ORDER BOOK

*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-08-06

ALQUEVA 1999

1-2 - 99-08-08-ecc> = ecos da capoeira – ie - alqueva5> notícias do futuro

QUE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (PATRONA DE BARRANCOS)NOS PROTEJA

8/Agosto/1999 - O jornal «Público» foi o único a dar a notícia. Para fazer a barragem de Alqueva, vai ser necessário desarborizar e desmatar uma área superior a 250 quilómetros quadrados.
É uma operação gigantesca e sem paralelo em Portugal - diz o jornalista Carlos Dias, que acrescenta: «Os ambientalistas alertam para o desaparecimento de importantes montados de sobro e azinho.» Devem ser os últimos sobreviventes em Portugal.
Dias antes, os mesmos (ou outros) ambientalistas tinham pedido a demissão das funções que vinham exercendo na empresa construtora da barragem (a EDIA). Foi assim que soubemos da grande notícia: afinal havia uma EDIA, havia ambientalistas e sabe-se lá se ecologistas metidos com os construtores da barragem.
Outrora, quando não havia moralidade, chamava-se a isto promiscuidade. O maior crime ecológico perpetrado na península ibérica e provavelmente na Europa, tinha que ter (é claro) o amen dos eco-ambientalistas. Para isso a ministra Elisa os subsidia. E só é o maior na Europa porque no norte de África temos o crime Assuão, que bem nos pode indicar quais vão ser as consequências.
O silêncio em torno de Alqueva em geral e sobre alguns aspectos de Alqueva em particular não deixa de ser significativo. Estarão todos com medo do que estão fazendo? Ou é modéstia da bela obra que estão consumando e que, na opinião de alguns, é apenas o suicídio deste país chamado outrora Portugal?
Um ex-ministro chamado Ferreira do Amaral escrevia, há tempos, no semanário «Expresso», um artigo invectivando o actual ministro Cravinho, pelos atrazos verificados na consumação de Alqueva. Amaral anda sempre nervoso com as obras públicas (e portanto com a JAE) e põe nervoso o calmo ministro Cravinho, que faz o que pode, coitado, para não fazer nada, que é ainda o que de melhor, em matéria de obras públicas, pode ser feito.
Alqueva aliás vem dos tempos salazaristas e marcelistas que, apesar da obsessão das obras públicas, não chegaram nunca a concretizar o plano megalómano que cérebros megalómanos conceberam, para afinal vir a ser concretizado, com o beneplácito de todos os partidos, na vigente democracia.
Muito proximamente, quando a barragem rebentar, vamos ter ocasião de enunciar os responsáveis, incluindo eco-ambietalistas, que já começam a ter medo de vir contar suas glórias para os meios mediáticos. E daí o silêncio de morte sobre Alqueva que é a morte de um país.
Até agora, para a lista negra, só nos ocorrem os nomes mais sonantes: João Cravinho (ministro), Ferreira do Amaral (ex-ministro), Salazar (ex-primeiro ministro), Marcelo Caetano (ex-primeiro ministro), Cavaco Silva (ex-primeiro ministro), Filipe Palma (administrador da EDIA).
A propósito: desafio os portugueses, mesmo os mais informados e com acesso à Net, a dizer-me quem é a EDIA.
O não se saber quem está construindo o dinossauro, é outro sinal dos tempos de transparência democrática em que, com a ajuda de jornais e telejornais, vamos sobrevivendo.
Há um nome a não esquecer, porque, numa das célebres presidências abertas ao Alentejo, não disse sim nem não a Alqueva: disse NIM. É, claro, Mário Soares.
No fundo e sobre Alqueva, só me interessaria saber, mas saber mesmo, quantas estações megalíticas vão ser afundadas pelas águas. Há anos, o inventário já assinalava uma centena e meia mas, entretanto, os arqueólogos meteram-se ao trabalho para inventariar muitas mais. Mas, claro, desse trabalho heróico, nem uma linha transparece para os heróicos jornais e telejornais que temos. Aliás, o que são duzentas estações arqueológicas (o sagrado alquimicamente puro) para estes novos bárbaros do ocidente?
Com Foz Coa foi o que se viu e lá mandaram suspender a barragem, por causa do prestígio internacional do eng. Guterres. Como o tesouro megalítico do Alentejo não dá nem tira prestígio a estes heróicos políticos, que se dane o tesouro megalítico do Alentejo. Antes afrontar de caras, como barranquenhos ao touro, esta afronta apocalíptica ao sagrado português, de que o legado alentejano é a capital.
Um dos maiores defensores das figuras de Foz Coa, o arqueólogo Torres, que até greve da fome fez, veio um dia já recuado ao telejornal da que é hoje a TVI, dizer que Alqueva tinha de se fazer e as estações arqueológicas que se danassem. Foi por isso que ele foi, como arqueólogo, Prémio Pessoa, pela certa.
Tudo será pago, no entanto, e o pior é que, quando o país submergir, vamos todos pró fundo, culpados e inocentes, sem que a Nossa Senhora da Conceição, distraída a matar o touro em Barrancos, nos possa acudir.
***