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2006-08-04

DESRAZÕES 1992

4828 caracteres -romeu-5>ficionar> a transpor - os irracionais da razão – memórias sem memória

ERRÂNCIAS DA RAZÃO

8/3/1992 - [Esta carta traduz fundamentalmente o meu mal-estar, o meu nervosismo, face à tese predilecta do Romeu de Melo sobre os «grandes homens», tese ou teoria que o dominou completamente e que ele sentia aplicada a si próprio, dada a Alta estima em que se tinha: sentindo eu por mim próprio exactamente o contrário - uma pouca ou nenhuma estima, os meus confrontos com o Romeu de Melo tinham sempre rasgos e dramatismo existenciais

[Esta carta, eventualmente a transpor em ficção, é um tanto híbrida quanto a tais potencialidades ficcionáveis, com linhas muito concretas de diário-ele-mesmo e outras perfeitamente integráveis em uma grelha de ficção; como carta a Romeu de Melo, a ironia é por vezes um tanto pesada e só pode compreender-se pelo à vontade que existia entre nós dois, herança do tempo em que fomos colegas de carteira na escola]

Porto, 4/8/1959 - Regista: sou socrático e não aristotélico. Aristóteles produziu abortos. Sócrates provocou partos. Entre um aborto e a Maiêutica vai um espaço que não consinto [??] seja omitido.

Continuo polémico e tu peripatético, continuo heurístico e tu analítico. Dedicaste 5 folhas (10 páginas!) a uma meia página minha. Ai a fecundidade das hipóteses, da polémica! Sempre fui um provocador. Não consta isso de Aristóteles. Pelo princípio da identidade também não morro de amores (ao contrário do que afirmas mas logo a seguir infirmas, surpreendendo várias contradições no meu curto texto - e tu, sim, neste ponto, em aristotélica contradiçãozinha...).
Eu jogo às palavras, tu jogas às ideias.

Tu, o estatístico, segues a Análise - porque cais assim tão facilmente na contradição? [ era o tempo em que eu, sob a influência de Chestov, defendia encarniçadamente o direito à contradição como um direito fundamental do Homem] Gosto, com efeito, de marchar em declive - «no talvegue de sombra», diz algures uma página de um diário esquecido.
Mas, embora a conhecesse, desconhecia a fórmula, pelo que se prova que a existência precede a essência - claro! meu mefistofélico-metafísico- essencialista! O Parténon continua a empurrar com eles para a tumba, a embalsamar criaturas vivas (que podiam viver), a enterrar a imaginação.[ este ódio ao panhelenismo era mesmo a sério e tinha carradas de «razão» nele] O Parténon - panteão dos célebres mortos-vivos, deuses e subdeuses do Olimpo contemporâneo, da hedionda mitologia contemporânea.
Não demonstro nada, não quero demonstrar nada - ou achas-me com cara de demonstração?

Psicanalise-se o Einstein: vê-lo-eis aflitíssimo, nas noites altas, com alguma crise ou desvio de hormonas... Os grandes nadas dos grandes homens, meu Caro Grande Homem. Por baixo, igualam-se todos. E daí é que é vê-los.

Lá os verei a todos. Antes destilarás tu e os teus manos de leite o ódiozinho ao «Mórbus», que por sinal já se não chama «Mórbus». Só para desnortear os menininhos de calção à maruja, já se não chama «Sânscrito». Chama-se agora «Prova de Fogo», até nova ordem...
Sem ordem nenhuma, abandonei o encargo de ler os jovens prodígios e de falar deles. E talvez poucas vezes mais me voltarão a ver escrever em jornais. [???]

Agora a escrita far-se-á por livro. Aí o terás, antes de Outubro. Anota os títulos dos seguintes: «História, Futuro, Modernidade» (ensaio); «Greve geral» - diário ( 1955-1959).

«Impingir tiradas» - isso também é literalmente contigo. [ até que enfim tenho razão] Meia folha (minha) contra 10 páginas (tuas) - acho que não é impingir, é ser impingido.
Centenas de folhas (do «AK» aos «Quatro ventos»), que eu li com largo prazer, aliás, contra a meia dúzia que leste minhas - será impingir-te tiradas? Ou não haverá aí uma outra, leve, contradiçãozinha? Sobre isso de felicidade, hás-de informar-me se é bicho que morda, se é flor que se cheire, se é fruto que se coma ou ... Não conheço animal, nada nem ninguém com esse nome.
Deixa as folhas da estatística em férias (ou envia-as ao crítico, que deve necessitar delas quando for submetido à «Prova de Fogo»).
Até sempre, até nunca, até pouco mais ou menos anteontem,
Afonso Cautela.
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