COMPUTADOR 1969
69-08-07-di> quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002-scan
OS COMPUTADORES AO ALCANCE DO CRÍTICO(*)
7/Agosto/1969
1.
Quando os computadores estiverem ao alcance do crítico, temos esperança de que a localização de um poeta se tornará prática e eficiente. O número de palavras predominantes dará dele um retrato preciso. E ao crítico resta o que já devia ser hoje a sua missão exclusiva: inter-relacionar tendências e descobrir constantes ao longo de uma produção heterogénea mas, sem consciência disso, colectiva: no mesmo tempo e no mesmo espaço.
2.
Já para o poeta os computadores não se afiguram de tanto préstimo Contra o que os experimentalistas doutrinaram, o poeta como sujeito continua a ser mais importante do que a poesia como objecto (embora as correntes experimentalistas e formalistas digam que não).
E mais importante ainda quando a tendência da tecnologia for para substituir o homem pelo computador.. Nessa altura, torna-se indispensável o poeta, único agente capaz de dar às palavras o específico da espécie humana: emoções, sensibilidade, imaginação.
Preconiza-se mesmo, face à invasão tecnológica, um novo romantismo (Henri Lefèbvre tem-no teorizado) de que já se avistam sinais interessantes.
3.
Enquanto não for inventado o "competentómetro", a crítica é a actividade mais amadorística e ingrata que há. Pressupõe garantias que não tem e instrumentos de análise que não existem. Por isso a crítica à crítica se torna um expediente fácil, dolorosamente fácil.
O que por enquanto existe - os testes de inteligência, por exemplo - não é um instrumento de análise e de juízo mas um insulto
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(*) Este texto de Afonso Cautela, que deverá ter ficado inédito, pertence à série manuscrita dos anos 1969, 70 e 71, que deve ter sido contemporânea da aventura chamada «Jornal da Crítica», no jornal «República»
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OS COMPUTADORES AO ALCANCE DO CRÍTICO(*)
7/Agosto/1969
1.
Quando os computadores estiverem ao alcance do crítico, temos esperança de que a localização de um poeta se tornará prática e eficiente. O número de palavras predominantes dará dele um retrato preciso. E ao crítico resta o que já devia ser hoje a sua missão exclusiva: inter-relacionar tendências e descobrir constantes ao longo de uma produção heterogénea mas, sem consciência disso, colectiva: no mesmo tempo e no mesmo espaço.
2.
Já para o poeta os computadores não se afiguram de tanto préstimo Contra o que os experimentalistas doutrinaram, o poeta como sujeito continua a ser mais importante do que a poesia como objecto (embora as correntes experimentalistas e formalistas digam que não).
E mais importante ainda quando a tendência da tecnologia for para substituir o homem pelo computador.. Nessa altura, torna-se indispensável o poeta, único agente capaz de dar às palavras o específico da espécie humana: emoções, sensibilidade, imaginação.
Preconiza-se mesmo, face à invasão tecnológica, um novo romantismo (Henri Lefèbvre tem-no teorizado) de que já se avistam sinais interessantes.
3.
Enquanto não for inventado o "competentómetro", a crítica é a actividade mais amadorística e ingrata que há. Pressupõe garantias que não tem e instrumentos de análise que não existem. Por isso a crítica à crítica se torna um expediente fácil, dolorosamente fácil.
O que por enquanto existe - os testes de inteligência, por exemplo - não é um instrumento de análise e de juízo mas um insulto
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(*) Este texto de Afonso Cautela, que deverá ter ficado inédito, pertence à série manuscrita dos anos 1969, 70 e 71, que deve ter sido contemporânea da aventura chamada «Jornal da Crítica», no jornal «República»
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