CÓLERA 1990
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VIBRIÕES E TERCEIROMUNDISMO
Lisboa, 27/Agosto/1990 - Quase ousava uma tese relativamente à vaga de «poluição orgânica» e terceiro-mundista que, logo após o 25 de Abril, inundou o País, como se a poluição industrial não existisse ou fosse de somenos!
Era preciso mostrar à saciedade e à sociedade, quer civil, quer militar, que Portugal emergia do fascismo em estado de subdesenvolvimento crónico e de ansiedade febril e colérica por uma industrialização frenética. Era preciso que o projecto de Sines, congeminado por Marcelo Caetano, tivesse a sua conclusão em pleno Estado democrático. E nada melhor do que um ambiente terceiro mundista de poluições orgânicas e de vibriões coléricos, para o povo aspirar à realização de grandes complexos industriais, que livrassem definitivamente o País das águas inquinadas.
Tudo apareceu, portanto, ao mesmo tempo e quase por encanto ou acaso: os focos epidémicos do «cólera» grassaram em diversos pontos do País, os rios «apareceram» contaminados e, claro, os colibacilos deram outra vez baile nas praias da Linha do Estoril, assunto que vem sempre à primeira página dos jornais quando os jornais não têm assunto de primeira página que faça vender papel.
Nos meses que se seguiram ao 25 de Abril, a atmosfera de suspeição era dominante e havia um imponderável e irresistível pendor para «suspeitar» de que tudo quanto acontecia era «provocado», por agentes ao serviço da Direita, ou por agentes ao serviço da Esquerda. Mas a verdade é que muitas coisas, ainda hoje por esclarecer, não perderam esse halo de coisas suspeitas.
A vaga de «poluição orgânica» é uma delas: bem vistas as coisas, havia uma certa vantagem «política» e económica em enfatizar esse tipo de poluição, que reunia alguns factores psicopolíticos importantes: comunicava um certo ar deprimente ao ambiente «revolucionário» que então se vivia; era, em qualquer caso, mais um factor desestabilizante, numa época em que era necessário, acima de tudo, instabilizar (e disso se falava à boca cheia); reforçava a tese de que Portugal estava irremediavelmente subdesenvolvido e era preciso, portanto, industrializar; preparava-se mentalmente os novos governantes para distribuir verbas colossais aos sistemas de esgotos e saneamento básico (cujas empresas internacionais andavam num corropio através dos ministérios, procurando fazer valer o produto que tinham para vender); o nosso complexo de inferioridade, miséria e subdesenvolvimento era agravado com epidemias tipicamente características do Terceiro Mundo; lançava-se na mentalidade dos novos e futuros governantes a premente necessidade de industrializar; etc..
A verdade é que estas campanhas de poluição terceiro mundista foram contemporâneas de campanhas em favor da indústria nuclear, promovidas por governantes, a todo o vapor e quanto antes, «porque o país precisava de se desenvolver e só tinha, para isso, o caminho redentor da indústria nuclear». Sem nunca dizer que não à indústria nuclear, o PCP distribuía os seus favores e fervores pelo projecto megalómano de Alqueva, de que continuou, com o PS, a fazer cavalo de batalha, através de todos os governos subsequentes, como se fosse a sua santa cruzada contra os infiéis. Não têm conto as vezes que fui insultado pelos adoradores da Nossa Senhora de Alqueva.
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VIBRIÕES E TERCEIROMUNDISMO
Lisboa, 27/Agosto/1990 - Quase ousava uma tese relativamente à vaga de «poluição orgânica» e terceiro-mundista que, logo após o 25 de Abril, inundou o País, como se a poluição industrial não existisse ou fosse de somenos!
Era preciso mostrar à saciedade e à sociedade, quer civil, quer militar, que Portugal emergia do fascismo em estado de subdesenvolvimento crónico e de ansiedade febril e colérica por uma industrialização frenética. Era preciso que o projecto de Sines, congeminado por Marcelo Caetano, tivesse a sua conclusão em pleno Estado democrático. E nada melhor do que um ambiente terceiro mundista de poluições orgânicas e de vibriões coléricos, para o povo aspirar à realização de grandes complexos industriais, que livrassem definitivamente o País das águas inquinadas.
Tudo apareceu, portanto, ao mesmo tempo e quase por encanto ou acaso: os focos epidémicos do «cólera» grassaram em diversos pontos do País, os rios «apareceram» contaminados e, claro, os colibacilos deram outra vez baile nas praias da Linha do Estoril, assunto que vem sempre à primeira página dos jornais quando os jornais não têm assunto de primeira página que faça vender papel.
Nos meses que se seguiram ao 25 de Abril, a atmosfera de suspeição era dominante e havia um imponderável e irresistível pendor para «suspeitar» de que tudo quanto acontecia era «provocado», por agentes ao serviço da Direita, ou por agentes ao serviço da Esquerda. Mas a verdade é que muitas coisas, ainda hoje por esclarecer, não perderam esse halo de coisas suspeitas.
A vaga de «poluição orgânica» é uma delas: bem vistas as coisas, havia uma certa vantagem «política» e económica em enfatizar esse tipo de poluição, que reunia alguns factores psicopolíticos importantes: comunicava um certo ar deprimente ao ambiente «revolucionário» que então se vivia; era, em qualquer caso, mais um factor desestabilizante, numa época em que era necessário, acima de tudo, instabilizar (e disso se falava à boca cheia); reforçava a tese de que Portugal estava irremediavelmente subdesenvolvido e era preciso, portanto, industrializar; preparava-se mentalmente os novos governantes para distribuir verbas colossais aos sistemas de esgotos e saneamento básico (cujas empresas internacionais andavam num corropio através dos ministérios, procurando fazer valer o produto que tinham para vender); o nosso complexo de inferioridade, miséria e subdesenvolvimento era agravado com epidemias tipicamente características do Terceiro Mundo; lançava-se na mentalidade dos novos e futuros governantes a premente necessidade de industrializar; etc..
A verdade é que estas campanhas de poluição terceiro mundista foram contemporâneas de campanhas em favor da indústria nuclear, promovidas por governantes, a todo o vapor e quanto antes, «porque o país precisava de se desenvolver e só tinha, para isso, o caminho redentor da indústria nuclear». Sem nunca dizer que não à indústria nuclear, o PCP distribuía os seus favores e fervores pelo projecto megalómano de Alqueva, de que continuou, com o PS, a fazer cavalo de batalha, através de todos os governos subsequentes, como se fosse a sua santa cruzada contra os infiéis. Não têm conto as vezes que fui insultado pelos adoradores da Nossa Senhora de Alqueva.
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