob que formas o fascismo quotidiano. Esqueci-me nesse texto de 1983, de citar dois marxistas, Michel Bosquet e Lefebvre, mas de qualquer maneira receberia sempre a resposta de ressonância estalinista que era clássica cassete em casos que tais: « Não se pode fazer fé em intelectuais que dissidiram do partido comunista francês, pois eles são despeitados e jás não traduzem a pureza da doutrina.» Com argumentos destes se calou tanta gente, aqui, em Portugal, onde os estalinistas reinaram e continuam reinando, apesar da Perestroika ( 17/11/1990).
Em suma: que a chamada «Esquerda», a que monopolizava com mais veemência o rótulo, pelo menos - continuasse ignorando o biocídio e o tecnofascismo do chamado progresso económico, tecnológico e científico, era o grande espanto meu, na «Frente Ecológica», ainda em 1983. Se nunca tive veleidades de fazer pedagogia a burros, o facto é que o facto continuava e preocupar-me...
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Ainda na perspectiva «Da esquerda à Esquerda» há um longo ensaio, em papel A4 de jornal (13 pgs), mas sem dia definido, não sei se inédito se publicado em caderno policopiado, em que tento definir o movimento ecológico perante os partidos políticos, embora dando a direita reaccionária como assunto arrumado... A terminologia não deixa lugar a dúvidas sobre a época, altamente e alucinadamente gonçalvista em que esse ensaio longo, polémico, foi escrito.
«Dos amanhãs que cantam aos amanhãs que choram» era um título bem elucidativo deste polémico manifesto onde tentava investir contra o tabu do progressismo, ou seja, a confusão sofística entre progresso e desenvolvimentismo industrial e economicismo estrito.
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