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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-08-06

CHERNOBYL 1988

chernobyl-5> os dossiês do silêncio – publicado ac de 1988 – tese de 5 estrelas

A DATA CAPICUA (*)

8/8/1988 - As "ameaças de paz" que invadiram o mundo, nas últimas semanas e que culminaram na data-capicua de 8.8.88, como frisava no dia a TSF-Rádio Jornal, podem talvez explicar-se por um facto que não foi noticiado e que, constituindo embora a "notícia do século", nunca foi notícia.
Os mais atrevidos, com efeito, atribuem toda esta revoada de pazes a uma descontração do imobilismo soviético, dinossauro que começa a espreguiçar-se e que estaria a ceder nos vários flancos de guerra, desde o Afeganistão a Angola.
Essa actuação descontraída seria, por sua vez, explicada com a Perestroika, produto de exportação inventado para explicar a abertura a novas aberturas, quer se abra ou não se abra (Zita) mesmo, quando tocar o momento da verdade.
Só que ninguém explica a inexplicável Perestroika, porque surgiu ela e de que profunda causa: como pode o imobilismo gerar o movimento?
A vontade de um homem, Gorbachev, quando é toda uma máquina (de guerra) que está em causa e condições materiais profundas de infra-estrutura, não é causa que sirva para explicar a história segundo o materialismo dialéctico, por mais incipiente que seja.
Não é a vontade de "um" homem que modifica toda uma engrenagem.
Daí que alguns mais atrevidos avancem para uma explicação mais plausível, mais de fundo, mais materialista, sendo aí que entra em acção a tal notícia que nunca foi notícia mas que bem pode ser a notícia do século...
Já me referi a ela, nesta crónica, em 19 de Dezembro de 1987.
Nessa notícia, que praticamente passou despercebida na Comunicação Social, referiam-se "36 acidentes em Chernobyl nos últimos 10 meses".
Mas - pergunta-se - que acidentes?
Como é que se deram, no reactor acidentado em 26 de Abril de 1986, trinta e seis acidentes, e só ao trigésimo sexto (e um ano depois ) a URSS decide anunciá-los?
Uma outra coincidência torna o facto ainda mais enigmático: os sucessivos acidentes na central de Tchernobyl só são anunciados na véspera da Cimeira sobre armamento realizada em Washington.
Várias perguntas até hoje sem resposta (evidentemente), se formulavam então nessa crónica. Mais pertinentes hoje do que então, e mais inquietantes, aqui as repetimos, sem peneiras nenhumas de que alguém possa responder:
O silêncio noticioso que se tem mantido sobre Tchernobyl é demasiado fácil para ser verdade.
Há rumores - notícias contraditórias e fragmentadas - de que o processo de fusão do reactor que incendiou em 26 de Abril de 1986 , ainda não se encontra controlado... longe disso.
Se de facto assim fosse, era de tal modo vasto e irreversível o que isso representa em termos de guerra total, final, apocalíptica e "ecológica" que bem se poderia compreender toda a indulgência com que , a partir de então, a URSS tem vindo a deslumbrar o Mundo, soltando todas as jibóias e pombas da paz do pombal soviético.
E uma hipótese. É uma tese. Até se saber tudo sobre Tchernobyl hoje, uma tese e uma hipótese a considerar.
A verdade é que até agora "ninguém confirma nem desmente", como se diz em gíria lusa.
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(*) Seguramente sem este título mas com outro, foi publicado no jornal « A Capital» (Crónica do Planeta Terra), em data que neste momento não posso precisar
Transcrevo (parcialmente) o file a que se refere este texto:

chernobyl-3> os dossiês do silêncio – eco-ecos

A SOMBRA DE CHERNOBYL (*)

19/12/1987 - Com o dólar a descer e a Perestroika a conquistar terreno nas consciências alienadas do burguês ocidental, era urgente encontrar um estampido de tal modo forte que conseguisse abafar, ainda que por dias, aqueles outros estoiros.
E o acontecimento foi a cimeira de Washington, com a qual a Comunicação Social, da China à Patagónia, falou ditirambicamente com todos os super e hiper que é costume guardar para as grandes ocasiões, os chamados "momentos históricos".
De facto, a história é dos que a escrevem - como dizia o outro - e , neste caso, a Comunicação Social vai a reboque do que os super-potentes querem que se escreva deles.
Nunca uma caganifância de 3% foi tão festejada, exaltada, bajulada, amimada.
Houve logo quem visse aí o "novo relâmpago de Damasco" iluminando a humanidade para os amanhãs que cantam, os futuros que riem.
Quanto ao resto dos armamentos que ficam, tirados os 3%, a ver vamos. As superpotências são magnânimas quando se trata de defender os interesses da humanidade e já nos fizeram a esmola destes 3%, convém que não se comece já a ganir por mais. Cada coisa a seu tempo.
É deslumbrante e piramidal que os super-generosos super-grantes, finalmente, acordassem, Depois de um sono tão longo e tão profundo de suas altezas, os súbditos festejam a proeza: suas altezas acordaram e toda a aldeia (planetária), ajoelhando no adro, repica de contentamento.
Mas enquanto os sinos da aldeia ressoam de contentamento pela vitória conseguida pelos super-grandes, os sinos de Chernobyl , desta feita, ficaram completamente abafados.
Tão abafados que, na véspera da Cimeira, uma notícia pequenina e também ela abafada, conseguiu emergir do oceano de retórica podre pró-paz.
A anedota consiste exactamente nisso. Passou praticamente em branco, talvez a notícia mais inquietante do ano, ou desde que Chernobyl nos deixou em estado de choque e de suspense, sem nunca ter ficado esclarecido como é que o problema do reactor danificado tinha sido solucionado.
Secamente, referiam-se 36 acidentes em Chernobyl nos últimos 10 meses.
Que acidentes?
Como é que se deram 36 acidentes e só agora, ao trigésimo sexto, a URSS decide anunciá-los na véspera exactamente da barulheira da Cimeira?
Quer dizer que Chernobyl ainda não está sanado, sarado, parado, exconjurado, controlado? Quer dizer que as radiações, como fonte eterna e inextinguível, continuam à solta sem se saber porquê ou como controlá-las?
Quer dizer que, mais de ano e meio depois da explosão que tornou Chernobyl notícia de terror durante vários meses, ainda não se conseguiu dominar o processo?
Será que a reacção em cadeia ainda não está posta de parte?
Será que ainda não está posta de parte a hipótese novelescamente antecipada dada pela história e pelo filme com o nome de "síndroma da China"?
De um rastilho destes, será que a humanidade só tem direito a uma notícia de rodapé com seis linhas?
Ou estarão os super-dirigentes das super-potências a falar tão alto na Cimeira para, como as crianças, afastar o medo?
Perante a hipótese de Chernobyl ficar como fonte eterna de radiações, talvez este recuo de 3% se possa afinal entender melhor nos motivos que levaram à sua assinatura: se temos a guerra eterna aí já, sem hipótese de retorno, em Chernobyl, porque raio ainda continuariam eles a armazenar arsenais para a guerra efémera?
Deu-se, com este acordo tão rateado, um motivo para a humanidade respirar fundo : aparentemente, começou a exconjurar-se o perigo do holocausto. Na realidade, pode bem ser que ele já se tenha tornado inútil e obsoleto, face ao holocausto sereno das radiações em débito permanente na fonte de Chernobyl.
A pergunta que faz estremecer de medo os covardes como eu é se estas cedências à volta da mesa não derivam daquele foco eterno de radiações que, em Chernobyl, poderá estar a preparar a mortalha definitiva do Planeta e da Humanidade, o reactor nuclear que desde 25 de Abril de 1986 jamais terá conseguido ser dominado.
Que há manobra de distracção somos obrigados a pensá-lo, diante desta notícia que se quis sem importância e diluída no meio da retórica grotesca e brutesca em torno da retumbante Cimeira do Medo.
Aqui está a notícia do ano 1987:
“Uma série de 36 acidentes, três dos quais provocaram vítimas mortais, ocorreu nos últimos 10 meses na central nuclear soviética de Chernobyl, onde um reactor explodiu em Abril último (sic) refere o jornal soviético "Sotsialisticheskaya Industrya", que não refere o número de mortos provocados pelos acidentes fatais.
As medidas de segurança, implementadas em Chernobyl após o rebentamento de um dos reactores da central, não conseguiram evitar que as radiações continuassem a atingir mais pessoas, devido à fraca vigilância e descuidos dos trabalhadores --explica o jornal.
O "Sotsialisticheskaya Industrya" revela, ainda, que três dirigentes comunistas e funcionários da central foram punidos recentemente devido a estes acidentes.”
É de notar que a notícia, além de lacónica e enigmática, ainda vinha com a data do desastre de Chernobyl errada, referindo-a como de Abril último.
Mas isso é de somenos. Pior e para aterrar ainda mais os covardes como eu, uma semana depois vinha esta outra versão que, ao baralhar os dados da primeira, suscita ainda mais perguntas e multiplica as suspeitas de super-mistificação que é de esperar de superpotências em transe nupcial.
Esta a segunda versão da inquietante notícia do ano:
“Cinco acidentes foram registados nos últimos meses na central nuclear de Chernobyl, afirmou quarta-feira Yuri Filimontsev, do Ministério soviético da Energia Atómica. Filimontsev disse em conferência de imprensa que nos últimos 10 meses não se registaram prejuízos provocados por radiações nos arredores da central nuclear, que em 26 de Abril de 1986 sofreu o acidente mais grave da história do uso pacífico da energia atómica.” (10/12/1987 )
Comentário final deste vosso cronista: ???????????????
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(*) Publicado com o título «A Notícia do ano: Que se passa ainda em Chernobyl?”, no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 19/12/1987
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