POVO 1980
1-2- 80-08-06-ie-ecc-gg> = ecos da capoeira = guardas do gulag quinta-feira, 2 de Janeiro de 2003-scan
A INGERÊNCIA DOS TÉCNICOS NOS NEGÓCIOS DO POVO(*)
[6-8-1980]
Ao invocar uma lei canadiana que proíbe os voos supersónicos por cima do território nacional, o ministro canadiano dos transportes acaba de praticar (6.8.1980) uma grave ingerência nos negócios internos de dois poderosos países, a França e a Grã Bretanha,
já que são, respectivamente, a "Air France'' e a "British Airways" que o ministro canadiano desafia ao exigir que estas companhias modifiquem as suas rotas aéreas, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Escócia e Terra Nova - cujos habitantes se queixam, há anos, do "bang" incomodativo do "Concorde" sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos.
Enfim, a comissão de inquérito foi criada, devido às pressões dos habitantes destas remotas províncias do civilizado Canadá, e o ministro canadiano não teve mais remédio que agir.
Agiu, mas interferiu nos negócios internos da França e da Grã Bretanha, o que vai com certeza dar um "affaire" diplomático de envergadura. De gritos supersónicos.
Nada disto teria acontecido e tudo teria ficado na melhor ordem internacional, se o ministro canadiano dos transportes tivesse seguido à risca a advertência solene já por várias vezes feita, em Portugal, sobre a grave ingerência nos negócios internos da vizinha Espanha que representaria, representou ou representa toda e qualquer manifestação dos habitantes portugueses relativamente ao incómodo "bang" de três centrais nucleares na fronteira com a Espanha.
Desde a Comissão Nacional do Ambiente, à Secretaria de Estado do mesmo ambiente, passando pelo deputado Sousa Marques, do PCP, na Assembleia da República, (Janeiro de 1980 ) por um edital de "O Diário" (5 de Setembro de 1979) e por vários artigos de engenheiros e doutores, como o Dr. Fernandes Forte e eng. Frederico de Carvalho (ou vice-versa) tem sido esta a cantiga com que se pretende embalar o povo português e calar os protestos contra a prepotência de três centrais nucleares despejando água quente para o Tejo, o Douro e o Guadiana, fora o resto, radioactividade incluída.
Para estes beneméritos, peritos e técnicos, - que abrangem todas as cores do leque político, graças a Deus, a Marx e a Nossa Senhora de Fátima, - as manifestações de protesto quer das autarquias, quer da União dos Sindicatos de Beja, quer da COLBA (União das Cooperativas Livres do Baixo Alentejo), ocorridas em Agosto/Setembro do ano passado, estariam a concorrer, perigosamente, para um grave conflito diplomático com os queridos "hermanos".
Comer (radioactivo) e calar, foi por todos eles, nuclearistas, advogado. A lei é sempre invocada quando a moca da violência (neste caso a violência nuclear) está apontada ao coração do povo. A serenidade é sempre badalada por estes santos engenheiros da paz atómica, todos progressistas graças a Deus, todos democratas, todos cumpridores da moral e respeitadores dos direitos do homem.
Lá pela Nova Escócia e pela Terra Nova, não há só bacalhau.
Há gente tesa que resolveu queixar-se, quer o seu protesto venha ou não a ser considerado pelos guardiões da ordem atómico-podre, ingerência nos negócios dos outros.
E quando se atira com um "bang" supersónico sobre uma população, não há ingerência?
E quando se colocam três centrais nucleares ao pé das populações, para as matar, será ingerência nos negócios de quem?
Porque não se demitem estes senhores defensores do povo e não vão caçar gambuzinos?
Porque teimam ingerir-se fatidicamente nos negócios do povo que só ao povo incumbe tratar? E à sua maneira. Prouvera a Deus que à Mocada, Minha Nossa Senhora da Não Violência Pacifica!
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas da série «guardas do gulag», deve ter ficado inédito mas valeu a pena ser escrito
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A INGERÊNCIA DOS TÉCNICOS NOS NEGÓCIOS DO POVO(*)
[6-8-1980]
Ao invocar uma lei canadiana que proíbe os voos supersónicos por cima do território nacional, o ministro canadiano dos transportes acaba de praticar (6.8.1980) uma grave ingerência nos negócios internos de dois poderosos países, a França e a Grã Bretanha,
já que são, respectivamente, a "Air France'' e a "British Airways" que o ministro canadiano desafia ao exigir que estas companhias modifiquem as suas rotas aéreas, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Escócia e Terra Nova - cujos habitantes se queixam, há anos, do "bang" incomodativo do "Concorde" sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos.
Enfim, a comissão de inquérito foi criada, devido às pressões dos habitantes destas remotas províncias do civilizado Canadá, e o ministro canadiano não teve mais remédio que agir.
Agiu, mas interferiu nos negócios internos da França e da Grã Bretanha, o que vai com certeza dar um "affaire" diplomático de envergadura. De gritos supersónicos.
Nada disto teria acontecido e tudo teria ficado na melhor ordem internacional, se o ministro canadiano dos transportes tivesse seguido à risca a advertência solene já por várias vezes feita, em Portugal, sobre a grave ingerência nos negócios internos da vizinha Espanha que representaria, representou ou representa toda e qualquer manifestação dos habitantes portugueses relativamente ao incómodo "bang" de três centrais nucleares na fronteira com a Espanha.
Desde a Comissão Nacional do Ambiente, à Secretaria de Estado do mesmo ambiente, passando pelo deputado Sousa Marques, do PCP, na Assembleia da República, (Janeiro de 1980 ) por um edital de "O Diário" (5 de Setembro de 1979) e por vários artigos de engenheiros e doutores, como o Dr. Fernandes Forte e eng. Frederico de Carvalho (ou vice-versa) tem sido esta a cantiga com que se pretende embalar o povo português e calar os protestos contra a prepotência de três centrais nucleares despejando água quente para o Tejo, o Douro e o Guadiana, fora o resto, radioactividade incluída.
Para estes beneméritos, peritos e técnicos, - que abrangem todas as cores do leque político, graças a Deus, a Marx e a Nossa Senhora de Fátima, - as manifestações de protesto quer das autarquias, quer da União dos Sindicatos de Beja, quer da COLBA (União das Cooperativas Livres do Baixo Alentejo), ocorridas em Agosto/Setembro do ano passado, estariam a concorrer, perigosamente, para um grave conflito diplomático com os queridos "hermanos".
Comer (radioactivo) e calar, foi por todos eles, nuclearistas, advogado. A lei é sempre invocada quando a moca da violência (neste caso a violência nuclear) está apontada ao coração do povo. A serenidade é sempre badalada por estes santos engenheiros da paz atómica, todos progressistas graças a Deus, todos democratas, todos cumpridores da moral e respeitadores dos direitos do homem.
Lá pela Nova Escócia e pela Terra Nova, não há só bacalhau.
Há gente tesa que resolveu queixar-se, quer o seu protesto venha ou não a ser considerado pelos guardiões da ordem atómico-podre, ingerência nos negócios dos outros.
E quando se atira com um "bang" supersónico sobre uma população, não há ingerência?
E quando se colocam três centrais nucleares ao pé das populações, para as matar, será ingerência nos negócios de quem?
Porque não se demitem estes senhores defensores do povo e não vão caçar gambuzinos?
Porque teimam ingerir-se fatidicamente nos negócios do povo que só ao povo incumbe tratar? E à sua maneira. Prouvera a Deus que à Mocada, Minha Nossa Senhora da Não Violência Pacifica!
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas da série «guardas do gulag», deve ter ficado inédito mas valeu a pena ser escrito
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