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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-16

BIOLOGIA 2000

1-2 - morishit-bn-ec-mk-bg> = mein kampf – inédito 5 estrelas, sem dúvida

EM DEMANDA DO ESSENCIAL

16/Junho/2000 (lua cheia) - Se a ciência médica e a biologia ainda não conseguiram a teoria que conduza a uma prática terapêutica e profiláctica eficaz e verdadeiramente remissiva (o contrário de repressiva) do cancro, verdadeiramente causal ou ecológica e não sintomatológica, o nosso trabalho de seres humanos interessados em minorar o sofrimento humano, deverá consistir em pesquisar outras teorias e outras hipóteses de trabalho (sem hipótese não existe experimentação científica), por muito que essas hipóteses e teorias necessariamente contrariem as teorias oficiais em biologia médica.
Necessário e urgente, dada a falência espectacular da actual biologia médica, é que contrariem.
Por muito que essas novas teorias nos pareçam inconsistentes, há que ousar. Só com a criação de novas hipóteses criadoras se poderá avançar num campo de pesquisa que se encontra estagnado, por razões de marketing científico mas por razões também intrínsecas (metodológicas e epistemológicas).
Não é lisonjeando o status quo da ciência ordinária, que se chegará a algum lado. Actualmente, as instituições trabalham apenas para se manter e reproduzir. As instituições (nomeadamente laboratórios e universidades) também são a imagem da célula cancerosa: trabalham para se reproduzir infinitamente e não para serem minimamente úteis à sofredora humanidade.
A estagnação na pesquisa das ciências biológicas parece ser homóloga da estagnação do terreno orgânico, caldo de cultura ideal para a célula cancerosa.
Não admira que este K. Morishita (de que lhe envio um texto de trabalho), ou o Marchesseau (em que me falou ao telefone) , ou o Raymond Dextreit, ou o André Voisin, ou o Michel Rémy, ou o Wilhelm Reich, ou o Etienne Guillé, ou o Rudolfo Steiner, ou o Jorge Oshawa, ou o Michio Kushi, pareçam naifs e «pouco profundos» (como me disse ao telefone do Marchesseau): toda a aventura e ousadia em terreno virgem é insegura e só as teorias consolidadas (estagnadas) como a teoria microbiológica e a teoria viral parecem seguras e profundas. Só que são erradas.
O pior em ciência que queira progredir é exactamente a teoria errada mas alegadamente «profunda»: a microbiológica ainda tem o handicap de ter contribuído para a indústria actualmente mais rendosa que é a indústria da doença ou químico-farmacêutica (a que alguns vão chamando iatrogénica).
Como não pretendo ganhar o prémio Nobel da profundidade científica (que apenas nos levou ao caos em que estamos atolados) mas apenas descobrir o caminho mais curto e correcto de me auto-defender e ajudar os outros a autodefender-se, estou-me perfeitamente nas tintas para o academismo vigente e suas sequelas de morte, doença e mentira. Como ignorante, dou-me melhor com os meus autores pouco profundos, empíricos, às vezes guiando-se mais pela intuição e pela imaginação do que pela razão calculista.
A nossa tarefa de seres humanos interessados no «benefício de todos os seres» (como ensina o budismo) será «testar» livremente a verosimilhança interna de cada uma dessas teorias e testar principalmente a sua eficácia prática, terapêutica. Nesse caso, partiremos não de uma teoria profunda e genial que conduza a uma prática terapêutica desastrosa mas de práticas terapêuticas eficazes (como a macrobiótica) mesmo que ainda não tenham o background teórico científico devidamente aprovado pela comunidade (mafia) médica.
É o caso da macrobiótica .
Será empírica, não será universitariamente reconhecida, não existem catedráticos diplomados e doutorados em macrobiótica mas se resulta na prática (e é evidente que resulta, como relata no seu livro o médico Satillaro), é o que nos deverá interessar como seres humanos, mais interessados em «diminuir aritmeticamente a dor do mundo» (Albert Camus) do que em ganhar cargos e poder e diplomas e títulos ( sobrecarga ou neurose de acumulação que a célula cancerosa subliminarmente adora e reproduz).
O texto de Morishita que lhe deixo é coxo, a teoria é discutível (como todas as teorias o deveriam ser, embora algumas, como a microbiológica e viral, se tivessem tornado dogmas religiosos), está mal traduzido («portanto» em vez de «no entanto»).
O que a célula cancerosa também quer é a análise de pormenor (adora microscópios...), do acessório, perdendo o fio do essencial, holístico e global, que se tornou curiosamente uma heresia no meio da ciência ordinária.
O melhor antídoto para a célula rebelde é um pequeno esforço de nos atermos ao essencial em detrimento do acessório. O sentido das prioridades é um dos que a célula rebelde mais depressa destrói.
Por isso o nosso trabalho de seres humanos é precisamente triar estes textos toscos, com muita palha (nem todos são escritores geniais como Etienne Guillé) mas onde se pode guardar um ou dois grãos de verdade (o essencial, holístico e global).
É uma atitude não arrogante e devemos lembrar-nos que a arrogância é típica da célula cancerosa . A ciência biológica que conduziu a medicina ao impasse actual deve ficar, no mínimo em stand by. Até ver. Vamos ousar, como sugere a mensagem da grande esfinge que mandava: saber, querer, ousar, deter-se e ...amar seis vezes.

BREVE BIBLIOGRAFIA PARA AVANÇAR

Deixo-lhe um pouco da bibliografia que fui triando ao longo de muitos anos de aturada leitura de autores que contrariassem os dogmas religiosos que são as teorias vigentes da vigente biologia médica :
André Voisin - Suelo, Hierba, Cancer - Ed. Tecnos - Madrid, 1971
Michel Rémy - La Bataille du Cancer - Ed. «La Vie Claire» - Montreuil, 1970
Ruth Jochems - A Cura do Cancer pela Dieta e Terapia do Dr. Moerman
Serge Jurasunas - Le Lapacho et le Cancer - 1989
Serge Jurasunas - Le Germanium - Una réponse au Cancer et au Sida - Ed. Aquarius - Genève, 1989
Wilhelm Reich - La Biopathie du Cancer - Ed. Payot - Paris, 1975
Aveline Kushi e Wendy Esko - The Macrobiotic Cancer Prevention Cookbook - Avery Publishing Group - New York - 1988
Michio Kushi - The Cancer Prevention Diet - St. Martin's Press - New York
Elizabeth Somer - Cancro e Nutrição - Marujo Editora - Lisboa, 1989
Raymond Dextreit - O Cancro - Ed. Itau - Lisboa, s/d
J. Ferraz - O Papel do Sistema Nervoso na Patogenia do Cancro - Ed. Sana - Felgueira - s/d
The East West Foundation - A Alimentação e o Cancro Segundo os Princípios da Macrobiótica - Ed. Unimave - Lisboa, 1977
Anthony J. Sattilaro - Rappelé à la Vie - Ed. Calman- Lévy - Paris, 1983
Etienne Guillé - Todos os seus quatro livros
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SOFISMAS 1991

1-3 - 91-06-16-cc> contra a ciência 7077 caracteres -gangster>vozes> ficcoes> inventar>

16/Junho/1991

# Memórias de um Cientista que enlouqueceu de tanto ter estudado

MANIFESTO PÓS MODERNISTA - PARA UMA IDEOLOGIA PERENE

A CIÊNCIA DAS ETIQUETAS - AS ETIQUETAS DA CIÊNCIA

O RELATIVISMO EVOLUCIONISTA: PERSPECTIVAS DE ESCALA SÃO A ESSÊNCIA DA MODERNIDADE

SE A CIÊNCIA DE NEWTON ESTÁ ULTRAPASSADA - ENTÃO TODA A CIÊNCIA PRESENTE E FUTURA FICARÁ IGUALMENTE ULTRAPASSADA, PELO QUE A DEVO CONSIDERAR JÁ ULTRAPASSADA


Quando se chama de urgência o especialista -- psiquiatra, psicanalista, sociólogo, economista, jurista, médico, engenheiro, endocrinologista--->, para, como se diz, fazer uma equipa pluridisciplinar, com o objectivo de resolver um problema de índole como se diz existencial,
recorre-se à instância que criou o próprio impasse para resolver os impasses.
Invoca-se, como árbitro, uma entidade (estruturalmente) envolvida na contenda, a entidade que tem maior percentagem de culpa na conjuntura criada.
Esta, no entanto, é apenas uma perversão, entre várias, que estruturam o macrosistema, através da macroideologia ou ideologia cientifista (sofística).
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SOFISMOLOGIA


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A IDEOLOGIA CIENTIFISTA

Tudo o que o Professor Vasco Magalhães-Vilhena, da sua cátedra na Sorbonne, cientificamente minimiza, achincalha e apouca, como resíduo ultrapassado da filosofia, agarro-o eu como o discurso que, não agradando ao establishment da Sofística dominante, oferece algumas garantias de não se encontrar contaminado. Encaro-o eu, salvificamente, como o que fica e não foi contaminado da peste avassaladora, da sida galopante do nosso tempo: a ideologia cientifista. Defendo-o eu, como uma bolsa de resistência que não foi ainda ocupada pela rede avassaladora que tudo devora e absorve da ideologia totalitária dominante.
O «coisificante substancialismo» da psicologia arcaica, a «psicologia metafísica dita racional», a «tradição morta» -- tudo isso eu não sei, nem sabia, se era mau ou se era bom, mas ao ver o modo pejorativo como o Professor V. M.-G. se lhe refere, fico fã e admirador, quero saber o que tanto o molesta.
Ler nos luminares do cientifismo o que eles deitam fora, e imediatamente escolher o que importa submeter de novo a estudo, análise e conhecimento, leva-me imediatamente correr para aí. Eles são os meus propedeutas. Se eu quero saber o que é importante, é ler nos ideólogos modernos da Sofística científica o que eles dão como desimportante e caduco.
Neste aspecto, tudo o que está inserido no âmbito das «ciências malditas» -- ditas ocultas -- suscita o meu desvelo e atenção. O meu interesse pelas ciências ocultas (ocultadas) vem daí: pelo mal que delas ouvi e vi dizer aos representantes da ciência revelada.
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A TEORIA DA RELATIVIDADE

O relativismo é o princípio satânico que pode ser introduzido na ordem estabelecida.
Se eu disser, olhando o rei -- que vai nu mas que todos dizem ir vestido de ricas vestes -- que o discurso dado hoje como oficialmente reconhecido e único válido é, daqui a dez anos, o mais tardar 20, completamente obsoleto, anacrónico e ridículo, estou a dizer a Heresia absoluta.
No fundo, limito-me a reconhecer o que o próprio sistema afirma e dá como seu atributo de vanglória: o carácter evolutivo do discurso científico, da ortodoxia sofística. Afirmando o que eles afirmam, eu passo por herege e eles por prémios Nobel.
Um texto de Flammarion sobre Astronomia, hoje, faz-nos rir, como daqui a 20 anos nos fará rir um texto de Carl Sagan. E isto porque, como eles -- os especialistas -- dizem, o conhecimento científico nunca pára, está sempre a conquistar novas etapas, o progresso é que o anima, o heroísmo dos cientistas é patente, o seu sacrifício pela sagrada causa, etc., etc..
O «evolucionismo» do conhecimento científico, sempre a correr pró progresso, mais do que um atributo do método sofístico, é a sua trave mestra e a trave mestra da própria sociedade que promete sempre para amanhã o que nunca e jamais dá hoje. O «evolucionismo» visto do outro lado é o aleatório, uma desculpa mestra e eterna, um alibi permanente para que a ciência nunca resolva um só dos grandes problemas, existenciais ou sociais, com que o homem se defronta, através dos tempos e dos lugares.
O cancro?
Daqui a uns anos, a ciência encontrará certamente um medicamento...
A sida
Daqui a uns anos, a ciência encontrará certamente uma vacina...
A poluição?
O bairro da lata?
A toxicodependência?
A desabitaçao?
A alienação no trabalho?
A inflação?
A fome do Terceiro Mundo?
[--->]
A ciência encontrará sempre, daqui a uns anos, a solução...
É com esta retórica balofa, abusiva, mecânica, sofística, que o Especialista continua a adormecer-nos, a mergulhar-nos neste sono carregado de pesadelos e fantasmas que é esta abominável sociedade assente na religião da ciência e na igreja da técnica.
*
Pergunta de palmatória com que tenciono pôr em fúria um dos muitos adeptos da ciência como dogma inviolável:
-Se a filosofia também é ciência, porque não acontece ao discurso filosófico a caducidade, a anacronização que acontece ao discurso científico e tecnológico?
-Ou não será a filosofia tão científica como dizem?
-Ou não será tão científica a ciência -- por envelhecer tão depressa?
-Qual o critério de preferência: o discurso que envelhece depressa, que se torna rapidamente caduco, porque é científico-evolutivo
ou o discurso que não envelhece e permanece porque não é científico-evolutivo?
Outra pergunta :
-Que faz a medicina científica actual a tudo o que puseram no contentor do passado como desactualizado -- graças aos avanços da ciência -- , o que faz ela a tudo o que foi criado, pensado, feito, avançado, conquistado, não só na história da medicina europeia, bem curta e pouco imaginativa, mas nas grandes medicinas universais de outras culturas como a Sufi, a Chinesa (taoísta) e a Hindu-ayurvédica?
-Joga fora Hipócrates?
-Baseada na regra positivista da escala evolutiva, deita fora Paracelso e Heinmann?
*
A «reabilitação» a que os especialistas de vez em quando procedem de algumas figuras que eles próprios tinham deitado no contentor do velho, antigo, inactual, não moderno e que durante séculos estiveram no Índex, na lista negra da Inquisição iluminista -- Aristóteles foi um dos malditos e amaldiçoados para a filosofia científica moderna -- é exemplo pouco decente da ética (???) pouco limpa que preside à actividade do especialista, quando toma conta de matérias que ele própria classificou e cantonou na etiqueta de «Filosofia».


***

PAÍS 1979

país-1> os dossiês do silêncio

AS GRANDIOSAS OBRAS DO CONVENTO DE MAFRA(*)

«DELÍRIO DAS GRANDEZAS»,DOENÇA CONTAGIOSA...

16/6/1979 - E a situação psicopatológica é esta, sempre esta, contaminando da mesma «mania das grandezas» as populações que, pobres e rotas, interminamente sonham com o império das vestes douradas.
Entre os políticos – que, no intervalo de derrubar governos, consultam os seus gabinetes técnicos de planeamento - o tipo de raciocínio é o mesmo. Soluções maravilhosas temos nós, muitas, para tudo, mas tão caras, tão caras, tão caras que nem trocando a nossa alma colectiva de povo octossecular, o Diabo nos emprestaria a soma!
O técnico, porém, não desiste: tendo mecanicamente cumprido a obrigação de obrar o relatório, mecanicamente continua salivando os mesmos reflexos condicionados de sempre: «iremos pedir ao Banco Mundial, ao Banco Europeu, ao Banco Espírito Santo», aos ricos todos, mas enquanto eles decidem dar ou não (entretanto vão-nos espreitando até à roupa de baixo), outra cheia virá que levará haveres, pessoas, gados e culturas, outra crise de electricidade nos deixará (como no estio de 1976) metade do dia sem vátios, outro péssimo ano agrícola nos fará pagar as cenoiras a preço de ouro (ou as cenouras a preço de oiro), outra epidemia de cólera poderá vir (como vieram em 1974) anunciando ao mundo que este País de grandes ambições europeias - no que diz respeito às Doenças do Desenvolvimento - alinha no Terceiro Mundo do subdesenvolvimento e das endemias típicas da fome, da miséria, da pobreza.
Mas lá confessar a nossa indigência, nunca. Albanizar o País (como eles dizem, rangentes), nunca. Viver com o que temos, jamais.

REALISMO OU TECNUTOPIA?

Pobretes mas alegretes, sempre. Nunca solucionaremos um único pequeno problema real mas temos na gaveta, no cérebro privilegiado dos nossos técnicos e líderes, a solução ideal para todos os problemas, passados, presentes, futuros, locais, regionais, nacionais e (embora não nos digam respeito) internacionais também.
Sempre além do chinelo, sempre aspirando horizontes de glória e pompa, oceanos e continentes, ora o maior lago artificial da Europa, ora a única experiência com chuvas do mundo, ora o maior esporão de costa que já se fez por toda a galáxia, ora o convento de Mafra...
O técnico herdou do infante D. Henrique esta estrela ultramarina de conquista: sonhamos sempre o melhor rubi, embora já estejamos a empenhar alguns dedos.
Sempre a utopia, o sétimo império, o adamastor na nossa casa de banho, a reluzente coroa arquimperial, o nosso fado de senhores dominando continentes de escravos.
Será doença, mania, mácula ancestral, mas é a dominante caractereológica da classe dominante: a tecnostrutura e o seu tecnoterror.
O mínimo realismo - comum ao homem sensato e ao ecologista - esbarra estrondosamente nesta muralha de superutopia, em que todos os órgãos do poder - por muito que discordem no pormenor e se repartam na Assembleia - se encontram unânimes.
Entre o bom senso, o realismo, a noção do real concreto, a sensibilidade dialéctica à história e suas contradições, a plena consciência do nosso tamanho, das nossas finanças, da nossa magreza - e os sonhos (ora vermelhos, ora azuis, ora pretos) de grandiloquência, ouro, urânio e diamante, não há sintonia possível. Há um abismo. A inércia do hábito e da rotina. A esclerose do que vem de trás e obriga, sem alterações, a prosseguir em frente. Cegamente em frente.
Quando não é no fado e na providência divina, a classe técnica dominante deposita tudo (e a solução dos problemas):
1 - Na sapiência erudita dos gabinetes, diplomados e relatórios, tanto mais competentes quanto mais herméticos e indecifráveis em termos de gente;
2 - Na cornucópia divina que nos há-de ir despejando empréstimos sobre empréstimos até ao ano 2000;
3 -Nas obras públicas (de que foram 50 anos) e nas soluções megalómanas do tipo Alqueva-pirâmide-moderna, do tipo 42 diques de cimento armado para o Tejo, do tipo rede arquissofisticada de sanidade, do tipo central nuclear último modelo embora ferrugento.

BOM SENSO POPULAR & POLíTICA DA TERRA QUEIMADA

O português sabe que este esquema é generalizável a todas as circunstâncias, carências, necessidades da nossa vida colectiva e quotidiana. De pequeno e prático e imediato, nada se resolve. Mas tudo será feito e resolvido, daqui a muitos anos, se houver dinheiro, muito dinheiro, oceanos de dinheiro.
Como não há, nada (nem pouco nem muito) se fará.
Bem se esfalfa o povo, por aforismo, a lembrar que o «óptimo é inimigo do bom». A política da terra queimada - «quanto pior, melhor» - continua a ser o aforismo de quantos têm poder neste País. E, por definição, eles não ouvem a voz do povo que é a voz de Deus.
De olhos vendados e ouvidos surdos para o País real, só se ouve a si, ao seu umbigo, à sua psitacística subjectividade.
O homem sensato - a maioria do povo português, tenhamos fé! - só vê, nos palcos públicos, homens sonhando alto com castelos dourados, enquanto os casebres da vida portuguesa vão na voragem das águas, no abandono dos campos, na míngua de energias, na depressão de cíclicas endemias, no desespero de ver todos os horizontes cerrados.
A tecnutopia, de facto, encurrala-nos: para não termos um dilúvio universal no Ribatejo, precisamos de milhares de contos; mas como não temos um tostão, teremos o dilúvio até à consumação dos séculos.
Face aos sonhos imperiais de Alquevas impossíveis, ao povo português continua-se pondo apenas a questão muito concreta, territorial, urgente, sem flores nem cenários: salvar a pele, matar a fome, viver enquanto a redentora morte não nos libertar.
Salvar a pele, evitar que, depois dos anéis, vão também os dedos, ter e comer austeramente o que austeramente for humanamente possível, é o imperativo que cada vez mais se há-de impor a quem não esteja bêbado de grandezas ontem ultramarinas, hoje europeizantes.
À escala mundial, aliás, o realismo ecológico sempre se definiu nessa onda: um caso de vida ou de morte para o Terceiro Mundo dos «condenados da Terra», muito menos que um conforto, um luxo, uma limpeza maior para os sujos países do supercrescimento industrial.
Não se trata, para um País pobre como Portugal, de alindar a casa (primeiro é preciso tê-la), comprar mais «bibelots» (quando não temos banco nem mesa), resolver entre alcatifa verde-mar e verde-alface. Não se trata, para a velha casa portuguesa, de escolher modelo Luís XV ou Napoleão. Não se trata do continuar na fanfarronada de só planear empreendimentos de milhões que não temos, nem de prosseguir os triunfalismos com que continuamos a exibir, encobrindo, a nossa miséria e andrajos.
Para assumir o que somos, temos, podemos e queremos, é absolutamente necessário neutralizar o balofo triunfalismo que tudo resolve com milhões exactamente porque nada quer resolver. Já que milhões não os temos nem teremos.

SURREALISMO E FANTASMAS

Tem-se querido assimilar o realismo (ecológico) como actividade ainda mais supérflua ou marginal, gratuita, lúdica ou inútil que o desporto.
Mais platónica ainda do que a arte, a literatura, a cultura, a poesia (no pejorativo sentido em que os homens ditos práticos a tomam).
Estranha aberração que consegue inverter, por completo, a realidade de uma ideia e a ideia de realidade.
Face ao surrealismo das ideologias reinantes, o realismo (ecológico) é a única posição -consciência do mundo - de olhos e ouvidos abertos para a realidade. Num mundo de tecnossonâmbulos, ébrios de gigantescos empreendimentos que salvarão a pátria enquanto a pátria se afunda, o realismo não se embebeda de impossíveis, não sonha utopias, não teima em fazer omeletes sem ovos, não se afinca a propor «soluções» insolúveis, alvos inalcançáveis.
O realismo propõe soluções ao alcance de nós, pobres, modestas, eficazes, imaginosas. Sem vergonha se irmana aos povos do Terceiro Mundo, em vez de catalepticamente se pôr nos bicos dos pés para chegar à terrina de açúcar e veneno das Europas avançadas.
Viver em austeridade é viver na Verdade. No real concreto. Nas condições e circunstâncias que a história nos dá.
Para o realismo (ecológico), «qualidade de vida» (num país onde o primeiro problema é o custo de vida) não é mais conforto, consumos, açúcar, bebidas, refinados, embalagens, supermercado, colossos bestiais de engenharia.
É pura e simplesmente estar armado contra os chacais (do petróleo e nem só), prevenido para o que der e vier, sucintamente munido do essencial, com uma bucha no estômago (em vez do prometido banquete para o ano 2100), acautelado contra todas as armadilhas (inclusive climáticas, meteorológicas e pluviométricas...) dos imperialismos triunfantes, tufónicos e tubarónicos.
Não me envergonho de ser português pobre, mas envergonho-me de que teimem em nos exibir, na praça europeia, como eternos arrivistas, falsos ricaços à caça da fatia, tapando as lágrimas secas das nossas cheias e tragédias com o «rimel» (insulto) dos projectos megalómanos: Alqueva, rede sanitária, central nuclear, 42 diques para o Ribatejo.
Temo que a «mania das grandezas» seja, como doença nacional, incurável. E que todos os nossos desaires possam advir, em boa parte, deste paranóico delírio em que se comprazem tantos magnânimos e seus múltiplos conventos de Mafra. Mas do Brasil, agora, já não nos vem pepita de oiro, vem, sim, Jô Soares e «O Astro», que pepitas bem doiradas nos custam, embora justamente: são o melhor anestésico da nossa angústia colectiva.
Como então, sem ouro, construir conventos de Mafra?

SALVAR A PELE E JÁ NÃO ERA MAU...

Seja ou não seja certo este diagnóstico, ao estilo psiquiátrico, afigurava-se, ao menos, saudável, uma certa moderação nas nossas ambições e delíquios, raiando alguns já a histeria.
Políticos no Governo têm dito e redito que os portugueses, por mais pisadelas no calo e apalpadelas na bolsa, nunca mais aprendem a viver em austeridade. Por mais que a gasolina suba - dizem - não se nota diferença no movimento das estradas... E por mais que nos apertem o cinto, eles acusam-nos continuamente de não ter juízo, consumir desalmadamente, nunca mais percebermos que estamos no atoleiro e enterrados nas garras dos prestimosos prestamistas internacionais. Ouvimos e mais se reforça em nós o secular complexo de culpa que nos vem dos descobrimentos e outras piratarias. Mas, entretanto, quem fala em gastar os milhões que não temos? Serei eu, consumidor, contribuinte, peão, utente, munícipe, eleitor, eu, cidadão desta Pátria onde a única coisa estável é o Imposto?
Parece-me necessária aqui uma reflexão de fundo, reflexão que se prende com o equívoco, muito frequente entre pró e antiecologistas.
«Qualidade de vida» tornou-se um lugar-comum. E é um evidente sofisma, desde que desligado do custo de vida. Pode transformar-se assim na bandeira, também, dos que garantem a melhoria da «qualidade de vida» dos portugueses à custa das Alquevas & Cª.
Na perspectiva do realismo, é uma bandeira assaz suspeita e cheia de alçapões.
Ao reivindicar «qualidade de vida», logo os mais hábeis subentendem, como sinónimo, conforto, bem estar, abastança, nível europeu, boa casa, consumos sem restrições, etc
Eis o buraco. E eis como a ideia básica do realismo (ecológico) - viver com o que temos, como é realmente possível e de harmonia com as condições concretas herdadas de uma história megalómana - pode ser desvirtuada à partida.
Circunstâncias várias da vida nacional já nos ensinaram o suficiente para não dever haver enganos: não são larguezas, bacias doiradas, ócios e grandezas, europeizações e estilos alcatifados de vida o que o português, sensatamente, necessita.
Como as cheias de Fevereiro drástica e providencialmente explicitaram - é simples e infinito o que nós todos queremos. Salvar a pele, ter um naco de pão para comer ou um tecto para nos abrigar, enquanto as grandiosas obras dos conventos de Mafra prosseguem, prosseguem, prosseguem...
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (O Mundo da Ecologia), 16/6/1979
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