SÍSMICO-NUCLEAR 1979
1-6-sismos-1- temas de fundo – antologia de publicados – temas recorrentes – dossiês proibidos – mein kampf – os guardas do gulag
8/8/1979 - O bombardeamento atómico de Hiroxima e Nagasaki, há 34 anos, foi mais uma vez “comemorado" (como eles dizem) com as cerimónias da praxe.
O 6 de Agosto tornou-se uma rotina e o relógio de contagem decrescente do Jornal RTP 1 não se esqueceu de mostrar mais esta efeméride com imagens da cidade arrasada e do cogumelo atómico, símbolo da Nova Era iniciada há 34 anos.
Em Tóquio, capital do País que os aliados forçaram a render-se ao primeiro bombardeamento atómico, reuniu-se uma conferência sobre energia nuclear, com uns a defender e outros a atacar, a mostrar pluralismo no Reino do Plutónio. Na cidade propriamente dita (arrasada) de Hiroxima, “guardou-se um minuto de silêncio em memória de 130 mil vítimas" do holocausto nuclear. À razão de um minuto por ano, já lá vão 34 minutos de silêncio.
Mas as grandes potências atómicas não dormem e não iriam consentir que se degradasse, na rotina, triunfo tão magnífico para o género humano: e arranjam sempre maneira de comemorar (elas, sim, comemorar), todos os anos de maneira original, a data tão querida à humanidade e que lhe abriu esta era de prosperidade que é a chamada Era do Plutónio,
Com efeito, foi de maneira triunfal que três grandes potências atómicas aproveitaram o 6 de Agosto para exibir, neste ano da graça de 1979, o seu poderio e a capacidade exterminadora (civilizadora) das suas bombas. Como podiam tais grandezas ser possíveis, sem a salvadora bomba (pomba) da Paz lançada sobre Hiroxima?
A 4 de Agosto e segundo um telex da ANOP - que apenas conseguimos "caçar" no vespertino «A Nação» (ocupada que a Imprensa anda com questões de fundo muito mais importantes), - eis que a URSS fez mais um rebentamento subterrâneo na sua estância de Semipalatinsk, o tal perímetro onde há 16 anos já rebentaram mais de 2 mil bombas experimentais.
Facto que, evidentemente, não saberíamos se o observatório sueco de Upsala não estivesse atento e a ANOP não telegrafasse o 8º rebentamento subterrâneo deste ano pela URSS.
Isto, portanto, a 4 de Agosto, horas antes das celebrações nas igrejas de Hiroxima.
A 8 de Agosto, a agência France Press, em telegrama das 16 horas (telegrama que não conseguimos ler nos jornais ), anuncia que os Estados Unidos praticaram o 9º rebentamento deste ano no seu deserto do Nevada, poucas horas depois de Hiroxima estar em celebração da data de Hiroxima.
Mas para haver alguma novidade ainda mais sensacional nestas 48 horas , eis que a França anuncia a 7 de Agosto, ainda com os sinos de Hiroxima a repicar, que também fizera potente rebentamento subterrâneo mas ( oh surpresa!) há umas semanas atrás!
A França antecipara-se nas comemorações de Agosto e decidira, no seu atol da Muroroa, lá para o Pacífico, fazê-la tão pela calada, tão pela calada, que ninguém deu por nada.
+ 7 PONTOS
O curioso desta operação Segredo, não reside só aí. Para já, acodem-nos estas reflexões:
1 - Se a França conseguiu realizar um rebentamento tão potente, sem que nenhum, absolutamente nenhum dos rangentes telexs, sempre tão solícitos, viessem denunciar o feito - estamos ou não estamos num mundo bem informado?
2 - Se a França, onde uma democracia parlamentar logicamente facilitaria uma fuga (inconfidencial) de informações como esta, consegue manter absoluto e total (itário) segredo de uma bomba, o que não terá sido até hoje e o que não será na URSS onde não há fugas, não há inconfidências, não há descontrole anárquico de segredos de Estado e os canais são muito bem controlados?
3 - A França, aliás, veio dizer leal e honestamente (para celebrar o 6 de Agosto) que rebentara um mês antes. Ou antes: não desmentiu o que foi dito pelo movimento Green Peace. Mas podia, modesta e perfeitamente, ter-se calado. Quem jamais o saberia ou viria a saber?
Quantas calamidades da Natureza não serão devidas a experiências que os cientistas e técnicos realizam?
4 - A Humanidade, portanto, está optimamente ïnformada.
5 - Mas a França é ainda previdente na sua estratégia informativa sui generis, não dando qualquer tipo de precisão quanto à hora, dia ou sequer semana em que o rebentamento se deu. Deu-se...algures e em tempo indefinido.
6 - Neste ponto e como veremos adiante, a Agência Soviética Tass, consegue um rigor jornalístico muito superior: como veremos adiante, a 7 de Agosto, a Tass anuncia um sismo na fronteira sino-soviética, localizado "temporalmente" com a expressão "esta semana"...
7 - Só os Estados Unidos continuam sem técnica nenhuma de noticiário: fazem o seu rebentamento hoje e vêm logo dizer amanhã que foi às tantas horas, minutos e segundos... Resta saber se foi, mas a gente fica convencido que sim e a verdade é que, 24 horas depois, as ondas sísmicas confirmam que, sim senhor, deve ter havido bomba no Nevada pela certa.
O CIVISMO DA FRANÇA
O apanhado noticioso que a seguir se mostra é um exemplo de como a informação fundamental sobre este tempo-e-mundo continua a ser um jogo do gato e do rato, um puzzle que se tenta a custo (e quase sempre sem êxito) reconstituir, a partir de fragmentos omissos ou semi-omissos.
Reconstituir o tecido da realidade “sísmico nuclear" é um exemplo entre muitos: mas, como tal, indica-nos a extensão do problema informativo em determinadas áreas do fenómeno Tecno-Internacional.
Mesmo quando aparecem, escamoteadas e raras, algumas notícias , ninguém evidentemente se dá ao cuidado de ligar umas nas outras, de forma a perceber nelas a relação de causa e efeito. A que existe, por exemplo, entre Bombas e Sismos. Pelo que, mesmo havendo notícias, não há informação, quer dizer, um entendimento coerente e inter-causal do tecido da realidade. Dos factos entre si.
As potências e as agências noticiosas sabem isto, sabem muito bem que memória de formiga tem a humanidade, tem o leitor (distraído) dos jornais.Ao anunciar o rebentamento na Muroroa um mês depois,demonstrou-o.
Quem , um mês depois, se iria lembrar que um mês antes, três aldeias indonésias foram "engolidas" pelo mar, num fenómeno colossal que uns telexes traduziram para maremoto e outros para maré-viva, perplexidade que desde logo dava a entender que ninguém (num mundo de tantos especialistas e cientistas ) sabia o que se estava a passar.
E o que se estava a passar, pura e simplesmente, era o rebentamento da bomba francesa, mesmo ali ao lado nas pacíficas ilhas. Mas de tal maneira em segredo, que ninguém iria relacionar. Note-se que se a notícia do rebentamento veio um mês e tal depois, as notícias referentes ao maremoto da Indonésia eram igualmente difusas e confusas quanto ao dia e hora em que o facto acontecera.
Vagamente, só se sabia que o facto fora noticiado muitos dias depois de acontecer.
A MALVADA NATUREZA
E foi, mais uma vez, a brutal, violenta, odiosa, malvada Natureza que arcou com as culpas todas do maremoto.
A potência atómica, entretanto, anuncia o triunfo um mês depois e já todos , incluindo jornalistas, se esqueceram das três aldeias engolidas pelo mar.
Viva a Informação, abaixo a Natureza.
Quanto aos triunfos do mês de Agosto, e antes que se reproduza a seguir o molho de notícias que andámos a "pescar" para conseguir extrair um grãozinho da realidade factual, dois fenómenos devem no entanto ser já assinalados :
Calhando o 6 de Agosto , este ano de 1979, quase em cima da Lua Cheia (que foi dia 8), digamos que os cientistas que aconselham os militares a marcar a data dos rebentamentos, foram prevenidos: se é certo que não previram a erupção do Etna, eles sabiam no entanto que uma tempestade solar, prevista há meses, se estava a formar para eclodir próximo destas datas; e sabiam que fazendo um enorme alarido da dita superactividade solar, não só era mais uma maneira de esmagar as mini-notícias dos rebentamentos e consequentes sismos, como ainda por cima arranjavam um alibi para explicar tudo:
a) O maremoto da Indonésia (provocado pela bomba francesa)
b) A erupção do Etna (activada pela bomba soviética)
c) O terremoto de S. Francisco, a 7 (obviamente provocado pela bomba americana no Nevada);
d) Enfim, toda a onda sísmica que, em cima da Lua Cheia, dois rebentamentos quase simultâneos, um no Nevada e outro na Sibéria do Sul, tinham fatalmente que provocar,
Por isso, meses antes, os telexes já andavam a falar da superactividade solar!
4 - 8 DE AGOSTO DE 1979: ALGUNS FACTOS
E agora, a panóplia de telegramas que conseguimos apurar na vala comum que é a informação ecológica fundamental no seio da Grande Informação.
(Ver Correio da Manhã, 25.6-79, o artigo intitulado «BOMBA (DE SANTO ANTONIO) E SISMOS», Ldª)
À parte uma pequena ocorrência, entre 29 de Junho e 2 de Julho (Versemanário «Edição Especial», 8.7.79), um sismo no Panamá provocado por uma explosão no Nevada, há dois meses não havia nada de violento.
As potências atómicas parecem ter feito férias (repartidas) de Verão, tendo recomeçado dois meses depois e em força, naturalmente para "comemorar" o 6 de Agosto, 34° aniversário da vitória aliada .
Se nos dermos ao trabalho e juntarmos num molhinho as notícias colhidas daqui e dacolá, dias 6, 7 e 8 de Agosto obtemos confirmação da rotina sísmico-nuclear .
Conforme notícia da ANOP, que lemos no vespertino “A Nação” do dia 4 de Agosto, a URSS teria cometido mais um rebentamento subterrâneo no célebre perímetro de Semipalatinsk, conforme notícia chapa já tão familiar ao cocabichinhos do terror sísmico-nuclear.
O laboratório sueco de Upsala foi quem desta vez deu pelo rebentamento.
Dia 6, ao fim da tarde, segundo o “Diário de Noticias” do dia 7, " a costa jugoslava ao sul do Adriático fora abalada por um forte tremor de terra, tendo sido as cidades medievais de Kotor e Budva, já fortemente danificadas pelo sismo de Abril passado, dois dos pontos em que se verificou maior intensidade sísmica."
Vinte e quatro horas depois, começam a chegar os telexs no seu estilo telegráfico, objectivo, indiferente. A informação deve ser neutral... Quer dizer, como se os sismos não tivessem ligação uns com os outros e não constituíssem ondas do mesmo epicentro - a causa "bomba subterrânea" de que são mais que óbvio efeito.
Dia 7, muito cedo e segundo a Reuter, "arranha-céus tremeram, comboios pararam e os PBX da Polícia receberam inúmeras chamadas telefónicas quando o mais violento terramoto a assolar o Norte da Califórnia, há 68 anos, sacudiu a área de S. Francisco."
E como S. Francisco não é propriamente uma aldeia indonésia, a notícia foi telegrafada e (vá lá) houve ainda um jornal da tarde, o “Diário Popular”, que a publicou.
Mas mais explícito e alargado era a molho noticioso fornecido, no dia seguinte.
Em 1ª página, pelo “Diário de Notícias”, que reproduzia a notícia da Reuter sobre S. Francisco mas acrescentava mais alguns pontos atingidos pela onda sísmica que entretanto fora alastrando no tal espaço já clássico das 48 horas:
" Entretanto "- dizia o “Diário de Noticias” do dia 8 - " o Governo do Japão declarou uma vasta área do centro do país como zona de perigo, após alguns sismologistas terem afirmado que um violento abalo de terra, com um grau aproximado de cerca de 8 graus na escala de Richter, poderia ocorrer a qualquer momento."
A TASS QUEBRA O GELO
Mas a maior novidade neste interessante molho do “Diário de Notícias”, são as seis linhas finais, em que “ a agência Tass anuncia também um tremor de terra sentido «esta semana na fronteira» sino-soviética, perto da cidade de Kapakul.”
Dizer-se "esta semana" em jornalismo diário é qualquer coisa de inédito nos anais do jornalismo .
Mas dizer-se "na fronteira sino-soviética", para especificar o local, - numa fronteira que atravessa o maior continente do mundo, num total de milhares ou mesmo milhões de quilómetros - merece o prémio Nobel .
Diga-se que a zona dos rebentamentos - onde há 16 anos a URSS prossegue as suas experiências com bombas subterrâneas - , o perímetro de Semipalatinsk, fica perto da fronteira sino-soviética , lá isso fica, quer dizer, na Kirguizia, onde repousa (?) o conhecido lago Balkash dos Cossacos, a cidade de Alma-Ata, várias vezes atingida por sismos, o célebre centro científico-siberiano de Novosibirsk (tantas vezes elogiado nos artigos da Novosty) com o lago Baikal mais para Leste, tudo isto contornando a fronteira sino-soviética que nunca mais acaba.
"Que o sismo não fez vítimas" - sublinha a Tass. No deserto gelado da Sibéria, de facto, a não ser alguma rena pré-histórica vítima de comoção sísmico cerebral, não vemos grande hipótese de haver vítimas.
Quem, ao noticiar um sismo, diz "esta semana" como podia dizer "este mês" ou "este ano", deve com certeza andar a ensinar um novo jornalismo.
E quando há sismo, o jornalista pergunta: de quem terá sido a explosão? França, Estados Unidos ou URSS?E quando há explosão, pergunta logo " Onde vai ser o sismo"?
8/Agosto/1979
- - - - -
(*) Publicado no semanário « Voz do Povo», 30/8/1979
A ROTINA SÍSMICO NUCLEAR
TERÁ A HUMANIDADE OS MAREMOTOS QUE MERECE?
8/8/1979 - O bombardeamento atómico de Hiroxima e Nagasaki, há 34 anos, foi mais uma vez “comemorado" (como eles dizem) com as cerimónias da praxe.
O 6 de Agosto tornou-se uma rotina e o relógio de contagem decrescente do Jornal RTP 1 não se esqueceu de mostrar mais esta efeméride com imagens da cidade arrasada e do cogumelo atómico, símbolo da Nova Era iniciada há 34 anos.
Em Tóquio, capital do País que os aliados forçaram a render-se ao primeiro bombardeamento atómico, reuniu-se uma conferência sobre energia nuclear, com uns a defender e outros a atacar, a mostrar pluralismo no Reino do Plutónio. Na cidade propriamente dita (arrasada) de Hiroxima, “guardou-se um minuto de silêncio em memória de 130 mil vítimas" do holocausto nuclear. À razão de um minuto por ano, já lá vão 34 minutos de silêncio.
Mas as grandes potências atómicas não dormem e não iriam consentir que se degradasse, na rotina, triunfo tão magnífico para o género humano: e arranjam sempre maneira de comemorar (elas, sim, comemorar), todos os anos de maneira original, a data tão querida à humanidade e que lhe abriu esta era de prosperidade que é a chamada Era do Plutónio,
Com efeito, foi de maneira triunfal que três grandes potências atómicas aproveitaram o 6 de Agosto para exibir, neste ano da graça de 1979, o seu poderio e a capacidade exterminadora (civilizadora) das suas bombas. Como podiam tais grandezas ser possíveis, sem a salvadora bomba (pomba) da Paz lançada sobre Hiroxima?
A 4 de Agosto e segundo um telex da ANOP - que apenas conseguimos "caçar" no vespertino «A Nação» (ocupada que a Imprensa anda com questões de fundo muito mais importantes), - eis que a URSS fez mais um rebentamento subterrâneo na sua estância de Semipalatinsk, o tal perímetro onde há 16 anos já rebentaram mais de 2 mil bombas experimentais.
Facto que, evidentemente, não saberíamos se o observatório sueco de Upsala não estivesse atento e a ANOP não telegrafasse o 8º rebentamento subterrâneo deste ano pela URSS.
Isto, portanto, a 4 de Agosto, horas antes das celebrações nas igrejas de Hiroxima.
A 8 de Agosto, a agência France Press, em telegrama das 16 horas (telegrama que não conseguimos ler nos jornais ), anuncia que os Estados Unidos praticaram o 9º rebentamento deste ano no seu deserto do Nevada, poucas horas depois de Hiroxima estar em celebração da data de Hiroxima.
Mas para haver alguma novidade ainda mais sensacional nestas 48 horas , eis que a França anuncia a 7 de Agosto, ainda com os sinos de Hiroxima a repicar, que também fizera potente rebentamento subterrâneo mas ( oh surpresa!) há umas semanas atrás!
A França antecipara-se nas comemorações de Agosto e decidira, no seu atol da Muroroa, lá para o Pacífico, fazê-la tão pela calada, tão pela calada, que ninguém deu por nada.
+ 7 PONTOS
O curioso desta operação Segredo, não reside só aí. Para já, acodem-nos estas reflexões:
1 - Se a França conseguiu realizar um rebentamento tão potente, sem que nenhum, absolutamente nenhum dos rangentes telexs, sempre tão solícitos, viessem denunciar o feito - estamos ou não estamos num mundo bem informado?
2 - Se a França, onde uma democracia parlamentar logicamente facilitaria uma fuga (inconfidencial) de informações como esta, consegue manter absoluto e total (itário) segredo de uma bomba, o que não terá sido até hoje e o que não será na URSS onde não há fugas, não há inconfidências, não há descontrole anárquico de segredos de Estado e os canais são muito bem controlados?
3 - A França, aliás, veio dizer leal e honestamente (para celebrar o 6 de Agosto) que rebentara um mês antes. Ou antes: não desmentiu o que foi dito pelo movimento Green Peace. Mas podia, modesta e perfeitamente, ter-se calado. Quem jamais o saberia ou viria a saber?
Quantas calamidades da Natureza não serão devidas a experiências que os cientistas e técnicos realizam?
4 - A Humanidade, portanto, está optimamente ïnformada.
5 - Mas a França é ainda previdente na sua estratégia informativa sui generis, não dando qualquer tipo de precisão quanto à hora, dia ou sequer semana em que o rebentamento se deu. Deu-se...algures e em tempo indefinido.
6 - Neste ponto e como veremos adiante, a Agência Soviética Tass, consegue um rigor jornalístico muito superior: como veremos adiante, a 7 de Agosto, a Tass anuncia um sismo na fronteira sino-soviética, localizado "temporalmente" com a expressão "esta semana"...
7 - Só os Estados Unidos continuam sem técnica nenhuma de noticiário: fazem o seu rebentamento hoje e vêm logo dizer amanhã que foi às tantas horas, minutos e segundos... Resta saber se foi, mas a gente fica convencido que sim e a verdade é que, 24 horas depois, as ondas sísmicas confirmam que, sim senhor, deve ter havido bomba no Nevada pela certa.
O CIVISMO DA FRANÇA
O apanhado noticioso que a seguir se mostra é um exemplo de como a informação fundamental sobre este tempo-e-mundo continua a ser um jogo do gato e do rato, um puzzle que se tenta a custo (e quase sempre sem êxito) reconstituir, a partir de fragmentos omissos ou semi-omissos.
Reconstituir o tecido da realidade “sísmico nuclear" é um exemplo entre muitos: mas, como tal, indica-nos a extensão do problema informativo em determinadas áreas do fenómeno Tecno-Internacional.
Mesmo quando aparecem, escamoteadas e raras, algumas notícias , ninguém evidentemente se dá ao cuidado de ligar umas nas outras, de forma a perceber nelas a relação de causa e efeito. A que existe, por exemplo, entre Bombas e Sismos. Pelo que, mesmo havendo notícias, não há informação, quer dizer, um entendimento coerente e inter-causal do tecido da realidade. Dos factos entre si.
As potências e as agências noticiosas sabem isto, sabem muito bem que memória de formiga tem a humanidade, tem o leitor (distraído) dos jornais.Ao anunciar o rebentamento na Muroroa um mês depois,demonstrou-o.
Quem , um mês depois, se iria lembrar que um mês antes, três aldeias indonésias foram "engolidas" pelo mar, num fenómeno colossal que uns telexes traduziram para maremoto e outros para maré-viva, perplexidade que desde logo dava a entender que ninguém (num mundo de tantos especialistas e cientistas ) sabia o que se estava a passar.
E o que se estava a passar, pura e simplesmente, era o rebentamento da bomba francesa, mesmo ali ao lado nas pacíficas ilhas. Mas de tal maneira em segredo, que ninguém iria relacionar. Note-se que se a notícia do rebentamento veio um mês e tal depois, as notícias referentes ao maremoto da Indonésia eram igualmente difusas e confusas quanto ao dia e hora em que o facto acontecera.
Vagamente, só se sabia que o facto fora noticiado muitos dias depois de acontecer.
A MALVADA NATUREZA
E foi, mais uma vez, a brutal, violenta, odiosa, malvada Natureza que arcou com as culpas todas do maremoto.
A potência atómica, entretanto, anuncia o triunfo um mês depois e já todos , incluindo jornalistas, se esqueceram das três aldeias engolidas pelo mar.
Viva a Informação, abaixo a Natureza.
Quanto aos triunfos do mês de Agosto, e antes que se reproduza a seguir o molho de notícias que andámos a "pescar" para conseguir extrair um grãozinho da realidade factual, dois fenómenos devem no entanto ser já assinalados :
Calhando o 6 de Agosto , este ano de 1979, quase em cima da Lua Cheia (que foi dia 8), digamos que os cientistas que aconselham os militares a marcar a data dos rebentamentos, foram prevenidos: se é certo que não previram a erupção do Etna, eles sabiam no entanto que uma tempestade solar, prevista há meses, se estava a formar para eclodir próximo destas datas; e sabiam que fazendo um enorme alarido da dita superactividade solar, não só era mais uma maneira de esmagar as mini-notícias dos rebentamentos e consequentes sismos, como ainda por cima arranjavam um alibi para explicar tudo:
a) O maremoto da Indonésia (provocado pela bomba francesa)
b) A erupção do Etna (activada pela bomba soviética)
c) O terremoto de S. Francisco, a 7 (obviamente provocado pela bomba americana no Nevada);
d) Enfim, toda a onda sísmica que, em cima da Lua Cheia, dois rebentamentos quase simultâneos, um no Nevada e outro na Sibéria do Sul, tinham fatalmente que provocar,
Por isso, meses antes, os telexes já andavam a falar da superactividade solar!
4 - 8 DE AGOSTO DE 1979: ALGUNS FACTOS
E agora, a panóplia de telegramas que conseguimos apurar na vala comum que é a informação ecológica fundamental no seio da Grande Informação.
(Ver Correio da Manhã, 25.6-79, o artigo intitulado «BOMBA (DE SANTO ANTONIO) E SISMOS», Ldª)
À parte uma pequena ocorrência, entre 29 de Junho e 2 de Julho (Versemanário «Edição Especial», 8.7.79), um sismo no Panamá provocado por uma explosão no Nevada, há dois meses não havia nada de violento.
As potências atómicas parecem ter feito férias (repartidas) de Verão, tendo recomeçado dois meses depois e em força, naturalmente para "comemorar" o 6 de Agosto, 34° aniversário da vitória aliada .
Se nos dermos ao trabalho e juntarmos num molhinho as notícias colhidas daqui e dacolá, dias 6, 7 e 8 de Agosto obtemos confirmação da rotina sísmico-nuclear .
Conforme notícia da ANOP, que lemos no vespertino “A Nação” do dia 4 de Agosto, a URSS teria cometido mais um rebentamento subterrâneo no célebre perímetro de Semipalatinsk, conforme notícia chapa já tão familiar ao cocabichinhos do terror sísmico-nuclear.
O laboratório sueco de Upsala foi quem desta vez deu pelo rebentamento.
Dia 6, ao fim da tarde, segundo o “Diário de Noticias” do dia 7, " a costa jugoslava ao sul do Adriático fora abalada por um forte tremor de terra, tendo sido as cidades medievais de Kotor e Budva, já fortemente danificadas pelo sismo de Abril passado, dois dos pontos em que se verificou maior intensidade sísmica."
Vinte e quatro horas depois, começam a chegar os telexs no seu estilo telegráfico, objectivo, indiferente. A informação deve ser neutral... Quer dizer, como se os sismos não tivessem ligação uns com os outros e não constituíssem ondas do mesmo epicentro - a causa "bomba subterrânea" de que são mais que óbvio efeito.
Dia 7, muito cedo e segundo a Reuter, "arranha-céus tremeram, comboios pararam e os PBX da Polícia receberam inúmeras chamadas telefónicas quando o mais violento terramoto a assolar o Norte da Califórnia, há 68 anos, sacudiu a área de S. Francisco."
E como S. Francisco não é propriamente uma aldeia indonésia, a notícia foi telegrafada e (vá lá) houve ainda um jornal da tarde, o “Diário Popular”, que a publicou.
Mas mais explícito e alargado era a molho noticioso fornecido, no dia seguinte.
Em 1ª página, pelo “Diário de Notícias”, que reproduzia a notícia da Reuter sobre S. Francisco mas acrescentava mais alguns pontos atingidos pela onda sísmica que entretanto fora alastrando no tal espaço já clássico das 48 horas:
" Entretanto "- dizia o “Diário de Noticias” do dia 8 - " o Governo do Japão declarou uma vasta área do centro do país como zona de perigo, após alguns sismologistas terem afirmado que um violento abalo de terra, com um grau aproximado de cerca de 8 graus na escala de Richter, poderia ocorrer a qualquer momento."
A TASS QUEBRA O GELO
Mas a maior novidade neste interessante molho do “Diário de Notícias”, são as seis linhas finais, em que “ a agência Tass anuncia também um tremor de terra sentido «esta semana na fronteira» sino-soviética, perto da cidade de Kapakul.”
Dizer-se "esta semana" em jornalismo diário é qualquer coisa de inédito nos anais do jornalismo .
Mas dizer-se "na fronteira sino-soviética", para especificar o local, - numa fronteira que atravessa o maior continente do mundo, num total de milhares ou mesmo milhões de quilómetros - merece o prémio Nobel .
Diga-se que a zona dos rebentamentos - onde há 16 anos a URSS prossegue as suas experiências com bombas subterrâneas - , o perímetro de Semipalatinsk, fica perto da fronteira sino-soviética , lá isso fica, quer dizer, na Kirguizia, onde repousa (?) o conhecido lago Balkash dos Cossacos, a cidade de Alma-Ata, várias vezes atingida por sismos, o célebre centro científico-siberiano de Novosibirsk (tantas vezes elogiado nos artigos da Novosty) com o lago Baikal mais para Leste, tudo isto contornando a fronteira sino-soviética que nunca mais acaba.
"Que o sismo não fez vítimas" - sublinha a Tass. No deserto gelado da Sibéria, de facto, a não ser alguma rena pré-histórica vítima de comoção sísmico cerebral, não vemos grande hipótese de haver vítimas.
Quem, ao noticiar um sismo, diz "esta semana" como podia dizer "este mês" ou "este ano", deve com certeza andar a ensinar um novo jornalismo.
E quando há sismo, o jornalista pergunta: de quem terá sido a explosão? França, Estados Unidos ou URSS?E quando há explosão, pergunta logo " Onde vai ser o sismo"?
8/Agosto/1979
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(*) Publicado no semanário « Voz do Povo», 30/8/1979
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