1-6 - 13-4-1994-ah- ac dos projectos - 13062 caracteres- clubliv- revista [ «vida & natureza»: «know-how» organizativo, inédito e confidencial ]
CLUBE DO LIVRO SAUDÁVEL
[Projecto apresentado à revista «Saúde Actual», em
1/5/1992, e que não foi concretizado: permanece, portanto, inédito e confidencial ] [13-4-1994]
1/5/1992
A explosão editorial verificada no campo das ciências holísticas é, só por si, justificação suficiente para um Clube Holístico do Livro ou Clube do Livro Saudável.
Embora em Portugal o «boom» editorial seja menor, não deixa de se verificar, também, uma proliferação de títulos e de autores que coloca o consumidor e eventual leitor em sérios embaraços de escolha.
A quantidade e qualidade de obras publicadas em Portugal, na área holística, justifica, pois, que todo esse material se ponha a render no sentido de o consumidor retirar dele o máximo proveito, o que não é neste momento e por enquanto o caso.
UM CLUBE DO LIVRO SAUDÁVEL, PORQUÊ?
-Porque já se fez em França, com o título "Le Club des Livres pour Mieux-Vivre», porque obteve o melhor acolhimento do público e porque, ao que parece, nós (dizem) já entrámos na Europa
-Porque há, disponível, uma carga de informação útil ao consumidor mas que este, na esmagadora maioria, ignora
-Porque é necessário «personalizar» os interesses de leitura, procurando dar ao potencial leitor (e comprador) de uma determinada área bibliográfica (neste caso o livro holístico) não só a informação de que o livro existe mas a que tipo de questões ele responde
-Porque sobre este campo especializado da bibliografia não há acompanhamento noticioso correspondente ao «boom» editorial verificado e à avalanche de respostas potencialmente existentes para as múltiplas dúvidas e perguntas do consumidor
-Porque o mercado da edição no campo holístico representa parte importante de um movimento que já galvanizou muitos outros sectores do mercado (o alimentar, por exemplo) e lhes serve de motor.
UM CLUBE HOLÍSTICO DO LIVRO, COMO?
O funcionamento deste Clube deverá ser simples para ser eficaz e cativante do grande público.
Como pivot-de-difusão do Clube haverá uma publicação regular periódica, sob a forma de (suplemento em) jornal ou revista.
Através desse meio de comunicação, os eventuais «amigos» do Clube terão conhecimento das últimas novidades editoriais, ou de títulos já publicados há mais tempo e que, por qualquer motivo ou acontecimento, voltam a estar outra vez em destaque.
Além do noticiário regular sobre novidades editoriais, haverá um caderno-catálogo com a listagem das obras holísticas editadas em Portugal, listagem que deverá ser periodicamente actualizada com outro catálogo.
O previsto «Anuário Holístico» pode incluir esse catálogo de livros e actualizá-lo anualmente.
Os interessados poderão filiar-se no Clube, mediante inscrição de um cupão publicado na já referida publicação periódica.
Terão depois direito a um cartão de «amigo» do Clube.
As regalias, para já, consistem em ter desconto de 20%, 30% ou 50% nas obras dos editores que aderirem à iniciativa.
Para poder funcionar legalmente, não pode o Clube cobrar quotas ou qualquer contributo em dinheiro.
As actividades fornecidas pelo Clube são assim gratuitas para o público, sendo subvencionadas pelos editores interessados em alinhar, quer através de publicidade que alimente a publicação[página] periódica, quer através de outros expedientes de ordem publicitária.
Tratando-se, com este Clube, de fazer publicidade indirecta a todo o campo da edição holística, é essa difusão pública que deverá ser amparada pelas editoras aderentes à iniciativa, uma vez que ela é do seu próprio interesse.
Ligado às outras peças do dispositivo, o Clube visa os mais amplos objectivos de difusão cultural.
O traço específico que o distingue das outras peças do dispositivo é encontrar-se ligado ao livro recente ou actual como base da intercomunicação informativa e documental que se propõe efectuar.
EDITORAS PORTUGUESAS ACERTAM O PASSO
Ninguém se atreve a considerar que algumas das nossas mais prestigiadas editoras estejam a colaborar com «charlatães» e «obscurantistas», ao criarem colecções de temas «underground» em geral e de ecoalternativas terapêuticas em particular, temas que não têm, no entanto e entretanto, a correspondente atenção das agências noticioasas «captadas» em Portugal.
Temas que, tratados em livro, não têm a correspondente cobertura na actualidade noticiosa da Comunicação Social.
Mas, paradoxalmente, colecções inteiras de livros são dedicadas a temas que nunca seriam editados se não tivessem um público certo e fiel.
Indiquemos alguns exemplos no campo «underground» em geral:
-«Enigmas de todos os Tempos» (Bertrand)
-«Iniciação às Ciências Ocultas» (Estampa)
-«Esfinge» (Edições 70)
-«Portas do Desconhecido» (PEA)
-«Solário» (Edições 70)
Também no campo das técnicas holísticas de saúde, inúmeras colecções continuam a publicar títulos que correspondem, inequivocamente, a um interesse generalizado dos leitores:
-«Biblioteca da Saúde» (Ed. Caminho)
-«Conhecer Melhor» ( Dom Quixote)
-«Saúde», «Arte de Viver» e «10 Lições» (PEA)
-Sobre (o) Viver»(Europress)
-«Saúde do Homem» (Itau)
-«Como Viver Melhor» (Litexa)
-Biblioteca do Conhecimento Básico e «Enciclopédia Vida Prática» (Notícias)
-«Viver», «Tempos Livres» e «Solário» (Edições 70)
-«Sobreviver» (Ulmeiro)
-«Biblioteca Verbo de Saúde» e «Biblioteca de Medicina Natural» (Verbo)
UNIVERSIDADE TAMBÉM ENTRA( À SUA MANEIRA) NA ÁREA HOLÍSTICA
Catálogos de editoras ou programas curriculares de novas faculdades e universidades são fontes onde se pode detectar uma evolução acelerada na abertura da ciência estabelecida às novas disciplinas do comportamento que têm vindo alterar, em poucos anos, o quadro das ciências humanas.
Muitas das «novas» ciências, porém, nada mais são do que «adaptações modernas» de «ciências» antiquíssimas e que até agora estavam no índex ou viviam no «underground».
Ciências de «ponta» e de «fronteira» é o mínimo que se poderá dizer destas matérias que, emergindo no seio das ciências humanas e sociais clássicas, logo se percebe que tocam interfaces por onde a Ecologia Humana tem rondado.
Acaso curioso é que a palavra «Etologia», que significa ciência do comportamento animal, apenas numa letra, t por c, difere da palavra ecologia, que bem podia ser definida como ciência do comportamento humano.
É de notar, assim, em listas de catálogos ou currículos de escolas superiores, algumas rubricas reveladoras desse apelo à unidade do «universo humano» por parte da diversidade de ciências que para ele convergem.
Exemplos indicados por ordem alfabética:
Anestesia eléctrica
Bioclimatologia
Dietética
Ecologia Huimana
Electroterapia
Energética Muscular
Engenharia do Ambiente
Engenharia humana
Engenharia social
Engenharia da vida
Epidemiologia
Etnomedicinas
Fisiatria
Geocancerologia
Higiene Alimentar
Medicina Familiar
Medicina Física
Medicina Social
Parto psicoprofiláctico
Parasitologia
Psicanálise
Psicomotricidade
Reabilitação
Saúde Ocupacional
Sexologia
Sofrologia
Toxicologia
Toxicologia genética
Note-se um aspecto curioso: ciências que se julgariam estarem longe do «social» e do «humano», como a Engenharia, aparecem de repente no âmbito das ciências humanas, e multiplicam-se em inesperadas modalidades, fazendo lembrar que o homem continua afinal a ser o centro de todas as coisas...
O CASO DO CLUBE DO LIVRO FRANCÊS
O «Club des Livres pour Mieux Vivre», ao surgir em França no princípio dos anos 80, vinha comprovar várias coisas:
-O «boom» editorial verificado numa área demarcada e definida mas que até então tinha, como tal, passado despercebida;
-O público que imediatemente aderiu à iniciativa que vinha trazer vantagens de qualidade e preço ao consumidor
-A necessidade de uma comunicação informativa apurada sobre a quantidade de livros editados, aconselhando o leitor pela qualidade criticamente comprovada.
[Além de fotocópias ilustrativas do regulamento desse clube francês e suas características de funcionamento, poderá ler-se, a seguir, também o texto de um projecto que, em 1986, foi elaborado para a criação de um Clube do Livro Saudável»]
«Viver Melhor», expressão-chave do Clube francês, é inegavelmente uma das expressões que melhor se adequam à «área unificada» de que tem vindo a falar-se neste relatório.
É quase escusado referir que para um Clube do Livro «Viver Melhor» estaria praticamente garantido o apoio publicitário das editoras com livros publicados nessa imensa área.
REVISTAS FEMININAS SÃO PRETEXTO
Revistas que publicam mais frequentemente temas de «behavior»:
-«Marie Claire»
-«Elle»
-«Madame Figaro»
-«Cláudia»
Temas afins do tema «behavior»:
-Alimento determina comportamento
-Alternativas de sobrevivência à catástrofe industrial
-Beleza física (esteticismo)
-Direitos humanos da personalidade
-Ecodireitos individuais
-Ecologia humana
-Epidemiologia
-Estilismo e moda
-Grupos de luta ambientalista
-Higiene pública
-Movimentos cívicos e sociais de autodefesa cidadã
-Profilaxia natural das doenças
-Saúde individual
-Tecnologias apropriadas de saúde
-Vida afectiva
-Vida sexual
QUANTOS SÃO? QUANTOS SOMOS?
Se se quisesse avaliar em números e quanto a público o raio de acção que uma revista de saúde, segurança e «behavior» pode ter, bastava juntar os produtores e consumidores de todas as áreas que convergem no tema.
Começando pelos produtores e só no que respeita aos técnicos que em Portugal desenvolvem actividades relacionadas com novas técnicas terapêuticas, um primeiro recenseamento pode ser feito com base em números estimados para as várias associações de classe.
Somando os sócios das quatro associações de classe que existem, teremos.
78 - Associação Portuguesa de Medicina Acupunctural
50 - Associação Portuguesa de Homeopatia
80 - Associação Nacional de Osteopatas
220 -Associação Portuguesa de Naturopatia
No que respeita a consumidores, pode ser estabelecida uma primeira estimativa com as principais associações existentes:
-400 sócios inscritos ( 200 sócios no activo) - Associação Portuguesa Vegetariana
-3.442 sócios inscritos (1.250 no activo) - Sociedade Portuguesa de Naturologia
6.500 sócios inscritos (1000 sócios no activo) - Cooperativa Unimave
BOLETIM DE IMPRENSA: UM PROJECTO QUE FICOU
«Boletim noticioso dos Naturoterapeutas para a Imprensa» era uma das iniciativas propostas, em 1985, pelo «Atelier yin-Yang», projecto que chegou a ser anunciado na Imprensa e que tinha em agenda mais as seguintes actividades a realizar:
-Recensão noticiosa regular do movimento editorial na área da saúde, segurança e ecologia humana
-Guia de endereços úteis ao consumidor de saúde - reedição corrigida e aumentada do folheto que chegou a ser publicado, na «Frente Ecológica», em 1985, com o título «As Medicinas que Curam» e que pretendia ser uma réplica às páginas amarelas na área unificada da holística...
-Quadro de qualidade com a ronda dos restaurantes vegetarianos e outras actividades do «mercado natural», avaliadas de zero a 5, uma espécie de «dom Pipas» (secção gastronómica do jornal «A capital») para vegetarianos ou de «bolsa da praça» para consumidores de produtos naturais
-Telefone SOS com gravador - primeiras informações de socorro aos que procuram tratamentos naturais para os seus problemas
MINIAGÊNCIA DE INFORMAÇÃO ECOALTERNATIVA:PROJECTO QUE FICOU
Material informativo de âmbito internacional para reconverter em notícias de primeira mão com interesse para o público português, é o que não falta na área que tem vindo a definir-se, neste relatório, e a que André Gorz, jornalista do «Le Nouvel Observateur» (onde escreveu com o pseudónimo de Michel Bosquet), chamou «arquipélago convivial», em homenagem à ideologia ou ideário da «convivilidade» proposta pelo filósofo Ivan Illich.
O problema não é, portanto, a falta mas a abundância de fontes de âmbito internacional e o número de itens com interesse público que delas se podem recolher.
Perante a abundância (quantidade) trata-se de privilegiar a notícia pela qualidade do seu conteúdo.
Perante a enorme quantidade de fontes que se apresenta, trata-se de privilegiar algumas que se tornaram, com o tempo, prestigiadas pela sua independência (e o critério de independência, nesta matéria, de contornos tão sensíveis e marginando tantas vezes o assunto-tabu, é preponderante e decisivo da qualidade informativa).
É o caso do Centro Intercultural de Documentação (CIDOC), com sede em Cuernavaca (México), fundado em 1966 por Ivan Illich e Valentina Borremans e extinto, por falta de verbas, em 1977.
Por iniciativa de Valentina Borremans, continua a publicar-se (no data em que este relatório está a ser escrito) a colecção de textos «Tecno-Política», onde aparecem testemunhos fundamentais de ensaístas contemporâneos que fazem a análise crítica do sistema que destroi ecossistemas e propõem ecoalternativas realistas à destruição.
No âmbito das «ideias que também são notícia», esta colecção «Tecno-Política» ocupa um lugar de relevo, a considerar como fonte importante de uma mini-agência de informação ecoalternativa.
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