ORDER BOOK

*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-08-19

DIAGNÓSTICO 1997

1444 caracteres - eh-6 -listas-grelha- ambientopatologia

22-8-1997

DIAGNÓSTICO

As doenças do Ambiente (que são todas ou quase todas) aparecem como se não tivessem causa.
São, porém e no mínimo, «indicadores» de que alguma coisa corre mal no Ambiente.
Nesse sentido, os seres humanos são sempre cobaias de mil e uma poluições, de mil e um produtos, de mil e um consumos, alimentares e de uso, que infestam o ambiente sem previamente se terem testado quanto às consequências sobre a fisiologia humana.
O trabalho do diagnóstico ecológico ou despistagem ambiental - onde está tudo ou quase tudo por fazer - referir-se-á a alguns parâmetros fundamentais, como, por exemplo:

A) Repertório das doenças da civilização:
SIDA
Cancro
Stress
Neurose
Morte rodoviária
Depressão
...

B) Se as Doenças da civilização são doenças do ambiente, o diagnóstico deverá atender, no mínimo, aos seguintes parâmetros:
a) Despistagem ambiental
b) Desnutrição, subnutrição ou má nutrição entre os factores causais da doença
c) Alteração do metabolismo (intoxicação)
...


C) Doenças do subdesenvolvimento:
Fome e pobreza
Cólera
Raiva
Sezões
Cegueira
Gastroenterite
Hepatite
Cólera
Intoxicações alimentares
...

D) Doenças da poluição alimentar:
Brucelose
Gastroenterite
Hepatite
Cólera
Intoxicações alimentares
...

E) Efeitos com causa desconhecida(indicadores):
Prostituição infantil
Delinquência infantil
Cancro infantil
Suicídio infantil
Reumático infantil
Divórcio
Toxicomanias
Alcoolismo
...

F) Causas de efeitos desconhecidos:
Fogões de coser pão a óleo
Ozono na alta atmosfera
Gado com hormonas
Aviários
Gelados
...

G) Pistas para o investigador curioso:
Mistério da lepra: hábitos predominantes de comer salgados, pista epidemiológica possível
----
(*) Esta ficha (este file) relaciona-se com os files eh> eh1> ent-1>
+
1 página – cadernos do monitor -ddfa-2>= despistagem de factores adversos

IÕES

A carga iónica do ar que se respira afecta de maneira determinante o estado de saúde.
O ar livre, carregado de iões negativos, tem uma acção sobre o organismo completamente diferente do ar poluído e viciado, carregado de iões positivos.

EFEITOS DOS IÕES POSITIVOS - Sinais de alerta:
Depressão
Dores de cabeça
Irritabilidade
Lassidão
Sonolência
Estes sinais, nomeadamente em condutores de automóveis, podem significar falta de iões negativos.
A massa metálica das viaturas, anulando o campo eléctrico natural da Terra, elimina quase totalmente os iões negativos, necessários à saúde humana.
A indústria respondeu a este problema da sociedade industrial, anunciando outra indústria: a de aparelhos produtores de iões negativos que, segundo dizem, podem combater aqueles sintomas negativos causados pelos iões positivos.
Em casa, são acusados de destruir os iões negativos:
- Aparelhos de ar condicionado
- Equipamentos eléctricos
- Estruturas metálicas
- Matérias plásticas
- Vestuário com matérias sintéticas

A registar: o fumo de um cigarro destrói 10 mil iões negativos.

Outros sinais de alerta que anunciam falta de iões negativos do ar puro:
- Bronquite crónica
- Desconcentração mental
- Febre dos fenos
- Ritmo (Falta de )

***

TECNO-ESTRUTURA 1987

87-08-22-cm

AS ANÁLISES E A AUTORIDADE DA TECNO-ESTRUTURA

22/8/1987 (in «A Capital» ) - Se se quer provar a presença de anti-corpos da sida no sangue do cidadão, o laboratório analisa e prova.
Se se quer provar a presença de medicamentos no sangue de um ciclista na Volta a Portugal em bicicleta, o laboratório analisa e prova.
Se se quer provar que a água de uma praia está bactereològicamente mais poluída de coliformes fecais do que outra do lado, o laboratório analisa e prova.
Em qualquer dos casos, no controle e prevenção da sida, no controle anti-doping ou no controle sanitário das águas ribeirinhas do Tejo, a análise é omnipotente, omnisciente, omnipresente, atributos, todos eles, de natureza divina.
Com efeito, a análise é Deus (mais um) e os laboratórios são igrejas.
O controle exercido pelos medianeiros - sacerdotes - é ele também omnipotente, omnisciente, omnividente.
Não admite outra autoridade, nem outra lei, nem outro juízo. A prova laboratorial não precisa de contra-prova porque vem da tecnologia, que é infalível, porque vem de organismos ditos científicos, que nunca se enganam.
O deus da medição (irmão gémeo do cálculo) tomou, de facto, conta da sociedade dita civilizada e ninguém pode nada contra essa autoridade sem rosto chamada Número.
As análises controlam mas ninguém controla as análises. «O estado sou eu» - pode dizer qualquer corpo de analistas que possua aquela arma.
Os laboratórios e quem os possui , agem como juízes soberanos onde o réu fica à partida pulverizado, reduzido a zero.
O caso do ciclista Marco Chagas, tricampeão da Volta a Portugal, não é assim um simples acidente de percurso, mas um caso exemplar que levanta um problema de fundo: a legitimidade ou ilegitimidade moral de um método que hoje se generalizou como praga nas sociedades-máquina que adoram o deus-número, o deus-cálculo, o deus-medição.
Se uma celebridade no mundo do ciclismo fica, apesar de celebridade, reduzida ao silêncio de uma condenação forçada, sem apelo de segunda instância e por mais que proteste a sua inocência aos órgãos de comunicação social que o entrevistam, o que acontecerá a centenas, milhares de cidadãos anónimos sujeitos à ditadura das análises falíveis mas consideradas infalíveis pelo sistema que as instaura no chamado «consenso dos cemitérios», quer dizer, sem vozes de oposição ou protesto?
É evidente que emerge aqui uma questão que deveria interessar os analistas (políticos) da nossa praça.
Tal como está e através do mecanismo chamado análise, o sistema tem maneira de julgar, controlar e decidir sobre o cidadão analisado, sem que o cidadão (testado) tenha qualquer direito de provar a sua inocência (caso exista) ou até a sua culpa (se também existe).
Quanto aos cidadãos portadores de anti-corpos do chamado vírus da sida,o fenómeno poderá vir a ter uma extensão numérica maior do que o doping no ciclismo, ocorrência sazonal só de ano a ano de volta.
Mas o que está em causa é a tecno-estrutura que deixámos instalar, a título benemérito (defesa da saúde, por exemplo), a que nos submetemos passivamente e que, em nome do progresso, será mais um mecanismo de opressão num quadro de opressões interligadas como vasos comunicantes.
Em qualquer dos casos, o que está em causa é a tecno-estrutura (a medida, a análise, o laboratório, o cálculo,. o número) que usa o cidadão como objecto, dele faz um número (eventualmente a abater com a marca infamante de qualquer rótulo que a análise «provou») e sobre ele decide com poderes discricionários.
Análise bactereológica das águas, análise química da urina, análise de anti-corpos no sangue, a tecno-estrutura é autoridde absoluta e reina absolutamente, tem a primeira e última palavra, é tribunal de última instância.
Ainda não estamos no Gulag mas é assim, com tecnoestruturas bem deificadas (enquanto se reifica ou coisifica o ser humano) , tornadas deuses absolutos, que os Gulags se constroem.
Como Gabriel Marcel alertava, no seu ensaio «Les Hommes Contre L'Humain».


***

IDEALISTA 1972

1-2 - 72-08-22-di> = diário de ideias - os guardas do gulag – inédito ac de 1972 – chave ac – diário pessoal e de um idiota – esse vício idealista de ser livre –homenagem a galileu

SEI QUE NÃO VALE A PENA QUERER SALVAR O MUNDO (*)

(*) Este texto, obviamente inédito, merece um carinhoso cinco estrelas. Lá de vez em quando, acho que conseguia acertar. Enfim, coisas. Contemporâneo das minhas colaborações no «Notícias da Amadora», resume bem o estado de espírito dominante desses anos imediatamente anteriores ao 25 de Abril. Era a obsessão de me comparar ao Galileu... e como me sentia perseguido como o Galileu. É preciso ter lata, Afonso! Mas lata foi o que nunca me faltou, lá isso...

22/8/1972 - Se os senhores pensam que um franco-atirador é necessariamente um pobre diabo que vive na inocência medieval de todos os males do Mundo, um romântico ignorante e um lírico abstracto, em suma, um irrealista e um parvo, mais ou menos desfasado em relação ao concreto do mundo e dos homens práticos, peço que rectifiquem vossa opinião.
Sei muito bem que vivo num país surrealista; que todo o acto quixotesco aqui é apenas ridículo; que toda a independência de espírito é suspeita e que está lixado todo quanto não alinhe num bando, num programa, num partido, numa tertúlia; que ninguém se importa com ninguém, que os “mass media” não vivem para servir o público mas para se servir dele; que tudo afinal é conforme a lógica do todo e não conforme a aberrante ilógica dos revoltados particulares como eu; sei que qualquer firma de electrodomésticos pode mandar calar um cronista, porque a firma pode pagar a um advogado e não há nada que não se possa provar desde que, para isso, haja dinheiro a prová-la; sei, pois, que a única coisa acertada é não fazer ondas, não criticar, não procurar assumir o partido do público pagante e (sempre) prejudicado, lesado, enganado, porque o primeiro (logo a seguir à firma) a escarrar no crítico franco-atirador será o próprio público (para isso está condicionado), em nome do qual o franco-atirador se arrisca às vezes para lá do risco, se arrisca a levar dos grandalhões uma grande bordoada; sei que não vale a pena querer salvar o mundo, porque o mundo tá bem tal como está, serve a quem serve e quem não conseguiu ainda lugar no banquete que se lixe, é apenas porque é parvo, lorpa, honesto ou doente; sei que o cinismo e o pirronismo são hoje as únicas atitudes que um pai de família deve assumir se não quer perder o emprego e prejudicar o futuro dos filhos, a carreira, o bom nome e a tranquilidade de espírito e de corpo; sei que, entalado entre os grupos de pressão que retalham o território a seu modo e gosto, o franco-atirador é cada vez mais excremento, excrescência, anomalia, indecência, aberração; sei inclusive, que nunca poderá levar longe a sua batalha porque, por definição, nem os próprios amigos o apoiarão no momento decisivo e crítico; sei que um franco atirador só noutro franco-atirador tem um amigo e que, por definição, vivem afastados um do outro, dispersos, sem possibilidade de permuta e ajuda, sem fazerem clã, sem se barricarem em grupo, partido, programa e etc (aliás, tudo se mobiliza para intensificar essa desintegração e desunião, tudo favorece o desentendimento entre franco-atiradores); sei, portanto, que face aos hotéis de lª , aos grandes progressos ferroviários, aos mitos tirânicos e sangrentos, ao cinismo quotidiano e ao quotidiano terror, não vale a pena oferecer resistência: a resistência individual já não se usa e é chata, parva, incómoda para o grupo que em si aninha e cultiva a mediocracia; à medida que a sociedade se totalitariza, o franco-atirador torna-se definitivamente obsoleto, sei disso tudo, podem crer.
E, no entanto, É PRECISO AGIR COMO SE NÃO SOUBESSE. Quanto mais conheço a inutilidade das crónicas sobre o quotidiano, dos poemas para a gaveta, das críticas para o lixo, das reportagens para o cego, dos ensaios (novamente para a gaveta), mais se me impõe a necessidade desse gratuito, desse ser por ser; quantos mais risos de ironia e mofa me cercam, quanto mais amigos me batem nos ombros a recomendar prudência e mudança de rumo, temperança, quanto mais ouço proclamar que quixote é ridículo e ridícula a (boa) fé e a luta, mais essa fé me parece inevitável de ser vivida e essa luta de ser travada; quanto mais me ameaçam com o chicote da chacota (ou da punição), mais a ideia de justiça me aparece clara e imperativa; quanto mais firmas de electrodomésticos me obrigam a abjurar, mais camarada de Galileu me sinto e mais digno de lhe admirar a memória; quanto mais a mediocridade nos afoga, submerge e nos tenta convencer, menos vencido pela mediocridade me considero; quanto mais me avisam para calar a palavra indignada (por amor à justiça) contra o disparate, a boçalidade, a venalidade e a violência, quanto mais me provam os riscos que a resistência à enxurrada envolve, mais o vício idealista de um espaço puro e belo e decente me anima ; quanto mais a doença, o ruído, a porcaria, a sujeira moral e das ruas nos afoga, mais esperança ponho nas palavras que escrevo, na ironia que uso, nos prepotentes que enfrento; quanto mais recordo as humilhações dos mangas de alpaca, dos burrocratas, dos funcionários da conveniência, dos funcionários da prudência, quanto mais e melhor sei como sabem, como podem destruir a sensibilidade de um homem , mais cego e surdo me faço às velhacarias, às humilhações, às ameaças e exigências, de abjuração; quanto mais baixo julga aquele democrático ter-me rebaixado, mais acordado fico para a ilusão, para o sonho, para a liberdade e a dignidade e a honra de ser um homem que não colabora com nenhuma Abjecção. Ainda quando disse que sim, porque o obrigaram a dizer que sim.
- - - - -
(*) Este texto, obviamente inédito, merece um carinhoso cinco estrelas. Lá de vez em quando, acho que conseguia acertar. Enfim, coisas. Contemporâneo das minhas colaborações no «Notícias da Amadora», resume bem o estado de espírito dominante desses anos imediatamente anteriores ao 25 de Abril. Era a obsessão de me comparar ao Galileu... e como me sentia perseguido como o Galileu. É preciso ter lata, Afonso! Mas lata foi o que nunca me faltou, lá isso...
***