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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-01

TOXICOLOGIA 1975

1-1 75-05-01-eh- 2167 caracteres toxicol-eh-saude-almanaque holístico do terceiro milénio - ecos 72

1-5-1975

MÉTODOS DE PESQUISA (TOXICOLÓGICA) POSTOS EM DÚVIDA PELA OMS

[Cobaias - Biosofismas - Falsos fundamentos da investigação bioquímica]

No texto transcrito a seguir, da revista «A saúde no Mundo» (Maio/1972), é o próprio Dr. M. Kaplan, director do Departamento de Ciência e Tecnologia da OMS, que põe em dúvida e em questão os métodos de pesquisa toxicológica.

«Como a pesquisa de toxicologia se faz geralmente em animais de laboratório, criam-se problemas graves. A extrapolação para o homem dos resultados obtidos em animais de laboratório está cheia de armadilhas, das quais os toxicologistas e outros estão bem avisados, visto que as espécies animais podem diferir grandemente nas suas reacções a vários produtos químicos. Nem mesmo técnicas dispendiosas que se utilizam em primatas podem resolver satisfatoriamente o problema de predizer os efeitos no homem, embora esses animais estejam mais estreitamente relacionados com o homem que os camundongos, ratos, cobaias e coelhos geralmente utilizados.
«Talvez o aspecto mais difícil da questão seja determinar os efeitos da exposição prolongada a um nível baixo de substâncias químicas. Fazem-se em laboratório provas para determinar até que ponto certas substâncias podem causar cancro, alterações hereditárias ou defeitos em embriões. Nos testes de laboratório, muitas substâncias químicas produzem um ou outro desses efeitos, assim como, às vezes, todos eles, quando utilizadas em altas doses. Em doses mais baixas, porém, muitas vezes não se observa dano algum.
«Em consequência disso, variam muito as opiniões entre os toxicologistas sobre o que constitui uma prova de segurança adequada. Quantos animais devem ser usados nas experiências? Por exemplo, os nossos níveis actuais de segurança para a exposição do homem às radiações estão em grande parte baseados em informações obtidas de repetidas provas com milhões de camundongos e várias doses de radiação durante diferentes períodos de tempo. Obviamente, esse processo não pode ser aplicado para milhares de substâncias químicas, novas e velhas, a que o homem está constantemente exposto.»
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TRANSPLANTES 1998

a-país> carta a jean claude rodet - mein kampf 98

DOIS DOSSIÊS MAIS QUE PROIBIDOS

1/5/1998 - Estes apontamentos são ultrasecretos e foram-me enviados por anjos que desconhecem completamente a vida na terra.

As constantes que mais condicionam a vida (e a morte) dos portugueses são as mais ignoradas exactamente porque são constantes: as entradas dos jornais e telejornais vão para as «novidades» do dia, não vão para aquilo que se tornou crónico, que se banalizou.
Os factores que em Portugal condicionam a vida do cidadão (a vida e a morte, a doença e a saúde) são na sua maior parte invisíveis e, acima de tudo, sistematicamente silenciados. Os maiores atentados ao ambiente e à vida só esporadicamente aparecem nos jornais e nos telejornais. Inventariam-se apenas dois antes que esqueçam, mas apenas dois: a maior parte irá ficar definitivamente no tinteiro. Como se comprova, a democracia, tal como a Constituição da República, é apenas papel e tinta.

OS TRANSPLANTES

«O diploma legal que regula, actualmente, em Portugal, a colheita de órgãos para transplantes, o Decreto-Lei 553/76, é um documento iníquo, simplista, arbitrário e sem um mínimo de rigor, quer do ponto de vista médico, quer jurídico.»
É o que diz o jornalista Rui Cartaxana no seu livro «O Escândalo dos Transplantes», Edição «Foto-Jornal», Lisboa, 1986, única informação publicada sobre o que é uma das condicionantes mais drásticas sobre direitos, liberdades e garantias dos cidadãos portugueses.
Segundo escreve Rui Cartaxana, o decreto-lei nunca passou pela Assembleia da República e não há nada de semelhante na legislação de todo o mundo, nomeadamente a cláusula que torna qualquer cidadão dador obrigatório de órgãos... a menos que tenha declarado, em vida, que não quer ser dador. E mesmo assim, tudo é possível.
Em vez de um cartão de dador, como se faz em países democráticos, aqui a lei «obriga» a dar.
Segundo Rui Cartaxana, o famoso decreto-lei 553/76 tem «apenas» 10 artigos, não define nenhum critério de morte, não impõe quaisquer normas ou regras a observar na verificação dos óbitos para efeitos de transplantes, ignora o conceito de «morte cerebral». Além de ter sido feito no segredo dos gabinetes, não ter passado pelo Parlamento, nem ter a preceder a sua publicação qualquer discussão pública, é praticamente desconhecido dos cidadãos e dos próprios médicos.
As colheitas de órgãos feitas nestas condições são puramente gratuitas, embora o cidadão que faça um transplante renal, por exemplo, tenha de pagar (ou nós todos, através da Segurança Social) 9 mil contos.

A CONSTITUIÇÃO

Havia, em 1982, dois artigos da Constituição da República Portuguesa ( o artigo 64 e o artigo 66) que, como alguns outros, condicionam de maneira decisiva a vida e a qualidade de vida dos cidadãos portugueses. Ou deviam condicionar, caso alguma vez tivessem sido levados em consideração.
De facto, se ainda não foram revogados, é como se não existissem. Diz o artigo 64 (Saúde):
1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.
2. O direito à protecção da saúde é realizado pela criação de um serviço nacional de saúde universal, geral e gratuito, pela criação de condições económicas, sociais e culturais que garantam a protecção da infância, da juventude e da velhice e pela melhoria sistemática das condições de vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e popular e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo.
3. Para assegurar o direito à protecção da saúde, incumbe prioritariamente ao estado:
a) garantir o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação;
b) Garantir uma racional e eficiente cobertura médica e hospitalar;
c)
d) Disciplinar e controlar as formas empresariais e privadas da medicina, articulando-as com o serviço nacional de saúde;
e)Disciplinar e controlar a produção, a comercialização e o uso dos produtos químicos, biológicos e farmacêuticos e outros meios de tratamento e diagnóstico;

4. O serviço nacional de saúde tem gestão descentralizada e participada.
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MORAL 1956

veloso-1> notas de leitura - publicados ac em 1956 - surrealismo & surrealistas

1-5-1956

MORAL DE EPICURO COM CITAÇÕES DE S. PAULO(*)

Insiste-se em considerar o suicídio como um acidente de uma época acidentada e não como uma das suas coordenadas, senão a sua mais saliente coordenada. O suicídio representa, para algumas correntes modernas da poesia e da arte, não um acto de submissão mas de insubmissão; é uma afirmativa e não uma negativa; é um processo activo e não passivo. E’, ou pelo menos assim o consideram.
Reconhece-se, além do suicídio real, (que se tornou em face das mil e uma torturas inventadas pela sociedade moderna para esticar os tendões ao paciente, demasiado fácil), um suicídio virtual, modalidade muito mais complexa e que se distribui em variedades, umas inéditas outras correntes. Uma afirmação de vida total, irradiante, absoluta, tem fatalmente que se aproximar duma atitude suicida, pois tudo na sociedade (até os que legislam com ares de intelectuais) se conjuga para liquidar o que nessa sociedade levanta o véu de Maia das hipocrisias e falsidades.
Depois de Nietzsche já não devia ignorar-se que a obra reside mais no homem do que nos livros que ele escreve ou nas telas que pinta, de que toda a poesia é escrita com sangue. E o sangue, quando se esgota, equivale ao desaparecimento da vítima do número dos vivos.
E’ então que acorrem estes zeladores da moralidade pública que escrevem libelos como A Farça Surrealista,(1) a servir de chamariz aos leitores que gostem de ter os pés quentes com botija, como as fitas insecticidas servem de chamariz às moscas com mel pegajoso.
De que servem? Não é com palavras que se combatem atitudes. Profetizar a falência do surrealismo é asneira. O surrealismo, mesmo que nenhuma obra tivesse deixado, nem nomes, nem telas, nem poesias (que deixou, mesmo em Portugal) deixou um itinerário, um rastro, uma semente. Assim como Nietzsche, a sua obra foi mais e de destruir deuses do que a de impor algum (ao contrário também do que os nocivos intérpretes copiam uns dos outros e se esparrelam todos na mesmíssima asneira de considerar o Uber-Mensch como a incarnação humana dum Deus, ou, como eles dizem, o endeusamento do homem).
Os ditos escreventes de coisas contra o surrealismo ou outros ismos, esfalfam-se então a incriminá-los de cabotinos, mistificadores, absurdos, doentes, ilógicos, porque, coitadinhos, ignoram ainda que a arte não tem nada com Aristóteles, embora alguns digam que sim. No que eles acertam é em ver nessa arte, fundamentalmente, uma filosofia, que a é. E se falam dela é porque colidem os sistemas que queriam harmónicos mas que as ovelhas ronhosas dos surrealismos e outras vêm desmanchar.
Daí a zanga com que se viram e vá de mais um tratado de apologética à conta da arte. A arte paga as favas. Valha-nos saber de que, como eles dizem, talvez não haja nomes nem obras a registar no surrealismo, mas estas perlendas, estilo manta de retalhos, com citações deste e daquele( os devotos do verbete, porque se não metem eles com a história e outras musas para que têm indubitavelmente muito mais jeito e não deixam em paz a poesia, que não precisa deles para nada?) é que não fica rastro, com certeza. Só um poeta é digno de falar de outro poeta. Os outros fariam melhor serviço se coleccionassem borboletas.
Outra blasfémia é a entronização do marquês de Sade para chefe do pelotão surrealista. Isso é que eles descompõem o conde por causa das lubricidades (escolhem sempre uma nomenclatura inconfundível), dos desacatos, etc. Dum ponto de vista moralizante, está visto que qualquer pessoa, sem precisar de que ilustres intelectuais lho venham dizer, classificará de «imorais» os netos de Sade. Mas para um critério estético, que por sua vez determinará ou criará o ético, antes de mais nada cumpre-nos aceitar os actos de Sade como actos gratuitos, carregados duma funda aversão e desprezo pelos comedimentos de uso comum, não um gozo lúbrico, como dizem os olheirentos e castos senhores, mas um acto que, pela sua irresponsabilidade imanente se carrega do transcendência, que pela sua gratuidade é pura poesia, que pela sua insubmissão é afirmação do individual egolátrico. Qualquer um em nome dum absoluto do catecismo, pode dizer que aquilo assim não está certo. Pois não. Mas enquanto do lado dos que alçam um absoluto e em relação a ele aferem os Sade, os Crevel, os Nietszche, enquanto do lado destes tudo se passa no doce remanso da secretária (pois eles não escrevem com sangue mas com tinta de água), do lado dos outros há, com efeito, um inquietante proceder mas dele unicamente próprio se incrimina, e só ele recebe o prejuízo.
Inclusivamente pertence-lhe a liberdade inalienável, que ainda não houve nenhum carcereiro capaz de roubar: o corte horizontal da carótida, por exemplo. Ou esse, ou as várias torturas lentas a que a vítima pode ser submetida, pelos que, zeladores do bem do próximo, não vão na fita de perderem assim tão preciosa carne de açougue e injectam-lhe soros vitais, para que a vida se lhes prolongue. Sim, porque o suicídio é, além de um processo antiquado, uma maneira demasiado fácil de nos vermos livres dos optimistas que zelam para que sejamos optimistas, acreditemos com eles noutro mundo e, por essa mesma razão, gozemos este o mais epicenamente possível...
A moral de Epicuro, com citações de S. Paulo, afinal.
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(*) Este texto não assinado de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário «Ângulo das Artes e das Letras» , do quinzenário «A Planície» (Moura), em 1/5/1956
(1) A Farça Surrealista , de Agostinho Veloso, separata da revista «Brotéria», Lisboa, 1956
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TRABALHO 1981

1-4 - bosquet-1-ls-ie-quarta-feira, 18 de Dezembro de 2002-scan

ECOLOGIA E TRABALHO: 15 PONTOS NOS IIS (*)

[1-5-81] - 1 - Com o trabalho assalariado, a que Marx chamou alienação, começou a Escravatura Moderna.

Compreende-se que os ideólogos da sociedade industrial, a Leste e a Oeste, tivessem fechado à chave os manuscritos onde o Marx, na juventude, desenvolveu a sua teoria da alienação humana.

Compreende-se que todos os problemas de fundo defrontados pelos sindicatos - desemprego, salários, inflação, segurança, poluição, doenças profissionais, etc - sejam apenas consequência de uma só causa: a alienação do trabalho assalariado intrínseco à engrenagem industrial.

A palavra «engrenagem» é mais correcta porque o industrialismo envolve apenas uma parcela da totalidade social, condenando ao ostracismo e à marginalidade tudo o que não entra na... engrenagem.

2 - Consequências desta causa são também: o despovoamento dos campos, a substituição do trabalho artesanal, livre e criador, pelo mecânico, o corte das alternativas, etc

3 - «Mão-de-obra», por exemplo, é um conceito da escravatura moderna resultante do assalariado, tal como «desemprego», «emigração, «inflação», «bairro da lata», «proletarização», «subdesenvolvimento», «miséria» e mesmo «poluição».

4 - Arrancar o homem à terra - às raízes - foi a primeira prioridade da Escravatura, ainda em marcha em países como o nosso, rotulados de subdesenvolvidos.

Como demonstrou Josué de Castro, a Fome é a outra face da Indigestão, os Pobres são a outra face dos Ricos, o Subdesenvolvimento é originado pelo Desenvolvimento.

Da mesma forma o Desemprego só existe quando existe Emprego, quer dizer, quando se tornou irreversível para o trabalhador o retorno à terra, à raiz, à banca da actividade artesanal, à sua autosuficiência.

Matar as auto-suficiências (artes e ofícios) foi uma das primeiras «démarches» do imperialismo industrial galopante.

5 - Não se arrancam as raízes de um homem, porém, sem algum esforço por parte da engrenagem triunfante e triunfalista.

Toda a ideologia do trabalho, à esquerda e à direita, tem tido, neste último século e meio, essa gigantesca função de lavar o cérebro às «massas» (outro conceito resultante da Neo-Escravatura).

Campanhas maciças foram assim lançadas em nome do Crescimento, do Progresso, do Desenvolvimento, etc; à decadência das actividades agrícolas e depreciação calculada do preço dos produtos podia seguir-se, com êxito, uma campanha que levasse o agricultor, o rural, a deixar a terra e a procurar a cidade, a indústria.

Mantendo-se o mundo rural numa propositada e obstinada passividade - o tão falado «atraso dos campos», fenómeno deliberado, calculado e programado a computador - automaticamente se promovia a debandada.

Sicco Mansholt, quando era patrão da CEE, lançou um programa (ainda em curso) para arrancar dos campos da Europa pobre (Portugal, Espanha, Grécia, Turquia, Itália) até ao último camponês.

As vorazes cloacas do Império Industrial irão triturá-los.

7 - Vitoriosa esta primeira etapa, e enquanto os «mass media» (cinema incluído) continuavam a pintar o mundo rural de cores abomináveis, já a sociedade pós-industrial consumava a segunda grande etapa da sua  estratégia de Escravatura: Proletarizar o trabalhador que assalariara (alienara) e que agora, pura e simplesmente, atira para o desemprego.

Surgia o proletariado e as ideologias do proletariado, algumas das quais lhe ofereciam, depois da Escravatura, o Poder.

8 - Actualmente as estratégias sindicais não visam romper o cordão umbilical que mantém o trabalhador assalariado (escravo) mas - dizem os cadernos reivindicativos - dourar a jaula, adoçar a pílula.

Os reformistas não retomam a análise radical que Marx fez da Engrenagem (alienação) industrial, análise aliás bem aferrolhada à chave para que os trabalhadores não saibam como libertar-se.

9 - Nos meios de propaganda manipulados pelo imperialismo industrial, que são todos os «mass media», o Desemprego pinta-se de cores apocalípticas e catastróficas.

É preciso que o homem tema o Desemprego. E teme-o especialmente em países como Portugal onde o subsídio é de fome. Teme-o menos nos países ricos onde o desemprego é apenas reforma antecipada, alcatifada, confortável, aquilo a que já chamei a «queda com colchão».

10 - Manter o desemprego como uma queda (calamidade ou catástrofe) e não como uma libertação, é indispensável ao mecanismo explorador, quer dizer, ao Patronato e ao Estado-Patrão. Temendo ficar sem trabalho, quer dizer, sem salário, o operário submete-se a todas as tranquibérnias da exploração empresarial. O medo de ficar sem salário faz com que as alienações do emprego passem a segundo lugar, sejam suportadas com maior resignação. E menores salários, evidentemente.

11 - Em 4 de Dezembro de 1978, Michel Bosquet publicava no semanário «Le Nouvel Observateur» um artigo que, ao levantar todas estas questões, logo soava a heresia.

Bosquet assinara, durante muitos anos, com o nome de André Gorz, livros sobre a estratégia da emancipação operária.

Bosquet fizera-se amigo, discípulo e colaborador de Ivan Illich que traduziu, comentou e divulgou nos meios culturais franceses.

Bosquet realiza a síntese do marxismo original (o tal que os marxistas aferrolham no gavetão) e os novos dados fornecidos pela crise ecológica do Planeta.

Tudo isto o levou à descoberta da pólvora, quer dizer, assalariato igual a escravatura moderna. Proletário nasce do operário, desemprego nasce do emprego, subdesenvolvimento nasce do desenvolvimento, fome nasce da indigestão, etc, nunca a dialéctica se mostrara capaz de fazer tantos estragos.

12 - O último, em data, lançado por Bosquet à cara  da engrenagem industrial era a última e mais refinada invenção dessa mesma engrenagem: a tecnologia dos minicomputadores iria atirar mais alguns milhões para o desemprego.

Sobre esses milhões,  nem uma palavra se ouviu até agora dos sindicatos.

Ideólogos do trabalho fecham olhos, ouvidos e tudo, enquanto Bosquet lança o repto, o desafio, a tese: pode-se produzir mais trabalhando menos, pode satisfazer-se melhor as necessidades com menos produção.

13 - Mas a engrenagem prefere a ruptura calamitosa à transição possível que traria muito menos traumatismos sociais: reduzir horas de trabalho para aumentar postos de trabalho seria o ovo de Colombo, a solução, a saída.

Nenhum governo, partido, aparelho sindical, porém, quer solucionar o desemprego, abrandar as tensões, melhorar a qualidade de vida, por isso nunca a solução óbvia e lapalaciana de reduzir horas de trabalho foi, é, ou será adoptada.

A menos que empregados ou desempregados passem a fazer greve para obter essa reivindicação... De contrário, o sistema continuará a vomitar desempregados, porque é essa a sua lógica e a sua necessidade. Reduzir as horas de trabalho - note-se - era meio caminho andado para fazer a Revolução.

14 - Bosquet e mais dois ou três (entre os quais me incluo) limitam-se a lembrar aos milhões de desempregados que é altura de «quebrarem as grilhetas». «Desempregados de todo o mundo, uni-vos.»

Artesanato, bricolage, má-língua com os vizinhos, passear com os netos, ouvir música, apanhar borboletas, coleccionar selos, realizar pequenos trabalhos domésticos aos vizinhos, etc o trabalho criador espera outra vez o homem que há século e meio foi apanhado na engrenagem do trabalho assalariado.

Quando em Portugal pós-25 de Abril um homem bem intencionado, director do Jornal dos Reformados, propôs um quadro de «procura e oferta» de pequenos empregos, caiu-lhe em cima o Carmo e a Trindade.

Aqui d’El Rei que era a catástrofe, isso iria estragar o jogo interpartidário de manter o mal-estar, o isolamento, a alienação. Quem sabe se não seria o embrião de um partido de Reformados, Desempregados e outros «chutados» pela próspera e tramposa engrenagem.


15 - Por mais que as Neocensuras cortem os artigos de Bosquet, os minicadernos em que o traduzi e comentei, por mais que sobre a liberdade continue a pesar a máquina totalitária da ideologia alienadora, por mais que, a Leste e a Oeste, fechem à chave os manuscritos da Juventude de Karl Marx, é só querer...

«Não alinhados de todo o mundo, uni-vos.»


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(*) Este texto de Afonso Cautela, que continua a merecer 5 estrelas e que deu origem a dois cadernos das edições «Frente Ecológica», foi publicado na revista «Come e Cala», Nº12, 31-7 de 1981. Lembro os títulos dos dois cadernos conexos: «Ecologia e Descanso – Será o Desemprego uma Força Revolucionária?», Nº 5 da colecção 100 Dias (Janeiro, 1980), e «Ecologia Combate Desemprego – As ideias de Michel Bosquet», nº 2 da Colecção 100 Dias (Outubro, 1979). Nesta data do scan, tenciono passar no scan esses dois cadernos, vamos a ver se lá chego.
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PROJECTOS 1994

1-6 - 13-4-1994-ah- ac dos projectos - 13062 caracteres- clubliv- revista [ «vida & natureza»: «know-how» organizativo, inédito e confidencial ]

CLUBE DO LIVRO SAUDÁVEL

[Projecto apresentado à revista «Saúde Actual», em 1/5/1992, e que não foi concretizado: permanece, portanto, inédito e confidencial ] [13-4-1994]

1/5/1992

A explosão editorial verificada no campo das ciências holísticas é, só por si, justificação suficiente para um Clube Holístico do Livro ou Clube do Livro Saudável.
Embora em Portugal o «boom» editorial seja menor, não deixa de se verificar, também, uma proliferação de títulos e de autores que coloca o consumidor e eventual leitor em sérios embaraços de escolha.
A quantidade e qualidade de obras publicadas em Portugal, na área holística, justifica, pois, que todo esse material se ponha a render no sentido de o consumidor retirar dele o máximo proveito, o que não é neste momento e por enquanto o caso.

UM CLUBE DO LIVRO SAUDÁVEL, PORQUÊ?

-Porque já se fez em França, com o título "Le Club des Livres pour Mieux-Vivre», porque obteve o melhor acolhimento do público e porque, ao que parece, nós (dizem) já entrámos na Europa
-Porque há, disponível, uma carga de informação útil ao consumidor mas que este, na esmagadora maioria, ignora
-Porque é necessário «personalizar» os interesses de leitura, procurando dar ao potencial leitor (e comprador) de uma determinada área bibliográfica (neste caso o livro holístico) não só a informação de que o livro existe mas a que tipo de questões ele responde
-Porque sobre este campo especializado da bibliografia não há acompanhamento noticioso correspondente ao «boom» editorial verificado e à avalanche de respostas potencialmente existentes para as múltiplas dúvidas e perguntas do consumidor
-Porque o mercado da edição no campo holístico representa parte importante de um movimento que já galvanizou muitos outros sectores do mercado (o alimentar, por exemplo) e lhes serve de motor.

UM CLUBE HOLÍSTICO DO LIVRO, COMO?

O funcionamento deste Clube deverá ser simples para ser eficaz e cativante do grande público.
Como pivot-de-difusão do Clube haverá uma publicação regular periódica, sob a forma de (suplemento em) jornal ou revista.
Através desse meio de comunicação, os eventuais «amigos» do Clube terão conhecimento das últimas novidades editoriais, ou de títulos já publicados há mais tempo e que, por qualquer motivo ou acontecimento, voltam a estar outra vez em destaque.
Além do noticiário regular sobre novidades editoriais, haverá um caderno-catálogo com a listagem das obras holísticas editadas em Portugal, listagem que deverá ser periodicamente actualizada com outro catálogo.
O previsto «Anuário Holístico» pode incluir esse catálogo de livros e actualizá-lo anualmente.
Os interessados poderão filiar-se no Clube, mediante inscrição de um cupão publicado na já referida publicação periódica.
Terão depois direito a um cartão de «amigo» do Clube.
As regalias, para já, consistem em ter desconto de 20%, 30% ou 50% nas obras dos editores que aderirem à iniciativa.
Para poder funcionar legalmente, não pode o Clube cobrar quotas ou qualquer contributo em dinheiro.
As actividades fornecidas pelo Clube são assim gratuitas para o público, sendo subvencionadas pelos editores interessados em alinhar, quer através de publicidade que alimente a publicação[página] periódica, quer através de outros expedientes de ordem publicitária.
Tratando-se, com este Clube, de fazer publicidade indirecta a todo o campo da edição holística, é essa difusão pública que deverá ser amparada pelas editoras aderentes à iniciativa, uma vez que ela é do seu próprio interesse.
Ligado às outras peças do dispositivo, o Clube visa os mais amplos objectivos de difusão cultural.
O traço específico que o distingue das outras peças do dispositivo é encontrar-se ligado ao livro recente ou actual como base da intercomunicação informativa e documental que se propõe efectuar.

EDITORAS PORTUGUESAS ACERTAM O PASSO

Ninguém se atreve a considerar que algumas das nossas mais prestigiadas editoras estejam a colaborar com «charlatães» e «obscurantistas», ao criarem colecções de temas «underground» em geral e de ecoalternativas terapêuticas em particular, temas que não têm, no entanto e entretanto, a correspondente atenção das agências noticioasas «captadas» em Portugal.
Temas que, tratados em livro, não têm a correspondente cobertura na actualidade noticiosa da Comunicação Social.
Mas, paradoxalmente, colecções inteiras de livros são dedicadas a temas que nunca seriam editados se não tivessem um público certo e fiel.
Indiquemos alguns exemplos no campo «underground» em geral:
-«Enigmas de todos os Tempos» (Bertrand)
-«Iniciação às Ciências Ocultas» (Estampa)
-«Esfinge» (Edições 70)
-«Portas do Desconhecido» (PEA)
-«Solário» (Edições 70)
Também no campo das técnicas holísticas de saúde, inúmeras colecções continuam a publicar títulos que correspondem, inequivocamente, a um interesse generalizado dos leitores:
-«Biblioteca da Saúde» (Ed. Caminho)
-«Conhecer Melhor» ( Dom Quixote)
-«Saúde», «Arte de Viver» e «10 Lições» (PEA)
-Sobre (o) Viver»(Europress)
-«Saúde do Homem» (Itau)
-«Como Viver Melhor» (Litexa)
-Biblioteca do Conhecimento Básico e «Enciclopédia Vida Prática» (Notícias)
-«Viver», «Tempos Livres» e «Solário» (Edições 70)
-«Sobreviver» (Ulmeiro)
-«Biblioteca Verbo de Saúde» e «Biblioteca de Medicina Natural» (Verbo)

UNIVERSIDADE TAMBÉM ENTRA( À SUA MANEIRA) NA ÁREA HOLÍSTICA

Catálogos de editoras ou programas curriculares de novas faculdades e universidades são fontes onde se pode detectar uma evolução acelerada na abertura da ciência estabelecida às novas disciplinas do comportamento que têm vindo alterar, em poucos anos, o quadro das ciências humanas.
Muitas das «novas» ciências, porém, nada mais são do que «adaptações modernas» de «ciências» antiquíssimas e que até agora estavam no índex ou viviam no «underground».
Ciências de «ponta» e de «fronteira» é o mínimo que se poderá dizer destas matérias que, emergindo no seio das ciências humanas e sociais clássicas, logo se percebe que tocam interfaces por onde a Ecologia Humana tem rondado.
Acaso curioso é que a palavra «Etologia», que significa ciência do comportamento animal, apenas numa letra, t por c, difere da palavra ecologia, que bem podia ser definida como ciência do comportamento humano.
É de notar, assim, em listas de catálogos ou currículos de escolas superiores, algumas rubricas reveladoras desse apelo à unidade do «universo humano» por parte da diversidade de ciências que para ele convergem.
Exemplos indicados por ordem alfabética:
Anestesia eléctrica
Bioclimatologia
Dietética
Ecologia Huimana
Electroterapia
Energética Muscular
Engenharia do Ambiente
Engenharia humana
Engenharia social
Engenharia da vida
Epidemiologia
Etnomedicinas
Fisiatria
Geocancerologia
Higiene Alimentar
Medicina Familiar
Medicina Física
Medicina Social
Parto psicoprofiláctico
Parasitologia
Psicanálise
Psicomotricidade
Reabilitação
Saúde Ocupacional
Sexologia
Sofrologia
Toxicologia
Toxicologia genética

Note-se um aspecto curioso: ciências que se julgariam estarem longe do «social» e do «humano», como a Engenharia, aparecem de repente no âmbito das ciências humanas, e multiplicam-se em inesperadas modalidades, fazendo lembrar que o homem continua afinal a ser o centro de todas as coisas...

O CASO DO CLUBE DO LIVRO FRANCÊS

O «Club des Livres pour Mieux Vivre», ao surgir em França no princípio dos anos 80, vinha comprovar várias coisas:
-O «boom» editorial verificado numa área demarcada e definida mas que até então tinha, como tal, passado despercebida;
-O público que imediatemente aderiu à iniciativa que vinha trazer vantagens de qualidade e preço ao consumidor
-A necessidade de uma comunicação informativa apurada sobre a quantidade de livros editados, aconselhando o leitor pela qualidade criticamente comprovada.
[Além de fotocópias ilustrativas do regulamento desse clube francês e suas características de funcionamento, poderá ler-se, a seguir, também o texto de um projecto que, em 1986, foi elaborado para a criação de um Clube do Livro Saudável»]
«Viver Melhor», expressão-chave do Clube francês, é inegavelmente uma das expressões que melhor se adequam à «área unificada» de que tem vindo a falar-se neste relatório.
É quase escusado referir que para um Clube do Livro «Viver Melhor» estaria praticamente garantido o apoio publicitário das editoras com livros publicados nessa imensa área.

REVISTAS FEMININAS SÃO PRETEXTO

Revistas que publicam mais frequentemente temas de «behavior»:
-«Marie Claire»
-«Elle»
-«Madame Figaro»
-«Cláudia»
Temas afins do tema «behavior»:
-Alimento determina comportamento
-Alternativas de sobrevivência à catástrofe industrial
-Beleza física (esteticismo)
-Direitos humanos da personalidade
-Ecodireitos individuais
-Ecologia humana
-Epidemiologia
-Estilismo e moda
-Grupos de luta ambientalista
-Higiene pública
-Movimentos cívicos e sociais de autodefesa cidadã
-Profilaxia natural das doenças
-Saúde individual
-Tecnologias apropriadas de saúde
-Vida afectiva
-Vida sexual

QUANTOS SÃO? QUANTOS SOMOS?

Se se quisesse avaliar em números e quanto a público o raio de acção que uma revista de saúde, segurança e «behavior» pode ter, bastava juntar os produtores e consumidores de todas as áreas que convergem no tema.
Começando pelos produtores e só no que respeita aos técnicos que em Portugal desenvolvem actividades relacionadas com novas técnicas terapêuticas, um primeiro recenseamento pode ser feito com base em números estimados para as várias associações de classe.
Somando os sócios das quatro associações de classe que existem, teremos.
78 - Associação Portuguesa de Medicina Acupunctural
50 - Associação Portuguesa de Homeopatia
80 - Associação Nacional de Osteopatas
220 -Associação Portuguesa de Naturopatia
No que respeita a consumidores, pode ser estabelecida uma primeira estimativa com as principais associações existentes:
-400 sócios inscritos ( 200 sócios no activo) - Associação Portuguesa Vegetariana
-3.442 sócios inscritos (1.250 no activo) - Sociedade Portuguesa de Naturologia
6.500 sócios inscritos (1000 sócios no activo) - Cooperativa Unimave

BOLETIM DE IMPRENSA: UM PROJECTO QUE FICOU

«Boletim noticioso dos Naturoterapeutas para a Imprensa» era uma das iniciativas propostas, em 1985, pelo «Atelier yin-Yang», projecto que chegou a ser anunciado na Imprensa e que tinha em agenda mais as seguintes actividades a realizar:
-Recensão noticiosa regular do movimento editorial na área da saúde, segurança e ecologia humana
-Guia de endereços úteis ao consumidor de saúde - reedição corrigida e aumentada do folheto que chegou a ser publicado, na «Frente Ecológica», em 1985, com o título «As Medicinas que Curam» e que pretendia ser uma réplica às páginas amarelas na área unificada da holística...
-Quadro de qualidade com a ronda dos restaurantes vegetarianos e outras actividades do «mercado natural», avaliadas de zero a 5, uma espécie de «dom Pipas» (secção gastronómica do jornal «A capital») para vegetarianos ou de «bolsa da praça» para consumidores de produtos naturais
-Telefone SOS com gravador - primeiras informações de socorro aos que procuram tratamentos naturais para os seus problemas

MINIAGÊNCIA DE INFORMAÇÃO ECOALTERNATIVA:PROJECTO QUE FICOU

Material informativo de âmbito internacional para reconverter em notícias de primeira mão com interesse para o público português, é o que não falta na área que tem vindo a definir-se, neste relatório, e a que André Gorz, jornalista do «Le Nouvel Observateur» (onde escreveu com o pseudónimo de Michel Bosquet), chamou «arquipélago convivial», em homenagem à ideologia ou ideário da «convivilidade» proposta pelo filósofo Ivan Illich.
O problema não é, portanto, a falta mas a abundância de fontes de âmbito internacional e o número de itens com interesse público que delas se podem recolher.
Perante a abundância (quantidade) trata-se de privilegiar a notícia pela qualidade do seu conteúdo.
Perante a enorme quantidade de fontes que se apresenta, trata-se de privilegiar algumas que se tornaram, com o tempo, prestigiadas pela sua independência (e o critério de independência, nesta matéria, de contornos tão sensíveis e marginando tantas vezes o assunto-tabu, é preponderante e decisivo da qualidade informativa).
É o caso do Centro Intercultural de Documentação (CIDOC), com sede em Cuernavaca (México), fundado em 1966 por Ivan Illich e Valentina Borremans e extinto, por falta de verbas, em 1977.
Por iniciativa de Valentina Borremans, continua a publicar-se (no data em que este relatório está a ser escrito) a colecção de textos «Tecno-Política», onde aparecem testemunhos fundamentais de ensaístas contemporâneos que fazem a análise crítica do sistema que destroi ecossistemas e propõem ecoalternativas realistas à destruição.
No âmbito das «ideias que também são notícia», esta colecção «Tecno-Política» ocupa um lugar de relevo, a considerar como fonte importante de uma mini-agência de informação ecoalternativa.
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