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2006-02-03

BIOCRACIA 1967

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UM PARÊNTESIS CONTRA O PROGRESSO EM GERAL
 E O CHAMADO PROGRESSO MÉDICO EM PARTICULAR

Este capítulo está encostado a conceitos que considero ultrapassados em 1998: revolução, advento do socialismo, etc

5/Fevereiro/1967 - À medida que a Biocracia avança para arrancar ao homem as últimas raízes da sua natureza e da sua dignidade, assiste-se à ascenção e queda dos mitos com que se traumatizam as populações e se preparam (condicionam) os cérebros para suportarem todas as neo-violências do chamado progresso.
No tempo em que a imprensa comercial do mundo inteiro aplaudia, por serem mediáticas, as experiências do Dr. Barnard em matéria de corações enxertados, alguém escrevia, no silêncio do seu «diário de um sobrevivente», o que era então proibido pensar, quanto mais escrever e publicar.
O que era e continua a ser, evidentemente.
Arrancamos hoje essa página de um sobrevivente, escrita em 5 de Janeiro de 1967, apenas para verificar que, dez anos depois, o homem ainda não deixou de ser vampiro do homem.
Reproduzimos, então, o que estava escrito desde então, sobre cirurgia em geral e transplantes em particular.
À falta de verdadeiro progresso (que é sempre humano e social), à falta de paz e de soluções para o armamento, à falta de justa distribuição nas rendas e nos alimentos, à falta de
justiça, de liberdade e de fraternidade, à falta de benefícios (da tal ciência, da tal técnica) para todos e não só para os beneficiados de sempre (conformistas e acomodatícios de sempre), à falta de verdadeiras conquistas no caminho  de um verdadeiro humanismo, isto é, de um verdadeiro progresso, ocupam-se as forças  e quantos com elas colaboram sem se dar por isso, a hipertrofiar a importância de pequenas piruetas técnicas, com mais ou menos significado intrínseco mas sempre piruetas se e enquanto as não integrar uma justa redistribuição por todos das ditas piruetas, no menor prazo.
À falta de condições habitáveis nas nossas cidades, de uma política urbanista que se preocupe com a vida dos cidadãos e não só com a circulação automóvel e a prosperidade das empresas, à falta de respeito pela vida humana e por todas as formas de vida saudável, à falta de a medicina fazer o que lhe competia - curar regenerando, curar recuperando o órgão doente e todo o organismo - coligam-se as forças negativas para todas as manobras de distracção que as tais piruetas técnicas propiciam: a imprensa, sempre ávida de sensação e telex; os políticos, sempre prontos a distrair as massas dos reais problemas e das reais urgências; a medicina, sempre afainada em ocultar, com passes cirúrgicos, os  falhanços no campo terapêutico; enfim, toda essa ciência coligada.
Respeito pela vida e amor ao progresso é coisa que nunca vemos tão respeitáveis instituições defender nos momentos críticos e definitivos, pelo menos com o zelo, a teimosia, o alarde que vemos na noticiação do folhetim Barnard ou do folhetim Svetlana ou do folhetim Murphy, ou de qualquer outro fanerogâmico assim; mas nenhuma das respeitáveis instituições deixa de cantar (ou de chorar, conforma a cerimónia) o fado do amor à vida quando um qualquer Barnard, do Cabo , diz que enxertou coração de negro em corpo de branco (vejam a multiracialidade de tal coração).
Que tirar órgãos seja a quem for já esteja excluído (pela legalidade do terror cirúrgico) da alçada dos delitos de eutanásia, que extirpar bocados de vida seja de quem for já não se considere (a gente habitua-se e para isso lá estão os órgãos da opinião a fabricar rebanhos de resignados) um desrespeito pela vida, quem já pode admirar-se?
Se já estamos talhados à imagem e semelhança da elite tecnocrática (biocrática neste caso da cirurgia) que nos modelou o cérebro, como havemos de reagir?
Diga-se, entre parêntesis, que alguns ficaram muito alarmados com a história do «Fahreneit 451», contada pelo realizador François Truffaut, como se não estivessem já todos a ser protagonistas daquela fábula.

Só cantam hossanas ao progresso quando as manifestações em causa (cirúrgicas ou espaciais, para exemplo) lhes interessam para distrair e adiar. O verdadeiro progresso - que só existe ao nível de todos, para todos, com todos - não interessa a ninguém da elite que vive de explorar o trabalho, a vida, a boa fé ou a crueldade do querido próximo.
O amor ao progresso é , para eles, consciente ou inconscientemente, o amor às suas conveniências, aos seus lucros e à paz d'alma das suas  consciências. Que nada as perturbe e será o progresso.
Se antes, durante e depois de embarcarmos no folhetim do dr. Barnard, se antes, durante e depois, as élites tivessem denunciado as condições de anti-progresso que continuam a perdurar por toda a parte com a cumplicidade das suas consciências, então sim: a poluição crescente da biosfera, as radioactividades que aumentam, o nervosismo da bomba, o ar irrespirável de hora a hora - onde afinal radicam muitas doenças para as quais as medicinas só têm como resposta o medicamento químico ou a faca - tudo isso em função do progresso e o progresso em função disso, talvez valesse a pena acreditar que era a sério quando paguem 1400 contos ao Barnard pelo exclusivo das fotos e declarações.
De contrário, a verdade é muito outra e a única que importa assinalar: as doenças endémicas crescem em vertical, de mês para mês e numa progressão que não tem confronto com os ditos progressos que, em sentido inverso (combatendo a doença) se verificam.
De onde é fácil deduzir que a dita pirueta do Dr. Barnard, ainda que tivesse algum significado ao nível da habilidade manual e do aperfeiçoamento de maquinismos, nunca viria a significar nada no capítulo da sua aplicação, isto é, no capítulo do progresso (que é sempre e só moral, social, humano, espiritual, ou não existe, ou é apenas retrocesso).
A generalização à maioria das pessoas dessa conquista técnica é impraticável no prazo de tempo em que poderia servir e absolutamente vácua a longo prazo, já que sofre de atraso congénito: e a humanidade morrerá cardíaca (às vezes o desespero faz pensar que a humanidade não merece melhor) se processos mais radicais não se encontrarem de evitar a doença, de a curar, de regenerar os órgãos.
Ou isto (que seria de facto o progresso para as imprensas louvarem e o Nobel galardoar) ou não serão remendos, enxertos de órgãos que irão salvar, na hora da verdade, os milhares de cardíacos que disso vierem a precisar, que disso (de um coração sadio) já precisam mas com os quais, as  elites, medicinas e etc., não parecem ocupar-se nem preocupar-se muito. Enxertar um órgão em alguém em vez de curar milhões é não só muito mais fácil como dá melhor fotografia para a primeira página.
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