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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-08-06

SUSTOS 1997

5584 caracteres - 2 páginas - sustos-1> - merge doc de um único file wri do mesmo nome -sustos-1> holística à portuguesa: ponto da situação - 6400 bytes -sustos1>

ASSUSTAI-VOS UNS AOS OUTROS & MANIPULAI-VOS UNS AOS OUTROS

Lisboa, 8/8/1997 - Em estreita ligação com a indústria da doença, a indústria da profecia & da adivinhação está montada sobre rodas.
Nas duas últimas décadas, a «arma da ameaça» - individual e colectiva - foi-se sofisticando e temos hoje, como produto do marketing industrial, a mais perfeita forma de manipular o próximo e de o ter, dócil, na mão de todos os poderes, debaixo de qualquer ditadura ou tirania, como um passarinho assustado.
«Assustai, assustai e algum proveito ireis retirar daí» - é a palavra de ordem, implícita, em todas as grandes realizações deste nosso século de catástrofes em cadeia, poluições & maravilhas electrónicas.
E de pletora de informação - que é a forma mais sofisticada de desinformar.
Um dos poderes instituídos que mais cedo percebeu a vantagem comercial de assustar o próximo, os lucros derivados de toda e qualquer ameaça, foi o poder médico, que deu sempre o excelente modelo de como se manipulam, intoxicam e condicionam almas ou massas ignaras.
Pela arma do diagnóstico, o médico (e o terapeuta dito natural, graças a Deus) tem na mão o doente.
«Adivinhar» o futuro de qulalquer desgraçado para o explorar e para o manter na eterna dependência das consultas e do consultório, é condição sine qua non do rendoso negócio, da fabulosa indústria que é hoje a doença, como, aliás, sempre foi.
Adensar o clima de pessimismo faz parte desse processo monstruoso de manipulação de massas, de intoxicação e de gigantesca lavagem aos cérebros.
Quanto mais negro se pintar o quadro, a nível individual (diagnóstico do paciente) e a nível geral (a cargo dos órgãos mediáticos, um debitar diário de horrores, terrores & catástrofes, não só as que se dão mas as que se podem dar e estão iminentes) mais submisso ficará o doente/paciente/monodependente.
Ecologistas & ambientalistas ajudaram à festa - tinham boa matéria de susto.
Em troca, o paciente, em vez de aprender a arte (fácil) de se tratar e de ser auto-suficiente, aprende a queixar-se por todos os cantos e não faz outra coisa senão carpir-se.
O senhor doutor acha óptimo que os doentes levem a vida a queixar-se e vai-lhe cobrando cada consulta a 10/15 mil, que é hoje o padrão médio remuneratório da autoridade médica e da estratégia profético-pessimista que a sustenta e que lavra, de facto, como a grande Doença deste tempo-e-mundo (leia-se tempo imundo).
- Tem uma doença incurável
- Curar uma gripe é muito complicado
- Os vírus são cada vez mais virulentos
- Novas estirpes de bactérias atacam ao amanhecer, reforçadas por doses industriais de antibióticos
- Para uma das dezenas de «ites» - desde sinusite a bronquite - há que tomar doses imoderadas e crescentes de antibióticos
- Alergia ou Diabetes, Cancro ou Artritismo, o tratamento tem que ser sempre o mesmo: medicamentos de carregar pela boca e suas sequelas de efeitos adversos (novas doenças, portanto)
- Estamos submetidos ao karma (diz o imperialismo /colonialismo hindu, hoje triunfante em Portugal enquanto o chinês não o desbancar)
- Há sempre uma bactéria (como diz a publicidade) e nós estamos sempre sujeitos a essas bactérias tremendas. Nada melhor do que a ameaça de uma bactéria para instaurar o medo nas hostes. O terreno não é nada, a bactéria é tudo e muito mais lucrativa.
Estes e outros sofismas, mantidos pelo Establishment - Médicos & Naturopatas Encartados, Ldª - alimentam o negócio da médico-dependência e fazem do doente, além da cobaia para experiências que sempre tem sido (incluindo para a Homeopatia) o alvo privilegiado de todo o negócio de frasquinhos, doses & minidoses.
É o momento de lançar o sofisma mais lucrativo de todos: medicamentos são caros e a doença longa, longa, longa...
Os medicamentos, de facto, são caros e os preços não são sofisma, não, e os tratamentos dos senhores doutores ditos naturoterapeutas são longos.
Há escolas, em Acupunctura, especializadas em eternizar os tratamentos.
Não se julgue, porém, que, ao explorarem desta maneira os doentes, eles, os exploradores, não têm um alibi de consciência para se tranquilizarem e dormirem com menos insónias sem valeriana, librium ou valium.
O alibi de consciência é este e é insofismável: o doente, de facto, não se quer tratar por si, não quer fazer os nigredos necessários a qualquer alquimia, condição sine qua non de qualquer cura, não ganhou, ao longo dos anos e apesar do sofrimento e dos ciclos viciosos em que as medicinas o meteram, auto-suficiência. E, portanto, paga porque quer, paga a supercomplicação médica porque não quis aprender a arte simples da auto-suficiência.
Não quis, não quer e continua a não querer.
Com este alibi de facto, médicos & naturopatas podem continuar sem remorsos a «ajudar o próximo» e a engrossar a respectiva conta bancária.
Não admira, portanto, que médicos & naturopatas continuem a incutir na opinião pública os sofismas depressivos, aterrorizantes, desestabilizadores, angustiógenos, que vão consolidando e eternizando a eterna monodependência do doente à autoridade médica.
À tirania do poder médico. E dos alegados naturopatas, todos de consciência tranquila.
Dois dos maiores best sellers do momento, na área da edição, são profecias.
Assim se realiza a profecia das profecias, ela também homeopática de alta diluição: Tratarás a mordedura de um cão, com pelo do mesmo cão.»
***

HOLÍSTICA 1999

sddcm-1> sem data diário de um consumidor de medicinas - anexos ao manifesto

Estes tópicos soltos e desdatados, poderão servir de base e grelha, eventualmente, à elaboração de um diálogo pergunta e resposta, forma (não cronológica) de ordenar e sistematizar matéria

[8-8-1999]

ANOS 70?

Naturalmente é a espécie humana, na sua essência, que não tem cura nem concerto.
Naturalmente, o defeito é congénito e não há medicina, nem sequer natural, que mude a gente para melhor.
Desta dúvida fundamental resulta talvez a dicotomia que mais profundamente divide os homens.
Ao contrário do que se julga, a grande linha de demarcação não é partidária, nem tão pouco a artificial divisão, inventada por tolos, entre esquerda e direita.
O que divide a humanidade em dois campos - há quem diga mesmo em duas humanidades - é outra coisa: de um lado os que acreditam ser possível transformar o homem `semelhança de Deus e por isso assumem uma posição de esperança, de fé, de confiança nos valores humanos e morais; do outro lado, aqueles que, implicita ou explicitamente, estão absolutamente convencidos de que não vale a pena fazer nada por este animal que povoa o planeta Terra.
É entre cínicos e crentes que passa a subtil fronteira, facto que mais uma mvez se vê e comprova no campo do movimento eco-terapêutico.
Terão os produtores e consumidores de saúde o que merecem?
Será possível fazer um derradeiro esforço para pensar os problemas da saúde em conjunto?
Serão uns e outros capazes de auto-crítica necessária para evitar os erros e disparates que se têm vindo a acumular em quantidade demasiada , nos últimos tempos?
Fazendo um esforço para ver, de fora, a questão da saúde, no seu aspecto global, a situação é arrepiante : não porque o movimento ecoterapêutico não tenha virtualidades infinitas à sua frentes - possibilidades que o fracasso da medicina química mas evidencia - mas porque a naturopatia tem aberto o flanco a oportunistas, charlatães, gatunos e traidores, num espírito de abertura e tolerância que lhe poderá ser fatal.
*
Estão rigorosamente excluídas da área holística actividades que, embora lícitas, não tenham uma base rigorosamente científica, tais como: cartomantes, taromantes, quirólogos, espíritas, astrólogos, parapsicólogos, etc.
Não entram na holística, portanto, actividades que, tendo embora procurado, insistentemente, misturar-se ás terapêuticas naturais, não deverão ser admitidas, sob nenhum pretexto, sob esta designação nem no estatuto que institucionalizará as técnicas holísticas de saúde e respectivas artes de curar.
Não se encontram também abrangidas pelo conceito de holística, as actividades e profissões que, dizendo-se embora de saúde, visam verdadeiramente é combater e doença através de métodos químicos, cirurgia e vacinas, factores estes também completamente alheios a uma concepção holística da pessoa humana, integrada e globalizante.
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DESECONOMIAS 1987

1-3 - schuma-1-ls> segunda-feira, 30 de Dezembro de 2002-scan c/anexos

UMA HERESIA DE F. SCHUMACHER OS DEUSES DA ECONOMIA (*)

[CPT, in «A Capital», 8-8-1987] - Um novo-riquismo, perceptível a olho nu, tem grassado desde há uns tempos no discurso alegadamente ecológico ou meramente ambiental. Todos descobriram, de repente, a pólvora. E o ambiente, a dois passos da uma, é bestial, grande amigo, um gajo porreiro, principalmente se der subsídios e tiver também mecenato.
Mas toda esta euforia pró-ambientalista de conjuntura não impede que o discurso economicista, do cifrão e dos per capita que já existia antes, que durante o salazarismo ocupou corporativamente todo o nosso espaço mental, sem falar obviamente do económico, esteja ainda de boa saúde e com grande vigor.
O nacional-ambientalismo, embora um tanto grotesco, não perturba os pan-economicistas, que já não sabem aprender discurso diferente daquele que beberam no leite maternal, como é patente nos discursadores dos partidos, todos convencidos de que nos convencem.
Ecologismo que não se fique pela rama, porém, ecologismo com o mínimo de autenticidade e coerência, é claramente perturbante, já que traz, para a plena luz pública, o que estava condenado a permanecer secreto para o resto da eternidade: a sífilis do sistema, as «des-economias externas», como às vezes lhe chamam. Os direitos ecológicos das pessoas, esses, são hoje tabu como eram no tempo do Marquês de Pombal.
O grande escândalo das correntes ecologistas autênticas, não é a denúncia das poluições e dos poluentes, com um discurso igualmente poluído, porque sintomatológico: o escândalo de um realismo ecológico coerente, independente, com princípio, meio e fim, é ir à causa, às raízes e não aos efeitos (poluições) do macrossistema que vive de nos ir assassinando.
O grande escândalo do realismo ecologista, defendido com unhas e dentes por meia dúzia de franco-atiradores clandestinos, é pura e simplesmente que o homem concreto, com sentimentos, pele, nervos, sofrimentos, riscos, stress, angústias, etc., irrompe na praça pública a dizer que é mais importante do que cifrões, dólares, produtividade, bolsas, planos quinquenais, dólares, produtividade, economia de mercado, colectivização socialista, etc.
Esta é a lição (o escândalo) que os viciados discursos economicistas de todas as tendências, desde a direita às esquerdas, ainda não aprenderam nem aprenderão tão cedo, mesmo que a casa (da economia) já esteja outra vez a arder com o renovo da chamada crise petrolífera.
Dizem-nos então, por reacção reflexa, que sem economia e sem petróleo, a sociedade se desmorona. E até talvez tenham razão. Mas por muito indispensável que a economia (do desperdício) se tivesse feito, por uma natural esperteza dos economistas e sua própria sobrevivência como classe, o que pisa hoje o risco vermelho do escândalo é a Ecologia Humana, porque põe as pessoas no lugar da Primeira Prioridade, no lugar onde têm estado e
continuam a estar os cifrões e as metas desenvolvimentistas.

UMA QUESTÃO DE VALORES

Dizer que a Economia é uma questão religiosa parece à primeira vista uma provocação. Uma blague de mau gosto.
Mas é talvez a afirmação mais rigorosa que hoje se pode fazer num tempo de acelerado apodrecimento da História.
O economista E. Frederic Schumacher, que alcançou os postos mais elevados na hierarquia tecnocrática ocidental, teve o arrojo de propor, no seu livro intitulado Small is Beautiful,(1) a economia budista como doutrina modelar de desenvolvimento.
A sua tese tem, entre outras vantagens, a de colocar a questão do crescimento económico no seu lugar exacto, quer dizer, onde nunca os economistas ditos ateus tiveram coragem de a colocar: no campo dos valores, dos princípios, da ética.
A maior religião do mundo e que conta com maior número de adeptos é hoje a religião do crescimento industrial. Basta ver quantos nomes se têm dado a este deus do pós-guerra que é o desenvolvimento. Progresso, bem-estar, felicidade nacional bruta, produto nacional bruto, metas do progresso, qualidade de vida, industrialização acelerada, tanto nome só para um deus.
Os mitos que o mito do progresso fez proliferar e alimenta, os subdeuses que propõe à adoração das massas, os intocáveis que governam as suas igrejas, as igrejas que, como cogumelos, se reproduzem por todos os LNEC do mundo, com seus sacerdotes, rituais, hóstias de enfiar pela boca, suas polícias políticas chamadas cientistas, confessores chamados psiquiatras, fiscais chamados técnicos de informática, inquisidores chamados engenheiros nucleares, que grande família de grandes patriotas!
O que adoradores e padres-curas do deus-economia, do deus-progresso, do deus-crescimento, do deus-etc., não têm, entretanto, coragem de confessar, por um fenómeno de recalcamento semelhante ao complexo de Édipo, eis que o ecologismo o aponta como o menino que grita que o rei vai nu, porque efectivamente o rei vai em pêlo.
O ecologismo faz da Economia uma questão moral. Fala de moral energética, igual a moral ecológica. Diz que o problema da fome não é de crescimento demográfico como repetem os maltusianos, mas um problema de decência. Enquanto um carnívoro ocidental comer por dia, em suínos tuberculosos, o que daria, em cereais, para alimentar 100 crianças esfomeadas do Terceiro Mundo, há aqui um problema de vergonha na cara.
Revolução ecológica terá de ser uma revolução ética, antes, durante e depois. Se quiserem, uma revolução religiosa.
Não sou eu que o digo. Têm-no dito alguns pilares da Mitologia do Crescimento, na hora da verdade em que batem com a mão no peito e gritam: «Mea culpa, mea grande culpa. Perdoai-me Senhor, que errei na minha estupidez tecnocrática.»
Assim berraram Sicco Mansholt, o já citado Schumacher, filósofos como Garaudy, René Dumont, Henri Lefèbvre, Edgar Morin e outros menos conhecidos, porque sussurraram as coisas mais em segredo para a galeria não ouvir. Porque ai daquele que, herege, se baldar da religião do crescimento. Nunca mais tem toca a que se aninhar.
Se o renascimento ecológico do planeta está hoje a realizar-se através de comunidades ditas laicas, também é um facto que as mais avançadas e duradouras, as mais enraizadas e radicais, são claramente de confissão religiosa, Nyima Dzong, nos Alpes, a Comunidade da L’ Arche fundada em França por Lanza dal Vasto, a cidade de Auroville, na Índia, fazem-nos compreender melhor porque é a Economia uma questão (de) Moral.
A ciência vai a reboque e descobre o que já estava descoberto desde o princípio do Mundo pela Sabedora Primordial Viva, a que alguns chamam Yoga. Tudo é energia. Tudo se liga a tudo. Na ordem do universo tudo é interdependente. A energia somos Nós. Nada se faz que não se pague.
Estes e outros aforismos de moral energética que se podem ler, em lista, num dos breviários do ecologista, provam que a ciência chega finalmente às banalidades de base que estavam inscritas no coração humano até ao momento em que a pulhice ocidental, nomeadamente europeia e nomeadamente lusitana, corrompeu quase todas as grandes culturas do mundo.
Por exemplo: o famoso controle cibernético é, afinal, a auto-regulação dos sistemas vivos, a que eles chamam um palavrão: homeostase. E por aí fora.
Quando os políticos se metem a legislar sobre questões morais, então, é um espectáculo chocante: ver-se como eles falam de objecção de consciência, é de fazer corar o diabo mais pornográfico.
Tentando mostrar que a questão ecológica é uma questão de vergonha na cara da gente que a tiver, andaremos nós a dizer, até que nos ouçam.
(1) Ernst Friedrich Schumacher, «Smal is Beautiful (Um Estudo de Economia em que as pessoas também contam)», Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1980
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(*) Este texto de Afonso Cautela, apesar de 5 estrelas, foi publicado
em «Crónica do Planeta Terra», jornal «A Capital», 8-8-1987

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ALQUEVA 1999

1-2 - 99-08-08-ecc> = ecos da capoeira – ie - alqueva5> notícias do futuro

QUE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (PATRONA DE BARRANCOS)NOS PROTEJA

8/Agosto/1999 - O jornal «Público» foi o único a dar a notícia. Para fazer a barragem de Alqueva, vai ser necessário desarborizar e desmatar uma área superior a 250 quilómetros quadrados.
É uma operação gigantesca e sem paralelo em Portugal - diz o jornalista Carlos Dias, que acrescenta: «Os ambientalistas alertam para o desaparecimento de importantes montados de sobro e azinho.» Devem ser os últimos sobreviventes em Portugal.
Dias antes, os mesmos (ou outros) ambientalistas tinham pedido a demissão das funções que vinham exercendo na empresa construtora da barragem (a EDIA). Foi assim que soubemos da grande notícia: afinal havia uma EDIA, havia ambientalistas e sabe-se lá se ecologistas metidos com os construtores da barragem.
Outrora, quando não havia moralidade, chamava-se a isto promiscuidade. O maior crime ecológico perpetrado na península ibérica e provavelmente na Europa, tinha que ter (é claro) o amen dos eco-ambientalistas. Para isso a ministra Elisa os subsidia. E só é o maior na Europa porque no norte de África temos o crime Assuão, que bem nos pode indicar quais vão ser as consequências.
O silêncio em torno de Alqueva em geral e sobre alguns aspectos de Alqueva em particular não deixa de ser significativo. Estarão todos com medo do que estão fazendo? Ou é modéstia da bela obra que estão consumando e que, na opinião de alguns, é apenas o suicídio deste país chamado outrora Portugal?
Um ex-ministro chamado Ferreira do Amaral escrevia, há tempos, no semanário «Expresso», um artigo invectivando o actual ministro Cravinho, pelos atrazos verificados na consumação de Alqueva. Amaral anda sempre nervoso com as obras públicas (e portanto com a JAE) e põe nervoso o calmo ministro Cravinho, que faz o que pode, coitado, para não fazer nada, que é ainda o que de melhor, em matéria de obras públicas, pode ser feito.
Alqueva aliás vem dos tempos salazaristas e marcelistas que, apesar da obsessão das obras públicas, não chegaram nunca a concretizar o plano megalómano que cérebros megalómanos conceberam, para afinal vir a ser concretizado, com o beneplácito de todos os partidos, na vigente democracia.
Muito proximamente, quando a barragem rebentar, vamos ter ocasião de enunciar os responsáveis, incluindo eco-ambietalistas, que já começam a ter medo de vir contar suas glórias para os meios mediáticos. E daí o silêncio de morte sobre Alqueva que é a morte de um país.
Até agora, para a lista negra, só nos ocorrem os nomes mais sonantes: João Cravinho (ministro), Ferreira do Amaral (ex-ministro), Salazar (ex-primeiro ministro), Marcelo Caetano (ex-primeiro ministro), Cavaco Silva (ex-primeiro ministro), Filipe Palma (administrador da EDIA).
A propósito: desafio os portugueses, mesmo os mais informados e com acesso à Net, a dizer-me quem é a EDIA.
O não se saber quem está construindo o dinossauro, é outro sinal dos tempos de transparência democrática em que, com a ajuda de jornais e telejornais, vamos sobrevivendo.
Há um nome a não esquecer, porque, numa das célebres presidências abertas ao Alentejo, não disse sim nem não a Alqueva: disse NIM. É, claro, Mário Soares.
No fundo e sobre Alqueva, só me interessaria saber, mas saber mesmo, quantas estações megalíticas vão ser afundadas pelas águas. Há anos, o inventário já assinalava uma centena e meia mas, entretanto, os arqueólogos meteram-se ao trabalho para inventariar muitas mais. Mas, claro, desse trabalho heróico, nem uma linha transparece para os heróicos jornais e telejornais que temos. Aliás, o que são duzentas estações arqueológicas (o sagrado alquimicamente puro) para estes novos bárbaros do ocidente?
Com Foz Coa foi o que se viu e lá mandaram suspender a barragem, por causa do prestígio internacional do eng. Guterres. Como o tesouro megalítico do Alentejo não dá nem tira prestígio a estes heróicos políticos, que se dane o tesouro megalítico do Alentejo. Antes afrontar de caras, como barranquenhos ao touro, esta afronta apocalíptica ao sagrado português, de que o legado alentejano é a capital.
Um dos maiores defensores das figuras de Foz Coa, o arqueólogo Torres, que até greve da fome fez, veio um dia já recuado ao telejornal da que é hoje a TVI, dizer que Alqueva tinha de se fazer e as estações arqueológicas que se danassem. Foi por isso que ele foi, como arqueólogo, Prémio Pessoa, pela certa.
Tudo será pago, no entanto, e o pior é que, quando o país submergir, vamos todos pró fundo, culpados e inocentes, sem que a Nossa Senhora da Conceição, distraída a matar o touro em Barrancos, nos possa acudir.
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CHERNOBYL 1988

chernobyl-5> os dossiês do silêncio – publicado ac de 1988 – tese de 5 estrelas

A DATA CAPICUA (*)

8/8/1988 - As "ameaças de paz" que invadiram o mundo, nas últimas semanas e que culminaram na data-capicua de 8.8.88, como frisava no dia a TSF-Rádio Jornal, podem talvez explicar-se por um facto que não foi noticiado e que, constituindo embora a "notícia do século", nunca foi notícia.
Os mais atrevidos, com efeito, atribuem toda esta revoada de pazes a uma descontração do imobilismo soviético, dinossauro que começa a espreguiçar-se e que estaria a ceder nos vários flancos de guerra, desde o Afeganistão a Angola.
Essa actuação descontraída seria, por sua vez, explicada com a Perestroika, produto de exportação inventado para explicar a abertura a novas aberturas, quer se abra ou não se abra (Zita) mesmo, quando tocar o momento da verdade.
Só que ninguém explica a inexplicável Perestroika, porque surgiu ela e de que profunda causa: como pode o imobilismo gerar o movimento?
A vontade de um homem, Gorbachev, quando é toda uma máquina (de guerra) que está em causa e condições materiais profundas de infra-estrutura, não é causa que sirva para explicar a história segundo o materialismo dialéctico, por mais incipiente que seja.
Não é a vontade de "um" homem que modifica toda uma engrenagem.
Daí que alguns mais atrevidos avancem para uma explicação mais plausível, mais de fundo, mais materialista, sendo aí que entra em acção a tal notícia que nunca foi notícia mas que bem pode ser a notícia do século...
Já me referi a ela, nesta crónica, em 19 de Dezembro de 1987.
Nessa notícia, que praticamente passou despercebida na Comunicação Social, referiam-se "36 acidentes em Chernobyl nos últimos 10 meses".
Mas - pergunta-se - que acidentes?
Como é que se deram, no reactor acidentado em 26 de Abril de 1986, trinta e seis acidentes, e só ao trigésimo sexto (e um ano depois ) a URSS decide anunciá-los?
Uma outra coincidência torna o facto ainda mais enigmático: os sucessivos acidentes na central de Tchernobyl só são anunciados na véspera da Cimeira sobre armamento realizada em Washington.
Várias perguntas até hoje sem resposta (evidentemente), se formulavam então nessa crónica. Mais pertinentes hoje do que então, e mais inquietantes, aqui as repetimos, sem peneiras nenhumas de que alguém possa responder:
O silêncio noticioso que se tem mantido sobre Tchernobyl é demasiado fácil para ser verdade.
Há rumores - notícias contraditórias e fragmentadas - de que o processo de fusão do reactor que incendiou em 26 de Abril de 1986 , ainda não se encontra controlado... longe disso.
Se de facto assim fosse, era de tal modo vasto e irreversível o que isso representa em termos de guerra total, final, apocalíptica e "ecológica" que bem se poderia compreender toda a indulgência com que , a partir de então, a URSS tem vindo a deslumbrar o Mundo, soltando todas as jibóias e pombas da paz do pombal soviético.
E uma hipótese. É uma tese. Até se saber tudo sobre Tchernobyl hoje, uma tese e uma hipótese a considerar.
A verdade é que até agora "ninguém confirma nem desmente", como se diz em gíria lusa.
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(*) Seguramente sem este título mas com outro, foi publicado no jornal « A Capital» (Crónica do Planeta Terra), em data que neste momento não posso precisar
Transcrevo (parcialmente) o file a que se refere este texto:

chernobyl-3> os dossiês do silêncio – eco-ecos

A SOMBRA DE CHERNOBYL (*)

19/12/1987 - Com o dólar a descer e a Perestroika a conquistar terreno nas consciências alienadas do burguês ocidental, era urgente encontrar um estampido de tal modo forte que conseguisse abafar, ainda que por dias, aqueles outros estoiros.
E o acontecimento foi a cimeira de Washington, com a qual a Comunicação Social, da China à Patagónia, falou ditirambicamente com todos os super e hiper que é costume guardar para as grandes ocasiões, os chamados "momentos históricos".
De facto, a história é dos que a escrevem - como dizia o outro - e , neste caso, a Comunicação Social vai a reboque do que os super-potentes querem que se escreva deles.
Nunca uma caganifância de 3% foi tão festejada, exaltada, bajulada, amimada.
Houve logo quem visse aí o "novo relâmpago de Damasco" iluminando a humanidade para os amanhãs que cantam, os futuros que riem.
Quanto ao resto dos armamentos que ficam, tirados os 3%, a ver vamos. As superpotências são magnânimas quando se trata de defender os interesses da humanidade e já nos fizeram a esmola destes 3%, convém que não se comece já a ganir por mais. Cada coisa a seu tempo.
É deslumbrante e piramidal que os super-generosos super-grantes, finalmente, acordassem, Depois de um sono tão longo e tão profundo de suas altezas, os súbditos festejam a proeza: suas altezas acordaram e toda a aldeia (planetária), ajoelhando no adro, repica de contentamento.
Mas enquanto os sinos da aldeia ressoam de contentamento pela vitória conseguida pelos super-grandes, os sinos de Chernobyl , desta feita, ficaram completamente abafados.
Tão abafados que, na véspera da Cimeira, uma notícia pequenina e também ela abafada, conseguiu emergir do oceano de retórica podre pró-paz.
A anedota consiste exactamente nisso. Passou praticamente em branco, talvez a notícia mais inquietante do ano, ou desde que Chernobyl nos deixou em estado de choque e de suspense, sem nunca ter ficado esclarecido como é que o problema do reactor danificado tinha sido solucionado.
Secamente, referiam-se 36 acidentes em Chernobyl nos últimos 10 meses.
Que acidentes?
Como é que se deram 36 acidentes e só agora, ao trigésimo sexto, a URSS decide anunciá-los na véspera exactamente da barulheira da Cimeira?
Quer dizer que Chernobyl ainda não está sanado, sarado, parado, exconjurado, controlado? Quer dizer que as radiações, como fonte eterna e inextinguível, continuam à solta sem se saber porquê ou como controlá-las?
Quer dizer que, mais de ano e meio depois da explosão que tornou Chernobyl notícia de terror durante vários meses, ainda não se conseguiu dominar o processo?
Será que a reacção em cadeia ainda não está posta de parte?
Será que ainda não está posta de parte a hipótese novelescamente antecipada dada pela história e pelo filme com o nome de "síndroma da China"?
De um rastilho destes, será que a humanidade só tem direito a uma notícia de rodapé com seis linhas?
Ou estarão os super-dirigentes das super-potências a falar tão alto na Cimeira para, como as crianças, afastar o medo?
Perante a hipótese de Chernobyl ficar como fonte eterna de radiações, talvez este recuo de 3% se possa afinal entender melhor nos motivos que levaram à sua assinatura: se temos a guerra eterna aí já, sem hipótese de retorno, em Chernobyl, porque raio ainda continuariam eles a armazenar arsenais para a guerra efémera?
Deu-se, com este acordo tão rateado, um motivo para a humanidade respirar fundo : aparentemente, começou a exconjurar-se o perigo do holocausto. Na realidade, pode bem ser que ele já se tenha tornado inútil e obsoleto, face ao holocausto sereno das radiações em débito permanente na fonte de Chernobyl.
A pergunta que faz estremecer de medo os covardes como eu é se estas cedências à volta da mesa não derivam daquele foco eterno de radiações que, em Chernobyl, poderá estar a preparar a mortalha definitiva do Planeta e da Humanidade, o reactor nuclear que desde 25 de Abril de 1986 jamais terá conseguido ser dominado.
Que há manobra de distracção somos obrigados a pensá-lo, diante desta notícia que se quis sem importância e diluída no meio da retórica grotesca e brutesca em torno da retumbante Cimeira do Medo.
Aqui está a notícia do ano 1987:
“Uma série de 36 acidentes, três dos quais provocaram vítimas mortais, ocorreu nos últimos 10 meses na central nuclear soviética de Chernobyl, onde um reactor explodiu em Abril último (sic) refere o jornal soviético "Sotsialisticheskaya Industrya", que não refere o número de mortos provocados pelos acidentes fatais.
As medidas de segurança, implementadas em Chernobyl após o rebentamento de um dos reactores da central, não conseguiram evitar que as radiações continuassem a atingir mais pessoas, devido à fraca vigilância e descuidos dos trabalhadores --explica o jornal.
O "Sotsialisticheskaya Industrya" revela, ainda, que três dirigentes comunistas e funcionários da central foram punidos recentemente devido a estes acidentes.”
É de notar que a notícia, além de lacónica e enigmática, ainda vinha com a data do desastre de Chernobyl errada, referindo-a como de Abril último.
Mas isso é de somenos. Pior e para aterrar ainda mais os covardes como eu, uma semana depois vinha esta outra versão que, ao baralhar os dados da primeira, suscita ainda mais perguntas e multiplica as suspeitas de super-mistificação que é de esperar de superpotências em transe nupcial.
Esta a segunda versão da inquietante notícia do ano:
“Cinco acidentes foram registados nos últimos meses na central nuclear de Chernobyl, afirmou quarta-feira Yuri Filimontsev, do Ministério soviético da Energia Atómica. Filimontsev disse em conferência de imprensa que nos últimos 10 meses não se registaram prejuízos provocados por radiações nos arredores da central nuclear, que em 26 de Abril de 1986 sofreu o acidente mais grave da história do uso pacífico da energia atómica.” (10/12/1987 )
Comentário final deste vosso cronista: ???????????????
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(*) Publicado com o título «A Notícia do ano: Que se passa ainda em Chernobyl?”, no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 19/12/1987
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SÍSMICO-NUCLEAR 1979

1-6-sismos-1- temas de fundo – antologia de publicados – temas recorrentes – dossiês proibidos – mein kampf – os guardas do gulag

A ROTINA SÍSMICO NUCLEAR

TERÁ A HUMANIDADE OS MAREMOTOS QUE MERECE? 

8/8/1979 - O bombardeamento atómico de Hiroxima e Nagasaki, há 34 anos, foi mais uma vez “comemorado" (como eles dizem) com as cerimónias da praxe.
O 6 de Agosto tornou-se uma rotina e o relógio de contagem decrescente do Jornal RTP 1 não se esqueceu de mostrar mais esta efeméride com imagens da cidade arrasada e do cogumelo atómico, símbolo da Nova Era iniciada há 34 anos.

Em Tóquio, capital do País que os aliados forçaram a render-se ao primeiro bombardeamento atómico, reuniu-se uma conferência sobre energia nuclear, com uns a defender e outros a atacar, a mostrar pluralismo no Reino do Plutónio. Na cidade propriamente dita (arrasada) de Hiroxima, “guardou-se um minuto de silêncio em memória de 130 mil vítimas" do holocausto nuclear. À razão de um minuto por ano, já lá vão 34 minutos de silêncio.

Mas as grandes potências atómicas não dormem e não iriam consentir que se degradasse, na rotina, triunfo tão magnífico para o género humano: e arranjam sempre maneira de comemorar (elas, sim, comemorar), todos os anos de maneira original, a data tão querida à humanidade e que lhe abriu esta era de prosperidade que é a chamada Era do Plutónio,


Com efeito, foi de maneira  triunfal que três grandes potências atómicas aproveitaram o 6 de Agosto para exibir, neste ano da graça de 1979, o seu poderio e a capacidade exterminadora (civilizadora) das suas bombas. Como podiam tais grandezas ser possíveis, sem a salvadora bomba (pomba) da Paz lançada sobre Hiroxima?

A 4 de Agosto e segundo um telex da ANOP - que apenas conseguimos "caçar" no vespertino «A Nação» (ocupada que a Imprensa anda com questões de fundo muito mais importantes), - eis que a URSS fez mais um rebentamento subterrâneo na sua estância de Semipalatinsk, o tal perímetro onde há 16 anos já rebentaram mais de 2 mil bombas experimentais.
Facto que, evidentemente, não saberíamos  se o observatório sueco de Upsala não estivesse atento e a ANOP não telegrafasse o 8º rebentamento subterrâneo deste ano pela URSS.
Isto, portanto, a 4 de Agosto, horas antes das celebrações nas igrejas de Hiroxima.

A 8 de Agosto, a agência France Press, em telegrama das 16 horas (telegrama que não conseguimos ler nos jornais ), anuncia que os Estados Unidos praticaram o 9º rebentamento deste ano no seu deserto do Nevada, poucas horas depois de Hiroxima estar em celebração da data de Hiroxima.

Mas para haver alguma novidade ainda mais sensacional nestas 48 horas , eis que a França anuncia a 7 de Agosto, ainda com os sinos de Hiroxima a repicar, que também fizera potente rebentamento subterrâneo mas ( oh surpresa!) há umas semanas atrás!
A França antecipara-se nas comemorações de Agosto e decidira, no seu atol da Muroroa, lá para o Pacífico, fazê-la tão pela calada, tão pela calada, que ninguém deu por nada.

+ 7 PONTOS

O curioso desta operação Segredo, não reside só aí. Para já, acodem-nos estas reflexões:
1 - Se a França conseguiu realizar um rebentamento tão potente, sem que nenhum, absolutamente nenhum dos rangentes telexs, sempre tão solícitos, viessem denunciar o feito - estamos ou não estamos num mundo bem informado? 
2 - Se a França, onde uma democracia parlamentar logicamente facilitaria uma fuga (inconfidencial) de informações como esta, consegue manter absoluto e total (itário) segredo de uma bomba, o que não terá sido até hoje e o que não será na URSS onde não há fugas, não há inconfidências, não há descontrole anárquico de segredos de Estado e os canais são muito bem controlados?
3 - A França, aliás, veio dizer leal e honestamente (para celebrar o 6 de Agosto) que rebentara um mês antes. Ou antes: não desmentiu o que foi dito pelo movimento Green Peace. Mas podia, modesta e perfeitamente, ter-se calado. Quem jamais o saberia ou viria a saber?
Quantas calamidades da Natureza não serão devidas a experiências que os cientistas e técnicos  realizam?
4 - A Humanidade, portanto, está optimamente ïnformada.
5 - Mas a França é ainda previdente na sua estratégia informativa sui generis, não dando qualquer tipo de precisão quanto à hora, dia ou sequer semana em que o rebentamento se deu. Deu-se...algures e em tempo indefinido.
6 - Neste ponto e como veremos adiante, a Agência Soviética Tass, consegue um rigor jornalístico muito superior: como veremos adiante, a 7 de Agosto, a Tass anuncia um sismo na fronteira sino-soviética, localizado "temporalmente" com a expressão "esta semana"...
7 - Só os Estados Unidos continuam sem técnica nenhuma de noticiário: fazem o seu rebentamento hoje e vêm logo dizer amanhã que foi às tantas horas, minutos e segundos... Resta saber se foi, mas a gente fica convencido que sim e a verdade é que, 24 horas depois, as ondas sísmicas confirmam que, sim senhor, deve ter havido bomba no Nevada pela certa.

O CIVISMO DA FRANÇA

O apanhado noticioso que a seguir se mostra é  um exemplo de como a informação fundamental sobre este tempo-e-mundo continua a ser um jogo do gato e do rato, um puzzle que se tenta a custo (e quase sempre sem êxito) reconstituir, a partir de fragmentos omissos ou semi-omissos.

Reconstituir o tecido da realidade “sísmico nuclear" é um exemplo entre muitos: mas, como tal, indica-nos a extensão do problema informativo em determinadas áreas do fenómeno Tecno-Internacional.

Mesmo quando aparecem, escamoteadas e raras, algumas notícias , ninguém evidentemente se dá ao cuidado de ligar  umas nas outras, de forma a perceber nelas a relação de causa e efeito. A que existe, por exemplo, entre Bombas e Sismos. Pelo que, mesmo havendo notícias, não há informação, quer dizer, um entendimento coerente e inter-causal do tecido da realidade. Dos factos entre si.
As potências e as agências noticiosas sabem isto, sabem muito bem que memória de formiga tem a humanidade, tem o leitor (distraído) dos jornais.Ao anunciar o rebentamento na Muroroa um mês depois,demonstrou-o.
Quem , um mês depois, se iria lembrar que um mês antes, três aldeias indonésias foram "engolidas" pelo mar, num fenómeno colossal que uns telexes traduziram para maremoto e outros para maré-viva, perplexidade que desde logo dava a entender que ninguém (num mundo de tantos especialistas e cientistas ) sabia o que se estava a passar.
E o que se estava a passar, pura e simplesmente, era o rebentamento da bomba francesa, mesmo ali ao lado nas pacíficas ilhas. Mas de tal maneira em segredo, que ninguém iria relacionar. Note-se que se a notícia do rebentamento veio um mês e tal depois, as notícias referentes ao maremoto da Indonésia eram igualmente difusas e confusas quanto ao dia e hora em que o facto acontecera.
Vagamente, só se sabia que o facto fora noticiado muitos dias depois de acontecer.

A MALVADA NATUREZA

E foi, mais uma vez, a brutal, violenta, odiosa, malvada Natureza que arcou com as culpas todas do maremoto.
A potência atómica, entretanto, anuncia o triunfo um mês depois e já todos , incluindo jornalistas, se esqueceram das três aldeias engolidas pelo mar.
Viva a Informação, abaixo a Natureza.
Quanto aos triunfos do mês de Agosto, e antes que se reproduza a seguir o molho de notícias que andámos a "pescar" para conseguir extrair um grãozinho da realidade factual, dois fenómenos devem no entanto ser já assinalados :
Calhando o 6 de Agosto , este ano de 1979, quase em cima da Lua Cheia (que foi dia 8), digamos que os cientistas que aconselham os militares a marcar a data dos rebentamentos, foram prevenidos: se é certo que não previram a erupção do Etna, eles sabiam no entanto que uma tempestade solar, prevista há meses, se estava a formar para eclodir próximo destas datas; e sabiam que fazendo um enorme alarido da dita superactividade solar, não só era mais uma maneira de esmagar as mini-notícias dos rebentamentos e consequentes sismos, como ainda por cima arranjavam um alibi  para explicar tudo:
a) O maremoto da Indonésia (provocado pela bomba francesa)
b) A erupção do Etna (activada pela bomba soviética)
c) O terremoto de S. Francisco, a 7 (obviamente provocado pela bomba americana no Nevada);
d) Enfim, toda a onda sísmica que, em cima da Lua Cheia, dois rebentamentos quase simultâneos, um no Nevada e outro na Sibéria do Sul, tinham fatalmente que provocar,
Por isso, meses antes, os telexes já andavam a falar da superactividade solar!


4 - 8 DE AGOSTO DE 1979: ALGUNS FACTOS

E agora, a panóplia de telegramas que conseguimos apurar na vala comum que é a informação ecológica fundamental no seio da Grande Informação.

 (Ver Correio da Manhã, 25.6-79, o  artigo intitulado «BOMBA (DE SANTO ANTONIO) E SISMOS», Ldª)
À parte uma pequena ocorrência, entre 29 de Junho e 2 de Julho (Versemanário «Edição Especial», 8.7.79), um sismo no Panamá provocado por uma explosão no Nevada, há dois meses não havia nada de violento.
As potências atómicas parecem ter feito  férias (repartidas) de Verão, tendo recomeçado dois meses depois e em força, naturalmente para "comemorar" o 6 de Agosto, 34° aniversário da vitória aliada .

Se nos dermos ao trabalho e juntarmos num molhinho as notícias colhidas daqui e dacolá, dias 6, 7 e 8 de Agosto  obtemos confirmação da rotina sísmico-nuclear .

Conforme notícia da ANOP, que lemos no vespertino “A Nação” do dia 4 de Agosto, a URSS teria cometido mais um rebentamento subterrâneo no célebre perímetro de Semipalatinsk, conforme notícia chapa já tão familiar ao cocabichinhos do terror sísmico-nuclear.
O laboratório sueco de Upsala foi quem desta vez deu pelo rebentamento.

Dia 6, ao fim da tarde, segundo o “Diário de Noticias” do dia 7, " a costa jugoslava ao sul do Adriático fora abalada por um forte tremor de terra, tendo sido as cidades medievais de Kotor e Budva, já fortemente danificadas pelo sismo de Abril passado, dois dos pontos em que se verificou maior intensidade sísmica."
Vinte e quatro horas depois, começam a chegar os telexs no seu estilo telegráfico, objectivo, indiferente. A informação deve ser neutral... Quer dizer, como se os sismos não tivessem ligação uns com os outros e não constituíssem ondas do mesmo epicentro - a causa "bomba subterrânea" de que são mais que óbvio efeito.

Dia 7, muito cedo e segundo a Reuter, "arranha-céus tremeram, comboios pararam e os PBX da Polícia receberam inúmeras chamadas telefónicas quando o mais violento terramoto a assolar o Norte da Califórnia, há 68 anos, sacudiu a área de S. Francisco."
E como S. Francisco não é propriamente uma aldeia indonésia, a notícia foi telegrafada e (vá lá) houve ainda um jornal da tarde, o “Diário Popular”, que a publicou.

Mas mais explícito e alargado era a molho noticioso fornecido, no dia seguinte.
Em 1ª página, pelo “Diário de Notícias”, que reproduzia a notícia da Reuter sobre S. Francisco mas acrescentava mais alguns pontos atingidos pela onda sísmica que entretanto fora alastrando no tal espaço já clássico das 48 horas:
" Entretanto "- dizia o “Diário de Noticias” do dia 8 - " o Governo do Japão declarou uma vasta área do centro do país como zona de perigo, após alguns sismologistas terem afirmado que um violento abalo de terra, com um grau aproximado de cerca de 8 graus na escala de Richter, poderia ocorrer a qualquer momento."


A TASS QUEBRA O GELO

Mas a maior novidade neste interessante molho do “Diário de Notícias”, são as seis linhas finais, em que “ a agência Tass anuncia também um tremor de terra sentido «esta semana na fronteira» sino-soviética, perto da cidade de Kapakul.”

Dizer-se "esta semana" em jornalismo diário é qualquer coisa de inédito nos anais do jornalismo .
Mas dizer-se "na fronteira sino-soviética", para especificar o local, - numa fronteira que atravessa o maior continente do mundo, num total de milhares ou mesmo milhões de quilómetros - merece o prémio Nobel .

Diga-se que a zona dos rebentamentos - onde há 16 anos a URSS prossegue as suas experiências com bombas subterrâneas - , o perímetro de Semipalatinsk, fica perto da fronteira sino-soviética , lá isso fica, quer dizer, na Kirguizia, onde repousa (?) o conhecido lago Balkash dos Cossacos, a cidade de Alma-Ata, várias vezes atingida por sismos, o célebre centro científico-siberiano de Novosibirsk (tantas vezes elogiado nos artigos da Novosty) com o lago Baikal mais para Leste, tudo isto contornando a fronteira sino-soviética que nunca mais acaba.
"Que o sismo não fez vítimas" - sublinha a Tass. No deserto gelado da Sibéria, de facto, a não ser alguma rena pré-histórica vítima de comoção sísmico cerebral, não vemos grande hipótese de haver vítimas.

Quem, ao noticiar um sismo, diz "esta semana" como podia dizer "este mês" ou "este ano", deve com certeza andar a ensinar um novo jornalismo.

 E quando há sismo, o jornalista pergunta: de quem terá sido a explosão? França, Estados Unidos ou URSS?E quando há explosão, pergunta logo " Onde vai ser o sismo"?


8/Agosto/1979
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(*) Publicado no semanário « Voz do Povo», 30/8/1979