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2006-02-01

DEEP ECOLOGY 1972

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GRANDES BARRAGENS E OUTRAS MEGALOMANIAS (*)

(*) Este texto , de que não consegui identificar o autor, saiu publicado no semanário «Vida Mundial», Lisboa, 2 de Fevereiro de 1972

[2 de Fevereiro de 1972] - Fundir a calota polar, unir os continentes, inverter os cursos dos rios, criar mares inteiros - todos estes projectos são tecnicamente possíveis. Mas são, também, operações que podem alterar o equilíbrio global do planeta. Os grandes trabalhos em escala. planetária - e já se fala numa nova especialidade, a engenharia planetária - podem ser, hoje, separados em três categorias:
1. manipulação das águas (barragens, inversão dos cursos dos rios, lagos artificiais);
2 .projectos nucleares de movimentação de terras;
3. remodelação das regiões polares.

1. manipulação das águas (barragens, inversão dos cursos dos rios, lagos artificiais);
Foi a construção da barragem de Assuão que levantou, pela primeira vez, as mais graves questões à volta da engenharia planetária. Destinada a mobilizar o esforço de todo o povo egípcio, essa represa iria permitir-lhe, também, abrir caminhos no sentido da modernização e desenvolvimento.. Assuão é, até hoje, o mais espectacular trabalho já levado a efeito no planeta; antes mesmo da sua entrada definitiva em serviço, em Julho de 1970, já se colocava em dúvida se os efeitos negativos - não previstos no projecto - não torrariam a construção da barragem mais arriscada do que vantajosa. Só então se deu conta de que, se a barragem ia fazer com que surgissem 800 mil hectares de novas terras cultiváveis, em compensação as perdas por evaporação do lago artificial, as modificações climáticas provocadas por enormes massas de vapor de água e as infiltrações incontroláveis punham em risco tornar essa gigantesca realização menos rentável que a pequena barragem já anteriormente existente...
O professor Roubaud (presidente da Comissão das Minas da Organização de Energia Atómica da França, autor do livro "É possível prever as Catástrofes Naturais?") deu indicações precisas a respeito da barragem de Assuão: - o enorme peso representado pelos milhões de metros cúbicos de água retidos por uma grande barragem pode provocar, sobre os leitos sedimentares e os leitos inferiores, fenómenos de abatimento e de ruptura de Elasticidade. E, a um máximo de dois quilómetros de profundidade, o suficiente para provocar abalos sísmicos.
A história da construção das grandes barragens tem sido geralmente marcada por sismos, como os de Cariba, na Rodésia, região africana até então virgem de qualquer acontecimento sísmico. A construção do maior lago artificial do mundo (175 biliões de metros cúbicos) começou em 1960 e por várias vezes a terra tem tremido em Cariba... De um modo geral, parece que o reequilíbrio da crosta terrestre sob o peso das águas de uma barragem pode demorar muitas gerações; nos Estados Unidos, os tremores de terra provocados pela barragem do lago Mead têm sido frequentes desde 1936.
Os efeitos perigosos das grandes barragens não se limitam à geologia. Há também a alteração, em grande escala, do equilíbrio biológico. O desaparecimento das sardinhas no Mediterrâneo é consequência directa de Assuão. Esse mar, por si só pobre em substâncias orgânicas, recebia enormes quantidades de limo bastante rico despejado pelo Nilo, que em seguida o espalhava. As suas sardinhas dele se alimentavam. Antes de as águas serem retidas pelas comportas, em 1964, os pescadores egípcios, conseguiam capturar 18 mil toneladas de sardinha por ano. Actualmente, a quota total não chega a 500 toneladas, isto é, 36 vezes menos.

Apesar dos resultados negativos, os grandes países, sobretudo os Estados Unidos e a União Soviética, continuam a estudar e a executar projectos cada vez mais gigantescos.
A U.R.S.S., por exemplo, prepara-se para um remodelamento geográfico colossal da Sibéria ocidental e central: uma completa rede hidrográfica artificial, compreendendo a construção de muitas dezenas de barragens, de centenas de canais e da inversão de cursos de rios, devendo unificar as bacias do mar de Aral, do lago Baical e do mar Cáspio - este, na verdade, ultimamente bastante ameaçado. Após um período de entusiasmo, os soviéticos resolveram adiar a execução do projecto, esperando a avaliação total de todas as consequências geológicas, climáticas e biológicas.
Os norte-americanos não ficam para trás. O Hudson Institute continua a trabalhar num projecto para a construção de uma grande barragem na Amazónia: um mar interior de 200 mil quilómetros, acompanhado por um conjunto de lagos artificiais (alguns dos quais atingiriam 350 Km de extensão), permitiria fornecer energia eléctrica à maior parte da América Latina. As consequências de um projecto desse porte são ainda de difícil previsão, mas é possível calcular que os ciclos naturais da região seriam totalmente desequilibrados.
A manipulação da água em escala planetária traria consequências imediatas e visíveis, pelo na parte de acomodação de camadas continentais e na mudança climática brusca, consequência lógica da evaporação.

2.PROJECTOS NUCLEARES DE MOVIMENTAÇÃO DE TERRAS

De resultantes quase tão graves como a manipulação das águas são os trabalhos de subsolo efectuados sob a nova técnica das explosões nucleares. Trata-se de "arrumar" enormes cavidades subterrâneas, onde seriam depositados resíduos ou carburantes; também na superfície as obras abertas a explosões atómicas multiplicar-se-iam quando fosse necessário rasgar canais através de montanhas ou preparar o terreno para a implantação de portos.
A agência americana de energia atómica prepara há anos o seu programa experimental "Plowshare"; trata-se de abrir uma cavidade subterrânea de 30 mil metros cúbicos e fazer com que aí se aqueça o vapor de água. A experiência foi um fracasso, produziram-se fenómenos inesperados de condensação e de corrosão. Os resultados mais aparentes das explosões de Sedan, Hardhat se e Dany Boy foram acidentes em que a violência da radioactividade se tornou incontrolável. Se a radioactividade residual começa a ser controlada, isso não quer dizer que estará eliminada a possibilidade de acidentes.
Um projecto que previa a preparação de um terreno para se construir um porto na Austrália teve de ser abandonado, em 71, porque não foi possível esclarecer os efeitos sobre o ambiente (o projecto incluía uma explosão atómica). Sem contar a abertura de minas e de jazidas de petróleo que não pode ser feita pelos meios tradicionais, a explosão atómica deverá ser empregada também na abertura do novo canal do Panamá; a força explosiva necessária seria de cerca de 165 megatoneladas, repartidas em secções.
O cientista Gordon Taylor estuda longamente as implicações gerais do projecto:
"Os especialistas prevêem uma fonte de nuvens radioactivas estendendo-se no sentido Leste-Oeste. A radioactividade daí desprendida seria bastante grande, uma quantidade realmente imprevisível. As regiões ameaçadas incluem a Costa Rica, o Panamá, o norte da Colômbia e o noroeste da Venezuela.. Outros especialistas lembram que os tremores de terra e ondas de choque se estenderão por centenas de quilómetros, enquanto o sistema de correntes, de ventos e a regularidade do Gulf Stream podem ser afectados".

3. REMODELAÇÃO DAS REGIÕES POLARES

A conquista das terras polares para a agricultura é uma grande motivação para soviéticos e americanos. Mas a geografia dos polos condiciona a geografia de todo o planeta.
O actual projecto russo neste campo consiste em estabelecer uma barragem ao longo dos 75 quilómetros do estreito de Bhering antes de bombardear as águas do Árctico; os gelos do Árctico derreter-se-iam em três anos e as terras geladas do Canadá e do norte da Rússia transformar-se-iam em extensas pastagens.
Por outro lado, surgiriam alterações climáticas em todo o hemisfério do Norte, o nível dos oceanos elevar-se-ia em todo o mundo, inundando um grande número de idades, nomeadamente na Europa Ocidental
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(*) Este texto , de que não consegui identificar o autor, saiu publicado no semanário «Vida Mundial», Lisboa, 2 de Fevereiro de 1972
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